DEPOIS DAS “DIRETAS JÁ” UM RETORNO À
ESCURIDÃO?
Palavra-chave: Tortura no Rio Grande do Norte - Intentona Comunista em Natal
Eu nunca externei de maneira maciça sobre
tal assunto, mas diante do atual contexto, não há como deixar sob a poeira do
tempo esse episódio histórico. Fiz 50 anos e nunca vi uma campanha política
pautada pelo ódio e pela discórdia. Assisto famílias se dividindo, amigos se
agredindo, patrões demitindo colaboradores por política.... “Gente de igreja”,
como se diz popularmente, apregoando o contrário do que Jesus lhes ensinou. Há
medo no ar.
Conversando com uma educadora sobre
política, no intervalo de um seminário, ela pediu que eu falasse baixo, olhando
para todos os lados com medo de alguém escutar sua opinião. Isso volta a me
lembrar os anos de chumbo, a tortura, o medo... Isso é digno de ser discutido
em todas as instituições, inclusive dentro das escolas. Eu sei de perto o que é
tudo isso.
Um dos momentos que Macedo é mencionado em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos
Tive familiares daqui do Rio Grande do
Norte (Natal, São José de Mipibu e Parnamirim), primos legítimos da minha mãe,
torturados durante a “Intentona Comunista” e a Ditadura Militar, por se
envolverem em movimentos em prol da Democracia, da liberdade de expressão e
pela busca de um país realmente social e libertário. Tenho motivos de sobra
para abominar qualquer burburinho e prenúncio da volta de tal mazela. Começo
por Renato Peixoto (tio de Tamires Italo Trigueiro Peixoto, respeitável
historiador de São José de Mipibu), primos legítimos meus, moradores no Engenho
Morgado, lembro também de João Isaías de Macedo (“Dom João”, como era conhecido
em Parnamirim e São José de Mipibu), todos mencionados nesse livro de capa
amarela (“82 HORAS DE SUBVERSÃO”), na minha postagem anterior (meu Facebook) inclusive nosso
primo Macedo é mencionado no livro MEMÓRIAS DO CÁRCERE, de GRACILIANO RAMOS com
outros potiguares que foram levados ao Rio de Janeiro, onde foram enclausurados
na famosa “Colônia”, ilha carioca.
Todos eles, inclusive Graciliano Ramos,
comeram o pão que o diabo amassou. Se
você não tiver sangue frio não consegue ler a obra de mais de 700 páginas. A
narração é enojante. Do início ao fim há medo, pressão psicológica, imundícies,
enfim toda espécie de tortura. Chega a ser depressiva ler a escrita fria e
ríspida do grande literata. MAS TUDO VERDADEIRO. Por esse motivo e em nome de
tantos que no Brasil inteiro foram torturados e humilhados, eu não acredito em
pessoas ou grupos que elogiam ou favorecem discursos de tortura e armamento. Que
barbaridade se pegar uma criancinha no colo e fazer o gesto de uma arma nas
mãos para ela imitar. Isso é um atentado a pureza e a inocência da infância.
Nossos filhos precisam ser educados para
conhecerem a Nova História, senão seremos regidos por um misto de nazi
fascismo. Este livro de capa vermelha “BRASIL NUNCA MAIS”, também mostrado em
postagem anterior, assinado nada menos que pelo excepcional DOM PAULO EVARISTO
ARNS, faz-nos chorar, vomitar, contorcer pelo grau de animalismo e truculência...
É tudo FATO/HISTÓRIA. O livrode capa cinza, “UM MILAGRE, UM UNIVERSO”, de
Lawrence Weschler (amigo pessoal e grande colaborador de Dom Paulo Evaristo
Arns) conta a história de como se deu a construção do livro “Brasil Nunca Mais”.
Um verdadeiro filme de ação e suspense. Chegam a ser inacreditáveis as
passagens de audácia de Dom Paulo Evaristo Arns, percorrendo órgãos,
escavacando arquivos de maneira disfarçada, escondendo documentos sigilosos
dentro de carros, esmiuçando lixos, papéis queimados enfim são momentos eletrizantes
de destemor. Só mesmo um homem tão altruísta e inteligente para tamanha façanha
em prol de esclarecer ao Brasil os porões vergonhosos e desumanos da Ditadura
Militar.
Sei também da história do meu primo
Simplício Peixoto, de Parnamirim, vitimado durante a Ditadura Militar, o qual
foi torturado na Base Aérea de Parnamirim, verdadeiro “Campo de Concentração
Nazista”. Depois foi levado para os porões de um presídio em Fernando de
Noronha. Tudo o que o leitor imaginar de humilhação, espancamento, atentado ao
pudor, pressões psicológicas, medo etc ele passou na Base Aérea e em Fernando
de Noronha, verdeiros Dops/Doi/CODI da vida... E o que nos escandaliza é saber
que todas essas pessoas citadas, hoje mortas, e indenizadas pelo estado depois
de décadas, foram homens de bem, cujos filhos e filhas são pessoas da mesma
estirpe.
Tenho profunda indiferença e NENHUM
PINGO DE MEDO dos valentões que andam por aí com discursos de ódio, querendo
vencer pela força, proclamando aos sete cantos discursos gabolas, favorecendo práticas
contrárias A eles próprios, cujos filhos poderão sentir seus efeitos
traumatizantes no futuro. Na realidade são seres tão desinformados e toscos que
não sabem o que falam. Estão no “oba-oba”.
Para finalizar, deixo aqui esses livros
como sugestão para leitura, os quais, dentro de um contexto, permitirão saber
com mais detalhes essa página vergonhosa da História do Brasil. Uma obra leva a
outra e lança luzes aos fatos. EU DISSE: FATOS. Por isso e muito mais eu não
acredito em “Messias” improvisados, mistos de Hitler e Trump, um perigo para o
Brasil. E hoje, vendo admiradores do “messias”, desrespeitando o Parlamento Federal,
homenageando Ustra, vejo o quanto a Democracia está ameaçada e quão
horripilantes e sem estirpe são tais seres.
Que insanidade homenagear torturador na Câmara
Nacional? Que inversão é essa? Que retorno ao passado é esse? Já falaram até em
fechar o Supremo Tribunal Federal. Vê-se muita truculência e autoritarismo. Não
sabem o que falam. Imagine uma equipe de governo nesses moldes. São trapalhões
equivocados. Falam sobre a família como se somente eles pudessem salvá-la. COMO
SE A FAMÍLIA ESTIVESSE EM PERIGO. E como se coubesse a eles a “reconstituição”
desse pilar social.
O grande problema está na Educação que
nunca houve como deveria, pois é necessário todo um contexto. É justamente por
causa desses trogloditas desinformados que muitos, ao invés de admirar homens e
mulheres notáveis, admiram seres estúpidos, ignorantes, admiradores da tortura.
Eu acho que, no bom sentido, “deixemos a vida nos levar” e assistiremos um
governo que já iniciará morto pelas próprias armas. Não é que eu deseje. São
verdades externadas em palavras, atos e corpos. Os corpos desses seres falam muito.
É uma pena tanta ignorância junta. É inacreditável que, depois das “Diretas já”,
a qual tive o privilégio de estar presente no grande Comício defronte à Igreja
da Sé, em São Paulo, depois de tanta abertura, assistamos o comício da
escuridão.