ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O medalhão de Nísia Floresta na praça Augusto Severo - 1911


MEMÓRIA DE NATAL - MEDALHÃO DE NÍSIA FLORESTA (1911)

 

No dia 2 de abril de 1911 o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sob a presidência do Dr. Desembargador Vicente de Lemos, foi convidado, mediante um ofício enviado pelo Grêmio Literário “Augusto Severo”, para prestigiar a solenidade de inauguração do medalhão de Nísia Floresta no jardim da praça “Augusto Severo” no dia 19 de março de 1911. 

 

Henrique Castriciano, apaixonado pela história de Nísia Floresta, mandou fazer essa obra em Paris, pelas mãos dos artistas Corbiniano Vilaça e Edmond Badoche, e sensibilizou o governador Alberto Maranhão para edificar um monumento nos jardins da praça Augusto Severo, onde a bela peça foi afixada. À ocasião o presidente dessa instituição nomeou os senhores Pedro Soares, Luiz Lyra e Nestor Lima para representá-lo no evento. 

 

Na reunião do dia 16 de abril de 1911, inclusive o sr. Luiz Lyra declarou que a comissão nomeada para a referida inauguração cumpriu o dever recebido. Esse evento foi muito divulgado. Muitos foram os convidados. Nesse tempo o município de "Vila de Papari" tinha o Coronel José Joaquim Carvalho de Araújo como Presidente da Intendência. Ele era muito ligado à família Maranhão, e sempre esteve a serviço dessa Oligarquia. 

Não posso afirmar, mas é muito provável que ele tenha prestigiado o evento, já que a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta nasceu em Papari. Esse monumento não demorou muito, pois vândalos roubaram o medalhão, e como não o encontraram mais, mandaram derrubar a base de alvenaria que o sustentava. Atualmente esse hábito de vandalizar monumentos para retirar o bronze é prática de alguns drogados, que o fazem para vender e sustentar o vício. Mas a realidade de 1911 era muito diferente. Esse acontecimento - na minha opinião - pode ter sido uma forma de externar preconceito contra Nísia Floresta. Como dizem: " foi coisa mandada". Coincidentemente, nesse tempo, uma inimiga gratuita, que Nísia nunca conheceu pessoalmente - pois nasceu 29 anos depois dela -, se encarregava de frequentar todos os ambientes natalenses que promovessem homenagens a Nísia Floresta, e entregava uma imensa carta denegrindo-a. Ela passou grande parte de sua vida nessa curiosa "missão". 

 

Particularmente não entendo o objetivo dessa personagem que atendia pelo nome de Isabel Gondim. Defendo a tese de que o vandalismo se deu por preconceito porque trinta anos depois o medalhão foi encontrado intacto, alguém reconheceu a peça e a enviou ao Instituto Histórico e Geográfico do RN, onde se encontra. Ou seja, nunca houve interesse em "desmanchar" a peça para aproveitar o bronze, como os marginais fazem, hoje, aos fios de eletricidade que contém cobre. O interesse foi apenas tentar apagar o nome de uma mulher que incomodava a sociedade preconceituosa, conservadora e cheia de tabus, desenhada nos moldes patriarcais. 

 

Lenda do Haja-Pau...

AVES COMUNS AO RIO GRANDE DO NORTE - JOÃO-CORTA-PAU (Caprimulgus rufus).
 
Com aparência que lembra um sapo, o dito pássaro também é conhecido como "Haja-pau". Lembro-me com nitidez da lenda amedrontadora, contada por minha mãe, sobre esse pássaro. Dizem que há muitos anos, num sítio, o pai saiu ao amanhecer para a peleja na roça. Às onze horas da manhã a mãe preparou a marmita. Colocou arroz, feijão, fruta-pão, farinha de mandioca, um pedaço de rapadura, e forrou com pedaços fornidos de galinha caipira com bastante graxa. Tampou com um prato de ágatha, revestiu com um paninho branco bem limpo, deu o nó e pediu que o filho levasse para o pai. 
 
O menino ganhou a estrada, mas no caminho abriu a marmita, comeu todos os pedaços de frango e devolveu todos os ossos à marmita, forrando o restante da comida. Como o serviço de roça é exaustivo, a fome chega do tamanho do mundo. Então o pai recebeu aquele embrulho como um bálsamo. Ao desatar os nós teve um susto e perguntou: "a sua mãe mandou isso desse jeito?" O menino, respondeu incisivamente: "claro, pai! ela mandou assim, pois estava muito ocupada com um homem estranho que chegou lá em casa!" E de maneira bastante cínica, perguntou ao pai: "por que o senhor está perguntando isso?" O pai não respondeu e saiu por cima do rastro do filho. 
 
Ao chegar até a casinha de taipa onde vivia com a esposa e o filho malvado, não disse uma palavra, simplesmente começou a espancá-la com o pau de uma enxada. A pobrezinha da mãe, tão caprichosa, e inocente de tudo, explicava ao marido que nenhum homem havia estado ali. Mas ele não acreditava. 
 
Enquanto isso o menino, assistiu tudo sobre um pé de cajueiro, como se tivesse feito algo muito bom. E como se a sua frieza não bastasse, gritava "haja pau, haja pau, haja pau... ", como se achasse boa a cena aterrorizante em que a mãe recebia pauladas. Antes de dar o último suspiro, a mãe disse: "um ser humano tão mal como você há de repetir isso para toda a eternidade". O menino saiu como um louco pela mata, e quando anoiteceu, se transformou num pássaro esquisito que até hoje, de fato, grita "haja pau, haja pau, haja pau...". 
 
Antigamente os pais contavam histórias horripilantes para os filhos. Não havia preocupação em traumatizá-los ou despertar-lhes medo ao irem dormir. Eu e meus irmãos, pelo menos, morríamos de medo, mas dois dias depois lá estávamos nós pedindo para a nossa mãe contar contar mais uma estória. Cada uma mais apavorante que a outra. 
 
Na realidade, os contos de fadas antigos, outra vertente, eram amedrontadores. Verdadeiras histórias de terror. Essa, por exemplo, retrata a violência contra a mulher. Ninguém a contaria para os filhos atualmente (creio). Ou contaria com as devidas objeções. Mas no passado eram contadas com normalidade. 
 
A mim mal não fez. Pelo contrário, despertou-me a escrever histórias e ter curiosidade para ler e descobrir outras. Mas, agora, vamos finalizar as informações sobre a história do pássaro-sapo, aliás, do "João-Corta-Pau": ua espécie é comum a todo o Brasil. No RN é vista no agreste, na caatinga e em dunas costeiras.
 
Ao chegar até a casinha de taipa onde vivia com a esposa e o filho malvado, não disse uma palavra, simplesmente começou a espancá-la com o pau de uma enxada. A pobrezinha da mãe, tão caprichosa, e inocente de tudo, explicava ao marido que nenhum homem havia estado ali. Mas ele não acreditava. Enquanto isso o menino, assistiu tudo sobre um pé de cajueiro, como se tivesse feito algo muito bom. E como se a sua frieza não bastasse, gritava "haja pau, haja pau, haja pau... ", como se achasse boa a cena aterrorizante em que a mãe recebia pauladas. Antes de dar o último suspiro, a mãe disse: "um ser humano tão mal como você há de repetir isso para toda a eternidade". O menino saiu como um louco pela mata, e quando anoiteceu, se transformou num pássaro esquisito que até hoje grita "haja pau, haja pau, haja pau...". Antigamente os pais contavam histórias horripilantes para os filhos. Não havia preocupação em traumatizá-los ou despertar-lhes medo ao se deitar. Eu e meus irmãos, pelo menos, morríamos de medo, mas dois dias depois lá estávamos nós pedindo para a nossa mãe contar contar mais uma estória. Cada uma mais apavorante que a outra. Na realidade, os contos de fadas antigos, outra vertente, eram amedrontadores. Verdadeiras histórias de terror. Essa, por exemplo, retrata a violência contra a mulher. Ninguém a contaria para os filhos atualmente. Mas no passado eram contadas com normalidade. Pelo menos a mim mal não fez. Pelo contrário, despertou-me para escrever histórias e ter curiosidade para ler e descobrir outras. Mas, agora, vamos finalizar as informações sobre a história do pássaro-sapo, aliás, do "João-Corta-Pau". Sua espécie é comum a todo o Brasil. No RN é vista no agreste, na caatinga e em dunas costeiras.

 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Já imaginou um município onde quase todos os moradores são eleitores?

Ontem tive acesso a um dado que é, no mínimo, intrigante. Em linhas gerais, a proporção entre o número de eleitores e o de habitantes nos municípios brasileiros gira, em média, na casa dos 60%. Isso significa, por exemplo, que a cada 100 (cem) habitantes existentes no Brasil, 60 (sessenta) estão aptos a votar. 

 
A cidade de Parnamirim, próxima daqui de Natal, por exemplo, tem 202.456 habitantes (Fonte: IBGE) e 115.403 eleitores (Fonte: TRE/RN), o que equivale a uma proporção de 57% de eleitores em comparação ao número de habitantes. Já Natal, que tem população de 803.739 habitantes, possui, hoje, 506.201 eleitores, equivalendo à proporção de 62,9% de eleitores. 
 
Espantosamente, no município de Nísia Floresta, com população atual de 23.784 habitantes (2014), existem nada mais nada menos que, PASMEM, 17.969 eleitores. Uma proporção de 75,54%, talvez a maior registrada no Estado. Julgando pela quantidade, pensa-se que ali votam até as crianças e mortos, até porque é impossível essa proporção de eleitores diante do número de habitantes.
 
É como se praticamente toda a população da cidade fosse apta a votar. E mais, como se na localidade pouco existissem crianças/adolescentes menores de 16 anos (desobrigados dos alistamento eleitoral) e idosos acima 70 anos (cujo voto é facultativo). Realidade totalmente improvável, se comparada com o cenário geral. Mas é fato, e isso se explica pelo fato pessoas de outras cidades transferirem os seus votos para Nísia Floresta com o objetivo de alguma benefício.
 
Esses dados nos levam a única justificativa: em Nísia Floresta, devem existir muitos (muitos mesmo) eleitores que votam no município sem NUNCA terem morado um dia sequer no município - e não tem relação alguma com a cidade - o que contraria a legislação eleitoral (pra não dizer que é crime eleitoral). A intenção desses "eleitores" é apenas eleger alguém para ter benefícios onde moram. Na realidade os políticos de má fé arquitetam coisas impensáveis com lideranças políticas, amigos e colegas de outros municípios etc. A finalidade é uma só: CORRUPÇÃO.
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OBS. Hoje recebi essa lembrança que escrevi em 2014. Como é um fato real e bastante esdrúxulo, ei-lo aqui novamente. Só não sei se atualmente o quadro é o mesmo. Serve pera pensarmos...

 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ACTA NOTURNA - Parnamirim, Eduardo Gomes, Parnamirim...


 
ACTA NOTURNA - Parnamirim, Eduardo Gomes, Parnamirim...
 
Era uma vez uma aldeia de índios potiguares nominou um rio miúdo como "Paraña-mirim", que significa 'rio estreito' ou 'pequeno rio'. Isso antes de Cristo... muito antes. Com o descobrimento do Brasil, os portugueses não compreendiam o idioma indígena e passaram a chamá-lo da forma como interpretavam. Assim surgiu Parnamirim, uma curruptela muito troncha, mas ficou "melhor" do que viria depois. 
 
Pois bem... certo dia uns desses homens da espécie "puxasakusdepolítikus" teve um desses rompantes esdrúxulos. Correu até a Assembléia Legislativa e encontrou homens da espécie "loukuspiorys". Enfim, depois de muitas estratégias politiqueiras, desbatizaram o batismo indígeno-português, sentenciando que a cidade passaria a se chamar doravante EDUARDO GOMES, um brigadeiro carioca que foi comandante da Base Aérea na década de 40. 
 
O povo parnamirinense deu a mulesta dos cachorro doido quando soube que roubaram o nome da cidade e faziam oshabitantes engolir um nome postiço. Um pioneiro dos arcos da velha disse "o diabo é quem vai chamar a minha cidade de Eduardo Gomes... aqui é Parnamirim, e Parnamirim vai ficar". Uma velhinha muito idosa, vinda das bandas de Areia (PB), arranchada por aqui nos tempos dos campos de alecrim, gritou: "que levem esse nome estranho para os mil e seiscentos diabos... aqui é Parnamirim e eu morrerei dizendo Parnamirim ". 
 
A cidade entrou em polvorosa. Correram para a Câmara de Vereadores. Os vereadores viram-se obrigados a correr atrás do prejuízo, pois o fervilhando foi grande. Uns, de fato, eram favoráveis ao povo; outros, nem tanto. Temiam as represálias politiqueiras que navegam as águas da politicagem. Mas o povo não quis saber, partiu para a Assembleia Legislativa e ameaçou fazer greve de voto às oligarquias e a quem se opusesse. 
 
Um vereador muito invocado, vociferou: "ou vocês disbatizam a cidade ou a gente faz caravana até Brasília... vocês não terão paz enquanto não devolver o nome real da cidade. Vamos armar barraca na frente da Assembleia, e o diabo é quem vai tirar a gente, pode chamar a polícia!" 
 
Só sei que fizeram um boi de fogo. Político algum teve paz naqueles tempos. Houve um deputado que disse: "esse povo de Parnamirim tá com a bixiga taboca atrás de voltar o nome. antigo.. não há quem sossegue o facho deles"... 
 
Enfim os deputados, acuados, resolveram ouvir o povo. Como vivemos num mundo permeado de burocracias, o nome se estendeu um pouco até oficialmente ser rebatizado. Enfim, Eduardo Gomes voou para bem longe, deixando quieta a velha Parnamirim. 
 
Contam que um vereador deu a notícia dessa forma: "se é para o bem de todos e felicidade geral de Parnamirim, digam ao povo de Parnamirim que Parnamirim fica Parnamirim". E foi ovacionado como nunca! Hoje esse município faz parte da Região Metropolitana de Natal, e fica aqui pertinho... Essa história nos ensina que, se o povo quiser, é capaz de tudo.

 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Engenho São Roque - Nísia Floresta/RN...

 

O engenho São Roque pertenceu a Roque Maranhão (in memorian), intendente de Papary (Nísia Floresta) no início do século XX. É localizado às margens da estrada que liga São José a Nísia Floresta. Não se sabe com exatidão a data de sua construção, mas supõe-se ter sido no meado do século XIX. Infelizmente a maioria dos filhos e netos dos proprietários desses engenhos - seja em Nísia Floresta ou São José de Mipibu, quase nada sabem sobre esses ambientes, restando a quem pesquisa, juntar fragmentos catados ali e aqui - quando tem a sorte de encontrar - compilando-os para futura publicação. Roque era casado com Luzia Peixoto Maranhão ("Lula Maranhão", falecida aos 103 anos de idade, esta morava anteriormente no engenho Morgado). 
 
Como era comum a todos os senhores de engenho e grandes "proprietários", como eram chamados, eles tinham uma bela casa no centro de São José de Mipibu, defronte à praça Des. Celso Sales. A casa era usada para passarem períodos em que o município realizava festas, para dar suporte aos filhos que estudavam e situações afins. Mas a residência fixa era no engenho. Eram pais de Geraldo Maranhão, o último descendente a residir ali, falecido na década de 90. Era casado com Marlene Maranhão, pai de Cristina, Sergio e Roque. Com o engenho em fogo morto, investiram em restaurantes. Um funcionava nas proximidades do Ginásio Poliesportivo, outro em Camurupim, ambos em Nísia Floresta. Roque, neto, teve o seu último restaurante às margens da BR-101, em São José de Mipibu. Sua mãe, Marlene ainda segue o ramo, em Natal, na avenida Deodoro da Fonseca, mas atende um público exclusivo. A imagem, abaixo, é um flagrante de 1960, em funcionamento. Atualmente toda essa estrutura não existe mais. A chaminé resistiu até 2008, quando ruiu. Atualmente vê-se apenas restos dos maquinários a vapor. Mas a casa grande permanece intacta, conservando a originalidade e muito bem conservada, além de muitos desses longevos coqueiros, testemunhas dos tempos em que o fogo ardia os tachos de caldo de cana para o fabrico de rapadura, melado e cachaça. Como disse acima, as informações sobre esse engenho são escassas. Encontrei um documento datado de 1920, informando os nomes das propriedades rurais de Nísia Floresta (Papary), dentre elas o "Engenho São Roque". Mas a pouca informação que sei é fruto de História Oral. Em 1994 conheci dona Mirtes Peixoto Maranhão, uma das filhas de Roque Maranhão, já bem idosa. A esposa dele era prima legítima da minha mãe, fato que me permitiu ter certos laços de aproximação. Eventualmente eu passava ali para conversar. Numa das muitas conversas ela me informou que o "mercado" de escravos pretos funcionava exatamente num imenso pé de "Oitizeiro" que fica próximo ao engenho, exatamente ao lado do Batalhão de Polícia.  Certamente esse tipo de comércio começou ali e tornou-se uma referência para os "proprietários", como eram chamados. A grande quantidade de engenhos e propriedades rurais entre Nísia Floresta e São José de Mipibu explica muito bem a informação.
Engenho São Roque (fiz essa fotografia em 2009) Encontra-se atualmente (2021) nas mesmas condições.
Engenho São Roque (fiz essa fotografia em 2009). Essa fotografia é quase no mesmo ângulo da foto colorizada, acima, de 1960. O engenho eEncontra-se atualmente (2021) nas mesmas condições.
Resquícios da casa de máquinas, vendo-se a caldeira a vapor, o engenho de moer cana e o pilar do barracão.
Resquícios do barracão onde ficavam os maquinários.
Estação Papary, construída em 1881, próxima do "Mercado de escravos". É possível ver o Oitizeiro no centro da imagem, acima.
Engenho Morgado,  onde nasceu Luzia Peixoto (Lula Maranhão), esposa de Roque Maranhã. Fica a uns 500 metros do Engenho São Roque.

Engenho Descanso. Fiz essas imagens em 2004. Hoje está quase totalmente em ruínas. Fica a uns 500 metros do Engenho São Roque, já quase dentro da cidade de Nísia Floresta.

Fundos do Engenho Descanso. Fiz essas imagens em 2004. Hoje está quase totalmente em ruínas. Fica a uns 500 metros do Engenho São Roque, já quase dentro da cidade de Nísia Floresta.

Engenho Mipibu, se divisa com o rio Mipibu, e Estação Papary. Fica a 200 mestros do Engenho Morgado e 300 metros do Engenho São Roque.

Local exato do "Mercado de Escravos", vendo ainda o Oitizeiro
(Fotografia de João Maria da Silva)
Local exato do "Mercado de Escravos", vendo ainda o Oitizeiro
(Fotografia de João Maria da Silva)

Grupo Escolar Barão de Mipibu - Grupo Escolar Nísia Floresta - Curiosidades

Imagem de internet

O "Grupo Escholar Barão de Mipibu, conforme vocabulário de época, foi Criado oficialmente em 1909, a partir de uma lei promulgada pelo governador Alberto Maranhão, que sucedeu o escritor nisiaflorestense Antonio de Souza, autor da lei de 1908, que mandava criar escolas no estado. 

 

O decreto informa que o citado prédio se localiza na "Praça Tavares de Lyra". Não sei se o nome original resiste, mas a  edificação resiste praticamente intacta. Antonio de Souza foi "o governador  da Educação". Sua gestão foi marcada  por criações de escolas e diversas leis pertinentes.  O belo e famoso edifício consiste numa das mais belas obras da arquitetura local. O prédio foi mandado construir pelo famoso "Barão de Mipibu" (Miguel Ribeiro Dantas, seu nome de batismo), o homem nais rico da localidade, residente no Engenho "Lagoa do Fumo". 

Imagem de internet

O Barão inspirou-se num decreto de 1872, que orientava que os Presidentes de Intendências construíssem Casas de Instrução Públicas, portanto adiantou-se bastante. Foi homem de visão. Até hoje o prédio  exerce o papel de educandário. Já o prédio de Papary não conta com o mesmo desvelo, e não tem mais a função de escola. O "Grupo Escholar Nysia Floresta" também foi criado em decorrência da lei assinada por Antonio de Souza, mas em 1910, conforme decreto do governador Alberto Maranhão. A letra Y foi uma viagem mental, pois Nísia sempre escreveu o seu nome com "i". Tanto o Grupo Escolar de Mipibu quanto o de Nísia Floresta tiveram os seus Regimentos Escolares tais quais o do famoso "Grupo Escholar Augusto Severo", de Natal, este criado em 1908 pelo governador Antonio de Souza. 


Percebe-se na fotografia um letreiro em alvenaria, em alto relevo, informando "Grupo Escholar Nysia Floresta". Acaso o letreiro tivesse sobrevivido, não seria visível haja vista a parede da antiga Câmara (ao lado). Por que teriam escrito de um lado impossível de ver? Porque originalmente o prédio foi erguido numa esquina, mas um prefeito descaracterizou o amplo largo da Matriz, pincelando boa parte desse espaço com comodozinhos de péssimo gosto, destruindo o estilo colonial da cidade. Como sempre digo "ignorância é um câncer". Mas pelo menos conservaram o 'esqueleto' do prédio. A edificação pertenceu ao Coronel José de Araújo,  primeiro presidente da Intendência da então "Vila Imperial de Papary". Originalmente era sua residência. Em 1992, dona Estelita Oliveira, uma antiga moradora de 90 anos de idade, bisneta do "Cavaleiro da Rosa", contou-me que o conheceu pessoalmente, e que ele assistia missa da janela de seu casarão. Era senhor de engenho e integrante da Guarda Nacional. Irmão de Accúrcio Marinho, que também era da Guarda Nacional. Um dos critérios para integrar essa respeitável corporação era justamente ser gente de muitas posses. Ter sido da Guarda Nacional não significa necessariamente ter sido militar, tampouco integrado pelotões militares, embora - logicamente - existiam membros da Guarda Nacional que, de fato, eram das milícias, ou seja, eram militares na ativa.

 

Retomando as informações sobre o "Grupo Escholar Barão de Mipibu", julgo conveniente registrar três ex-diretores dessa instituição como meus primos legítimos. MARIA DE LOURDES PEIXOTO, gestora na década de 1940 e também na década seguinte. Contam que era uma educadora na mais pura acepção da palavra. Fazia "milagres" para tornar o ambiente acolhedor e com características mais pedagógicas. Muito rígida. Praticamente morava dentro da escola, pois sua casa ficava atrás do Grupo Escolar. Essa residência ainda existe. Fixa atrás da antiga Apami. 

 

Uma tia me contou que ela mandava fazer comida em sua casa e oferecia gratuitamente às crianças humildes, sem fazer disso qualquer alarde. Era devoradora de livros, e tinha coleções de Monteiro Lobato, Teodoro Sampaio, Câmara Cascudo e outros notáveis escritores. Lutou muito para que Mipibu tivesse o curso ginasial, conseguindo sensibilizar  o governador, tornando-se inclusive sua primeira diretora. Contam que seu sepultamento foi marcado por profunda consternação, pois era muito querida e respeitada. 

TAMIRES ÍTALO TRIGUEIRO PEIXOTO, gestor na década de 1990. Nada sei sobre sua gestão. Era historiador. Sei mais sobre a pessoa dele, que sobre seu trabalho junto ao Barão de Mipibu. TAMIRES, foi um homem de uma honradez e decência incríveis. Era espírita. Pensava  mais  nos outros do  que  nele. Também foi  gestor da Escola Estadual Francisco Barbosa. Foi um educador muito respeitado. 

JOÃO MARIA FREIRE, gestor no final da década de 1990. Também não sei muito sobre sua gestão, mas recordo-me que um dia ele me contou ter conseguido tombar o prédio, em conformidade com as leis de Patrimônio Histórico/IPHAN e teve o cuidado de conseguir contemplar o prédio do Barão de Mipibu num projeto da Telemar, cuja fotografia do mesmo passou a figurar nos antigos cartões telefônicos em todo o Brasil. Ele também foi secretário de educação de Mipibu.

Escola Estadual Nísia Floresta em registro de 1970 (prédio atual)

domingo, 5 de setembro de 2021

Ninguém é corrupto sozinho, a corrupção pede assessoria - "o folclórico voto de carbono"...

 


Ninguém é corrupto sozinho, a corrupção pede assessoria - "o folclórico voto de carbono"...

Tudo na vida evolui a partir de erros e acertos comandados pelo tempo. As transformações positivas são lentas porque são lapidadas pelo crivo de múltiplos fatores. No Rio Grande do Norte o coronelismo deu lugar à politicagem que está – vagarosamente - dando lugar à política. É uma coisa meio acanhada e troncha, mas se vê mudanças. Até porque, do contrário, seria um caos.

Quando cheguei por aqui, conheci um procedimento incrível no dia da eleição, chamado “Voto de Carbono”. Prátiva comum no interior. Era assim: as pessoas entravam numa determinada casa, recebiam um sanduíche de papel que consistia em duas cédulas (espécie de cópia que obedecia o modelo oficial das cédulas eleitorais). No meio delas ficava um carbono. Quando a pessoa escrevesse algo na cédula superior, preenchia-se automaticamente a cédula debaixo. Por incrível que pareça, isso não era feito de forma muito “segredosa”. Pelo menos na dita casa não notei cuidado extremo, tendo em vista tratar-se de um crime. Explicar isso fica para depois!

Quando o eleitor chegava ao local de votação, recebia a cédula oficial e, na cabine de votação (bem escondidinho!), refazia o “sauduíche oficial” (do mesmo modo explicado acima). Sem esquecer que deveria colocar na urna a cédula oficial, pois nela ficava a letra de caneta Em seguida corria até a casa de origem e entregava o “sanduíche”, onde ficava a cédula com a letra preta do carbono. Normalmente essa casa era de algum candidato, parente ou aderente.

Ao entregar o restante do “sanduíche”, estava “provado” – ou aparentemente provado – que o pobre eleitor realmente havia voltado no “cabra” que lhe pediram. Aí, só depois disso, ele recebia dinheiro em espécie. Era o “pagamento” pelo voto. Isso era o voto de carbono!

Curiosamente houve vários casos de votos anulados, pois o eleitor se atrapalhava, retornava com a cédula oficial e deposirava na urna a cédula-modelo. Imagino a confusão quando devolviam a cédula errada na casa dos “coronéis”.

Há quem tenha me narrado que conseguiu driblar o voto de carbono da seguinte forma: conseguia uma porção de cópias de cédulas (que ficavam espalhadas pelas ruas – aos montes), adquiria pedaços de carbono diversos e passava o dia visitando as casas de diferentes coronéis, simulando ter votado nos mesmos, “devolvendo” a cédula com os nomes de interesse dos dito cujos.

Por mais que hoje se vejam situações enojantes, naquela época os atrasos eram maiores. Os “coronéis” reinavam de forma escancarada. Prova maior é a experiência “in loco” que vi em pleno ano de 1992.

O tempo passou, surgiu a urna eletrônica e se tornou impensável a fraude, até porque as urnas são conferidas por pessoas de todos os partidos (fiscais) e a polícia, antes de serem disponibilizadas para o voto, e não ficam on line. Com certeza os velhos coronéis, corruptos, detestam a urna eletrônica.

Dia desses soube que um candidato passeava pelas ruas no dia do pleito, entregando um tipo diferente de “sanduíche”: eram cédulas de R$ 20,00 envolvidas em “santinhos”. Sem dúvida, ainda existem muitos “candidatos”, “lideranças” e simpatizantes dando vazão a esse comportamento que traduz o quanto são mal caráter. Mas não têm a mesma cara de pau de antes, pois tem muita gente de olho.

Na realidade o voto de carbono continua existindo com roupagem diferente, mas o cerco vem se fechando cada vez mais. Ainda estamos longe de ser um país plenamente civilizado, apesar dos avanços positivos em diversas áreas, mas sigamos mudando, conscientizando, reeducando aqueles que aprenderam desde os avós a vender o seu voto. Na verdade a corrupção começa no próprio povo, com suas devidas exceções. Na verdade, ninguém é corrupto sozinho. As engrenagens da corrupção funcionam com uma assessoria.

Hoje é o dia dos irmãos

 




Então me lembrei dessa fotografia cheia de simbolismos e bastidores. Ela poderia ser apenas uma imagem antiga para muitos, mas a mim exala poema... Poema perfumado de vida! É lembrança carregada de histórias, e exatamente por isso concedo importância traduzir os invisíveis contidos nela...

Quando nasci, minha cidade tinha apenas 13 anos de emancipação. Era pré-adolescente... Por aí já se deduz como seria um município nascido dentro de uma floresta permeada de fauna e flora. Nessa fotografia, feita em 1977, eu contava dez anos de idade, Ademir, meu irmão, contava nove anos, Paulo tinha sete, e o menor, Ricardo somava a sua terceira primavera da vida... Ainda faltam irmãos, mas me refiro a essa imagem.

Minha mãe tinha a tradição de reunir os filhos eventualmente e "chamar o fotógrafo" para fazer as fotografias. Ela dava muito valor às fotografias, pois sabia que aqueles registros eram importantes. Naquela época não existiam máquinas fotográficas para se comprar em qualquer lugar como hoje. Pelo menos na cidade era impossível, daí a importância dos fotógrafos com os seus estúdios. Era comum as famílias se reunirem lugares específicos da casa para que o fotógrafo desse os seus cliques. Por tal razão é comum vermos muitas fotografias antigas tendo como cenário uma televisão, um cortinado, o jardim da casa etc.

Aos olhos atuais esses registros soam engraçados, ou esquisitos, até porque os registros digitais, em aparelhos de celulares se tornaram tão banais que não existe mais pose, não existe mais aquela história romântica e poética por trás das fotografias atuais, exceto poucas situações.

Qualquer coisa é sintoma para fotografia. Aliás, nem sei mais se realmente é fotografia. Como chamar essas imagens que captamos em nossos celulares e nunca revelamos? Pois bem, eventualmente minha mãe empreendia o seu ritual. Ela ia ao estúdio fotográfico, combinava com o fotógrafo. Esse, no caso, ficava defronte a nossa casa, no centro da cidade.  Ao se aproximar o horário acertado, ela pedia que fôssemos tomar banho porque havia marcado com o fotógrafo, e "o Sr. Jaime já estava chegando". Era um verdadeiro vavavu. Todo mundo pro banheiro enquanto ela passava a roupa e esperava o fotógrafo.

Naquele tempo nossas roupas eram feitas em costureira, pois a cidade ainda não contava com lojas de roupas prontas, e nem era comum comprar roupas desse tipo, exceto se se esticasse até o interior de São Paulo, ou na própria capital, Campo Grande. Coisa que só se fazia uma vez na vida. Melhor era ficar com a loja de tecidos da cidade.

Ri bastante dos "Ki Chute" nos pés dos meus irmãos. Eles vieram para tomar o lugar do "Conga". Feliz de quem tinha um "Ki Chute". Eu calçava um mocassim preto de ponta quadrada...  Então... continuando... após meia hora entre banho, vestimenta  e penteado, ficávamos na varanda aguardando o fotógrafo. Não podia brincar porque suava e se desarrumava. Nem sempre as orientações maternais eram cumpridas a rigor, afinal algumas vezes o fotógrafo se demorava um pouco e passava do horário combinado.

Era muito estranho ficar sentado no alpendre, aguardando a Rural estacionar. Parecíamos pares de jarro, um ao lado do outro com cara de tristeza por estarmos parados. De repente o carro aparecia. Minha mãe corria, atendia o fotógrafo e lá íamos para o cenário composto de uma televisão da marca Semp, preto e branco  (ainda não existia a televisão com imagens coloridas) e o seu fiel companheiro: um transformador que tinha uns oito quilos.

Também existia ritual para o fotógrafo. Ele nos orientava como seria feita a fotografia, às vezes puxava a gente pelos ombros, para lá e cá, outrora endireitava nossas cabeças, mexendo nos nossos queixos com seus dedos que pareciam linguiças. Ele nunca deixava de explicar que deveríamos deixar os olhos bem abertos. Talvez isso explique algumas fotografias que trazemos os olhos arregalados. Também pedia que ríssemos. Não sei pra quê rir sem vontade! Depois de vários ajustes físicos ele fazia a fotografia.

Findados os cliques conosco, entravam outros personagens da família, mas tudo nos mesmos moldes. Naquele tempo os equipamentos não eram digitais, tornando possível saber como a imagem tinha ficado. Desse modo o que viesse tinha que ser pago. E minha mãe sempre pagou. Era inimiga de problemas. Houve uma vez que eu saí com os olhos fechados, mas ela disse que a culpa tinha sido minha, pois "o Sr. Jaime explicou muito bem como se devia fazer com os olhos". Os filmes eram de rolo, portanto nenhum fotógrafo queria perder fotos. Eles faziam um flash só. O que sair, saiu. E assim a gente passou anos olhando e fazendo caras e bocas para a câmera fotográfica do "Sr. Jaime".

Hoje, apreciando essa imagem de infância, dentre tantas que tenho, abriu-se um álbum fotográfico de lembranças. São recordações que nem sempre foram captadas nas fotografias, mas vivem - e viverão para sempre - arquivadas nos rolos de filme da minha mente.

Creio que as poesias mais verdadeiras vivem agarradas à infância. Talvez por isso olho as velhas imagens e leio histórias lindas de bondade, inocência e família. Hoje, essa velha televisão da marca SEMP, comprada em 1972 - motivo de admiração quando adentrou a nossa casa, num tempo que poucas residências contavam com tais aparelhos - dorme no Museu da cidade. Esses e outros bastidores que não estão na fotografia, só vieram à tona porque hoje é dia dos irmãos...

A cidade, que ainda era pacata naquele tempo, hoje se tornou uma potência econômica... Nem parece aquela clareira em meio a uma selva de fauna e flora. Feliz dia dos irmãos, aos meus, que estão nas fotografia, aos que não estão, e aos irmãos que a gente passa a ter nos caminhos da vida...