ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

DEPREDAÇÃO DA HISTÓRIA E O SILÊNCIO ENSURDECEDOR DE ALGUNS NISIAFLORESTENSES...



DEPREDAÇÃO DA HISTÓRIA E O SILÊNCIO ENSURDECEDOR DE ALGUNS NISIAFLORESTENSES...

Ao longo desses últimos anos venho pontuando uma série de atitudes equivocadas, pertinentes à descaracterização da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Tudo começou em 2008, com uma denúncia que fiz à Fundação José Augusto durante a construção de um altar e nicho do lado direito no corredor a caminho da sacristia. Em 2014 denunciei a descaracterização do forro do altar-mor, no qual inseriram um forro de madeira preta, ao invés de refazerem do mesmo material e com os mesmos detalhes. 

Na oportunidade denunciei uma série de descaracterização em outros espaços e elementos da Matriz. Para todos os casos houve abordagens dos órgãos que receberam as denúncias, mas infelizmente a abordagem dos profissionais não têm surtido efeito. Paulo Heider, arquiteto especialista da Fundação José Augusto disse-me que tudo o que orientou aos responsáveis pela reforma não foi feito. Ele demonstrava profunda revolta, pois é um especialista e sabe da importância do templo. 

É uma construção rara e com acervo que não se repete em nenhuma cidade do RN. Nem na catedral de Natal nem na catedral velha. E o templo segue sofrendo descaracterizações e objetos mexidos leigamente, ao invés de restaurado e analisado por especialistas e pessoas experientes. Fiz um documento e pedi o tombamento, o qual vem sendo providenciado (está no meu blogue). Um das ações mais desnecessárias é a retirada das janelas e portas, ao invés da restauração. 

A notícia mais trágica é a pintura desse lampadário de prata maciça (peça portuguesa do final do século XVIII). É algo tão tosco que chega a ser inacreditável. O ideal para essa peça é única e exclusivamente limpeza e polimento. É inadmissível sujá-lo com tintas a oleo ou outro material. A peça já possui a sua cor natural. 

Para somar a essa depredação, o lustre de cristal, que ficava no centro do forro da matriz, infelizmente corre o risco de nunca mais ser reinstalado, pois suas peças principais se quebraram por não ter sido manuseado nem guardado de forma conveniente. É outra peça de grande valor. Guardam as peças como cadeiras velhas de plástico. A ponta do manto de uma das imagens de cedro folheado a ouro se quebrou. Todas essas imagens devem ser revestidas com plástico bolha ou tecido, e guardadas em espaço seguro, separada individualmente sem se tocarem. Mas não foi feito. 




É muito triste isso. E mais triste saber que muitos não se importam. Acham normal. E mais drasticamente pior é saber que alguns nisiaflorestenses estão revoltados, mas a cultura local os impede de assumidamente darem um basta. Há nativos que estão a ponto de ter um infarto. A igreja pertence ao povo. Os administradores passam, mas o povo ficará para sempre, se renovando, pois são os donos reais. 

De todas as denúncias que fiz a única que rendeu lucro foi dirigida à Arquidiocese, pois consegui sensibilizar as autoridades para criarem um curso e uma disciplina para os seminários, cujos futuros padres de agora em diante estudarão sobre o patrimônio histórico das igrejas. Inclusive fui convidado pela Arquidiocese para fazer o curso (publiquei isso no meu blogue, inclusive mostro todos os contatos que a Arquidiocese fez comigo). As instituições recebedoras das denúncias tomaram providências, mas tudo tem sido ignorado e as ações de descaracterização continuam. 

IMPLORO AO POVO NISIAFLORESTENSE QUE GUARDE CARINHOSAMENTE ATÉ OS CISCOS E FREPAS QUE FOREM RETIRADAS DA MATRIZ, GUARDEM AS MADEIRAS, OS PREGOS, FECHADURAS... ENFIM TUDO ISSO DEVERÁ SER RESTAURADO E REPOSTO NO SEU LUGAR ORIGINAL. NÃO PERMITAM QUE NADA DISSO SEJA JOGADO FORA OU VENDIDO. ESTAMOS EM PLENO SÉCULO XXI. NÃO DÁ MAIS PARA ASSISTIR A ATOS DESSE TIPO EM SILÊNCIO, NEM TAMPOUCO ENTENDER O MEU GESTO COM A INGÊNUA INTERPRETAÇÃO DE QUEM BUSCA AUDIÊNCIA. É MUITA LEVIANDADE PENSAR DESSA FORMA. SOU UMA PESSOA DE 52 ANOS COM TESTEMUNHO DE PROFUNDO RESPEITO AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, À MEMÓRIA, À EDUCAÇÃO À CULTURA, E NÃO SEPULTAREI ISSO POR CAUSA DE EQUÍVOCOS. ESTAMOS DIANTE DE UM CRIME ASSISTIDO. RESTA AO POVO NISIAFLORESTENSE RECONHECER A GRAVIDADE DO FATO E IMPEDIR QUE A DESTRUIÇÃO CONTINUE. NÃO PERMITAM QUE AS CRIANÇAS DO FUTURO OS CRUCIFIQUEM POR TAL SILÊNCIO....

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O homem da cobra


   
Esta fotografia é atual. Foi retirada da internet para ilustrar o texto. Ela é um bom exemplo, embora no meu caso a multidão era maior e juntava homens, mulheres e crianças.

O HOMEM DA COBRA

Quando criança e adolescente, privilegiei-me de experiências típicas dos que nascem nos recônditos emoldurados de abundante fauna e flora, às margens dos gigantescos rios Pardo e Paraná, região berço dos Guaranis-Kaiowás e Ofaiés-Xavantes no estado de Mato Grosso do Sul. O mais simples acontecimento roubava a cena até mesmo de adultos. A cidade, apesar de planejada, guardava todas as pinceladas de cenário interiorano, diferente da potência que se tornou atualmente.

Certa vez a cidade acordou com a notícia de um curandeiro que fazia cirurgias sem cortes, e se instalava provisoriamente no centro. Entregavam um papelzinho nas residências com uma espécie de resumo dos prodígios do forasteiro. Sobre ele, contavam estranhas histórias. Uma grande fila se formou defronte à casa do homem que “recebia o espírito de um médico”. Comentavam que ele mexia as mãos sobre o corpo das pessoas e retirava doenças. Extirpava pedaços de coisas com sangue. Outras vezes saiam pequenos objetos, bolas de cabelos, pedacinhos de coisas enferrujadas e outras indecifráveis. A maioria dos casos era alegado como “coisa feita”, ou seja, magia negra de algum macumbeiro.

Os dias amanheciam e anoiteciam com feixes de novas histórias do curandeiro. Povo perplexo e entusiasmado daquele estranho homem. Minha mente pré-adolescente, desentendida desses assuntos fora da caixa, legava-me um misto de medo e curiosidade, mas agradava-me a novidade. E com certeza toda a meninada local. Minha mãe, adepta do mesmo proceder de São Tomé, ignorou o homem estranho, colocando freio na minha vontade de se plantar ali para contemplar a atração.

Quando um circo se arranchava, tínhamos a sensação de que a felicidade fizera morada na cidade. Saber que uma das maravilhas da infância se avizinhava com nossas casas, tornava-nos radiantes como o sol. A montagem era parte das atrações. Lona subindo, homens marretando os eixos de caminhões terra adentro para suster as bases da tenda colossal, elefante degustando cana-de-açúcar, bichos selvagens esturrando nas jaulas, macacos guinchando... tudo promovia um estado avançado de felicidade. A estreia transcendia esse bem-estar. Quando o circo partia, acendia o terrível sentimento de quando morre alguém da família. As pessoas daquela casa de pano soavam nossas parentes. Todos queríamos sê-las porque eram de outro planeta. Um vácuo de banzo acometia-nos.

O que ocorresse na pequena cidade parecia ter saído de um imenso alto falante. Todos sabiam a tempo e hora, buzinado pelo boca-a-boca de um e outro. O show de Teixeirinha e Mary Terezinha, a chegada de Milionário e José Rico na estreia do espetáculo, a aterrissagem do bimotor trazendo o governador no poeirento “campo de avião”, o acidente de carros na rodovia que cortava a cidade, o pneu que estourou na borracharia e fez as ruas tremerem, a serraria que pegou fogo, as moças que foram jogadas da ponte, o mendigo estranho que apareceu, a imensa ponte de madeira que quebrou com um caminhão de soja, as máquinas Caterpillar terraplenando as ruas de barro vermelho, alheias ao asfalto... enfim tudo que diferisse do dia anterior consistia em atração, principalmente para meninos movidos ao exercício da curiosidade. Não bastava saber, urgia ver...

Mas o que me impressionava talqualmente fato sobrenatural era o “Homem da Cobra”. De escrever sobre isso toma-me um arrepio de lembranças. Lembranças lindas. Lembranças emocionantes. Nenhuma novidade sobrepujava aquela presença excitante, transbordando a cidade de magia. Normalmente o homem misterioso aparecia numa Rural ou Combe, veículos grandes, cujos estrados do teto vinham abarrotados de mercadorias e segredos tocando as nuvens, amarrados por uma lona.

O adagiário popular traz uma máxima que classifica as pessoas que falam demais como quem “fala igual ao homem da cobra”, ou seja, conversa igual papagaio. Era assim o dito cujo. Sua chegada se percebia pelos auto-falantes do veículo, anunciando a solução para muitas doenças, e que se instalaria na esquina da praça, local de boa movimentação. Enquanto o carro gastava pneus – e as bocas de ferro matracavam – a meninada corria atrás, comendo poeira, ansiosa para conhecer o mundo maravilhoso que se revelariam daquele carro, igual coelhos saltando de cartolas.

O homem misterioso parava no local anunciado, abria as portas laterais, nas quais se dependuravam feixes de raízes e cascas, pacotes com folhas, sementes, flores secas, pós, emplastros, latas com ungüentos, resinas, garrafadas, enfim uma ampla medicina natural. Nesse interim o povo se aglomerava. O veículo exalava um cheiro diferente. Eram os matos misturados. 

Logo o condutor desenrolava o fio e pegava do microfone, destrinçando suas mercadorias. Antes, anunciava o “peixe-elétrico” guardado a sete chaves, “perigosíssimo”. Ressaltava mil vezes que acenderia lâmpadas no animal para todos verem e comprovarem. Falava de cobras venenosas desconhecidas, vindas de lugares intransponíveis do Pantanal, em que um pingo de veneno matava dez homens. Avisava que exibiria uma sucuri de doze metros, trazida numa caixa. Segundo ele, “ela já ouvia toda aquela conversa”.

Se verdade, creio que a pobre cobra não se sentia numa lata de sardinha. Doze metros? Impressionava a teatralidade do “Homem da Cobra”. Impressionava sua impostação de voz. Impressionava a maneira gilgomesca na qual ele exaltava a farmácia e os segredos guardados no veículo.  As palavras ora eram suavizadas por tons de mistério. O escandir das vogais espichadas dentro de algumas palavras... Tudo impactava até mesmo aos adultos. Nós, crianças, congelávamos nossas caras, ou melhor, caretas. Ficávamos abismados, ansiosos para ver a conversa tão demorada se transmutar em realidade diante de nós. Era comum alguma dona de casa reclamar “ai meu Deus! Que demora, tenho que ir pra casa fazer as coisas”...

Espertíssimo, em meio a esse suspense e anunciação de produtos milagrosos, ele despertava a curiosidade em todos. As mercadorias saiam como banana em feira. Os bichos consistiam em estratégia para segurar a atenção da multidão curiosa. Quem chegasse se prendia nos grilhões da palavra falada com profusão de feiticeiro. O homem agarrava as pessoas nos anzóis de seus dizeres. Todo mundo ficava ali, preso... e cada veza chegando mais...

Ciente das doenças e sintomas comuns ao Brasil, alardeava a pomada milagrosa de gordura de sucuri “excelente para reumatismo”, garrafadas “para animar os velhos e velhas que não estavam mais querendo fazer aquele negócio”, ungüentos para “desaparecer qualquer dor de pancada”, tônicos para fortalecer “menino guenzo”, outro para os “lombriguentos”, “remédios para solteironas nervosas”, óleo para “matar empingis”... tudo anunciado como rádio que não se desligava. Homens, mulheres, velhos e crianças eram laçados pelas conversas persuasivas, potentes quanto visgo de pegar passarinho. 

Todo “homem da cobra” era simpático e extrovertido. Em curto tempo adquiria foros de pessoa de nossa família. Suas falações por vezes pareciam saltadas de almanaque decorado. Sempre tinha exemplos acontecidos com pessoa de alguma cidade, e sua cura milagrosa. Alguém que estava morrendo e praticamente ressuscitou com a garrafada erguida ali de suas mãos como troféu, menino que “pôs um ninho de lombrigas” por conta do óleo contido num vidrinho escuro. Eu detestava essa parte, pois nossa mãe nos obrigava a tomar um tal “Sulfato Ferroso” e um demoníaco “Óleo de Rícino” – insuportáveis. Ela dizia que era para não adoecermos e termos que ir para o hospital. Aquilo era uma morte, pois o hospital ficava do outro lado da ponte sobre o gigantesco rio Paraná. A sorte era que nossa mãe não se atraía dessas novidades. 

Seu repertório de palavreados, ditos populares, frases de efeito e brincadeiras fazia o povo chorar de rir. De quando em vez ele quebrava o gelo com a história de velho que não “dava mais no couro", ou que "o ponteiro só marcava seis horas", mas ficou tinindo depois da garrafada”, e batia na garrafa para traduzir o efeito, levando os adultos às gargalhadas. 

Os homens adultos e velhos se comportavam de maneira mais avacalhada. As mulheres adultas e velhas guardavam as risadas nos bolsos de seus pudores, embora uma ou outra escondia o sorriso nas mãos. Nós, crianças – inocentes naqueles tempos – desapercebíamos daquelas malícias. Achávamos engraçado o contexto, as brincadeiras, as risadas... acabávamos gostando do “homem da cobra”, pois ele enchia a cidade de felicidade. Trazia alegria para todos.

O “homem da cobra” era um “show-man”. O volume de sua fala se alternava de acordo com a ênfase que ele dava ao produto ou a alguma história que sempre tinha testemunhado. Tudo convergia para o favorecimento de seus milagrosos produtos. Impossível alguém se desconcentrar, pois suas palavras encantavam, agarrando o povo.

Logo ele pegava de uma caixa e chamava algum menino para ajudá-lo. De repente saltava uma cobra espevitada. O povo desaparecia. Então percebiam que a peçonhenta era de borracha. Quem era doido de checar antes? Outrora ele pegava de uma caixa maior e arrastava para meio das pessoas. Era cobra de verdade. Uma grande cascavel manipulada com maestria com ferro próprio. Dizia que sua picada fazia a vítima vazar sangue por todo o corpo. O povo ficava petrificado, sem muita aproximação. De repente guardava os segredos e partia para as propagandas dos produtos. Repetia uns, anunciava outros, novos.

Tinha remédio para gastrite, azia, má digestão, corrimento, frieira, queda de cabelo, coceira, fraqueza, lombriga, dor desviada (o povo entendia "dor de viado"), febre, micoses, tônicos para homens... ele viera para curar a cidade inteira. E o povo comprando sem parar. Não havia intervalos para suas conversas sem fim.

Dado momento ele pedia que alguns homens o ajudasse a retirar a grande e pesada caixa de madeira sobre o assoalho do veículo. Era a sucuri. O tamanho da cobra assustava. Primeiramente ele apresentava uma latinha contendo uma pomada para dor nos ossos. As propriedades medicinais eram tão extraordinárias nos seus falares que ninguém duvidaria se ele alegasse terem vindo do céu. Logo vendia umas vinte latinhas. Objetivo alcançado, ele começava a desenrolar um novelo de histórias sobre o animal. 

Naquele tempo não existia internet, portanto suas narrações se apresentavam como filmes que imaginávamos conforme suas contações. Assim ele falava ter presenciado uma sucuri que acabara de engolir um boi inteiro no rio Paraguai. Outra engoliu um homem que pescava sozinho no rio Paraná. Contou sobre uma sucuri que foi morta por mais de dez homens após engolir um menino, cujo pai a perseguiu até encontrá-la. Eram histórias arrepiantes, observadas pela gigantesca sucuri que parecia nos encarar, movimentando sua lingüinha para dentro e fora da bocarra. Ele transformava aquela serpente num monstro.

Depois de um congestionamento infinito de palavras, caras e bocas –,e consequentemente a venda de sortidas mercadorias – ele anunciava a grande atração: o “peixe elétrico”. Então, convocava mais homens e pegava de uma tina redonda, toda em madeira, e o colocava no centro da roda. A tampa era aberta lentamente, sob um discurso que mais lembrava um filme de terror. 

A enguia, enfim, aparecia, ou melhor, era vista num balé lento e sinuoso sob a lâmina d'água. Então, sabe-se lá de que jeito, o “homem da cobra” pegava uma espécie de abajour com lâmpada, esticava um fio semelhante aqueles que se agarram às baterias de carro, tocava o peixe e a lâmpada se acendia. O abajour funcionava como estratégia para que a claridade do sol não ofuscasse a lâmpada acendendo.

A multidão ia ao delírio. Inacreditável! Em fração de segundos daquela exibição, parecia que mais de cem rádios se ligaram. Todos viraram o “homem da cobra”. Todos falavam ao mesmo tempo. Todos tinham um parecer... uns alegavam ser um truque, havia até quem dissesse ser “coisa do diabo”, cada um que dizia uma coisa... a galhofança lembrava uma feira movimentada. A maioria acreditava no fenômeno da lâmpada acendida no peixe, e parecia gostar muito. Eu era dos tais.

O “homem da cobra” aproveitava esse encantamento e debulhava um rosário de fatos que alegava ter testemunhado. Dizia que aquela espécie era capaz de dar um choque igual ao das tomadas das residências. De repente, como que um dispositivo tivesse sido ligado dentro dele como fazem aos aparelhos eletrônicos, ele era todo emoção. Passava a falar de maneira mansa, demonstrando tristeza.

 Contava que viu uma mulher que lavava roupa na beira de um rio com uma criança de seis anos, cujo peixe elétrico se agarrou numa roupa e sem querer ela o puxou para si, sendo eletrocutada instantaneamente junto ao filho... que chegou a ver pescadores morrendo e se debatendo nas águas escuras do Amazonas, após ter pisado ou tocado no peixe elétrico... que presenciou um jacaré morrer ao abocanhar aquela espécie... Para cada morte era um bordado diferente e triste, despertando comoção. Algumas velhinhas choravam aos cântaros, emocionadas com as mortes que talvez nunca aconteceram, mas cumpriam o papel importantíssimo de dar credibilidade ao “homem da cobra”. Eu olhava de longe. Temia que aquele demônio saltasse dali e me atingisse.

Enfim, chegava a hora do almoço e havia o intervalo para o seu repasto. Na cidade não existe a sesta, portanto a movimentação de transeuntes é ininterrupta. O “homem da cobra” retomava ao ofício e voltava a arremessar palavras ao vento. Logo, inchava a multidão vespertina. Muitos eram da turma da manhã, os quais retornavam instigados pela curiosidade inquietante. Ver duas vezes era privilégio. 

O homem vendia, brincava, contava histórias, vendia, instigava a curiosidade sobre seus bichos, fazia caras e bocas, vendia, mostrava a cobra, exibia o peixe-elétrico, vendia, enfim repetia com pequenas diferenças a mesma novela matinal.  Ele se demorava até o sol avisar da sua partida. Então se despedia... Então o “homem da cobra” fechava o veículo e desaparecia na rodovia... 

Até hoje não entendo por que o “homem da cobra” não era chamado de “homem do peixe-elétrico”. E hoje, pensando sobre as artimanhas e perspicácias daquele homem que na minha infância foi misterioso, reconheço que ele apenas usava os instrumentos possíveis para vender o seu peixe... era um João Grilo da vida... esperto... só isso... esperto à sua maneira, esperto segundo o que estava guardado dentro dele...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O "Tanque" de Limoeiro, botija preciosa


       
O TANQUE DE ‘LIMOEIRO’, BOTIJA PRECIOSA

       Na cidade de Lagoa d’Anta, 100 km de Natal, área de caatinga, região agreste potiguar, há um reservatório natural de águas da chuva, chamado pelos nativos de “tanque”. Fica no povoado de “Limoeiro”, 3 km do centro.
       O “tanque” me impressionou. As águas fluviais descansam sobre um lajeiro da idade do Planeta Terra. Imenso. É uma gigante bacia de pedra emoldurada por cactos diversificados, como cardeiro (ou mandacaru), xique-xique, gogóia, umbu, facheiro. Vê-se muita algaroba, algumas quixabeiras, enfim as espécies típicas dali. A parte seca do lajeiro se espraia entre a mata, testemunha secular da história daquele município.
É um espetáculo.

No passado, segundo me contou um casal que mora próximo ao lajeiro, era a única fonte de água da região, portanto era sagrado. Ninguém se banhava no tanque. Tudo era cercado por faxina, impedindo o acesso do gado e animais domésticos, os quais bebiam em local reservado para não sujar a água.


Os moradores vinham de todas as localidades vizinhas e levavam água no lombo de jumentos. Assim enchiam as cisternas que tinham em suas casas. O “tanque” era referência para todos. O fato de as águas estarem sobre uma obra impermeabilizada pela própria natureza, garantia água por uma longa jornada.


O lugar é paradisíaco em sua condição semi-árida. Obviamente que o conheci numa época que choveu, portanto havia água considerável. Mas o contexto era belo. A mata rasteira, a terra de arisco, os sem-fim de pedras de todos os formatos e tamanhos – espalhadas pelo mato - davam à paisagem uma visão espetacular. Contam que no inverno, época de chuvas demoradas, ele transborda.


Olhando o “tanque”, pensei como deve ter sido difícil a vida dos nativos de antigamente. Naquele tempo não havia a Adutora Monsenhor Expedito, a qual abastece muitas cidades do agreste ao sertão. Hoje a água sai da lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta, município da região metropolitana de Natal, percorre mais de cem kms e escorre nas torneiras de Lagoa d’Anta. Fato impensável até o início da década de 1990, quando os nativos armazenavam águas de chuva em cisternas, latas, baldes, tanques, enfim, onde podiam.


Água era coisa escassa e preciosa. Criança crescia aprendendo a economizá-la. Reservava-se água para animais, para banho, para louça e plantas. As plantas eram as que mais sofriam, portanto se viam tanta secura a partir dos quintais. Verde, somente os pequenos jardins das casas e o jirau de coentro e cebolinha. Verde apenas as plantinhas ribeirinhas dos regos de água. Verde também a esperança eterna de um bom inverno.


O futuro foi bondoso com Lagoa d’Anta, pois a história de águas carregadas nos lombos de jumentos é passado. Soa pitoresca e folclórica. As crianças, com o mundo nas mãos, talvez darão risada de ouvir um idoso abrindo seu livro da vida. Não entenderão como era tão difícil a água, se hoje ela escorre abundante nas pias e chuveiros. Mas quem conhece a história do “tanque”, e que ele era mais precioso que botijas, com certeza terá um acervo infinito de memórias sofridas, engraçadas, tristes e de muito suor e trabalho.


O “tanque”, apesar de estar quase esquecido, foi um pai bondoso, que reservou vida para dar vida a tudo o que o emoldurava.
Como é belo o “tanque”. Belo nas mais variadas acepções.


Creio que ali deveria estar afixada uma pedra de mármore com uma placa de bronze com um resumo de sua história. Ou simplesmente escrito “aqui jaz uma botija mais preciosa que ouro. Aqui está a vida”.
Todos deviam conhecê-lo.
























quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

A menina do vestido roxo - Acta Noturna - 1954 - Quando os despojos de Nísia Floresta chegaram a sua cidade natal.

A menina do vestido roxo...


Você sabia que em Nísia Floresta ainda é viva a menina que vestiu um vestido feito com o tecido que enrolou o caixão de Nísia Floresta? 

Parafraseando Clarice Lispector: “há muitas histórias nos detrás dos detrases das histórias”... Essa pérola é um exemplo... um achado. Escutei-a pela primeira vez em fevereiro 1993, na voz doce da própria protagonista, Lúcia Elisa do Nascimento, 73 anos de idade, moradora no bairro Porto, em Nísia Floresta, estado do Rio Grande do Norte. Mas vamos entrar na "máquina do tempo" para entender como foi que Lúcia tinha um vestido que veio da França, no caixão de Nísia Floresta... Era assim que diziam as pessoas da época... isso há 66 anos...

Aos 11 de setembro de 1954, às 15 horas, a imensa caixa com os restos mortais de Nísia Floresta, foi desembarcada do navio “Pirapiá”, ou "Pirá-Pirá", um caça da Marinha de Guerra do Brasil, aportado nas docas da Ribeira, em Natal. Uma multidão se espraiava até a Praça André de Albuquerque Maranhão. Houve homenagens na Base Naval e seguiu-se uma verdadeira peregrinação para as devidas homenagens, inclusive no Instituto de Educação. Já escrevi aqui mesmo neste blog sobre o episódio com Chicuta Nolasco etc.  
 

No dia seguinte o cortejo se deslocou para a terra natal de Nísia Floresta, cujo município já havia recebido o nome dela por força de um projeto idealizado pelo deputado estadual Arnaldo Barbalho Simonetti, seis anos antes. Mas haveria uma história de bastidores preciosíssima que se daria oito meses após a espetaculosa chegada. Registrei-a em 1993, e agora presenteio os leitores em primeira mão. O fato é um misto de curiosidade, comicidade e inocência... não deixa de ser um precioso achado que fica aqui registrado para a posteridade.
 
Como todos sabem, assim que a "grande caixa" chegou ao município de Nísia Floresta, aos 12 de setembro, houve um impasse, pois todos aguardavam uma pequena caixa com os ossos da intelectual Nísia Floresta, jamais um caixão tradicional. E pior, o caixão tradicional veio dentro de uma caixa ainda maior, toda em madeira de pinus. A falta de comunicação fez com que construíssem uma base quadrangular de alvenaria para sepultar os restos mortais, ao invés de construírem o túmulo para acomodar o caixão normal. Na realidade, é comum que restos mortais vêm de fato sejam guardados numa pequena caixa, portanto não havia necessidade de se fazer um mausoléu tradicional. E ninguém avisou. Comunicação naquele tempo era complicada. O que fazer? Onde colocar aquela imensa caixa?

Logo na missa de corpo presente presidida pelo esdrúxulo cônego Rui Miranda, perceberam que não seria possível o “enterro”, portanto resolveram guardar o caixão sobre uma mesa nos corredores da igreja, na entrada da sacristia. E ficou ali no período de quase uma gestação humana. A grande caixa passou o natal e ano novo sob a sentinela da Senhora do Ó, que coincidentemente é a versão católica de Nossa Senhora Grávida. Assim aguardaram a construção do  túmulo, mediante um acordo feito entre o prefeito José Ramires e autoridades natalenses. Nesse interim "chovia" de gente para ver e apalpar o objeto, conforme me contou a senhora Natália Gomes do Nascimento, 90 anos: "Papai dizia que ela tinha sido mulher muito importante, então eu fui lá só ver, mas era uma caixa sem pintar, bem grande, ficava quase na porta da sacristia".


Após o jogo de empurra, imbróglios, descumprimentos de acordos para a execução da obra, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras jogou a toalha, fez vaquinha envolvendo centenas de instituições e pessoas influentes. O parto do túmulo se deu a exatos oito meses após a chegada dos restos mortais. É nessa data que entrará na história a pequena Lúcia Elisa, que depois seria a menina do vestido roxo.
 
Enfim a inusitada caixa foi conduzida ao “Sítio Floresta” no dia 11 de maio de 1955. A cidade estava envolta por milharais conforme a tradição das proximidades dos festejos juninos. O ponto de apoio foi o alpendre de uma casa grande, muito antiga, situada no sítio de propriedade de Carlos Gondim. A caixa foi depositada sobre uma mesa. Ali moravam os tios da pequena Lúcia, menina de olhos imensos, grandes como suas curiosidades. Eles eram empregados nesse sítio e presenciaram a logística do enterro. No local onde seria sepultado o caixão de Nísia Floresta já existia um monumento em homenagem a ela, construído em 1909, por Eduardo dos Anjos, quando supunham - equivocadamente - que era o centenário de seu nascimento. Depois descobriram que ela, de fato, nasceu em 1810. Esse monumento é obra do Congresso Literário, sob os cuidados do governador Alberto Maranhão. Sua inauguração trouxe, além do governador, Henrique Castriciano (pioneiro no estudo aprofundado da história de Nísia Floresta no Rio Grande do Norte), dentre outras figuras de escol.
 
 
Monumento em homenagem a Nísia Floresta, construído em 1909.

 “Ainda me lembro de meus tios prá lá e prá cá... um pedia uma coisa, outro pedia outra... era um monte de gente naquele dia, parecia que Natal veio toda ‘pralí’... tava até o ‘véi’ Zé Ramires, mas para mim aquilo era uma festa... eu não entendia aquelas coisas... não sabia que ali tinha uma morta, ficava só brincando e olhando o povo... coisa de criança...”.
 
Foi exatamente nesse evento que surgiu a deliciosa história. Ao abrirem a grande caixa (essa da foto) encontraram literalmente um caixão de pinus envolto em cetim de seda roxa. “Era um ‘panão’ grande... brilhoso... a coisa mais linda do mundo... fiquei olhando aquilo muito admirada, doida pra pegar... era brilhoso, bonito que só...”, contou Lúcia. 
 
Hoje, a juventude não associa muito a cor roxa à morte devido aos modismos, mas a tradição católica sempre a relacionou a tecidos mortuários, acessórios de féretro, caixão etc. Talvez seja uma derivação da ritualística católica que associa o roxo à penitência, cujos tecidos com tal cor prevalecem nas roupas clericais, nos templos e procissões na “Sexta-Feira da Paixão”, quando o “Senhor-Morto” é envolto em tecido roxo.

Pois bem. Ocorreu que um dos presentes na abertura da caixa era o senhor Antonio Amador do Nascimento, conhecido como “Tetéu”, tio da menina Lúcia, irmão de seu pai. Ela contava oito anos de idade. Estava por ali em visita aos tios.  O tecido era novo e ainda cheirava. Então ele pegou a bela fazenda e jogou sobre a menina, dizendo “pega prá tu!... eu nem acreditei, fiquei assim, olhando, abestalhada com o pano... Saí doida, correndo pra mostrar pra mãe". É preciso esclarecer que esse tecido não tocou nos restos mortais. Veio sobre o caixão e era uma peça nova, muito grande.
 

“Nunca vi um tecido tão lindo... emboloei no corpo e fui correndo pro quarto... era grande... bastante pano... mamãe logo escondeu de mim. Quando fomos no Porto, no outro dia, mamãe lavou o tecido, e vovó Geminiana fez um vestido e uma camisolinha pra mim... eu adorava vestir o vestido e ficar sentada no alpendre... queria que as outras meninas me vissem com o vestido... achava bonito, era o vestido mais bonito de Nísia Floresta... eu parecia uma menina rica... corria até a cancela, subia nas árvores, pulava... o vento voava o vestido, às vezes enganchava nas árvores, mamãe dava brava ‘menina, tu vai rasgar o vestido’... para mim o vestido dava alegria, não tinha nada de morte... achava linda a cor... quando eu usava a camisolinha nem sabia que dormia com os paninhos de Nísia Floresta... eu lá sabia quem era Nísia Floresta... o povo só dizia que era uma mulher muito sabida...”
 
 
Lúcia Elisa do Nascimento nasceu no dia 27 de novembro de 1946, filha de João Amador do Nascimento e Naura Elisa do Nascimento, neta de Geminiana Elisa do Nascimento gente antiqüíssima de Papari. Francisco Amador do Nascimento era pai de “Maria de Zuza”, era irmão do pai de Lucia Elisa. “Tio Tetéu mangava muito d’eu por causa desse vestido roxo... dizia que eu tinha usado o vestido de Nísia Floresta... depois dizia que o meu vestido tinha vindo no caixão de Nísia Floresta... depois dizia que eu tinha usado o vestido de uma morta... ficava me caningando”, comentou Lúcia, explicando que durante muitos anos o tio “mangava” dela devido ao singular episódio.
 
“Só depois de muito tempo eu dei conta daquela marmota, mas como era criança, nem percebi, achei foi bom. Até brincava, dizendo que o tecido de meu vestido tinha vindo da França. Quando eu ia pra rua com a minha mãe, vestia logo o vestido, ia bem importante.. exibida que só! Na minha cabeça todos estavam achando lindo”.
 
Aproveitando a narração deste fato, esclareço que o terreno onde se encontra o túmulo e monumento não foi doado pela família Gondim, pois a propriedade não pertencia a ela à ocasião da construção, datada de 1909. Luiz Bezerra Augusto da Trindade o havia comprado - por procuração - à Srª Antonia Freire, mãe de Nísia Floresta, em 1857, pela importância de 400$. Luiz Bezerra faleceu em 1881 e o sítio foi repartido entre os herdeiros. A maior parte ficou para Francisco Teófilo Bezerra da Trindade, falecido em 3 de outubro de 1838. Ele foi o doador do referido terreno. Algum tempo depois a propriedade foi vendida para Pedro Paulo de Carvalho. Até hoje o terreno pertence aos Carvalho. O dono atual é José Paulino de Carvalho. 
 
Como já escrevi outras vezes, conservo guardados muitos registros orais de pessoas antigas, as quais as encontrei ainda muito lúcidas quando cheguei a Nísia Floresta, em janeiro de 1992. Algumas presenciaram a chegada dos despojos de Nísia Floresta, inclusive, em 2002, quando fiz a reconstituição, convidei a educadora dona Noilde Ramalho. Nesse dia ela me contou que viu duas vezes a chegada dos despojos de Nísia Floresta. A primeira, quando era aluna, e todas se deslocaram para o evento, e a segunda, na dramatização. O professor Jorge Januário de Carvalho era criança nesse tempo e se recordou de detalhes valiosos, inclusive ornamentou o cajado com flores para o documentário. Conservei guardada, assim como incontáveis anotações sobre essa fato. Quando me dá vontade, pego dos velhos papéis amarelecidos e digito o texto conforme os depoimentos colhidos, muitos deles há 27 anos.

Externo a minha eterna gratidão à senhora Lúcia, por me presentear com sua história tão linda. Para mim a sua história é um o seu poema de vida... a propósito peguei dos pincéis e das tintas e pintei com exclusividade sua experiência, retratando “a menina do vestido roxo” na ilustração aqui publicada... (março de 2012).