ANTES DE LER É BOM SABER...
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
Em nome de Deus...
O varal de Deus...
O VARAL DE DEUS…
Desde que Fídias começou a balbuciar as primeiras palavras, escrevi-as num caderninho para tê-las guardadas, cumprindo garantir-lhe futuramente o seu glossário infantil. Além de suas primeiras palavras, protocolei suas primeiras frases. Aliás, antes de ele nascer eu já colecionava pérolas saídas da boca de crianças abaixo de 6 anos. Crianças que encontrava nos eventuais da vida. Sou muito apetecido a palestras infantis, onde brotam perfeitas pétalas poéticas, instigadoras da escrita. É a melhor liga para poesia.
Quando Fídias experimentava os seus 4 anos de idade, brincávamos na calçada, matizados pelo âmbar do ocaso que divisava o horizonte. O céu traduzia uma ilusão azul recordando um manto sem estampas de nuvens. Fídias olhou esse firmamento e exclamou “olha, pai, o varal de Deus!”. Ele se referia àquele rastro branco que se forma atrás dos aviões a jato, nos mais longínquos céus, como se a aeronave puxasse uma imensa corda branca, que se destaca na imensidão azul.
Como sabemos, esse “varal” é feito das“plumas” de vapor de água que, sob determinadas condições atmosféricas, formam uma espécie de rastro branco por onde a aeronave voa em altíssima velocidade. Quem não matou as aulas de Física – para sermos mais “científicos” – sabe que esse risco branco é um simples fenômeno físico, proporcionado pelo calor das turbinas condensando o vapor de água, transformando-o em cristais de gelo, esticando o “varal de Deus” por onde o avião voe. Haja roupa para Deus estender!
Toda essa cientificidade jamais atingiria Fídias naquela primavera de bodas de frutas (casado ele com sua infância). Era pano para o seu ginasial. Então foi mais fácil pensar: “como Fídias sabe o que é um varal”? Mas logo percebi que para as crianças é muito fácil saber o que é um varal. Elas adoram sentar no chão para brincar, de maneira que um varal fica entre ela e o céu. Toda criança vê o varal antes do passarinho.Varal faz parte da visão delas, e pode se transformar num parquinho de diversão particular.
Fídias desprezou todos os brinquedos industrializados que ganhou. Apetecia-lhe os brinquedos invisíveis e desprezados a quintal, a propósito, os mais fascinantes exercícios para a criatividade infantil. Desse modo, ele não trocava barro, pedaços de pau, tijolos e qualquer coisa de canto de muro por um robô que emitia barulho e piscava luzinhas coloridas. Carrinhos? Não chegava nem perto! Dar brinquedo de loja para Fídias era intermediá-lo para outra criança.
Recordo-me de uns três ou quatro pequenos bonecos plásticos que o encantava, com destaque para o Homem Aranha (seus únicos brinquedos de fábrica). Esses envelheceram em suas mãos. Ele os enganchava em barbantes e os pendurava no varal de roupas do quintal ou do terraço. Passava o dia embalando brincadeiras com aqueles bonecos, criando histórias faladas ao modo ‘dialeto’. Só ele entendia o monólogo. Aliás, ele e “Crispin”, uma criança invisível que lhe fez companhia durante um naco de sua infância. Quem o visse nessas palestras, impressionava-se, pois Fídias respondia perguntas do amigo. Nesses colóquios o seu quintal era maior do que o mundo. Estando em casa o seu brinquedo tinha parte com os varais. Bastava esticar os olhos para o céu e lá estava um varal no meio do caminho…
Alysgardênia sempre aproximou Fídias das coisas celestiais, de modo que ele tinha latifúndios sobre o céu. Eu, anêmico e desnutrido desses mistérios - sem prejuízo para a minha retidão humana -, não atingia essa beatitude. Mas inventar um varal para Deus era ser muito infinito!
Fídias conhecia muito bem o que era um varal. Varal da casa. Varal de estender roupas para secar. Varal-brinquedo. Varal-Parque de diversão... Então, nessa tarde crepuscular, ele olhou ainda mais alto e teve a visão do “varal de Deus”.
Até hoje, quando olho o céu e dou conta desse fenômeno aeronáutico, tenho a visão do "varal de Deus". Creio que, dentre toda a humanidade, eu seja a única pessoa que conhece o “varal de Deus”. L.C.F. 2019
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
História da nossa árvore de Natal...
sábado, 18 de dezembro de 2021
Bandeira do Brasil, o que fazem a ti?
Patrimônio histórico de São José de Mipibu/RN, o que deixarão para as crianças?
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
Mertiolate - Bela crônica de Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora
MERTIOLATE
Existem armas claramente perigosas: revolveres, rifles, espingardas. Não entro no mérito da discussão do que seria legal ou ilegal, mas, confesso, tenho medo destes objetos. Li, ainda na adolescência “O menino do dedo verde” e trocaria, facilmente, as armas de fogo por jarros de planta, apesar de não conseguir cultivá-las. Bem, isto é outra história. Entretanto, um mundo florido e cheio de folhas de diferentes formatos e tons de verde seria muito mais charmoso que o mundo exposto nos jornais da TV na hora do almoço…
Outros objetos tornam-se armas em mãos erradas. Carros, facas, canivetes, giletes. Hoje na missa pensava naqueles que perderam suas vidas nos carros. Por estarem passando na rua na hora errada enquanto outros faziam “pegas” ou “rachas”. Perderam suas vidas, seus futuros, as histórias que ainda iam desnudar… Pergunto-me até onde Hollywood e Tarantino invadem o imaginário e fazem com que estas coisas comuns ao nosso cotidiano tomem um caminho tortuoso e massacrante. Por favor, não me entenda mal! Não culpo Tarantino (curto seus filmes!) nem os demais filmes hollywoodianos (fazem parte do meu dia-a-dia). Porém, percebo neles um campo de experimento para mentes desocupadas. Não sei se me fiz entender. Não entendo o que deveria entender… Talvez por não ser mesmo para ser compreendido nem vivido, seja apenas um distúrbio da vida que deveríamos viver…
Entretanto, estas armas não são tão comuns como a mais cruel: as palavras! As palavras têm o poder de curar e de matar, de elogiar e destratar e, diferente das demais armas, não há remédios para apagá-las. Foi dito? Marcou. Marcou como uma tatuagem. Lava-se mil vezes, mas não apaga. Usa o laser, mas não desaparece. Tatua-se por cima, mas quem tem a marca sabe que, lá na camada mais profunda… ela está. São as palavras…
Hoje com as redes sociais, parece-me que as pessoas se escondem por trás de suas telas de computador ou celulares – sempre à mão – e, mais rápido que se possa imaginar, chega a ferida.
Vive-se procurando curtidas, likes de uma vida perfeita aos olhos dos outros. Vive-se contando os comentários, tantas vezes mentirosos, impetuosos ou desrespeitosos. Vive-se preocupado com o número de seguidores, que deixam de seguir na mesma velocidade que o álcool em gel seca em nossas mãos. Mas, através disto, alguns perdem empregos, amizades ou a vida.
Uma arma. Uma arma de fácil e rápido acesso. Uma arma contagiosa, talvez mais do que um vírus. Uma arma que todos temos e usamos arriscadamente. Uma arma que dilacera invisivelmente a carne… a carne do coração, da alma…
E, assim, tive saudade do mertiolate. O mertiolate “raiz”, que se passava com aquela “pazinha” quadriculada transparente. O mertiolate que ardia pra caramba, mas junto ao sopro da mãe, logo curava a ferida causada por um tombo, uma queda de bicicleta, um arranhão ao subir numa árvore.
As dores causadas pelas palavras são mais profundas e ainda não vi mertiolate para elas… Uma pena… Pois vejo uma sociedade dilacerada pelo uso das próprias armas…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
Acta Noturna - Coronel José de Araújo - De Presidente da Intendência da Vila Imperial de Papary a Deputado Provincial - Uma história que não está na história...
domingo, 5 de dezembro de 2021
Patrimônio Histórico de Nísia Floresta - Resposta da Arquidiocese de Natal às denúncias relativas a descaracterização da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, RN.
Carta que recebi da Arquidiocese de Natal, em 2019, em resposta às denúncias escritas e assinadas por mim, decorrentes da descaracterização da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Para ficar registrado para a posteridade, estou trascrevendo-o. Nos próximos dias vou escanear e colocar a imagem do documento original.
"Natal, 4 de dezembro de 2019
Prezado Luís Carlos Freire,
A arquidiocese de Natal e o Arquivo Metropolitano da Arquidiocese de Natal (AMAN) tomaram ciência das criticas e sugestões que o senhor fez acerca das reformas da Igreja de Nossa Senhora do Ó em Nísia Floresta. Gostaríamos de agradece-lo pela generosa contribuição, que nos ajuda a ficarmos atentos para a questão da preservação dos Bens Culturais da Igreja. Criticas como as suas nos ajudam a alerta e sensibilizar o clero para esta pauta tão importante.
O Arquivo Metropolitano da Arquidiocese de Natal tem feito o possível, sempre dentro de nossas poucas possibilidades, para fomentar politicas institucionais de preservação dos Bens Culturais da Igreja. Desde 2018 começou a implantação das disciplinas de Bens Culturais da Igreja I e Bens Culturais da Igreja II. A primeira disciplina foca na sensibilização e educação patrimonial do futuro clero e a segunda disciplina prioriza a gestão dos bens e os mesmo como objetos de pesquisa. A culminância das disciplinas ocorrem sempre no fim do ano.
Em 17 de dezembro de 2019 ocorrerá a segunda edição do Colóquio de Bens Culturais da Igreja no Rio Grande do Norte. A partir das 9h teremos o minicurso de Gestão de Arquivos Eclesiásticos e ás 14h uma mesa redonda sobre Gestão dos Bens Culturais da Igreja, ambas as atividades ocorrerão no auditório do Seminário de São Pedro.
A Inscrição para o evento pode ser feita pelo link a seguir:
http://arquivoarquidiocesedenatal.blogspot.com/2019/11/ii-coloquio-de-bens-culturais-da-igreja.html
Em nosso blog o senhor poderá conhecer um pouco mais do trabalho que estamos desenvolvendo. Link a seguir:
http://arquivoarquidiocesedenatal.blogspot.com/
Obrigado pelas contribuições.
Atenciosamente.
Equipe AMAN
Ir. Vilma Lúcia de Oliveira FDC
COORDENADORA GERAL DO ARQUIVO METROPOLITANO DA ARQUIDIOCESE DE NATAL"
Poliana Cláudia Martins da Silva Dantas
DIRETORA DE CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO ARQUIVO METROPOLITANO DA ARQUIDIOCESE DE NATAL
Cláudio Correia de Oliveira Neto
DIRETOR DE PESQUISA E DIFUSÃO DO ARQUIVO DA ARQUIDIOCESE DE NATAL
Os sertões - Euclides da Cunha (Reflexão)
Em 1989 li o clássico OS SERTÕES, de Euclides da Cunha. Ele foi enviado pelo jornal Folha de São Paulo para a Bahia para cobrir a guerra de Canudos: uma revolta pelo intelectual Antonio Conselheiro. Essa obra é, no dizer de Antonio Cândido, “precursora no desenvolvimento das ciências sociais nos anos 30 e 40”. O autor acaba trazendo a baila o pensamento nacional e os questionamentos sobre o atraso do desenvolvimento no interior do Brasil e do próprio país em relação aos outros.
Euclides da Cunha inicia fazendo uma descrição perfeita da seca do nordeste e dos elementos que a integram, inclusive o vaqueiro. Há partes que parecem terem sido escritas hoje. Depois ele conta a história de duas famílias inimigas: os Araújo e os Maciéis, nessa última, faz parte Antonio Conselheiro, ou simplesmente Antonio Vicente Mendes Maciel, os quais eram pessoas de considerável poder aquisitivo para os padrões de sua região. Alguns episódios são comparáveis à história de Lampião, haja vista a injustiça que velhos coronéis, políticos e juristas cometeram contra a família Maciel, os quais eram pessoas de bem. Sabe-se que as brigas familiares, no sertão do Nordeste, tinham sempre como fatores determinantes a luta pela terra e pelo poder político. E o Estado sempre ficava do lado dos grandes latifundiários.
Penso que uma série de fatos injustos acabou condicionando Conselheiro a abraçar a causa da defesa da terra para quem não tinha. Não foi mais que isso. E ele fez com muita inteligência, pois, além de ser um homem culto, era extremamente focado (embora muitos o vendem como insano, beato etc). Seu discurso impressionava pela profundidade e pelo conhecimento que ia da Bíblia aos mais importantes clássicos.
Ele assumiu pastas públicas respeitáveis, como escrivão de juiz de paz, requerente do foro, advogado provisionado, além de ter montado escola onde era professor. O fato de a sua história ser mal interpretada ou contada por pessoas preconceituosas faz com que o vejam de forma negativa. O próprio Euclides é infeliz em vários pontos, embora o grosso da obra seja fundamental para a leitura de todo brasileiro. A guerra durou de 12 de novembro de 1896 a 5 de outubro de 1897, ou seja, logo após a proclamação da república.
O Arraial de Canudos atraia todas as categorias: artesãos, pequenos proprietários expulsos de suas terras pelos grandes ou pelo fisco, imigrantes, alforriados, escravos fugidos, elementos de todos os tipos, mas rezavam a cartilha da organização, da partilha, da “união faz a força” etc. Mas como ninguém tem bola de cristal, é certo que muitas pessoas – inclusive autoridades respeitáveis –abandonaram suas vidas e seus cargos para seguir o Conselheiro, pois eram inimigos do novo regime republicano recém-instalado.
Canudos tornou-se uma Canaã e fez medo à República que engatinhava desorganizada e politiqueira. Obviamente Antonio Conselheiro tinha lido Utopia, de Tomas More. Não é possível! E fez bom uso. Certamente a origem histórica de Canudos deu-se na ideologia desse clássico de More. Interessante era que ele recebia o mais profundo respeito das pessoas adeptas a Canudos, por pura admiração e pelo espírito igualitário como eram tratados. Foi um homem respeitado por muitos, desde mendigos a autoridades, inclusive, ao contrário do que alguns apregoam, até alguns padres o admiravam.
Certos trechos do pouco que ele deixou escrito são antológicos e não ficam atrás do que falaram ou escreveram os maiores abolicionistas. Infelizmente os governantes não entenderam quão visionário fora Antonio Conselheiro. O jeito foi matá-lo. E olha que deu trabalho, pois precisou de cinco expedições. Vieram militares de todo o Brasil, nos mais altos postos.
Quase
todos morreram pelos “jagunços” do Conselheiro, os quais eram em número
superior aos pelotões de todo o Brasil. Precisou então fazer uma “salada
brasileira de soldados”, na qual ia de gaúchos a nortistas. Mais de seis mil
homens, canhões e as mais potentes (para a época) armas de fogo. Tanto o pelotão do Conselheiro quanto o
pelotão dos militares (expedicionários) teve um inimigo em comum: a seca! Ela
matou a muitos. A história vale a pena ser lida, relida, refletida e imitada
pelos políticos brasileiros. (escrito em 2014)