ANTES DE LER É BOM SABER...
CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.
quarta-feira, 31 de julho de 2019
terça-feira, 23 de julho de 2019
PRAIA DE PIRANGI DO SUL: PARA ONDE VELEJAM AS JANGADAS D’OUTRORA?
ACTA NOTURNA – 19.7.2019
PRAIA DE PIRANGI DO SUL: PARA ONDE VELEJAM
AS JANGADAS D’OUTRORA?
Os primeiros moradores
desse torrão paradisíaco, apelidados “índios”, foram os nativos potiguares que
ali moravam há milênios, abastecidos por abundante pesca e a agricultura.
A aldeia se espraiava franca, unindo as duas pirangi, “rio das piranhas”, conforme o idioma tupi, pronunciada então “pirã-gi-pepe”. A praia dista 25 Km de Natal, localizada às margens sul do rio Pirangi, por sinal belo não fosse a sua gradual dilapidação e assoreamento.
A aldeia se espraiava franca, unindo as duas pirangi, “rio das piranhas”, conforme o idioma tupi, pronunciada então “pirã-gi-pepe”. A praia dista 25 Km de Natal, localizada às margens sul do rio Pirangi, por sinal belo não fosse a sua gradual dilapidação e assoreamento.
No século XVI os donos
reais desse cartão postal a chamavam Pirangipepe, depois passou a se chamar
Porto de Búzios, pois Búzios – praia próxima – era espécie de referência para
os exploradores que dali retiravam milhares de conchas de cujo nome batizaram a
praia vizinha.
No tempo que poucos
valorizavam o banho de sol e mar, e não se interessavam por veraneio, essa
faixa era emoldurada por coqueirais sem fim, até o homem depredá-la lentamente,
tombando diariamente dezenas dessas palmeiras transformadas em material de
construção para grandes casas de taipa de Natal, além de outras finalidades.
A “civilidade”
inaugurou-se ali paulatinamente, atiçada pela construção da capela de Nossa
Senhora da Soledade. Num terreno doado por Manoel Joaquim Freire, sua esposa
Inês Emiliano Freire e a senhora Rita Maria de Macedo, erigiu-se o marco
cristão e o fenômeno atraia moradores. A informação está evidenciada na
escritura de doação datada de 2 de abril de 1867, portanto há 153 anos.
Antes de 1920 o local já era pincelado por casinholas feitas totalmente de palha de coqueiro. Pessoas pobres, empurradas voluntária ou não para o mister de “pescador”, se arrancharam por ali, erguendo suas moradas, onde tinham o sustento garantido.
Antes de 1920 o local já era pincelado por casinholas feitas totalmente de palha de coqueiro. Pessoas pobres, empurradas voluntária ou não para o mister de “pescador”, se arrancharam por ali, erguendo suas moradas, onde tinham o sustento garantido.
Logo depois apareceram
pequenas casas de tijolos queimados em Macaíba, pertencentes ao “mestre de
barcaça” José Costa e ao capataz de pescaria Antonio Pessoa. Mas em termos de
veraneio o pioneiro dessa cultura foi o farmacêutico macaibense José Augusto Costa
e sua esposa Nininha Costa. A construção deu-se com grande dificuldade, cujo
acesso era precário. Eles percorriam o longo trecho num velho Ford 1929.
Francisco Fernandes Costa, comerciante de artigos dentários foi pioneiro na instalação de energia elétrica em Pirangi do Sul. Caída a noite o casarão de tijolos do século XXI rivalizava seu esplendor com os pirilampos.
Francisco Fernandes Costa, comerciante de artigos dentários foi pioneiro na instalação de energia elétrica em Pirangi do Sul. Caída a noite o casarão de tijolos do século XXI rivalizava seu esplendor com os pirilampos.
A residência, imponente
para os padrões toscos da localidade, chamava a atenção dos nativos encerrados
em casinhas de palha e taipa, emoldurando o belo lugarejo alumiado pelos pavios
amarelecidos de candeeiros. A esposa de Francisco Fernandes, senhora Maria
Alice Fernandes foi uma conhecida beneficente da região. Era reverenciada pelos
humildes, aos quais nutria muito afeto e assistência.
Até hoje o frontão dessa
casa é preservado, graças ao filho do referido casal, engenheiro Ferdinando
Fernandes Costa e sua esposa Margarida Mara da Costa.
Mas a grande referência desse pedacinho do céu era outra. A praia foi berço das famosas corridas de jangada, cujos pescadores se irmanavam aos irmãos de Búzios, Barra de tabatinga e Pirangi do Norte.
Mas a grande referência desse pedacinho do céu era outra. A praia foi berço das famosas corridas de jangada, cujos pescadores se irmanavam aos irmãos de Búzios, Barra de tabatinga e Pirangi do Norte.
Juntos, nos sábados e
domingos, eles protagonizavam deleite aos apreciadores da velha tradição.
Muitos desciam de Natal, ávidos para contemplar as minúsculas barquinhas
desaparecendo no horizonte, inchadas pelo vento forte. As velas, músculos do
barco, semelhantes a gotinhas brancas, sumiam no azul esverdeado do mar. Belo
esporte!
Como escreveu o mestre
Cascudo, os vencedores disputavam aplausos, ansiosos pela “coroa de aljôfares”.
Segundo ele “... as jangadas levavam apenas o mestre e o proeiro, e ficavam a
umas duas milhas da costa”. Eles competiam a vitória na maior adrenalina,
movidos pela raça, pela força física, porém “a jangada não podia cortar a
outra, atravessando-lhe na frente”.
As regras eram rígidas.
Havia árbitros que acompanhavam o percurso em mar e em terra, visando a devida
organização e cumprimento das normas. Era um espetáculo!
Mas o tempo passou e a essência de Pirangi do Sul desapareceu, dando lugar a verdadeira cidade. Precária, sim, mas com foros de cidade se comparada aos seus primórdios. Pirangi do Sul está tomada por casas, condomínios, prédios, granjas e sem-fim de casas de praia e pequenas favelas sobre áreas verdes. Muitos trechos estão depredados. Ninguém enxerga o que acontece a Pirangi do Sul?
Mas o tempo passou e a essência de Pirangi do Sul desapareceu, dando lugar a verdadeira cidade. Precária, sim, mas com foros de cidade se comparada aos seus primórdios. Pirangi do Sul está tomada por casas, condomínios, prédios, granjas e sem-fim de casas de praia e pequenas favelas sobre áreas verdes. Muitos trechos estão depredados. Ninguém enxerga o que acontece a Pirangi do Sul?
A urbanização é precária
como precário é o sumiço das jangadas. Apesar de tudo, em Pirangi do Sul, os ventos fortes da sua beleza original ainda turbilham como antes.
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Uma noite singular (fato real)
UMA NOITE SINGULAR
(Fato
real)
No dia 11 de julho de
2019, como sempre escrevia, organizando meus papeis velhos, quando gritos na
rua me instigaram a ir até a janela. Numa Saveiro mal estacionada e portas
abertas uma pessoa pedia socorro, implorando que seu agressor parasse. O carro
saiu como que embriagado e em alta velocidade. Do banco do carona as pernas de
alguém eram arrastadas nos papalelepípedos. O veículo escorreu violentamente pelo
declive no final da Felipe Camarão e freou num trecho mal iluminado. Aproveitando
a oportunidade a pessoa se desvencilhou do agressor e entrou por um beco
lateral, correndo enlouquecidamente, sendo quase atropelada pelo agressor que
deu marcha numa velocidade sem precedentes e retomou a Felipe Camarão como quem
participa de um racha.
Supus ser uma tentativa
de feminicídio. Saí em disparada, na expectativa de ajudar a vítima. Passando
por uma casa, ouvi alguém chorando muito e deduzi ser a vítima. Os moradores me
conheciam, então expliquei o que acabara de presenciar, e pedi que eles
levassem a pessoa para os fundos da casa, pois o agressor poderia aparecer por
ali, procurando-a. Foi quando constatei ser um menino de treze anos.
Os vizinhos próximos se
dirigiram à casa e começaram a fazer perguntas ao menino. Pedi que o aguardassem
descansar. Ele tremia, soluçava e respirava descontrolado, sem condições de
falar e menos de tomar água a água oferecida. Com muito custo conseguiu contar
que sua guarda estava em questão. Que era paulista e o pai quebrara o seu
celular para que ele não tivesse contato com a mãe.
Alguém telefonou para a
Polícia Militar, que apareceu após uns vinte e cinco minutos. Informaram que
vinham buscar o menino para entregá-lo ao pai. Na mesma hora me identifiquei,
expliquei sobre o meu profundo respeito aos bons policiais, contei o que vi e disse,
educadamente, que a criança só sairia dali após contatarmos o Conselho Tutelar
local. Inclusive expliquei que fazia questão de ser testemunha do fato. O
policial, calma e educadamente concordou. Percebi que ele captou bem o filme
que se passara naquelas ruas velhas e escuras dali.
Passados
aproximadamente uns dez minutos da chegada do policial, o pai surgiu defronte à
casa com mais dois policiais militares. Na casa, todos disseram que o referido
senhor não entraria. O policial que atendera a ocorrência orientou-os a
aguardar na esquina do beco.
Passados alguns
minutos, depois que uma pessoa do Conselho Tutelar de Natal (PASMEM!) disse,
por telefone, que a instituição não trabalhava naquele horário, fomos todos
para a Delegacia de Flagrantes Zona Sul. Um carro com a vizinhança se deslocou
também, solidarizados com o contexto.
Na Delegacia fomos
muito bem atendidos e o que me instiga a escrever esse texto não é nem tanto o
fato acima narrado, pois defender e proteger uma criança é necessário, fundamental
e inadiável. Mas refiro-me justamente ao atendimento da equipe da delegacia. É
importante ressaltar que eles trabalham num ambiente tenso, onde chegam
ocorrências sucessivas.
Prestada a Declaração, digitada
pelo escrivão Barros, começamos a conversar, inclusive logo chegou o delegado
Aldo Lopes. Eu não tinha ideia de estar diante de um monumento vivo da
literatura nordestina, mas confesso que a maneira respeitosa, serena e
inteligente como ele conduzia aquele contexto – inclusive tentando quebrar o
gelo, brincando com o menino de maneira paternal, sem quebrar o seu profissionalismo
– chamou a minha atenção.
Comecei a conversar com o garoto para tentar desvencilhá-lo daquilo tudo. Falamos sobre expressões nordestinas, pois quando perguntei se ele queria uma "bala", respondeu que nunca mais tinha ouvido essa palavra, pois aqui falam "confeito". expliquei-lhe que gramaticalmente o correto é a expressão nordestina, embora vale o regionalismo. Informei a ele que tenho um trabalho intitulado A Linguagem No Rio Grande do Norte, que eu também não era daqui, pois nascera no Mato Grosso do Sul.
Logo comecei a falar sobre o meu filho que pretende ser diplomata e estuda dia e noite nos
seus meros 18 anos. Então o escrivão Barros citou alguma coisa de Rui Barbosa. Dessa
colocação iniciou-se uma conversa que permitiu passear naquela pequenina sala nada
menos que o poeta Manoel de Barros, a intelectual Nísia Floresta, o genial
escritor Graciliano Ramos e o singular Guimarães Rosa. Observei que o escrivão
era muito culto e junto ao delegado a conversa deu um salto
Eu sempre acreditei nas
Polícias e as defendo muito. Para mim eles são Heróis. Não posso ser infantil, ignorando
que há ovelhas descomprometidas, MAS SÃO MINORIA. E falando exatamente sobre
isso, nas palavras do escrivão, constatei que na sala havia outros policiais da
mesma linhagem.
Foi-se o tempo que
policiais eram “Capitães do Mato”. Hoje há até PMs mestres e doutores. Que
importante! A civilidade das polícias faz com que trabalhem mais com
inteligência que com a força e a coerção que, em alguns casos, é necessária.
Mas, inegavelmente, a educação, em sua plenitude, é o que move tudo, transformando
para melhor.
Constatei, in loco, que
aqueles homens que tomam café dia e noite, que andam com armas enfiadas no cós,
que aparentemente parecem achar que o submundo da mente humana é até normal – de
tanto que lidam com seus efeitos – são pais, mães, são educadores, escritores, geógrafos,
filósofos, poetas, artistas... são gente
igual a gente.
A mãe do garoto chegou,
desdobrou-se em agradecimentos. Havia outras pessoas ali. Vieram como
testemunha e nem foi preciso. Mas não deixaram de exercer esse ato de respeito
ao ser humano. Respeito à vida.
Saí impressionado e
feliz por ter ajudado a salvar uma criança, linda por dentro e por fora. Como
educador e pai, imaginei o seu sofrimento. A minha preocupação era sobre os
traumas... Era para aquele menino estar feliz, estudando, se divertindo, mas
viveu momento de terror.
Que bom que ele voltou
para o colo mais delicioso do mundo.
Senti a sua felicidade.
Eu nunca havia entrado
numa delegacia, nem sido testemunha de nada, mas saí dali cheio de testemunhos
bons.
Fiquei me perguntando
uma coisa. Eu estava em casa, estudando, digitando uma de minhas Actas
Noturnas. De repente veio tudo isso... será que foi por acaso?
Parabéns a polícia!
Muito obrigado em nome
de muitos e muitos brasileiros!
Por onde eu andar, falarei
sobre vocês! LUÍS C. FREIRE
ACTA NOTURNA – 19.7.2019 AS IRMÃS TEREZINHA E LENIRA TRINDADE (Escrito entre 1995 a 2018)
ACTA NOTURNA –
19.7.2019
AS IRMÃS TEREZINHA
E LENIRA TRINDADE (Escrito entre 1995 a 2018)
Adentrando Papari,
logo após a curva da “Estrada dos Índios”, no ponto onde ela se funde à Avenida
João Batista Gondim, vê-se uma casa que passaria imperceptível não fosse o
aspecto de “casinha de boneca”, como chamamos popularmente, pois é o tipo de
residência na qual a mobiliária se acomoda primorosamente, repleta de
souveniers e assessórios decorativos. Tudo muito bem cuidado e limpo. A
construção baixa, de duas águas, coberta de telhas brancas, moldadas na coxa,
guarda aspecto bucólico.
Há duas janelas em
seu frontispício, emoldurando duas portas de madeira. O pequeno jardim bem
cuidado e colorido, portão metálico entre muro, mal passando a altura do
joelho, convida o visitante a descortinar poemas porventura guardados neste
exemplar arquitetônico em extinção. Há simplicidade singular na casinhola
antiga.
A espontaneidade do
convite se avoluma quando duas elegantes senhoras se apresentam eventualmente,
janelando, contemplando o movimento da rua, recebendo cumprimentos de
transeuntes. Uma é Lenira, outra, Terezinha. São irmãs. São Trindade. Nasceram
ali e nunca se casaram. Trajam-se com cores sóbrias. Normalmente usam vestidos
e óculos de grau tradicionalmente grandes com lentes fotocromáticas que lhe
emprestam características de óculos para sol.
Originalmente a
velha casa pertenceu à Celina Carvalho, irmã de Guilhermina Emília de Carvalho
mãe de Terezinha e Lenira. Dona Celina é mãe de Nitinha Palhano, que por sua
vez é mãe de Lurdinha Palhano (que durante anos dirigiu o Instituto Pio XII) e
Canindé Palhano, hoje bispo na arquidiocese na Diocese de Senhor do Bonfim, na
Bahia. São primos das duas irmãs solteiras, as quais são sobrinhas da senhora
Celina Carvalho.
Terezinha Bezerra
da Trindade e Lenira Bezerra da Trindade são filhas da senhora Guilhermina de Carvalho
Trindade, cujo nome de solteira era Guilhermina Emília de Carvalho. O sobrenome
Trindade veio do pai, o qual entrará na história mais abaixo.
Lenira e Terezinha,
irmãs inseparáveis, marcaram gerações através da beleza que chamou a atenção de
muitos rapazes de sua época, todos preteridos pela opção de escolherem-se
eternas solteiras. “Nós passamos boa parte da nossa vida cuidando de mamãe e o
tempo passou, mas na verdade nunca nos preocupamos com casamento... acho que é
o nosso destino... não faltaram pretendentes, às vezes até incomodavam com
insistência, e acabamos assim, uma cuidando da outra... nunca nos sentimos
solitárias ou infelizes, pois as coisas do dia-a-dia nos preenchiam”.
Dizer que durante a
mocidade Lenira foi “Rainha da Festa do Padroeiro de Timbó”, parece banal, mas
pelo contexto de época, não. Hoje em dia não existe mais o romantismo que
comandou os concursos de rainha de sua época e outras atividades típicas. Havia
uma aura de concurso de miss. As moças mais bonitas da cidade eram convidadas
por uma equipe da igreja, e quando aceitavam, concorriam com toda aquela carga
de disputa acirrada.
Havia talões
impressos em gráfica da Ribeira. semelhantes a um talão de cheque pequeno. Elas
recebiam vários exemplares. Quem literalmente corresse atrás de compradores de
votos, teria maiores chances. A venda dependia muito da articulação das
famílias. Lenira, embora muito recatada, saiu na perseguição de votos, mas a
depender dela, não obteria êxito. A sorte veio dos familiares. Família grande,
muito articulada.
O concurso era
levado a sério por alguns fatores: ajudar a igreja (obviamente), a vaidade de
se proclamar a beleza e a adrenalina da busca por votos. No caudal desses
fatores se desenrolavam variados fatos. Até confusões, fofocas, mexericos. Era
assunto de praças e janelas.
Lenira era dona de
beleza singular. Chamava a atenção de todos, portanto algumas concorrentes
temiam que no dia do resultado, os participantes da festa a preferisse,
colocando as demais de lado. Na realidade as pessoas de fato compravam os votos
movidos pela beleza. Muitos rapazes jogavam o dinheiro ganho durante a semana,
só pelo prazer de dizer depois “eu comprei tantos votos para você”, “você é a
mais bela”, “você é a mais encantadora”... Isso funcionava como paquera pré-histórica,
pois não podia passar disso, afinal eram os costumes e estavam no seio de uma
festa religiosa.
As famílias enchiam
o átrio da Matriz do Ó. Vinham fiéis de todos os lugares. Famílias que tinham
ido morar em Natal saltavam até Papari nesse tempo. Até os evangélicos
inventavam compromissos nas proximidades para passar dentro da festa no momento
da anunciação da “Rainha da Festa”. O evento roubava a cena. Significava uma
das raras e maiores festividades de Papari. Era aguardado, concorrido e comentado
durante meses.
As barracas feitas
de estacas de madeira, revestidas e cobertas de palha de coqueiro emolduravam o
templo. Choviam doações de carneiros, bezerros, porcos, perus e galinhas. Os
animais, vivos, eram trazidos à tardinha. Ficavam num cercado aguardando o
leilão. Também se faziam leilões de acepipes assados.

Encerrado o
Novenário era dado início ao momento social. As imediações da igreja cheiravam
a comida. De instante em instante passava alguém gritando o leilão. Era frango
e peru assado, bolo lotes de cocada, cachos inteiros de banana e coco. Muita
comida. “Às vezes passava até galinha viva leiloada... era uma festa, muita
risada, muita alegria... tudo muito respeitoso... muito divertido... eu nunca
me esqueço... eu nunca mais quis ser candidata... Terezinha negou convite,
apenas ajudava”, explicou-me Lenira em 1995.
Dona Terezinha
contou-me que sua família foi educada na religião católica. “Nossos avós eram
católicos praticantes, envolvidos em múltiplas demandas da igreja, ajudavam
muito os padres... todos os sacerdotes que passaram por aqui frequentavam a
nossa casa... o padre Antonio chamava mamãe de “mamãe”.
Na década de 1950 o
padre Rui Miranda fez foi uma grande reforma na Matriz de Nossa Senhora do Ó,
ocasião que foi encontrada uma santa de madeira escondida entre as frinchas das
pedras centenárias. O padre disse a menina Lenira “essa santinha se parece com
você”. Todos que presenciaram a cena riram muito da excentricidade do pastor.
Foi ele que
celebrou a missa de corpo presente de Nísia Floresta à ocasião do traslado de
Rouen/França, para o Brasil em 1954. “Eu e Lenira já éramos moças formadas,
tínhamos quase vinte anos na época... eu me lembro desse dia... não tinha lugar
para botar tanto carro... a cidade parou... um avião fazia um barulhão no
céu... até um dia desses tinha um monte de papeizinhos jogados do avião, as os
chuviscos mofaram eles, estragou muitas fotos”.
Terezinha e Lenira são filhas de
Paulo Bezerra da Trindade, primo do senhor Pedro Trindade uma personalidade
muito respeitada nos círculos sociais e políticos em sua época no município. O
senhor Paulo trabalhou durante muitos anos no Cine Polyteama, na Ribeira.
Ficava onde atualmente se vê o Datanorte. O prédio original foi demolido.
Funcionou durante a década de 20. A empresa pertencia a uma rede que tinha em
várias cidades brasileiras. A paulista Jundiaí, por exemplo, transformou seu
Polytheama em um teatro. O cinema exibia filmes vindos do Rio de Janeiro que
eram importados pelas Companhias norte-americanas que montaram sucursal na
então capital do Brasil. O local foi inaugurado pelos idos de 1915, na Rua
Chile. Porém, os filmes demoravam a chegar pela falta de produção suficiente.
Em 1919, portanto,
há um século, vindo passear em Papari, como sempre fazia nos finais de semana,
Paulo Trindade deu de cara com uma linda moça chamada Guilhermina. A paixão foi
fulminante. Houve recíproca, mas ela era comprometida. Eles se conversaram
sutilmente algumas vezes, afinal era inadmissível a uma moça comprometida
conversar com um rapaz que não fosse seu namorado. “Muito respeitador, papai
aguardou mamãe terminar o relacionamento”. A propósito as relações de namoro
daquele tempo eram completamente diferentes dos relacionamentos atuais. Desse
modo eles se casaram em 1924 na Igreja Matriz de Nossa senhora do Ó. O
celebrante foi o sacerdote .Misael Justiniano de Carvalho.
Tiveram dez filhos.
“Naquela época as famílias eram grandes, tudo era diferente de hoje... quem vai
querer dez filhos hoje? e naquele tempo todo mundo se criava direitinho, tinha
comida para todos, as mães faziam o controle de tudo em casa”, explicou
Terezinha. Dentre as irmãs se destaca Conceição Bezerra da Trindade, nascida no
ano do casamento de seus pais. Foi uma das professoras mais respeitáveis de sua
época. Era a primogênita. Depois nasceram Antonio, José, Lizete, Celina, Lenira
Ivaneide, Pedro, Luiz e por fim Terezinha, a narradora dessa história e única
sobrevivente da imensa família.
Conceição Trindade
foi casada com “Olavo do Camarão”. São pais da escritora e professora
universitária Socorro Trindade. Terezinha e Lenira fizeram a Primeira Comunhão
e 1933? Numa celebração presidida pelo padre Pedro Paulino. “A gente estudava
no prédio da antiga prefeitura... eu estudei até o quinto ano no “Grupo Escolar
Nísia Floresta... foi construído pelo prefeito Sandoval Alicate”, contou
Terezinha.
Eu não tenho nada
de ruim para dizer da vida. Sou muito feliz. A hora de Lenira chegou e eu estou
aqui esperando a minha hora sem pressa nem medo. Somos muito católicos e
entendemos que todos têm a sua hora. Só peço uma boa morte, como minha irmã.
Sinto saudades dela, mas é normal. Fico aqui me ocupando, e num instante as
coisas passam”, finalizou Terezinha Trindade.
Em
outubro de 2018, última vez que as visitei até então, percebi que a casa
passara por reforma. A fachada mudou muito, conservando apenas duas janelas e
uma porta. Ela explicou-me que o vizinho fez uma troca com ela. Pareceu
satisfeita. Como disse, foi a última vez que estive com a senhora Terezinha
Trindade. Mulher delicada, que sempre me acolheu de maneira receptiva e
educada.
terça-feira, 16 de julho de 2019
ACTA NOTURNA – 13.7.19 INTENDÊNCIA DE PAPARI NO TEMPO DE OBEDIÊNCIA À OLIGARQUIA “MARANHÃO” – QUANDO AS “BREJEIRAS” DECIDIAM AS ELEIÇÕES.
INTENDÊNCIA
DE PAPARI NO TEMPO DE OBEDIÊNCIA À OLIGARQUIA “MARANHÃO” – QUANDO AS
“BREJEIRAS” DECIDIAM AS ELEIÇÕES.
A
transcrição do documento acima, escrito há cento e onze anos é um mero recorte
histórico – pois muitos ocuparam as funções de Intendentes e Presidentes da
Intendência, as quais se diferiam. O presente texto objetiva nem tanto avivar o
que aconteceu no dia 25 de janeiro de 1908, em Papari, mas revelar os
bastidores da Convenção, baseado em vários documentos que registram uma
política tenebrosa, movida a “brejeiras”, “votos de carbono”, “votos de cabresto”,
“surras em opositores”, enfim o coronelismo protagonizado pela oligarquia
Maranhão.
Somando
os mandatos da família Maranhão no governo do Rio Grande do Norte,
ultrapassa-se 30 anos, mas sua influência anterior e posterior é
incomparavelmente longeva. Na realidade os “Maranhão” surgem como ricos donos
de latifúndios e engenhos. Inclusive o Engenho Cunhaú, onde houve o massacre,
pertencia a eles. Iniciaram-se politicamente como Capitães-Mores, Coronéis de
Milícias, Coronéis do Regimento de Cavalaria Miliciana, Deputados Provinciais,
Deputados Gerais, Juízes, enfim ocupando em vários postos importantes e somam
quase dois séculos de influências, mandonismos, atitudes sanguinárias (como as
práticas doentias de Arco-Verde) e –
contraditoriamente – atitudes libertárias e nobres, como o ato do herói André
de Albuquerque Maranhão e o precursionismo do genial aeronauta Augusto Severo.
Os
“Maranhão” mais recentes se distanciaram do estilo coronelista, como se observa
nos alfarrábios, mas o período que trataremos abaixo, por estar no contexto do
documento abaixo, se prenderá aos “Maranhão” coronelistas e autoritários, como
veremos. O presente documento é uma Ata de Convenção realizada em 1908, a qual
igual ao que acontece hoje, salvos raros detalhes, é uma máscara. Mas, primeiramente,
leiamos a transcrição abaixo:
“Nós, abaixo
assinados, intendentes, depositarios da confiança do Partido Republicano
Federal, Norte Rio Grandense no municipio de Papari, constituímos delegados
para representar o mesmo município na Convenção do referido partido no triênio
a terminar em 31 de dezembro de 1910, o cidadão Dr. Antonio José de Mello e
Sousa com os poderes que, pelo Regimento Politico de 12 de Agosto de 1893, são
conferidos aos membros da dita Convenção, cujas decisões nos compromettemos a
acatar e a sustentar.
Papary, 25 de janeiro de 1908
José Joaquim de Carvalho Araújo – Presidente da
Intendência
Olyntho Augusto Ferreira de Mesquita – Intendente
Pedro Januário de Carvalho Intendente
Francisco Alves d’Oliveira Barros – Intendente
Gervasio Gomes do Nascimento – Intendente
Hermogenes Ribeiro da Silva – Intendente
Manoel Orcílio Ferreira da Silva – Intendente”.
O documento registra nomes de seis
Intendentes e um Presidente da Intendência. Ser “Presidente da Intendência” era
o mesmo que ser prefeito. Já os “Intendentes” eram uma espécie de
sub-prefeitos. Na teoria funcionava como um grupo de homens de conduta ilibada
em prol do bem comum, mas na prática quem mandava era o Presidente da
Intendência, pois este era comprovadamente o homem escolhido pelo Governador do
Estado.
O
objetivo precípuo de cada Intendência era manter os currais eleitorais do
Governador. Isso era sagrado. Os Intendentes eram escolhidos pelo Presidente da
Intendência, e a eles era estendida a confiança do Governador.
Desses
sete nomes, quatro se destacam: Coronel José de Araújo, Presidente da Intendência,
Hermógenes Ribeiro da Silva, Joaquim Januário de Carvalho, ambos Intendentes, e
Dr. Antonio José de Melo e Sousa, então governador do Estado, cujos detalhes
sobre eles se seguirão abaixo.
JOAQUIM JANUÁRIO DE
CARVALHO:
dono do “Engenho Pavilhão”. Era filho de portugueses que receberam “datas de
terra” em Papari, onde constituíram família e até hoje têm descendentes
espalhados na região. Não teve maior ilustração política.
HERMÓGENES RIBEIRO DA
SILVA:
foi Intendente em outros momentos da política papariense. Posteriormente
elegeu-se “Presidente da Intendência” em 1934, quando os Integralistas
depuseram o prefeito Joaquim de Paiva. Hermógenes Ribeiro é pai de José Ramires
da Silva, que também se tornaria prefeito vinte anos adiante. Hermógenes
faleceu aos 85 anos e seis meses, no dia 24 de dezembro de 1964, vitimado por
pneumonia. Morava em Tororomba, onde possuía engenho. Era filho de João da
Silva Leite e Ana Amelia de Oliveira. Descendia de portugueses que também
receberam “datas de terra” em Papari. Ele não experimentou o tempero da
Oligarquia Maranhão, mas sentiu o coronelismo que pautou o seu mandato, afinal
pertenceu ao tempo dos votos de cabresto e carbono, numa versão mais “light”,
comparada aos recônditos históricos da velha Papari, regada a uma overdose de
coronelismo. Era um fator cultural.
DR. ANTONIO JOSÉ DE
MELO E SOUSA:
na ocasião dessa Convenção, era Governador do estado o próprio Antonio de
Sousa, o qual repassaria o governo a Alberto Maranhão um mês depois. Antonio de Sousa era de papariense da gema.
Nasceu no Vale do Capió, em 1867. Ele aparece eleito na referida Convenção como
delegado representante, em Papari, do Partido Republicano Nacional, fundado em
Natal, por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão em 1889. Na época da referida
Convenção, Alberto Maranhão governava o estado.
Antonio
de Sousa, jornalista no início da carreira, era extremamente inteligente,
possuía uma vasta biblioteca, falava francês e admirava a liberdade dos
franceses. Foi escritor, autor de um legado literário muito interessante,
destacando-se “Gyzinha”, sua obra prima, assinada com o pseudônimo “Policarpo
Feitosa”. Sua produção literária é estudada fora do Rio Grande do Norte enquanto
em sua terra natal, mal sabem sobre ele.
Ele
contava 41 anos no dia da tal Convenção. Ocupou várias pastas públicas, inclusive
Secretário de Estado durante oito vezes. Foi governador durante dois mandatos
(23.2.1907 – 25.3.1908 / 1.1.1920 – 1.1.1924). Para o último mandato, renunciou
o Senado para estar no Governo do estado. Apesar de toda a sua ilustração
intelectual, não deixou de rezar na famosa Cartilha da Oligarquia Maranhão. Por
sorte a sua gestão experimentou certa calmaria desses costumes grotescos, pois realizou
uma administração respeitável. Por sorte, Pedro
Velho não teve o gosto de interferir diretamente em seu governo, pois morrera
no ano do seu primeiro mandato. Mas o seu espírito vagou livremente,
incorporado aos “Maranhão” que ficaram e seus velhos aliados. Não há como
quebrar o ranço de uma oligarquia de um mandato para outro, obviamente. Creio
que ele fez vistas grossas a determinadas ações. Se fez ou não, transitou na
galeria dos governadores do passado como um homem sério, competente, enérgico
e, acima de tudo, honesto.
Antonio
de Sousa era excêntrico, inclusive mandou retirar os pneus do carro oficial do
Governo do Estado para ter certeza de que ninguém o usaria. Era literalmente
anti-social. Econômico ao extremo. Alguns o consideravam verdadeiro demônio
devido à sua seriedade e austeridade, qualidades mal vistas por um povo
acostumado a todo tipo de politicagem e favorecimentos pessoais.
Era
apadrinhado de longas datas pela Oligarquia Maranhão. Em 1992, em Nísia
Floresta, colhi o depoimento do Sr. Pedro Araújo, neto do Coronel José de
Araújo, Presidente da Intendência de Papari, citado na Ata da Convenção, o qual
contou-me que a amizade nasceu quando ele ainda era rapazote, morava em Papari
e colaborava com a administração do Coronel José de Araújo que muito o
admirava.
Antonio
de Sousa foi uma espécie de “Secretário de Administração” do Coronel José de
Araújo, assessorando-o. Quando jovem vivia entre Papari e Recife, onde
estudava. Tenho a impressão de que a Oligarquia Maranhão o escolheu devido à
sua postura reservada e polida, inclusive era solteiro. Tinha vários irmãos,
mas conservou-os longe de seu governo e não favoreceu a nenhum, conforme
contou-me a cunhada de Antonio de Sousa, atualmente viva, contando 90 anos de
idade (OBS. Entrevistei-a quando a mesma contava 85 anos).
Suponho
que Antonio de Sousa aceitou o convite dos “Maranhão” para dar vazão à sua
capacidade governativa, já que era muito preparado e não se ver eleito fora
desse balaio de raposas. Foi o jeito, já que não teve coragem de ser oposição.
E sabia o que acontecia aos opositores.
Seis
anos após Antonio de Sousa encerrar o seu segundo mandato o Rio Grande do Norte
entrou na era conturbada dos Interventores. Entre 12 de outubro de 1930 a 30 de
julho de 1947 o Rio Grande do Norte teve 11 Interventores. Foram 17 anos do
Governo Provisório. Era o Estado Novo. Foi uma interventoria transitória para o
restabelecimento do estado de direito, com a redemocratização do Brasil em
1946. Enfim, veio a República Nova.
O
mandato de Antonio de Sousa voltou-se à Educação. Foi um dos governadores que
mais construiu escolas nos quatro cantos do RN. Nunca permitiu perseguição aos
professores e outros funcionários públicos. A Praça Sete de Setembro, defronte
à Pinacoteca, foi construída durante o seu governo, e a famosa Escola Augusto
Severo, na Ribeira.
Antonio
de Sousa faleceu em Recife, aos 88 anos, no dia 5 de julho de 1955. Foi
trasladado para Natal, cujo corpo velado no Colégio Padre Miguelinho, quando
era diretor o famoso professor Luiz Garcia Soares de Araújo. Depois sepultado
no Cemitério do Alecrim.
CORONEL
JOSÉ DE ARAÚJO: apadrinhado pela Oligarquia Maranhão, José Joaquim de Carvalho Araújo, o famoso
“Coronel José de Araújo”, apadrinhou Antonio de Sousa e os indicou aos
“Maranhão”, o qual se tornaria futuramente um apadrinhado dessa Oligarquia.
Para falar sobre ele precisaremos retornar ao passado. Seu nome batiza a praça central de Nísia Floresta, homenagem ao cidadão que se tornou Presidente da Intendência de Papari em seu mais longo mandato, tendo assumido em 1873 e encerrado em 1921. Foram 48 anos de governo. Praticamente meio século.
Para falar sobre ele precisaremos retornar ao passado. Seu nome batiza a praça central de Nísia Floresta, homenagem ao cidadão que se tornou Presidente da Intendência de Papari em seu mais longo mandato, tendo assumido em 1873 e encerrado em 1921. Foram 48 anos de governo. Praticamente meio século.
José de Araújo era Coronel da Guarda
Nacional. Talvez foi o Intendente mais leal à Oligarquia Maranhão. Homem de
confiança de Pedro Velho, até porque navegou dois tempos: Monarquia e
República. Viu a Província mudar o nome para Estado. Passeava na casa dos
Maranhão, de Juvino Barreto, do Coronel Cascudo (pai de Câmara Cascudo), na
Ribeira, como quem transita na feira do grude. Foi colocado no poder justamente
pelos “Maranhão”, os quais, assim como ele, tinham engenhos e grandes propriedades
espalhadas na região, como por exemplo o Engenho Belém.
As
eleições ocorridas em Papari e em todo o estado funcionavam na base do
coronelismo puro e simples. Eram “votos de cabrestos” e “votos de carbono”. As
eleições se davam sob a tônica das “brejeiras”, ou seja, de urnas violadas.
Tudo tinha que ser exatamente como o grupo político do Governador determinava.
Havia oposição em Papari, mas servia apenas para levar surra (literalmente). Coronel José de Araújo, por sua vez, era os olhos de Pedro Velho em Papari. Não dá para falar sobre o referido coronel sem esmiuçar toda a tônica da Oligarquia Maranhão, conforme abaixo. Estou organizando a história do Cel. José de Araújo. Brevemente publicarei uma Acta sobre o mesmo. Vamos, agora, entender o contexto no qual viveram tais personagens.
A OLIGARQUIA MARANHÃO
Na ocasião da referida Convenção que tratamos, o Rio Grande do Norte era comandado pela Oligarquia Maranhão, como já vimos, iniciada desde os primórdios, com destaque para o jornalista Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, filho de Amaro Barreto, fundador do jornal “A República”, o “raposa-mor”. Em 1889, após receber um telegrama de Aristides Lobo ele proclamou a República no Rio Grande do Norte, tomando posse como governador no mesmo ano.
Como
dito acima, ele criou o Partido Republicano Federal. Ao fundá-lo, nomeou quase
todos os seus parentes e pessoas que rezavam o seu “ABC”. Isso vigora até os
dias atuais, diga-se de passagem. Houve apenas um “upgrade”.
Pedro
Velho cairia logo em seguida. Nessa fase conturbada o Estado teve inúmeros
governadores, um seguido do outro, inclusive Jerônimo Américo Rapôso da Câmara,
que tinha parentes em Papari. Mas, considerado “raposa velha”, conseguiu transitar
impecavelmente no meio político adverso. Engoliu sapos, tijolos e pregos. Mentia,
criava contextos para favorecê-lo, simulava ser o amigo mais leal de políticos
que odiava e nessa vida louca articulou uma cadeia de contatos e estratégias.
Assim se reergueu, assumindo o Governo do Estado no período de 2.2.1892 a
25.3.1896.
No
seu governo, criou leis que beneficiavam o imposto de exportação para
beneficiar o seu cunhado Juvino Barreto, um dos homens mais ricos do estado, o
qual morava num belo palácio na Ribeira. O prédio resistiu ao tempo. Fica nos
fundos do Colégio Salesiano que o adquiriu.
Muito
inteligente, mas implacável com seus inimigos políticos, Pedro Velho mandava surrar
a torto e direito, transferia opositores para a baixa da égua, aposentava
autoridades superiores a ele para tirá-las de seu caminho. Era um demônio das
alcovas. Bastava cismar que alguém se opunha às suas ideias e a “peia comia”,
como dizem os potiguares. Infeliz o Presidente de qualquer Intendência que o
contrariasse. Ele o liquidava e jamais o dito cujo se reerguia.
Um
dos ferrenhos opositores dessa pândega politiqueira era Elias Souto, dono de um
jornal em São José de Mipibu. Era Professor e tinha uma deficiência física. Tentando
expurgá-lo, Ferreira Chaves o transferiu para Pau dos Ferros, mas ele preferiu
pedir exoneração, mudou-se para Natal e permaneceu atacando-o como um leão.
Ferreira Chaves aposentou à força vários juízes e desembargadores que lhe
faziam oposição.
Seu
governo foi um festival de nepotismo, inclusive fez todo tipo de escaramuças
para que o próximo governador fosse o seu genro Ferreira Chaves, o qual
continuaria a “Cartilha dos Maranhão”. E conseguiu Elegê-lo.
Ferreira
Chaves teve dois mandatos, somando dez anos de “governo”. Em seu primeiro
mandato Ferreira Chaves foi “governador de birô”: assinava papeis e Pedro Velho
pintava e bordava. Era o próprio governador, como diziam todos. No segundo
mandato o “raposa velha” foi descansar na “terra dos pés juntos”. Levou consigo
uma overdose de coronelismo.
A
convenção citada acima deu-se dentro do espaço da Primeira República, conhecido
também como Velha República, entre 1889 a 1930. O estratégico Pedro Velho
morrera um ano antes dessa Convenção, aos 51 anos.
Mas
não pensem que a Oligarquia acabou. Outros “Maranhão” seguiram as concatenações.
Ferreira Chaves era pernambucano, inexperiente dessas patuscadas politiqueiras,
portanto o leme deveria estar na mão de algum Maranhão. Seu governo sufocou a
oposição e continuou mandando dar surras em quem se levantasse contra os
desmandos e as arbitrariedades continuadas por ele.
O
coronelismo era tão acentuado que durante o seu mandato modificou a
Constituição do Estado, reduzindo de 35 para 25 anos a idade mínima para o
candidato concorrer a vaga de governador. Tudo isso para eleger Alberto
Maranhão, irmão do seu sogro Pedro Velho. Como não bastasse aumentaram o
período de mandato de quatro para seis anos para estender a estadia deles no
governo.
Na realidade os “Maranhão” eram homens
muito bem apessoados, cultos, educados na Europa, na Bahia e Rio de Janeiro,
mas esse “know-how” era insuficiente para desencarnar deles o ranço do
coronelismo. Após mexer na Constituição Estadual (vejam que absurdo!),
articulou esquemas politiqueiros e elegeu Alberto Maranhão, o qual governou
durante doze anos. A propósito, durante o seu Governo foi construído em Papari
o monumento em homenagem a Nísia Floresta, quando se equivocaram quanto a data
do centenário do nascimento desta.
Em
Natal, dentre muitas obras, construiu o Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão).
No seu segundo mandato homenageou diversos parentes dando-lhes os seus nomes a
praças, escolas, ruas, avenidas e até cidades. Mas também reverenciou amigos
leais. Era um mecenas da Arte. Assim como, futuramente, num contexto
completamente diferente, Djalma Maranhão seria mecenas da Cultura Popular.
Os “Maranhão” governavam construindo
estratégias para o próximo mandato. Eles botavam o olho no projeto e
trabalhavam quatro anos antes para conquistar o objeto de desejo. Desse modo,
encerrado o primeiro mandato de Alberto Maranhão, foi eleito Tavares de Lira
(25.3.1904 / 5.11.1906), genro de Pedro Velho. Como não podia ser diferente, o
“raposa velha” continuou governando.
Tavares
de Lira criou o Banco de Natal e elegeu o seu primo Olympio Tavares para
presidi-lo. O Banco tinha tanto parente como acionista que o povo o chamava de
“Banco Maranhão”. Tavares era historiador e jurista. Escreveu várias obras,
destacando História do Rio Grande do Norte e Fundou o Instituto Histórico e
Geográfico do RN. Renunciou o segundo mandato, por insistência de Pedro Velho e
assumiu o Ministério da Justiça e Negócios, cujo seu mandato foi ocupado pelo
Dr. Antonio de Sousa.
Tavares de Lira, sob a orquestra de Pedro
Velho, articulou a campanha do papariense Dr. Antonio José de Melo e Sousa, o
qual trabalhava com eles desde jovem, tendo sido indicado pelo Coronel José de
Araújo, Presidente da Intendência de Papari. É curioso esse detalhe, pois
Antonio de Sousa era o oposto dessa tônica politiqueira, como vimos acima.
Creio que ele necessitou sobreviver nesse habitat para dar vazão aos seus
talentos de homem público, educador e escritor.
O
segundo mandato de Antonio de Sousa, ocorrido por eleição, deu uma enfraquecida
nos “Maranhão”. Pedro Velho, o seu maior pilar, morreu em Recife em 1907, um
ano antes da citada Convenção. Daí em diante foi diluindo aquela química diabólica
da sede pelo poder a qualquer custo. Uns morreram de acidente, outros de velhice,
mas o pilar principal do coronelismo sempre foi Pedro Velho. Após a sua morte os
ares políticos locais ainda conservaram a tônica coronelista, mas foi se
diluindo lentamente.
Enfim
foi eleito José Augusto Bezerra de Medeiros, depois veio o intelectual Juvenal
Lamartine, que conhecia Berta Lutz, admiradora de Nísia Floresta, a qual o
influenciou a incentivar a participação da mulher na política e os ares
políticos começaram a se modernizar. Assim nasceu a primeira prefeita do
Brasil, primeira eleitora, primeira vereadora e uma das primeiras deputadas.
Tudo isso inspirado na intelectual Nísia Floresta, a qual havia morrido há
quase trinta anos.
Juvenal
Lamartine foi o combatente-mor do cangaceirismo de Lampião no Estado. Intelectual,
escritor, mais um a quebrar o ranço do tudo, vale tudo pode. Veio o “Estado
Novo” com um “Governo Provisório”, assumiram diversos “Interventores federais, mas
isso é outra história... LUÍS CARLOS FREIRE - OBSERVAÇÃO: A história do Coronel
José de Araújo será postada numa ACTA NOTURNA nos próximos meses.
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