Grosso modo, o Boi-de-Reis surgiu na Europa do século XVI, mais especificamente na Península Ibérica (parte mais ocidental, e compreende dois países: Espanha, Portugal e Andorra, uma pequena fração do território francês e o território britânico de Gibraltar).
No Brasil é também conhecido como Bumba meu boi, Boi Bumbá, Boi Calemba, Boi de Mamão, Boi Surubi, Rancho de Boi, Bumba de reis, Boi pintadinho, dentre outros nomes.
Chegou até nós trazido nas caravelas de Cabral. Diz-se que havia um conto ibérico de enredo muito semelhante ao da história da lenda do Bumba meu boi, difundida no Brasil.
Ao chegar ao Brasil, a história foi se modificando ao incluir alguns aspectos das culturas africana e indígena, variando também os nomes do folguedo e os personagens, mas o boi sempre foi o pilar da dramatização, assim como os galantes, o Birico, o Jaraguá, a Burrinha, a Catirina e outros.
O auto é conduzido por mestres, que norteiam toda a história com um contínuo apito executado incontinenti. Muitos grupos se apresentam ao som de instrumentos musicais como rabeca, triângulo, sanfona, pandeiro, zabumba e outros, mas há grupos que não usam nenhum instrumento, quase sempre por dificuldades financeiras e falta de apoio dos órgãos públicos.
Foi durante o período colonial, com a escravidão e a criação de gado, que a lenda associada a essa manifestação teve sua origem tal qual a conhecemos hoje.
O Boi-de-Reis é uma manifestação artística e popular do folclore brasileiro reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e como Patrimônio Cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Nem sempre tudo foi flores para os brincantes de Boi-de-Reis. Num tempo mais remoto esse auto era brincado mais por pessoas negras, e passou por perseguições das elites nordestinas e da polícia, sendo, inclusive, proibido de 1861 a 1868.
Numa ocasião, Ana Cascudo, filha de Câmara Cascudo, contou-me que, algumas vezes o seu pai foi chamado às pressas em sua casa, inclusive de madrugada, por esposas ou parentes de brincantes de diversos folguedos populares devido ao preconceito das pessoas que se incomodavam com o “barulho” promovido pelos brincantes em determinados pontos de Natal. Eles consideravam o ato como desordem.
Câmara Cascudo, que muito entendia de folcloridades, corria até a delegacia e dizia “delegado, solte esses cidadãos, eles estão simplesmente dando vida às raízes folclóricas do Brasil, isso não é desordem, é cultura popular”.
O delegado, surpreso com a visita tão importante, não dizia uma palavra ao mestre Cascudo, apenas ordenava aos ordenanças “abram a sela e soltem o pessoal, mas mande fazer a algazarra em outro canto!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário