ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Silêncio é poder


Muitos - não sei por quais critérios - julgam as pessoas mais expressivas e falantes (nem por isso mais dinâmicas ou mais inteligentes), como mais verdadeiras e versáteis. Em detrimento desse raciocínio equivocado, julgam que as pessoas calmas (nem por isso omissas ou menos inteligentes) podem ser enganadas facilmente. "São idiotas", "bestas" etc. É fácil fazê-las de bobas. Assim o dizem. E quando as calmas surpreendem por alguma atitude inesperada... tipo "alto lá!" imediatamente são rotuladas de perigosas. Mas não se engane! O melhor é protagonizado no universo da serenidade. Muitas vezes na amplitude do silêncio. Nunca ao som de um campanário, nunca de maneira espetaculosa. Já observou uma carroça vazia em movimento? Ela pode ser ouvida a metros de distância. Mas uma carroça cheia passa despercebida. O pio de uma minúscula gralha é ensurdecedor e não traz benefício algum. A visão do planeta Terra sob o ângulo de um satélite surpreende. Sua indescritível e emocionante beleza, descortinada ao longo da imensidão, ocorre no mais absoluto silêncio. Veja quanto poder é guardado nesse silêncio! A melhor voz é a do silêncio. Mas nunca pense que silêncio não tem cor, ouvidos, voz, raciocínio... silêncio é poder!

domingo, 28 de novembro de 2021

Lugar de fala ou alteridade?

Reconhecer o racismo sendo branco e combatê-lo é obrigação republicana, o que é diferente de um branco tentar protagonizar a luta de um preto contra o racismo estrutural. Outro exemplo é um homem reconhecer a importância do feminismo e contribuir na politização, outra coisa é tentar ser protagonista de uma luta política das mulheres. A luta anti-racista é, historicamente protagonizada pela luta do movimento negro, uma luta pública, que envolve também o papel do branco, não só no seu papel de politização, mas também como um parceiro de luta.
 
Há alguns dias atrás, ao defender um cidadão vitimado pelo preconceito racial, um leitor questionou porque eu fazia a defesa com tanta profusão, se nem preto era, alegando que eu não poderia sentir aquela dor e que deveria me calar. Deveria eu ficar mesmo calado diante de um abuso claro? Confesso que nem me ative à exigência do rapaz, porque, analisando friamente, não posso mesmo sofrer a mesma dor de um preto que vive num país de racistas falastrões, mas posso me indignar e colocar a boca no trombone e evidenciar o meu protesto. 
 
Posso me colocar no lugar dele e de outras pessoas vítimas de o que quer que seja. O sofrimento é uma característica psíquica do ser humano, que é um ser social. A dor pode ser um sentimento social, como aponta o filósofo Axel Honneth ao debater com a filósofa Judith Butler. Quando se comete injustiça com as comunidades indígenas, faz-se com todos os seres humanos em todo o planeta Terra. É assim com o preto, com a mulher, com a comunidade lgbtqi+, com as religiões (principalmente de raízes africanas), enfim com quem é vítima de qualquer injustiça.
 
A atitude desse jovem me transportou para um fato bastante curioso no tocante a um novo modismo conceitual no meio intelectual pequeno-burguês, transplantado dos liberais identitários estadunidenses, chamado “lugar de fala”, aqui no Brasil assinado majoritariamente pela filósofa Djamila Ribeiro e usado vulgarmente como “expressão do momento”, tanto como argumento essencialista de legitimidade de argumentação. Às vezes tenho a impressão que alguns “intelectuais” estão mais preocupados com neologismos e com palavras em si, que com a ação concreta sobre aquilo que está defendendo ou condenando. Assim penso.
 
Mas por que “essencialista”? Antes de explicar, me vem à cabeça o exemplo de “representatividade” do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Obama, somente em 2016, coordenou o ataque a bomba, totalizando mais de 26 mil bombardeios em países soberanos, matando dezenas de milhares de civis inocentes, crianças doentes, mulheres grávidas e estudantes. Obama é concebido como um colosso do progressismo mundial, endeusado por quase toda a esquerda brasileira, e por muitos, a cor de Obama é sinal de representatividade. Mas que tipo de representatividade imperialista é essa, que bombardeia e sequestra países?
 
É óbvio que a cor preta, não só nos Estados Unidos, mas no Brasil, foi subjugada pelos grilhões da escravidão, fisicamente e moralmente. O Brasil é um país racista, e ainda estamos engatinhando quando se trata de debater o epistemicídio, e o genocídio da população preta. Possuir representação preta é importantíssimo, mas como sempre pontua a filósofa preta estadunidense Angela Davis, o debate na democracia não se finda na representatividade, mas na consciência de classe.
 
E o que tem o conceito de “lugar de fala” com isso? Quando vulgarizado, esse conceito acaba por desenvolver uma barreira essencialista ao sentimento da alteridade. É como precisar possuir uma essência e uma vivência para exercer a potência do discurso e do sentimento, não a possuindo, o sujeito que exerce o discurso está fadado a ficar calado. É como escutei de uma amiga preta estudiosa da obra de Lélia Gonzalez, não adianta criar ferramentas disciplinares se o debate sobre raça e classe serão sempre debates públicos que abrangem todos os seres de nossa sociedade brasileira e as micro-relações de poder. TODOS! (E aproveitando certos invencionismos, “TODOS” é uma palavra que designa homens e mulheres!).
 
Um dos problemas mais centrais do cotidiano brasileiro, da tomada de decisão política e do nosso viver é a ausência e a dificuldade da ALTERIDADE. Alteridade é a capacidade humana de reconhecer no outro a si próprio, de se colocar no lugar do outro, esse outro que pode ser qualquer um; é reconhecer o outro como dotado de direitos humanos inalienáveis e intransferíveis. A alteridade é perigosa ao estado policialesco do capitalismo, que exige dos sujeitos esse sentimento de raiva e ódio pelas diferenças do outro, pela classe social, pelo gênero, pela cor, pela etnia.
 
Alteridade não tem cor nem sexo. Não se deve esperar alteridade como se tirasse cada uma de uma gavetinha específica para se usar cada uma como remédio específico. Se fosse assim, o atual presidente da Fundação Palmares, que é preto - seria modelo de alteridade ou do "lugar de fala". Não quero usar isso como regra, mas presenciei, certa vez, na cidade de Nísia Floresta/RN, uma senhora preta se emocionar ao ver chegar da maternidade, o neto (recém-nascido) branco como neve. O pai da criança, filho dela, preto igual a mãe, se casara com uma mulher galega. Meus ouvidos doeram quando ela, radiante de alegria, disse: “Olha, Luís Carlos, um branquinho para limpar a nossa raça!” Isso ocorreu em 1996. É óbvio que entramos, agora, numa outra alçada. É muito pano pra manga... assunto que dá mais três laudas e fica para outra hora. Mas ajuda a clarear para quem, porventura, não esteja entendo o cerne dessa reflexão.
 
Luto cotidianamente pelo sentimento e pela prática política da alteridade. Sempre entendi que não é necessário que eu passe fome para saber o que é essa desgraça e me indignar com a condição desumana de um faminto. Não preciso ter nascido numa aldeia indígena para conhecer seus plurais problemas herdados do genocídio colonial, como a fome, preconceito, falta de acesso às políticas públicas (prova disso são as minhas postagens). Não preciso ser um escorraçado humano, um degradado do capitalismo, um viciado da Cracolândia para reconhecer o quanto o capitalismo é injusto, perverso e ineficaz.
 
Os problemas mundiais pertencem a todos os seres humanos. Se uma mulher é agredida dentro de casa pelo marido, esse é um problema da república, não é assunto privado. Se um negro é morto a pauladas dentro de um supermercado francês, trata-se de um problema público, trata-se de racismo estrutural, e essa estrutura se chama CAPITALISMO. Todos têm lugar no sentido da criticidade. Defender que alguém não pode falar dos problemas que não sofre na pele é o mesmo que propôs a filósofa Hannah Arendt sobre os casos de Little Rock, interpretando que a violência de raça se trata de casos da vida privada, não importando se os negros sofrem de racismo, por ela considerar que violências privadas não são coisas públicas.
 
É INDISCUTÍVEL QUE SOMENTE QUEM SOFRE UMA DOR SABE O QUE ELA VERDADEIRAMENTE É. Mas isso não justifica que os outros não possam se reconhecer na pessoa que sofre a dor. Isso é coisa de civilidade, de caráter, de humanismo, de personalidade. É um patrimônio que pertence a todos. O exercício da alteridade é essencial, já esse “lugar de fala” parece descolado da realidade brasileira. Para mim, mais parece um fenômeno vocabular da moda, como foi a expressão "pertencimento", no início da década de 90. Quem não a usasse, não estava na moda. Há uma moda, cuja proclamação da palavra é mais importante do que a sua concretude. Tais pertencimentos não me pertencem… A propósito disso, conheço a história de uma respeitável pensadora que veio para uma palestra num determinado estado, e no hotel tratou todos muito mal, do dono ao faxineiro. Tanto que tornou-se “persona non grata” ali. Em teoria, ela era o oposto daquilo... mas na prática! Não vou falar aqui sobre o que ela veio falar. Você é inteligente e já captou!

 

sábado, 20 de novembro de 2021

O dia que o teto do altar-mor desabou na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, no ano de 2009 (texto escrito em 2014)

Imagem meramente ilustrativa da referida igreja. Embora se trate de fato ocorrido depois, essa cena fala mais que palavras. A igreja sendo reformada com todas as imagens antigas dentro dos nichos, além de restos de telhas e metralhas no piso de ladrilho hidráulico.

Quem é de Nísia Floresta vai se lembrar do que vou contar abaixo. O episódio ocorreu em 2009.  Refiro-me ao dia em que os moradores avizinhados à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó tiveram um susto quando houve um estrondo nas proximidades, e deram conta ter sido no altar desse templo.


O barulho atraiu a atenção de todos os que estavam por ali naquele momento. Eu encontrava-me num prédio próximo dali. Saí, rápido, dando conta que outras pessoas já se aglomeravam à porta da Matriz.
 
Confesso que "meu coração veio até a boca”. É interessante como o ser humano é ‘imaginoso’, pois um filme de trágico passou pela minha cabeça. Pensei que o imenso lustre de prata tinha se soltado, que os santos tinham despencado, que algum daqueles adornos folheados a ouro tinha vindo abaixo, enfim o estrondo – ampliado pelo eco – fez com que mil coisas fossem pensadas em fração de segundos, até que me deparasse com o que de fato ocorrera.
 
O estuque, ainda ao modelo daquelas peneirinhas, desabou, atingindo a cadeira central. Não houve danos maiores, exceto o desenho ornamental em alto e baixo relevos que virou “metralha”. Por sorte a minha mania de fotos tinha o registro do teto da Matriz. Desse modo, foi-me confiada a tarefa de transferir o desenho, em tamanho real, para o papel.
 
Logo foi providenciado o reboco e em seguida a confecção do referido adorno, tendo como molde o desenho que ampliei usando a técnica de quadriculado. O grande problema era encontrar uma pessoa capaz de fazer esse trabalho. Por incrível que pareça, um dos pedreiros que estavam ali disse que conseguiria executá-lo. Lembro-me que o administrador da Matriz, padre Inácio Henrique disse que ele “tentasse”. Se o resultado ficasse ruim, buscaria-se outra alternativa. O rapaz alegou que era impossível errar mediante o molde em tamanho real. Dito e feito. O desenho ficou tal qual a fotografia. Por que estou escrevendo isso, tendo passado quatro anos?
 
Estou escrevendo para “refrescar a memória” dos que entendem os fatos de forma equivocada e tentam confundir a mentalidade popular. Outro fato que reforça a ideia de zelo às coisas da Matriz deu-se pouco tempo depois, quando deparei-me com a parede sendo “cavoucada” para se construir um nicho para abrigar a imagem original de Nossa Senhora do Ó. Arrancaram as pedras originais – colocadas ali em 1735, jogaram no fundo quintal e deram início a construção do desnecessário nicho.
 
Sobre o assunto do nicho, na mesma hora telefonei para a Fundação José Augusto e informei o ocorrido, tendo a instituição designado funcionário que desautorizou a continuidade da “obra”. A orientação não foi obedecida. A única coisa positiva, e que consegui abortar, foi a construção de outro nicho na outra parede, em linha reta, que estava previsto (insanidade esta idealizada por um cidadão local).
 
À época fui muito criticado, pois as pessoas tendem a gostar mais das atitudes silenciosas e acovardadas, por parte de pessoas que fazem vistas grossas a absurdos desse tipo (e piora quando são de autoria de “autoridades”). Mas o que me importa realmente é de estar fazendo a coisa certa.
 
Hoje, quando protesto contra a forma equivocada como vem ocorrendo às obras da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, aparece gente tentando confundir o pensamento das pessoas mais humildes na tentativa de “demarcar terreno” de cunho político partidário e outros objetivos mesquinhos, tendo, ainda, o desplante de atribuir a mim a atitude que a ela pertence.
 
Não sou contra a reforma (isso está implícito no meu texto). Sou contra a forma como ela vem ocorrendo, pois não existiu a preocupação com um patrimônio de incalculável valor, pois ficou exposto (as fotos comprovam, inclusive essa, acima). A Matriz possui imagens raras, folheadas a ouro, que não podem ser expostas à luz do sol nem aos riscos que ficou. São nichos folheados a ouro que correm o risco de se molhar ou se estragar acaso despenquem ripas ou telhas que estão sendo tiradas. Tais peças foram feitas à mão. Seus vidros são artesanais e impossíveis de serem restaurados acaso se quebrem. São paredes que não podem receber água de chuva. É um piso raro, de azulejo hidráulico, exposto ao peso de andaimes, sequer protegidos por lona. Tudo isso estava exposto enquanto os pedreiros desmanchavam o teto. Montes e montes de telhas, em “metralha” se espalhavam pelo piso enquanto outras desciam por uma tábua. Foi inacreditável o que eu vi.
 
Não ignoro os esforços empreendidos pelos fiéis na execução de campanhas para custeio das obras e coisas afins. Sei que são difíceis. Já participei de muitas. O que ignoro e reprovo é o fato de as pessoas (algumas) não entenderem que uma reforma desse porte não pode se dar na perspectiva acanhada como ocorre. É inadmissível admitir que algumas pessoas achem certo que madeiras raras e caríssimas (como ipê e outras) sejam substituídas por madeiras comuns, que durarão, talvez, uma década.
 
Uma campanha como essa não pode ficar meramente na alçada de uma comunidade pobre, mas numa perspectiva incomparavelmente superior, envolvendo a Petrobrás, Fundação Roberto Marinho, bancos privados, iniciativa privada, governo federal e estadual etc, programados, obviamente, com muita antecedência. Se tivessem me procurado, no tempo hábil, eu teria reservado um tempo para construir um projeto nos moldes ideais – com a participação da FJA – IPHAN e UFRN - levando-o aos órgãos competentes, para depois postular a reforma nos moldes dignos, com os devidos patrocínios.
 
O correto, em se tratando do tesouro que é a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, é construir uma estrutura de metal sobre a Matriz com telhas de zinco – provisoriamente – e esvaziar o templo completamente, para só depois destelhá-la e arrancar todo o madeiramento. Fico pasmo com as visões diminutas de alguns. Agem como se reformassem um galpão velho do sítio. É uma igreja de 1735! Agora, vendo pessoa equivocada propagando que minha atitude objetiva promoção pessoal e política, só tenho a sentir pena, nada mais. É muita ignorância (ou outra coisa que desconheço – mas suponho aqui com os meus botões).
 
Finalizando, digo apenas a pessoa equivocada e desprovida de bom senso, que vá se informar sobre os meus feitos em Nísia Floresta, leia, estude antes de propagar maldades guardadas em coração recalcado. O meu cuidado com a Matriz não é de hoje! E não cessará agora. Aliás, o meu cuidado com o patrimônio material e imaterial de Nísia Floresta remonta décadas. Sua maldade me motiva a continuar respeitando o povo e o patrimônio de Nísia Floresta ainda mais. Sei que se você pudesse mandaria matar-me. Tente!

Um olhar diferente sobre a Bandeira do Brasil

Quando criança, lembro nitidamente a maneira como os professores ensinavam o significado da bandeira brasileira. Era assim: “o verde do retângulo significa as matas e a natureza; o amarelo do losango significa o ouro e as riquezas minerais; a cor azul do círculo representa os mares, rios, aquíferos e afins; as estrelas são os estados e o distrito federal, lembrando que a estrela solitária representa o Pará, que naquele ano (1889), era a nossa maior área territorial, próxima ao eixo equatoriano, portanto destacada mais acima; por último, a faixa branca representa a paz, e a frase ‘Ordem e Progresso’, inspirada no pensamento positivista, representa a síntese de que somente com ordem conquistamos o progresso”. 


Bandeira é um símbolo. Tudo nela possui significados: os traçados, o brasão, o selo e os desenhos. O tempo passou… eu era adolescente quando um livro se aproximou de mim, me levou até um canto e contou a verdade que não era dita em nenhuma aula. Minha professora - muito ocupada com outros assuntos, planos de aula, correção de “trabalhos”, provas, marido, filhos, roupas para lavar, comida para fazer, casa para varrer, roupa para remendar, roupa para passar, roupa para cerzir, roupa para engomar - não teve tempo para se aprofundar e nos repassar a significação exata da bandeira brasileira, portanto alegorizava a simbologia da bandeira. Era mais fácil. 

VERDE: Os livros me ensinaram que o VERDE é o símbolo da Casa Real dos “Bragança”. Tudo começou em Portugal, quando os lusitanos (portugueses) criaram uma bandeira branca com um enorme dragão verde ao centro, o qual simboliza um ser fantástico imbatível e vencedor (o dragão!). O próprio Jean Baptiste Debret, quando criou a primeira versão da Bandeira Brasileira, em 1820, traria o ente fantástico que findou, muitos anos depois, dando origem aos “Dragões da Inconfidência” que protegem o palácio presidencial e o palácio do Planalto, em Brasília. O verde, para os portugueses daquele tempo, representava as lutas libertárias, as grandes conquistas e, acima de tudo, a esperança e liberdade. Verde era o estandarte de Nun’Álvares, arvorado na batalha de Aljubarrota. D. Pedro escolheu essa cor para a bandeira brasileira por ser a cor da casa de Bragança. OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM VERDE DAS MATAS?



AMARELO:  Essa cor passou a figurar no brasão de armas de Portugal, após a conquista do Algarve. O amarelo estampa bandeiras, flâmulas e brasões traduzindo os castelos que representam as fortalezas que os portugueses tomaram dos mouros. O amarelo recorda, ainda, as cores do Reino de Castela (Espanha), ao qual, por muito tempo, Portugal pertenceu até a sua independência. Essa cor também é o símbolo Real da Casa dos Habsburgo. Dom Pedro escolheu o amarelo por ser a cor da Casa de Lorena, de que usa a Família Imperial da Áustria. OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM O NOSSO OURO, AS NOSSAS RIQUEZAS MINERAIS?



AZUL e BRANCO: São as cores do Condado Portucalense, fundado em 1097. D. Henrique de Borgonha criou, como insígnia, uma bandeira também chamada “Bandeira da Fundação”: uma cruz esquartelando um campo em branco em partes iguais. São essas cores que o filho, Afonso Henriques, levará à batalha de Ourique, arvoradas na bandeira paterna. Após as primeiras vitórias sobre os mouros, Afonso Henriques lhe modifica o desenho mas mantém as cores, o mesmo AZUL e BRANCO que Luís de Camões defendeu como soldado e exaltou como poeta, “braços às armas feito, mente às musas dado”. Nos séculos XV e XVI as naus portuguesas ostentavam a bandeira do Comércio Marítimo, ou das Quinas nas cores AZUL e BRANCO. Isso aparece num dos primeiros mapas do Brasil, feito em 1534. Inúmeros brasões dos capitães feudais portugueses que vieram para o Brasil traziam a cor AZUL e BRANCO, como Aires da Cunha (no Maranhão), Pero de Góis (donatário da capitania de São Tomé) dentre outros. Inclusive é importante lembrar que as diversas versões das bandeiras e flâmulas da Marinha, desde que a corporação surgiu, só trazem AZUL e BRANCO.  OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM O BRANCO DA PAZ E O AZUL DOS RIOS E MARES?

OBSERVOU QUE A BANDEIRA DO BRASIL REPRESENTA TUDO, MENOS O BRASIL?  


 
Nos séculos XV e XVI as naus portuguesas ostentavam a bandeira do Comércio Marítimo, ou das Quinas nas cores azul e branco. Isso aparece num dos primeiros mapas do Brasil, feiro em 1534. Inúmeros brasões dos capitães feudais portugueses que vieram para o Brasil traziam a cor azul e branco, como Aires da Cunha (no Maranhão), Pero de Góis (donatário da capitania de São Tomé) dentre outros. Inclusive é importante lembrar que as bandeiras e flâmulas da Marinha, desde que a corporação surgiu, são azuis e brancas.
 

A EXPRESSÃO “ORDEM E PROGRESSO” nada mais é que a síntese do lema do Positivismo, uma doutrina - ou Filosofia - criada pelo filósofo Auguste Comte com a finalidade de defender o pensamento republicano. OBS. Aproveito para esclarecer que, ao contrário do que muitos afirmam -, a intelectual Nísia Floresta, que frequentou as famosas aulas ministradas por Comte, em Paris, tendo o conhecido e se tornaram amigos - não foi a responsável por trazer o Positivismo ao Brasil, como muitos comentam e já presenciei em palestra. Há até o recorte da fala dele sobre isso, em que Comte diz que Nísia Floresta seria uma excelente discípula sua se não fosse tão metafísica.

 


 

Pois bem, para ampliarmos as reflexões, vale a pena entender detalhes lá dos detrás dos detrases, tendo em vista que o Brasil teve outras e outras bandeiras antes dessa atual. Por exemplo, entre 1815 a 1821 vigorou a primeira bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que é a hipotética bandeira armorial do Reino do Brasil. Digamos que essa é a trisavó da atual bandeira… seria trisavó mesmo?

Depois, entre 1822 a 1889, vigorou o Pavilhão Pessoal dos Príncipes Reais, adaptado como bandeira do Reino do Brasil, de setembro a dezembro de 1822. Em seguida veio a bandeira do Império do Brasil, durante o primeiro Reinado, com 19 estrelas, depois a bandeira do Império do Brasil, durante o segundo Reinado, com 20 estrelas, depois a bandeira criada por José Lopes, depois a bandeira criada por Rui Barbosa (adotada pelo Governo Provisório) durante quatro dias. Houve uma bandeira também em 1889, provisória, que mais parecia a bandeira dos Estados Unidos da América, inclusive até nisso houve a cópia "Estados Unidos do Brasil". E finalmente a bandeira atual…

 

Enfim, tentei resumir no máximo uma longa e detalhada história de cores e simbologias que pincelam a atual Bandeira Brasileira. Acho até poético os professores ensinarem essa coisa ufanista às crianças, mas – entendam como quiserem –, nós, brasileiros, nunca tivemos a Bandeira do Brasil de fato, criada numa concepção nossa, retratando a essência do Brasil. Em que parte estão representados os povos indígenas na Bandeira Brasileira? Eram milhões! E os povos africanos vindos para cá feito escravos, em que parte da bandeira eles estão? 

Bandeira serve para traduzir em imagens os pontos chaves da essência de algo.  Onde está o símbolo que retrate a inteligência genuinamente brasileira? Ninguém ainda desenhou. A bandeira brasileira, se assim podemos interpretá-la, em nada traduz o Brasil. O que temos é uma bandeira que arrastou a Europa toda para ela, retratando a Áustria, a Espanha e Portugal. Nada simboliza a brasilidade. A interpretação infantil e alegórica dita lá em cima, no primeiro parágrafo, consiste, na verdade, em gesto deseducativo, pois, além de não retratar o Brasil, é um ensinamento fabuloso. Já que foi criada essa bandeira como símbolo do Brasil, deveriam pelo menos explicar aos alunos os seus reais significados. 

Penso que desenhar uma bandeira para chamá-la de brasileira em sua essência, prediz uma síntese da história e da essência do Brasil, e jamais a síntese da história de Portugal e de outros países. Então ela deveria trazer em destaque os povos nativos, que já estavam aqui há milhares de anos - apelidados de “índios” - que habitavam todo o Brasil, falavam milhares de idiomas, e possuíam uma complexa e magnífica cultura. E eles continuam habitando e falando, mas em número incomparável, pois houve um genocídio maior do que o da Covid-19. Foram milhões de mortos. 

A bandeira brasileira que desabrocha da minha brasilidade tem sete pessoas segurando o mapa do Brasil, em pé, sobre o planeta Terra. Quatro homens e três mulheres (ou vice-versa). Seis representam os seis continentes, cujos seus figurinos retratariam a essência de cada região. A sétima pessoa representa os povos indígenas, teria um cocar e a flecha. No chão haveria uma corrente quebrada representando a liberdade dos povos africanos escravizados, os quais significaram o motor da economia inicial do Brasil. Sobre o mapa do Brasil haveria um ramo da flor do pau Brasil representando essa árvore cheia de simbologia, inclusive, sua cor amarelo-ouro retrata as riquezas das mais diversas do nosso país. Lá atrás, no horizonte, teríamos pés de café, coqueirais e canaviais. Há uma representação da invasão dos portugueses, que chamamos de "descobridores". No fundo dessa imagem teríamos a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, em pé, trajando um vestido todo feito de labirinto, segurando um livro representando as obras completas de Machado de Assis. É uma homenagem à inteligência brasileira.



Finalizando a bandeira do Brasil saída dos meus dedentros... você já prestou atenção na bandeira de Portugal? A faixa maior é vermelha, evocando o aspecto ibérico da Espanha. Essa bandeira teria ao fundo, sob o brasão já explicado, uma larga faixa na cor vermelha (COMO É A DE PORTUGAL). É a representação do sangue de milhões de indígenas e escravos africanos. Seria a representação genuína de um duplo morticínio. No topo dessa faixa vermelha haveria uma coroa (seria a única representação de Portugal, até porque não podemos negar a História). Essa faixa vermelha teria em cima e em baixo, a cor branca (como um sanduíche, cujo recheio fosse o vermelho). Atravessando essas cores vermelha e branca, há o imenso rio Amazonas, descendo sinuosa e verticalmente do topo à base do retângulo. Essa é a bandeira do Brasil, segundo a minha interpretação.

 

Tantos anos se passaram e se esqueceram de criar a bandeira verdadeiramente brasileira, em que todos nós – brasileiros -, descendentes de povos indígenas, pretos, brancos e amarelos, autores que somos de uma inteligência nossa – brasileira –, nos reconhecêssemos, nos identificássemos e nos enxergássemos nela… Bandeira é a identidade de uma nação.

A bandeira do Brasil é o símbolo do nosso país, e não de outros país, como constatamos nessas informações históricas que tentei resumi-las.  Se analisarmos com honestidade, a Bandeira do Brasil ainda está por se desenhar. Alguns equivocados poderão tentar desvirtuar esta reflexão, associando a ideia ao Comunismo, Socialismo, PT, coisa de esquerda etc. Pois essa é a moda daqueles que não tem o que dar. A bandeira deve comunicar que a maior parte de uma nação legítima foi assassinada, e escorreu sangue... e sangue é vermelho... 20.10.20


A lei diz que não se usa a bandeira para vestir o corpo , arrastá-la no chão, fazer camisetas, bonés etc. Existe a maneira certa de dobrá-la, guardá-la e até mesmo aposentá-la (entregando-a ao Exército para ser incinerado em solenidade enfim há muitas recomendações que, se desrespeitadas, dão até prisão). Mas um detalhe é fundamental: é importantíssimo respeitarmos a Bandeira Brasileira, mas muito mais importante é respeitamos os brasileiros... isso está em falta...

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Acta noturna - Transporte Potiguar LTDA - Cícero Isaías de Macedo - 1953



A imagem surpreendente deste antiquíssimo ônibus - de aparência singular -, me fez viajar numa viagem que meus pais fizeram inúmeras vezes. E por terem narrado-a para mim e meus irmãos, não pude deixar de viajar também - e me emocionar - nessa fotografia que conta 68 anos de idade.

Você já imaginou como era a estrada que liga São José de Mipibu a Natal em 1953? Pois é. Minha mãe, atualmente com 88 anos, conta que viajou muitas vezes nesse ônibus de propriedade de seu primo, e que naquele tempo eram obrigados a usarem algo para cobrir suas vestimentas, pois chegavam a Natal cheios de pó. Por isso era tão comum, por exemplo, que muitos usassem “guarda-pó”, espécie de jaleco, sobre os vestidos e ternos.
Alguns se cobriam com uma espécie de manta fina. Naquela época, segundo ela, as roupas predominantes eram de cor branca, inclusive os homens se "enfatiotavam" em elegantes ternos com direito a lenço exposto no bolso superior, chapéu e relógio de bolso. Alguns portavam até bengala.
Ivanaldo Pereira da Silva era o motorista daquela época, nesta imagem ele se encontra com 20 anos de idade.
Minha mãe andava muito a cavalo de um lugar a outro - ela e a irmã. Normalmente o trajeto era feito com o pai ou irmãos homens. Mas quando o assunto era Natal, a viagem se dava nesse velho ônibus, cujo nome ela tanto falava, mas não me lembro neste momento. Segundo ela as viagens normalmente eram para "comprar fazendas e aviamentos na Ribeira (entendam por "fazenda" tecidos, pois era a expressão que ela usa até hoje e que era normal àquele tempo). Outras vezes iam visitar tias em primas também na Ribeira.
Meu pai dizia que muitas vezes o veículo atolava, exigindo que os passageiros, homens, descessem para empurrá-lo. Algumas pessoas levavam camarão de Papari para Natal e o fedor era insuportável na volta, quando o líquido secava e impregnava o piso do veículo. Algumas pessoas levavam cestos de mangaba para vender em Natal, outros levavam um garajal com galinhas vivas para mimar médicos, compadres e comadres... enfim havia um lado pitoresco nessas viagens. Algo inadmissível nos tempos atuais.
O percurso era uma odisseia. Os bancos duros de madeira, massageavam os ossos doa passageiros a cada solavanco na estrada de barro. Naquele tempo o amortecedor era de mola dura. Enfim o percurso demorado permitia fatos engraçados. Figuras icônicas findavam embalando muitas histórias no curso da viagem, causos ainda mais antigos, outros levavam comida e degustavam no caminho, enfim era uma alegria... era a forma encontrada para passar o tempo. Isso somado a eventuais contratempos em que o motor prego e a viagem se demorava ainda mais.
O nome da empresa era Transporte Potiguar LTDA, de propriedade de Cícero Isaías de Macedo, primo legítimo de minha mãe, inclusive a rodoviária de São José de Mipibu tem o seu nome, justamente por ele ter sido o pioneiro no ramo de empresa de ônibus ligando Mipibu à Natal e outros municípios vizinhos. Num tempo incomparavelmente distante da empresa Barros. Hoje, isso não diz muito, mas há mais de meio século - num tempo em que o transporte eram os pés ou o lombo de cavalos e jumentos - esse empreendimento era o máximo em conforto e modernidade. Mesmo que duro como trator.
Meu pai contava que quando apareceram os primeiros veículos em Mipibu muitas pessoas iam para o ponto de saída e chegada do ônibus somente para admirar o "cavalo de ferro", pois era algo incomum, como poderia ser, hoje, uma nave voadora que levantasse um voo vertical e levasse passageiros a Natal.
A imagem aqui postada, feita em Natal, traz, inclusive, o motorista Ivanaldo Pereira da Silva, 20 anos de idade (esse, da fotografia), sentado à direita, de chapéu. Inclusive é possível ler o painel anunciando “São José a Natal”... Enfim essa fotografia me causou emoção, pois meu pai faleceu em 2018, aos 95 anos, e me contou muitas outras histórias passadas nesse “cavalo de ferro”.
Saber que ele e minha mãe usufruíram desse prodígio do progresso me causa duas reações. Admiro sobre o quanto as coisas se modernizaram em termos de conforto dentro dos veículos atuais (comparados ao passado), assim como a facilidade do trajeto atual por uma moderna BR de mão dupla. É a história cumprindo o seu papel… OBS> Se alguma pessoa da família quiser enviar, abaixo, mais informações, fico grato, pois poderei ampliar esse importante registro.

domingo, 14 de novembro de 2021

O caso "Lagoa do Bonfim" e outras problemas aquíferos em Nísia Floresta - um testemunho (escrito em fevereiro de 2020)


Ultimamente o assunto em voga em Nísia Floresta é o encolhimento da majestosa, lendária e histórica lagoa do Bonfim, nome dado pelos capuchinhos que não gostaram da nomenclatura indígena original, “Puxi”, substituindo-lhe pelo topônimo cristão. Quisera o problema da bela Bonfim ser apenas o desbatizamento do nome indígena. Não é nada comparado ao dano ambiental que ela enfrenta. 
 
A julgar pelos pontos de água circunvizinhos que já secaram, e a redução assustadora da própria lagoa - fenômeno jamais visto - caminhamos para uma savanização. Sua diminuição começou sutilmente, a partir de 1999, quando foi instalado ali a Adutora Monsenhor Expedito, em homenagem ao “Apóstolo das Águas”, sacerdote que abraçou a causa da “água para todos”, ao lado de políticos como Aluízio Alves e outros. Instalaram e pronto! 
 
As autoridades e o povo esqueceram de acompanhar a reação da lagoa de forma institucionalizada, tornando públicos os resultados. A CAERN firmou o compromisso de construir poços justamente para evitar o que está acontecendo hoje. Mas ficou só no papel. Também esqueceram de convocar os interessados para observar e tomar providências. Houve gritos sutis e isolados, mas quem devia agir mesmo, calou-se.
 
Diante desse problema incômodo sinto-me no direito de externar a minha opinião na condição de cidadão comum que participou de uma reunião em 1999 (ou 1998, não me lembro com exatidão, mas foi nesse período), quando convocaram a população para apresentar o projeto da Adutora, ocasião em que estiverem presentes autoridades diversas, em nível de estado e município. O evento se deu na Escola Muncipal Yayá Paiva. Estavam presentes: Garibaldi Alves estava, Promotoria do Meio Ambiente, CAERN, Sind’água, UFRN e alguns vereadores locais. Muitos devem se lembrar da polêmica promotora gaúcha Yádia Gama Maia (ela estava ali). 
 
Infelizmente, em termos de “povo”, o número era insignificante. Quase ninguém. Perdoam-me a sinceridade, mas Nísia Floresta tem uma característica: o povo, com as devidas exceções, não participa da vida política de seu município (não me refiro à política partidária, obviamente). Poucas pessoas se atraem para eventos que visualizam o bem comum, o social. Há uma espécie de receio, algo do tipo. Também existe outra característica: grupos políticos anulam pessoas com outras visões. Pessoas esclarecidas e com visão são postergadas em detrimento de outras que não representam verdadeiramente o povo. E isso emperra o desenvolvimento do município, causando danos iguais a esse. É uma soma de politicagem, omissão popular e descartamento dos cérebros pensantes. 
 
Pois bem, nesse evento de 1999 houve um momento em que franquearam a palavra ao povo. Fui um dos que fez uso da palavra. Com certeza os nisisaflorestenses que estavam presentes se lembrarão das palavras abaixo, ditas por mim, naquele dia. Refleti sobre o direito à água e a importância de o povo do seridó e sertão receber o líquido precioso de Nísia Floresta, mas que os nisiaflorestenses tivessem a garantia de que não houvesse dano ambiental, e que os estudiosos e especialistas em recursos hídricos (a Ciência) garantissem isso. 
 
Ainda abordei o problema de não ter dado o devido quorum, ou seja, refleti sobre a mínima participação popular, pois estava-se decidindo a vida (água é vida), estava-se decidindo o futuro de um manancial sagrado. A segunda maior lagoa do Brasil. Perguntei sobre a importância da contrapartida, já que a CAERN ganharia milhões com as águas de Nísia Floresta. O QUE OS NISIAFLORESTENSES RECEBERIAM COMO CONTRAPARTIDA POR ESTAREM OFERECENDO - GRATUITAMENTE - A MAIOR RIQUEZA DE UM POVO: A ÁGUA? Discorri sobre o fato de a CAERN RETIRAR GRATUITAMENTE ÁGUA DA LAGOA DO BONFIM, e ter a obrigação de oferecer algum benefício ao município, uma espécie de “royalties” do petróleo (mas, nesse caso, da água), que construíssem um teatro, ou financiassem um projeto cultural permanente, ou uma cobrança simbólica de água, já que o município daria de beber a muitos municípios.
Lembro-me, com nitidez, das minhas palavras. Até brinquei, ao encerrar, dizendo que os nisiaflorestenses precisavam ter a certeza de que a “serpente encantada da lagoa do Bonfim” não ficaria sem moradia. Todos sabem que o imaginário popular narra que nas profundezas da lagoa vive uma gigantesca cobra. Um senhor idoso me contou, em 1992, que “na época que Nosso Senhor Jesus Cristo andava na terra, a cabeça da cobra ficava na altura de onde é hoje a igreja de Mipibu, e a cauda findava nas proximidades da lagoa Papari, e sua grossura (diâmetro) era de quatro troncos de coqueiro” (vide: https://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com/... Óbvio que eu não contei a lenda, apenas alertei sobre a cobra perder sua casa, se a lagoa secasse...
😂
 
Pois bem, a minha fala com certeza traduziu o pensamento de muitos, mas, enfim, essa foi a reflexão. Assim que concluí, me dirigi ao meu assento, lembro-me de caras entortadas de algumas pessoas, principalmente autoridades que se mostraram desconfortáveis com minhas reflexões (inclusive de Nísia Floresta!). Com certeza não gostaram do forasteiro “falando o que não devia”. 
 
É comum em alguns municípios brasileiros “molhar as mãos” de autoridades e lideranças para que elas facilitem projetos de interesse de estado e afins. Não estou insinuando que isso tenha acontecido, mas fiquei admirado com a anuência de quem estava ali, como se a adutora estivesse trazendo incontáveis benefícios para Nísia Floresta. O povão não parecia muito bem representado naquele delicado empreendimento. Então a minha fala, de fato, gerou muito desconforto, embora ditas com muito respeito e diplomacia.
 
Essa história da lagoa do Bonfim, reforça a certeza de o quanto as pessoas devem buscar e defender os seus direitos HOJE/AGORA, pois se demorar muito pode ser tarde. TENHAM CERTEZA DE QUE NÃO É TARDE PARA SALVAR A LAGOA, MAS É NECESSÁRIO UM RACIONAMENTO URGENTE! Todos falam de ligações clandestinas. É necessário saber se isso é real, e até que ponto é legal. Quem são as pessoas que desviam as águas? 
 
Quem está lá no sertão ou seridó recebendo a água que sai do Bonfim nem está sabendo do que está acontecendo aqui. Os sertanejos e seridoenses querem mais é água boa. Mas eles devem ser levados ao pensar. Lá, eles enchem piscinas, fazem bicas nos bares e restaurates, molham jardins ornamentais etc. A prioridade, hoje é o ser humano e os animais. Tudo mais é luxo. Desse modo a CAERN, o SIND’água, o Governo do Estado, o Ministério do Meio Ambiente, a UFRN , Prefeitura de Nísia Floresta e outros órgãos precisam ser mais holísticos com esse tema. É necessária uma união envolvendo todos os municípios beneficiados. Todos devem saber sobre esse DANO AMBIENTAL na palma da mão e RACIONAR A VAZÃO DE ÁGUA PRA ONTEM. 
 
Longe de propor o corte no fornecimento de água para nossos irmãos. Isso é incogitável, pois precisamos nos colocar no lugar de quem não tinha água antes. O delicado da questão é que hoje eles têm água abundante e podem muito bem adotar outra política de uso (e reuso). Sabe-se que antes eles não tinham nem sistema hidráulico dentro de casa. Tudo era na base de cuias e potes. Hoje tem tal qual nós, litorâneos. Mas quando essa água sai da lagoa do Bonfim para encher piscinas, servir bicas para festinhas, lavar calçadas e muros com compressor, ser desperdiçada ou mal utilizada, a história é outra. É aí que entra a CAERN e a UFRN no aspecto de elaborar cartilhas orientadoras e realizar seminários e reuniões frequentes nos municípios beneficiados por Nísia Floresta. Usar todas as mídias. Se eu posso usar a água do banho para molhar o pé de mamão ou o jardim, lavar a calçada, o terraço etc, por que vou usar água potável? Se costumo plantar mil hectares de agricultura e molhar com água potável, está na hora de eu reduzir a minha área agricultável. Está num momento crítico. 
 
A própria CAERN de cada município beneficiado deve fiscalizar esse racionamento. O momento pede isso. Se não for oferecido à lagoa o direito de ela se recompor, se ela não respirar, teremos a maior tragédia ambiental do estado para os próximos 50 anos (pesquisem sobre lagos e lagunas que secaram para sempre em alguns países da África, por exemplo).
De onde só se tira e não se põe, tudo se acaba. A quantidade de águas pluviais na região que circunda a lagoa do Bonfim é incomparável a quantidade de metros cúbicos de água que sai por segundos através da adutora. Observem que não temos rios superficiais desembocando no Bonfim.
 
Aproveito para reforçar um grito que lanço desde 2009, e que as autoridades e povo (salvas raras exceções, diga-se de passagem), seguem moucas, como se não ouvissem. Refiro-me ao rio Mipibu, altura da entrada do "Engenho Mipibu”, no ponto onde uma galeria desemboca ali milhares de litros de dejetos (incluindo esgoto) diariamente, SILENCIOSAMENTE, INVISIVELMENTE. 
 
Essa água escorre até a lagoa Papari, a segunda maior lagoa de Nísia Floresta. Quando propus ao povo nisiaflorestense, juntamente com um grupo de amigos, discutir o problema com seriedade, provocando as autoridades a tomar providências, os mais interessados ficaram em casa, muito embora a convocação foi feita na emissora de rádio local, nos carros de som e etc. Foi igualzinho quando fizeram a convocação para repensarem a instalação da Adutora Monsenhor Expedito. TEMOS QUE PENSAR ANTES, PENSAR DEPOIS FICA MAIS DIFÍCIL. 
 
Lembrem que esse é outro assunto, mas é sério demais. A Lagoa Papari está sendo morta lentamente. Lembrem que o trecho do rio Tietê que passa por SP não virou uma fossa do dia para a noite. A micro flora e micro fauna aquática da lagoa Papari não resistirão muito tempo recebendo dejetos. E o que será dos peixes, caranguejos e camarões? Lembre-se que no passado ela já foi berço de Pitus. Onde estão os Pitus? CABE ÀS AUTORIDADES DE AMBOS OS MUNICÍPIOS SE UNIREM, CONSTRUÍREM UMA LAGOA DE CAPTAÇÃO DEFRONTE AO ENGENHO MORGADO PARA QUE DEPOIS DE TRATAREM A ÁGUA, ELA POSSA SER DESPEJADA - LIMPA - NO RIO MIPIBU E ASSIM ESCORRE PARA A LAGOA PAPARI. PENSEM AGORA! 
 
Enfim… retomando sobre a lagoa do Bonfim, diante das consequências, o povo de Nísia Floresta parece ter entendido agora a mensagem que a natureza transmitiu. Ela é sábia. Mas tenham certeza de um detalhe: o racionamento é para ontem. A CAERN deve agir com urgência. Todos devem agir com urgência. Se praticarem o racionamento todos os lados terão um final feliz. Esse racionamento é tarefa científica. A UFRN tem todas as condições de responder ao povo. 
 
OS NISIAFLORESTENSES DEVEM SE UNIR E SEGUIREM FIRMES. QUAL VEREADOR ENCABEÇOU ISSO? QUAL A POSIÇÃO DO EXECUTIVO MUNICIPAL? TODOS PRECISAM ANDAR DE MÃOS DADAS NESSE PROJETO. É PARA ONTEM. NÃO ESPEREM PARA VER A COBRA DO BONFIM!
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OBSERVAÇÃO: Eu já havia publicado este texto quando tomei conhecimento de que "Elaine Freitas", líder comunitária, organizou um protesto nas proximidades da referida Adutora, e que o empresário Marcos Lopes (Forró da Lua) vem tomando várias medidas. Externo a vocês meus mais sinceros parabéns pelo gesto nobre. Aproveito para agradecer ao jornalista José Alves por ter solicitado este texto. Cada um deve fazer a sua parte!

 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

A botija



Quando eu era criança tive muitas noites sul-matogrossenses embaladas por estórias de Trancoso contadas por minha mãe. Seu repertório trazia a “Lenda da Lagoa de Extremoz”, “Lenda da Lagoa do Bonfim”, a “Lenda da Lagoa de Papari” (não é a de Jacy e Guaracy, mas a da “Cobra Verde” – qualquer dia escrevo sobre ela), dentre outras. Das suas ‘contações’, as que mais me impressionavam eram referentes às pessoas que sonhavam com “botija” cheia de moedas de ouro enterrada em lugares estratégicos por quem já havia morrido. Nesse universo onírico, aparecia alguém revelando o lugar exato do enterro da botija, cujo privilegiado que ousasse desenterrá-la deveria respeitar verdadeiro ritual envolto em mistérios.
Dentre as minhas reminiscências infantis, trago outras, ouvidas de outras pessoas, não posso negar que as que mais encantaram e ficaram gravadas nitidamente foram três estórias contadas por um cearense na casa dos 80 anos, chamado Expedito. Eu contava 12 anos à época. Em visita à casa dos meus pais, há cinco meses, soube que ele havia morrido quase centenário. Talvez você não acredite, mas são estórias gigantescas. Uma delas é quase odisseia. O critério para ouvi-la é possuir dois poderes: não ter pressa e compreender o imaginário popular. Se você não tiver essas duas capacidades, nem tente. As crianças e os adolescente da minha época – pasme! – tinham tempo.
O autor do texto com a escritora (e ex-professora) Clotilde Tavares, autora de "A Botija".

Mas vamos lá... Esse senhor era vigia de um órgão público que ficava próximo a minha casa. Isso se casava muito bem com o vai-e-vem de um ‘magote’ de menino que brincava tranquilamente até, no máximo, às 22h00, indo dormir a primeira ‘convocação’ paterna. Nesse contexto eu – e mais uma meia dúzia de meninos – sentiam-se mais atraídos pelas histórias contadas e recontadas pelo vigia, que pelo esconde-esconde ou o que quer que seja que ocorresse nas “brincadeiragens” próximas.
Vale destacar que a maneira que ele contava era incomparável. Qualquer cinema de primeiro mundo era fichinha para ele. Parecia essas pessoas que hoje fazem “contações” nas escolas. Tinham onomatopeias, gestos, tons altos, baixos, enfim, sua didática aprendida na universidade da vida, de maneira espontânea, exercia verdadeiro feitiço na plateia muda, a qual mal piscava, envolta no contexto da narração. Saíamos dali com a mente fervilhando de imaginações.
Hoje, passadas mais de três décadas, o apaixonante disso tudo é ver pinceladas, nuanças dessas estórias em meio a outras que li e ouvi em contextos e épocas diferentes. Um exemplo muito forte deu-se em 2006, quando li “A Botija”, da professora Clotilde Tavares (que ainda tive o gosto de tê-la como mestra em 1997, na UFRN). A estória é fascinante, inclusive reli-a três vezes. O que mais me encanta nessa obra (que deveria ser lida por todos os brasileiros) é o meu “reencontro” com esse senhor cearense em meio às páginas deliciosas escritas por Clotilde tantos anos depois.
“Vi” o senhor Expedito por diversas vezes passeando por ali. Curioso é que as estórias contadas pela escritora, que as ouviu em sua infância (na Paraíba) se mesclavam com as que ouvi no Mato Grosso do Sul, contadas por um cearense. Por vezes as estórias do senhor Expedito se pareciam logo no início, outrora no meio, outras vezes no fim.
Certa vez, no intervalo da visita de “Patativa do Assaré” no Auditório da Reitoria da UFRN, me reencontrei com o professor Deífilo Gurgel (in memorian), para o qual eu já havia falado enteriormente das tais estórias do cearense. Ele me disse “agora você vai contar uma daquelas estórias”. Foi muito interessante vê-lo rindo sem parar.
Quem gosta de ler sabe muito bem que a literatura é cheia de experiências iguais. A gente está sempre reencontrando velhos personagens, perfis, fatos etc com roupagens similares nas páginas que vão sendo passadas. Uma pessoa daquele livro que você leu lá atrás reaparece com outro nome. Até mesmo pessoas da vida real surgem nas páginas. É incrível! O meu reencontro com o senhor Expedito, no “A Botija” foi uma experiência inesquecível, a qual só compreende quem dá valor aos livros e às pessoas simples.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Erro na internet faz Nísia Floresta ser confundida com Isabel Gondim

 https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/erro-na-internet-faz-nisia-floresta-ser-confundida-com-inimiga-ha-uma-decada.phtml?fbclid=IwAR3CGscSE1nzFGv_9xfs3Mm_Kawx_9ijJiBF1Or12xZ6otiF2sg_s9cOFCk

O link acima traz uma entrevista que Aventuras da História fez comigo há uns vinte dias, tendo sido publicada domingo passado. Nela opino sobre esse equívoco em que algumas pessoas publicam na internet imagens de Isabel Gondim como sendo Nísia Floresta, o que significa um desserviço à história e memória dessa intelectual. Descobri isso em 2011, quando saiu um vídeo-documentário sobre Nísia Floresta, e mostrava justamente Isabel Gondim como sendo Nísia Floresta. Entrei na internet e constatei umas três postagens (àquela época) com tal erro, inclusive na Wikipédia, veículo nem tanto confiável, conforme alertam inúmeros pesquisadores.

Todas essas postagens com imagens equivocadas eram de 2011, portanto constatei que o erro começou em 2011, tendo se agravado após a publicação do dito vídeo-documentário que, inclusive, é vendido até hoje em Natal com a imagem errada. Digo isso porque já comprei muitos aqui no centro de Natal para tentar extingui-los; até conversei com esses donos de lojas de DVD e bancas de jornais e livros, explicando-lhes que aquele material tem erro. Mas vez ou outra encontro o dito material à venda. As pessoas fazem cópias e não estão nem aí.

Como sempre falo, quando escrevemos um assunto que não temos amplo conhecimento - e o tornamos público - devemos buscar o máximo de fontes/bibliografias, pois somente assim encontramos possíveis contradições e erros, permitindo que corrijamos em tempo. Pegar o primeiro material ou a primeira imagem que se encontra - justo na internet - inclusive em fontes nem tanto confiáveis - e não confrontá-los/compará-los;esmiuçá-los fará com que o futuro descubra o erro e não nos perdoe. Assim penso.

As pinhas do frontispício do cemitério de Nísia Floresta...


Observando 'in loco' as peças comentadas aqui, em postagens anteriores, percebe-se a fragilidade. Essas pinhas são aquele tipo de elemento que deve ficar em seu lugar, intocável, apenas recebendo o penteado dos piceis, quando das demãos da cal. Infelizmente, por falta de visão e cuidados, no ato da poda de uma árvores, a peça ruiu e se encontra nesse estado. Mas infelizmente acidentes acontecem. Percebe-se que é possível a restauração, e algo é mais importante no momento: fazer o molde. Nota-se as sucessivas demãos de cal, as quais sufocaram um pouco os adornos. Essa é a oportunidade de se retirar essas demãos de cal, lavar a peça, juntar as partes quebradas (ainda com a peça umedecida), usar rejunte de cimento (que é um processo gradual, pois o cimento tem que ser deixado na peça por algum tempo e quando estiver em estado de "massa de modelar" deve-se fazer os adornos em conformidade com as partes que se quebraram, e no final dar uma demão de impermeabilizande e caiar. Com certeza vai dar tudo certo. O segredo é olhar, sentir e agir certo. E o maior segredo - agora - é arrancar a árvore ao lado, cujas raízes não combinam com esse espaço, como todos sabem, e plantar quatro Pau Brasil afastados do frontispício.


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

FLIN - 2014 - Ribeira (Lembrança)...


NÓS, NA FLIN...

Sábado, após passar boa parte da tarde acompanhando Fídias no seu terceiro tour fotográfico na parte antiga da Ribeira, estivemos na FLIN (Festival Literário do Natal/RN), evento realizado pela Prefeitura do Natal. Fomos durante os três dias nesse que é um dos eventos mais significativos da capital.
Conversando ali com o escritor mineiro José de Castro, perguntei sua impressão sobre a versão 2014. Sua opinião coincidiu com a minha: “um público acanhado”. Lembro-me que no ano passado não foi grande coisa em termos da visitação, mas houve um público maior.
Parece bobagem preocupar-se com isso, mas é realmente preocupante, pois sinaliza muita coisa. Um evento tão importante, oferecido gratuitamente aos potiguares, passar quase despercebido? Fídias disse que a diluição do público serve de termômetro para se entender o nível intelectual de parte considerável das autoridades que estão no poder, e, obviamente, do próprio povo potiguar (que não pode ser descartado). “O povo reclama da falta de eventos de natureza literária. Quando tem, não vai...”
Dá para entender?
Dá.
Boa parte dos munícipes parece mais preocupada com o shopping, o funk ou a Banda Grafite... Curioso é que um dos patrocinadores da feira é...(você não vai acreditar!) ...O Midway Mall! (Não se engane: são aqueles patrocínios tipo “por conveniência”, para não falar outra coisa).
Conversando com alguns expositores foi dito que constatou-se a ausência de muitas autoridades (vereadores, deputados, escolas, universidades, representantes de instituições de educação e cultura etc).
Não é tão dispendioso às Prefeituras circunvizinhas, principalmente da Grande Natal disponibilizar ônibus com estudantes e professores, afinal não há dinheiro que pague o retorno em forma de um povo mais culto e civilizado. Quando é que esses prefeitos vão evoluir? Além de não prestigiar, não prestigiam e não permitem ao povo prestigiar. Meu Deus, a gente busca um diferencial e não encontra! É por isso que a mesmice engorda! Os “cabra” parecem mais interessados em engordar os seus currais de gado, afinal dão lucro diferente (você entendeu o que eu quis dizer, não?).
Mas vamos ter esperança, fé e esperar um novo tempo.
Ah! “Para não dizer que não falei das flores”... ia esquecendo... fica uma sugestão ao secretariado do Prefeito Carlos Eduardo ALVES: “PARA A FLIN DE 2015, RECUPERE PELO MENOS OS DERREDORES DA EXPOSIÇÃO, POIS DÁ VERGONHA!”
Você fica sem acreditar quando vê, entrando em processo de ruína (pasme!) a primeira faculdade de Direito do Natal (onde também funcionou o famoso Grupo Escolar Augusto Severo), prédio de arquitetura e beleza singulares, que guarda páginas preciosas da História do Rio Grande do Norte. O alpendre lateral está despencando e o telhado dos fundos está quase todo desabado. Quem passa na frente não percebe muito, mas do alto se vê a vexatória situação.
O folder da FLIN anuncia, por ironia, o endereço como sendo na “Praça Augusto Severo”. Dá pena ver esse espaço histórico com seus bancos apodrecidos, arrancados, luminárias apagadas, mato de carrapicho crescido à altura da cintura e... no centro... o “pobre” Augusto em nada lembra quão augusto foi... (nem a placa restou)... Não parece que se trata do primeiro aeronauta do mundo. Meu Deus! Quantos termômetros!
Sim... para não perder o fio da meada... José de Castro é um escritor mineiro que mora em Natal desde 1972, professor aposentado da UFRN, ex-diretor da TV-Universitária, membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte. Foi diplomado como Cônsul da Poesia de Parnamirim (isso deve ser coisa da Angélica e Vandilma), e pelo Movimento Poetas del Mundo. Seus livros são adotados por várias escolas do Natal.
Para a versão da FLIN 2015 é interessante que os gestores e professores dos municípios vizinhos comecem a se programar desde já para prestigiá-la. Aos natalenses, fica a sugestão para o ano que vem. Não deixe de beber nessa fonte.