ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Samaritana da Ribeira...



SAMARITANA DA RIBEIRA
 
Semelhante às velhas prostitutas
Mexidas, remexidas na juventude,
Chafurdadas à beira do cais,
Depois reboladas fora,
Por vezes quase atiradas no remanso capcioso do Potengi,
Jaz um poema arquitetônico ribeirinho ao antigo porto.
Do corpo esculpido de sensualidade,
Restou a pele carcomida, chabocada...
Pele envelhecida, despencante,
Enfeadas de desprezo,
Mas resistindo o sobreviver,
Resiliente, impõe-se, sem parentes nem aderentes...
Reivindicando a majestade perdida.
O monumento ainda traz restos de voluptuosidade.
O corpo tem um ‘quê’ erotizante...
Não se sabe até quando sensualizará,
Mas está disponível à beira do cais,
Ainda esperança novo amante…
Sonha o glamour d’outrora.
Quisera um corpo governamental possuí-la,
Revestindo-o de roupas finas e jóias raras,
Espargindo-lhes os melhores perfumes…
Devolvendo-lhe a decência vulgívaga,
Restaurando suas carnes e seus psicológicos
Acordando-lhe a lascívia…
Dando-lhe a utilidade pública de antanho...
Então corpo restaurado retomaria a formosura
Quisera aparecer esse cavalheiro
Para dar-lhe patrimônio governamental
Até porque nos detrás desses ontens
Amante de governadores foste. (L.C.F. 2014).

ACTA NOTURNA - 26.3.2022 - CORETOS DE NATAL: AS AUTORIDADES TÊM O DEVER MORAL DE DEVOLVÊ-LOS AO POVO

 

ACTA NOTURNA - 26.3.2022
 
AS AUTORIDADES TÊM O DEVER MORAL DE DEVOLVER OS CORETOS QUE PERMITIRAM DESTRUIR
 
Há vários anos observo de perto o patrimônio histórico de Natal em queda livre. Obviamente que, nessa observação, soma-se a mim outras pessoas sofrendo com a depredação. Juro que meu coração chora. Vou ali não para sofrer, mas me certificar do que sobrou e me reencantar com o que resiste. Frequento a Cidade Alta e a Ribeira constantemente e a cada semana desaparece um detalhe. A julgar pelo que se vê, em cinquenta anos não teremos mais nada desses imóveis incríveis, raríssimos, como a “Samaritana”, por exemplo. Não entendo como há milhões para a política e nada para a aquisição e revitalização desses espaços.
 
Meu objetivo, hoje, é falar sobre os velhos coretos de Natal que, de tão belos, faziam literalmente parte dos cartões postais que os velhos fotógrafos vendiam. Ainda bem que as fotografias resistiram. Os coretos - cada um mais belo que o outro - desapareceram sob o passe de mágica da falta de zelo, da falta de restauração, da falta de reformas… da ignorância. Natal tem dessas “mágicas”. Ainda não pesquisei quais intendentes/prefeitos os construíram - nem os que destruíram - mas eram impressionantemente belos. Verdadeiros poemas arquitetônicos.
 
 
Dia desses, contemplando a fotografia postada pelo historiador Eduardo Alexandre Garcia, um arqueólogo da imagem da velha Natal, impressionei-me com uma nova fotografia do coreto da praça André de Albuquerque, exatamente onde surgiu a cidade de Natal. Meus olhos brilharam e as lágrimas desceram. Essas coisas me entristecem profundamente. Não é diferente da morte de uma pessoa querida. Entendo como covardia e egoísmo perverso negar às crianças o direito de conhecer o seu passado. É como não ter identidade. 
 

Não entendo como muitos perdem tempo ‘enfeiando’ Natal (ou apapagaiando, como queiram!), construindo praças e logradouros que mais parecem um campo de aviação, sem beleza alguma, sem atrativo algum, sem flores, sem árvores adequadas, e casas que lembram caixas de sapato. O que passa na mente dos arquitetos, engenheiros, paisagistas, urbanistas de Natal? Não se vê um diferencial, algo que alguém diga “que obra mais extraordinária!”. Esses profissionais não parecem se dar conta que estão lidando com uma das cidades mais antigas do Brasil. A propósito, Natal, por ser capital, é muito acanhada em monumentos. Entendam por Natal, Natal. Natal não é apenas o centro.

As praças antigas de Natal, aquelas que ocupavam uma quadra inteira, exibiam poemas arquitetônicos que roubavam a cena. Eram incrementos que noivos, passantes e turistas faziam deles o cenário de uma fotografia que estaria para sempre no álbum fotográfico da família. O coreto era praticamente um personagem. Ele somava beleza aos registros. E hoje? Você já viu alguém fazendo uma fotografia em alguma praça de Natal?

O povo natalense, em especial, e depois os visitantes, querem um atrativo dos seus logradouros públicos. Isso está na alma de qualquer ser humano. Se não fossem alguns monumentos que restaram, descuidados, Natal não seria fotografada pelos visitantes. A exemplo o busto do padre João Maria (na praça com o mesmo nome), o busto de John Kennedy (próxima ao C&A, que tentaram roubar recentemente), a estátua do Monumento à Independência, na praça Sete de Setembro (defronte à Pinacoteca), a estátua de Augusto Severo (praça Augusto Severo), a escultura em bronze de Pedro Velho (Praça Pedro Velho), o obelisco em homenagem a Tavares de Lira (defronte ao horroroso e abandonado cais), o obelisco na praça André de Albuquerque (que roubaram todas as placas de bronze originalmente afixadas), Coluna Capitolina (defronte ao IHGRN), a escultura de Câmara Cascudo (defronte a Biblioteca) e uma fonte de ferro no formato de uma menina indígena (pátio interno da Pinacoteca, mas essa não está exposta como as demais). Enfim, se eu estiver esquecido algo, que me perdoem. Nesse caso, não me refiro aos monumentos que estão guardados dentro de espaços institucionais.

Lembrando que o obelisco a Jerônimo de Albuquerque Maranhão (avenida Circular) evaporou com placa e tudo. Comportamento que me choca é dos prefeitos natalenses que veem os monumentos ruindo e não refazem.
 
As autoridades com poder de salvaguardar o patrimônio histórico costumam alegar que é difícil tombar, reformar, revitalizar ou meramente pintar determinadas edificações históricas porque são particulares, cujos donos impõem dificuldades. Isso é compreensível, embora não justifique. Até porque é só comprar. Há dinheiro para tantas ações supérfluas. O que é comprar um prédio com mais de 100 anos, como a “Samaritana” por exemplo? É só ir comprando aos poucos e transformando em órgãos públicos, lentamente. 
 
Já imaginou a Ribeira tornada um centro administrativo do estado e município no tocante às instituições de menor porte? Até um ano atrás resistia ali a Delegacia da Mulher. Mas se mudaram. O prédio, muito bonito e conservado, ao invés darem vida, abandonaram, dentre tantos, intactos em meio às ruínas de outros.
 
Mas, com relação aos coretos, minha opinião é que pessoas com o mesmo respeito que traduzo aqui - pertinente ao patrimônio histórico - além de se preocuparem urgentemente com a sua salvaguarda, que abraçassem, doravante, a ideia de reivindicar às autoridades a devolução dos coretos originais de Natal, inclusive, dois deles teriam mais de um século se não o tivessem demolido para - pasmem! - modernizar Natal. Esses coretos existiam em locais públicos. Não haveria a objeção dos donos, pois o povo é o dono e o quer de volta. Não haveria imbróglio algum em reconstruí-los tais quais eram. Não faltam fotografias para servir de base.
 
O coreto da Praça Augusto Severo, por exemplo, em estilo francês, era uma obra de arte. Já imaginou esse poema arquitetônico reconstruído exatamente onde era? Não devolveram a pontezinha do rio aterrado? Obviamente que mudaram o estilo, mas não repetiriam esse erro aos coretos. Eram três coretos que já foram explicados acima, lembrando que a Praça Pio XII, onde foi erguida a Catedral Católica, ficaria fora por faltar espaço. Mas pode ser refeita em outra praça central. Por que não?
 
Pois bem, fica o registro meu para a história. Reconheço que palavras são incomparavelmente mais fáceis de acontecer do que obras concretas. Mas é necessário outra visão. E, melhor, é possível a palavra virar coreto. É só querer. É dever moral de todas as autoridades políticas, institucionais, sejam civis, militares ou eclesiásticas, universidades, município e estado. Cada uma tem um papel antes e depois. Todos podem ser simpatizantes e lutar pela proposta, levando-as à Assembleia Legislativa para que primeiramente se torne um projeto. O que você teria a dizer?
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Morte de idosos durante a pandemia: um rombo na História e no coração do Brasil...

 
Diante da pandemia, penso muito na perda maciça dos nossos idosos, nossos portos seguros. Estamos aqui porque viemos através deles. Quem não tem um idoso por perto? Não tem preço o amor que sentimos por nossos velhos, sejam pais, mães, tios, avós, bisavós, tataravós… 
 
A perda deles, de forma natural, deixa um vácuo, mas a perda súbita, em massa, motivada pelo novo coronavírus, deixou vácuos sem precedentes e irreparáveis. Há prejuízos incomparavelmente superiores, até porque a Peste levou idosos que ainda teriam 10 a 20 anos para gastar a vida por aqui. Tenho um exemplo: uma tia que vai fazer 104 anos de idade: lúcida, um baú de sabedoria.
 
Chamo a atenção sobre a morte da HISTÓRIA. Ou melhor, de incontáveis HISTÓRIAS que sepultamos, levadas pelos velhos. Os saberes que ninguém deixa para ninguém porque eram fruto da história de cada um, eram experiências de vida, eram práticas maestras devido ao tempo do exercício. Não há como chamar o neto e dizer :“olha, eu estou morrendo, mas deixei naquela caixinha tudo o que eu sei, é para você!” Impossível.
 
Quem irá contar tão bem as histórias de Camonge com tanta graça, requinte e encantamento? Quem fará tão perfeitamente a casinha de passarinho com varinhas de taquaras? Quem voltará para casa com um cesto abarrotado de peixes porque parecia ter uma química com o mar? Quem curará as doenças que apareciam na casa, resolvidas dali do quintal, tiradas na moita de boldo do Chile, no capim santo, na erva cidreira, do mastruz, da cânfora? 
 
Houve um rombo na história de cada bairro, cada comunidade indígena, cada condomínio, cada casa, cada família... Todo dia sepultávamos incontáveis histórias no Brasil inteiro… no mundo inteiro… Diariamente cobríamos de terra fria a maior lindeza do mundo... como se aquilo não tivesse valor algum. Mas a pessoa que existiu ali era ouro em pó. Como foi doloroso!
 
Dia desses fui preparar um arroz com pequi e recorri a minha mãe - que conta 90 anos de idade - para tirar uma dúvida. É a eles que perguntamos: como é a receita daquele pão caseiro que a senhora fazia? Como era a cidade quando eles eram jovens? O que existia naquele bairro antes de se transformar naquela urbanidade toda? como é mesmo aquela lenda tal? Qual erva é boa para dor de barriga? Quem é aquele homem que tem a foto pregada na parede? Quando foi que calçaram a primeira rua do município? É verdade que houve um padre que dormia na sacristia? Só eles sabem!
 
São tantas perguntas despercebidas que fazemos aos velhos. É como o "Pai dos Burros"... como o dicionário da vida... E agora? Velhos são referências. São livros vivos e maravilhosos, disponíveis sempre para esclarecer com a palavra. Não há como descrever o prazer de ouvir uma história contada pelos velhos. Mesmo aqueles rabugentos, bufôes, e até toscos… mesmo os “Seu Lunga” da vida. Com jeitinho eles despejam tesouros inimagináveis, que jamais conseguiríamos em lugar algum, pois são únicos. 
 
Certo dia um jovem engenheiro recorreu a um idoso, antigo mestre de obras da cidade, queria saber se era verdade que a parede da velha Igreja não tinha viga de concreto. Ele mexia na obra e ficou em dúvida. Teve medo de um desabamento. O idoso explicou minuciosamente, descrevendo a técnica dos antigos construtores do século XVIII. Tudo o que ele sabia com tantos detalhes, contados do jeito dele, era fruto do que o pai havia lhe contado. Agora vá buscar as origens disso! Outro engenheiro perguntou à uma velhinha se era verdade que aquela rua foi construída sobre um rio aterrado, pois não havia registro nos arquivos da prefeitura, e alguém lhe dissera que ela costumava contar aquela história... Velhos têm de livros... tem de sábios...
 
Penso nas histórias de Trancoso, nos causos antigos, histórias de malassombros, lendas, ditos populares, palavras antigas, topônimos originais, as mezinhas, as “modas”, os “dramas”, os relatos de experiências de vida, casos passados na própria família, que só eles contavam com detalhes. Aquele café ainda coado no pano, o doce de ovo que só a vovó conseguia fazer, o doce de queijo, o doce de pétalas de laranja, o arroz com pequi, o licor de goivira, os tijolinhos açucarados de abóbora... enfim a presença amorosa e importante daquele ente familiar que enchia a casa. Homens e mulheres, velhos, uma cadeia incontinenti de saberes, livros abertos que necessitavam de meses e meses acaso loucos iguais a mim os queiram pô-los documentados, gravados, escritos, mas que na fração de poucas horas morreram e foram para debaixo da terra. SEM O DIREITO DE SEREM VELADOS POR QUEM OS AMAVA. A dor mais dolorosa do tempo atual.
 
Tenho pensado muito nisso. Com a pandemia, não temos ideia da morte em massa da HISTÓRIA. Desapareceram bibliotecas inteiras... Bibliotecas feitas de gente que amamos, que nos conforta, que aconselha, que afaga, que ensina a serenidade, a resiliência, o amor, a justiça, a paciência, a bondade, a oração... Gente que nos livrava dos males da imaturidade, do ímpeto… 
 
Antes de tudo sentimos suas mortes pelo lado humano, a presença física, a companhia protetora, a amorosidade, a palavra certa na hora certa... mas não há como negar o prejuízo incalculável, pois nunca a História morreu dessa morte... foi como um sinistro... o incêndio a Roma... as cinzas que sobraram de Alexandria...
 
Creio que esse episódio tão dilacerante nos deixou DUAS LIÇÕES MUITO PROVIDENCIAIS: amar mais os nossos velhos, DAR MAIS VALOR aos poucos que resistiram. a SEGUNDA LIÇÃO DIZ QUE, PARA A CONTEMPORANEIDADE, NUNCA FOI TÃO EMERGENCIAL QUE, DORAVANTE - PASSÁSSEMOS A REGISTRAR TUDO QUE OS NOSSOS VELHOS SABEM, TRANSCREVER OS SEUS SABERES. Não temos ideia dos prejuízos para a história e a memória do Brasil. Com a morte deles, morremos um pouco. 
 
Em eles estando vivos, não há como estarmos vivos plenamente sem permitirmos a fruição dos seus saberes em nossas vidas. O tempo deles exerce influência natural e involuntária em nós (mesmo que não admitamos, mesmo que entendamos que "não serve mais para o hoje"). Mas eles estão certos. Portanto viva as facetas da vida deles em você. Permita isso. Enquanto os seus velhos pais e avós estiverem vivos, sua vida é maior porque eles nutrem você.
 
Em eles estando mortos, não há como estarmos vivos plenamente sem os termos tornado junto de nós, pela ação simples de termos documentado os seus saberes, de os termos os ouvido e permitido estarem em nossas vidas. Façam isso enquanto é tempo! Se a Pandemia não lhe ensinou isso, fica aqui esse ensinamento...

segunda-feira, 21 de março de 2022

Deus e a Justiça castigam?


 

É muito comum ouvir alguém dizer “Deus castiga”.

Diante de terremotos, cheias, tsunamis e outras catástrofes, muitos sentenciam: “é castigo de Deus! 

Já ouvi alguém dizendo num velório “foi castigo de Deus porque os pais do falecido fizeram muita coisa errada”.

Certa vez ouvi um senhor sentenciando sobre uma pessoa deficiente “isso deve ser tão ruim que Deus o fez aleijado”.

Se Deus é amor e perdoa até mesmo um criminoso que se prostra diante Dele e lhe pede perdão, se Deus perdoa um serial killer que, de acordo com entendimentos religiosos, estará salvo se se arrepender em vida, por que Deus castiga as pessoas com catástrofes e outras formas tão ruins?

Por que às vezes morre uma pessoa tão boa, que faz tantos benefícios a uma nação, um povoado, uma cidade, mas deixa viva uma pessoa má e perversa, que continuará fazendo muitas desgraças onde vive?

Por que, de acordo com maldições e pragas, gerações e gerações sofrerão os piores males se nada fizeram de mal? 

Por que as pessoas boas, honestas, éticas são castigadas por Deus, passando pelas piores experiências, mas as falsas, que se escondem atrás de igrejas, de profissões e outras capas sequer são castigadas?

Deus, em sendo amor, por que castiga? 

Pode o próprio Amor castigar?

Por que tantos falam na ira de Deus?

Pode Deus sentir ira? 

Por que Deus permitiu que matassem todos os bebês de uma cidade inteira quando tentaram matar o Jesus-Bebê?

Por que Deus permitiu que morressem tantos inocentes quando o mar se fechou?

Por que Deus permite tantas mortes e sofrimentos na Ucrânia?

É explicável entender Deus como um Ser que castiga? 

Castigo é punição. 

Ao que parece, o castigo é uma consequência natural dos atos humanos, e não uma intervenção sobrenatural vingativa, punitiva... 

Ao que parece, castigo é uma resposta natural, consequência das ações humanas, e não a ação de Deus. 

Deus parece a expressão unicamente do bem. 

Deus parece o amor, parece exalar o amor, parece externar o amor...

De Deus parece não se esperar castigo ou atribuir culpa por ações entendidas como castigo, irá, vingança... 

Ao que parece, esses entendimentos reflete a tradução literal, tradução mal feita das linguagens antigas.

Ao que parece, essas interpretações são o que chamam de “interpretar ao pé da letra”.

Castigo - no aspecto religioso - é a consequência de atos praticados em desconformidade com os ensinamentos do que chamam de Deus.  

É exatamente igual às leis humanas: se matou irá para o presídio e responderá perante a Justiça. 

Isso é o castigo que o pecador/errante moveu contra si próprio, pois se tivesse agido conforme os ensinamentos do que falam “de Deus” e da Justiça comum, jamais teria sofrido qualquer castigo divino ou judicial.

A cidade que desapareceu sob a lama de um temporal sofreu a consequência das matas que dali foram derrubadas, das estradas que cortaram os barrancos, do rio que foi desviado, do lixo que entupiu as ‘bocas de lobo’, enfim o castigo não é sobrenatural, mas humano; veio das mãos dos próprios homens. 

O homem se castiga a cada minuto.

Se o pai orienta que o filho não deve mexer naquele botão porque provocará curto-circuito e apagará a luz, mas o filho desrespeita e deixa todo mundo no escuro, a reação de sua atitude foi provocada por ele. 

Ele será castigado pelo pai.

Ele buscou o castigo.

Mas os outros também devem pagar e sofrer castigos pelos atos/crimes/pecados dos outros?

Por que os outros, que nada de mal fizeram, também ficaram no escuro?

Uma pessoa sozinha pode prejudicar um grupo inteiro quando comete um erro.

No entendimento religioso, Deus mostra os caminhos do bem e do mal. 

Deus aponta os rumos a serem seguidos ou desviados. Alerta sobre atalhos que desviam do bem. Deixa clara a estrada que deve ser percorrida para ser feliz. 

As leis da Terra (a Justiça) fazem o mesmo.

Se o homem seguir o caminho do erro é óbvio que sofrerá consequências ruins. 

Esse é o castigo. E esse castigo não é uma praga, não é maldade causada por Deus nem pela Justiça humana. 

Esse castigo é a reação do caminho errado que foi escolhido para ser trilhado. 

Ninguém deve culpar Deus. Ninguém deve culpar a Justiça.

Deus não castiga. A justiça não castiga. 

O homem busca o castigo…

O homem se castiga.

O homem é o responsável.

Pantanal

 

 PANTANAL
 

No Pantanal nos confundimos com as águas, com as matas, com os céus,  com nossos espectros e sombras... 

Somos pássaros,  somos voos, somos bichos, somos deslimites, somos homens...

sexta-feira, 18 de março de 2022

Uma guerra de muitas faces e muitos culpados...


 
A guerra Rússia x Ucrânia me comove a ponto de eu não assistir a nenhum vídeo. Só leio. É deplorável ver crianças, idosos, enfim um país vivendo na pele os horrores de uma guerra, algo pré-histórico e inimaginável. É inacreditável saber que em pleno século XXI ainda existe algo tão perverso. 
 
A política, o diálogo, a diplomacia - que seriam instrumentos de solução de um problema - foram substituídos pela guerra: a pior coisa do mundo. Dói na alma. Agride os olhos ver o que estamos vendo nos últimos meses. 
 
Mas não podemos nos enganar, essa guerra tem muitos culpados. A Europa é culpada, assim como os Estados Unidos são culpados. A propósito, os EUA funcionam como aquilo que chamamos de mata e cura. Eles colocam fogo, jogam lenha na fogueira, apagam o fogo e ateiam gasolina. Sempre foi assim.
 
Mas também quero lembrar que há outros países em guerra nesse exato momento, e ninguém fala nada. Não sai na televisão. Existem 28 outros países passando por conflitos ou registram combates armados entre forças governamentais e grupos rebeldes desde o início de 2022.
 
Há conflitos, além da Ucrânia, na Somália, Miammar, Síria, República Democrática do Congo, Camarões, Venezuela, Egito, Quênia, Tailândia, Iêmen, Afeganistão, Iraque, Burquina Faso, Etiópia, Azerbaijão, Líbia, Senegal, Costa do Marfim, Mali, Nigéria, Paquistão, Colômbia, Índia, Sudão do Sul, Filipinas, Indonésia, Níger, e Burundi.
 
Não é momento para isso, mas parece que a pele preta e amarela são diferentes até na guerra. A morte de pessoas pretas e amarelas parece não ser sentida como a pele branca. Até isso é uma guerra. Uma guerra dentro de uma guerra. 
 
Há muita gente morrendo de fome, sede, frio, vitimadas por doenças decorrentes da guerra em vários países. Nesse exato momento há uma multidão de crianças pretas e amarelas sem pai nem mãe. 
 
Nesse exato instante há muitas crianças perambulando sobre neve, pedras, ruínas de casas, sem esperança alguma. Traumatizadas. Muitas levarão a guerra para sempre dentro da cabeça.
 
É importante lermos jornais sérios, pois apesar de ser fato muito dos horrores que assistimos, há muito Fake News até mesmo dentro das guerras. Há muitas imagens e informações fora de contexto. Há até imagens de filmes da Netflix, como essa postagem acima. Há muitos heróis e mocinhos que não são tão heróis e mocinhos assim. Há muitas fotografias de guerras antigas e até mesmo de outros países atribuídas a um e outro. Esse é outro tipo de guerra. 
 
Nada disso justifica a dor e a tristeza sobre os horrores a que assistimos principalmente na Ucrânia, mas não se enganem: há heróis se servindo de sangue para alimentar várias indústrias, vários engenhos, várias estratagemas, vários objetivos escusos mundo afora.
Leiam. Pesquisem. Não se incomode com os imbecis que porventura insinuarem que você está dando uma de especialista. Você está apenas dando a sua opinião, e ela deve ser respeitada. Não acredite apenas nos pacotes prontos da imprensa escusa. 
 
Numa guerra ninguém tem razão. Mas no aspecto geopolítico há considerações que estão no campo da lógica. Não justifica que líderes se sirvam de morticínios e holocaustos, mas justificam a defesa diante de outros governantes que são lobos em pele de cordeiro, e têm grande interesse na guerra. A própria causa da guerra decorre de uma cadeia de interesses e, por mais que aparentemente seja contraditório e inacreditável, o próprio ato da guerra alimenta incontáveis interesses. Às vezes tenho dúvida se nós, homens, somos homens, de fato, ou monstros...

quarta-feira, 16 de março de 2022

Morre um dos maiores colaboradores da Ditadura Militar no Brasil - Cabo Anselmo...

 

Cabo Anselmo vivia em local não sabido até hoje, com medo das injustiças que fez. Ele foi submetido a uma plástica para ajudar sua clandestinidade. Durante a Ditadura Militar se passava por agente de esquerda e repassava as informações dos companheiros de esquerda para os militares no Rio de Janeiro. Era tão perverso e traiçoeiro que Anselmo coletava e fornecia aos militares informações que lhes permitiram capturarem guerrilheiros e opositores da esquerda, incluindo sua noiva, que, mesmo grávida, foi brutalmente torturada e morreria em uma prisão militar. NEM A NOIVA ELE POUPOU. Desse modo colaborou com o desaparecimento de muitos jovens, e os que não foram mortos sofreram as piores torturas. Colaborou muito com Ustra, um dos maiores torturadores que o Brasil já teve, inclusive amigo pessoal do atual presidente da república, que diz ser seu fã. Cabo Anselmo estava na clandestinidade desde os anos 70. Ele chegou a usar uma identidade falsa e viveu escondido. 


Particularmente tenho abominação a tudo o que vem da Ditadura Militar, página terrível da nossa história. Minha mãe tem um primo que foi torturado na Base Aérea de Natal, durante a Ditadura Militar. O local era conhecido como Campo de Concentração. Ali ocorreram as piores formas de tortura física e psicológica. Esse primo da minha mãe ficou num cubículo que mal dava para ele se deitar. Local úmido, de cujo teto pingava água. Os militares colocaram instalaram nesse quartinho um amplificador com o som ligado no último volume, mas nem era uma música, eram aquelas frequências de rádio que parecem um zumbido oscilando que pica os tímpanos. Apanhou muito: chutes no estômago, barriga, cuspe no rosto, socos no rosto, golpes de cassetete na sola dos pés. Havia uma “técnica” chamada “telefone” em que eles colocavam as duas mãos em concha e batiam nos dois ouvidos de uma vez. O meu primo também era xingado, humilhado, desnudado. Tiveram a diabólica atitude de fazer uma montagem com a fotografia da esposa dele nua, e mostravam para ele, dizendo “olha só! é sua esposa, vejam como ela está sentindo a sua falta!”. E sua mulher era íntegra e respeitável como são todos os seus filhos, netos e bisnetos até os dias atuais. O meu primo chegou a ir para Fernando de Noronha e morreu pouco tempo depois. Ele foi torturado por um soldado da Aeronáutica que se tornou - pasmem! - reitor da UFRN. Foi o prêmio que ganhou do regime militar. Mas eles não torturaram apenas o meu primo. Foram muitos, inclusive o médico Vulpiano Cavalcanti e Luís Maranhão Filho . O CRIME DELES: CLAMAR POR DEMOCRACIA. Eram homens de bem, pessoas dignas e respeitáveis. É por essa e outra razão que não tolero os crápulas que pedem de volta a Ditadura Militar. Quem pede a Ditadura Militar não tem ideia do que ela foi, suas arbitrariedades e injustiças desmedidas. Sem contar que foi um governo corrupto.


Segue, abaixo, breves trechos de um documento oficial publicado pelo Comitê Estadual pela Verdade, Memória e Justiça RN - Rio Grande do Norte:

“Outra vítima de tortura foi o sargento Geraldo Teixeira, depois de transferido para o Q.G. da 2ª Zona Aérea, no Recife. Seu corpo foi todo pintado com palavras pornográficas e desenhos de órgãos sexuais, além de ter um cassetete introduzido no ânus pelo tenente Câmara. Seus lábios foram queimados com brasa de cigarro, seus testículos amarrados e puxados pelo tenente Câmara, que, não satisfeito, esfregou a boca do sargento no chão cheio de fezes.

Obrigado a ficar de quatro pés, foi montado pelo major Hipólito, com o qual, depois, teve de lutar boxe, com os olhos vendados.

O mesmo sargento Geraldo Teixeira foi forçado a representar o papel de Café Filho, no enterro simbólico do vice-presidente da República, realizado em meio a atos indecorosos e promovido pelos majores Roberto Hipólito e Souza Mendes. Deitado no chão e amarrado, colocaram-lhe uma vela acesa no ânus. Alguns dos presos foram forçados a ficar em volta assistindo à galhofa dos torturadores, que lamentavam “o morto” com apupos e palavras de baixo calão.

“Esses oficiais, que, bem sabemos, em nada representam as Forças Armadas do Brasil, ameaçavam assassinar qualquer um que denunciasse seus crimes.”24

As primeiras prisões ocorridas em Natal foram de militares que serviam na Base Aérea. Os sargentos Enéas de Oliveira Filho, Antônio Paulo Andreazi e Armando Pulis Gomes, nos dias 13, 14 e 23 de fevereiro de 1952, respectivamente. Em obediência a um habeas-corpus, foram soltos e presos em seguida.

A partir dali, a cidade assistiu a uma série de prisões arbitrárias, com residências de militares e civis invadidas. Alguns recusavam seguir sem protestar. Foi o que fez Hermínio Alves de Brito. Ao ver a patrulha da Aeronáutica invadir sua casa, exigiu o mandado judicial. A exigência foi o suficiente para que o primeiro sargento Genaro Alves da Fonseca (que se tornaria reitor da UFRN), de 29 anos, que tomava parte da referida patrulha, “lhe atracasse pelo pescoço”,25 sendo ajudado pelos outros integrantes da repressão que o arrastaram até o carro e o levaram imobilizado para o Campo de Concentração da Base Aérea.26

Foram presos pela Aeronáutica, em Natal, de fevereiro a dezembro de 1952, os civis Vulpiano Cavalcanti de Araújo, Luiz Ignácio Maranhão Filho, José Costa, Eider Toscano de Moura, Poty Aurélio Ferreira, Adauto R. Sales, Adauto Fernandes de Figueiredo, José Cabral de Oliveira, Hermínio Alves de Brito, José Gomes da Silva, Pedro Celestino Neves, Luiz Simeão Ferreira, Simplício Teixeira Peixoto, José Renovato dos Santos, Severino Miranda, Tasso de Macedo Wanderley, Joaquim Miguel da Costa Filho e Nazareno Rodrigues”.

“(...) Algumas vezes eram levados para uma cela em total isolamento, lá permanecendo por vários dias, sem sanitários, etc. Essas celas eram de cimento-armado, medindo 1,90m de altura, 1,90m de comprimento, e 0,90m de largura, com porta inteiriça de aço. O teto, também de aço, possuía dois orifícios circulares com 5cm de diâmetro. Um possante alto-falante emitia sons agudos e estridentes, dia e noite. Todos passaram por essa cela, mas o preso Vulpiano Cavalcanti, cirurgião agraciado pela Academia de Ciências por desenvolver uma técnica de sutura em cirurgias de apendicite, e que teve os dedos quebrados para que nunca mais pudesse exercer a profissão, passou 135 dias. Saía somente para interrogatórios seguidos de espancamentos…”.

“(...) Foi numa madrugada de muito calor, naquele dezembro de 1952, que o comerciante Poty Aurélio Ferreira, preso desde outubro, foi acordado e levado para a “sala dos suplícios”, na prisão da Base Aérea de Natal, em Parnamirim. Ao entrar, viu aquele moço sentado no chão, com o rosto inchado, “papudo”, os olhos vermelhos, os cabelos raspados na cabeça e nas sobrancelhas. Antes de tomar consciência da situação, o major Roberto Hipólito, subcomandante da base, gritou: “Conhece esse filho da puta?” Poty respondeu que nunca tinha visto. O major, então, virou-se para o moço e disse: “Filho da puta, diga o seu nome!” O jovem falou: “Luiz Maranhão Filho”. Lembra Poty que, mesmo após essa confissão, foi difícil reconhecer naquele homem disforme pelas pancadas recebidas no rosto o jovem alegre que possuía a mais sonora risada da cidade. Foram colocados, depois, na mesma cela, onde já se encontravam outros…”.

“(...) No mesmo dia foi à presença do coronel Koeler, comandante da Base, que ordenara sua prisão. Exigia o coronel Koeler “explicações” sobre várias reportagens publicadas na Folha do Povo do Recife, sobre torturas a presos políticos em Parnamirim. No dia seguinte foi levado, à meia-noite, para o que chamavam uma “sessão espírita”, sendo então espancado e torturado por um grupo de oito oficiais e um sargento. Nessa noite, foi espancado até clarear o dia, sendo colocado despido com fortes refletores sobre o rosto. Espancaram-no brutalmente a cassetetes de borracha em todo o corpo, inclusive na cabeça e garganta. Foi esmurrado no rosto até sangrar pelo nariz e pela boca. Essas torturas prosseguiram durante quinze dias. Por ordem do major Hipólito foi metido em camisa de força e amarrado. Depois de assim imobilizado, teve o saco escrotal amarrado a um cordão, que era puxado pelo tenente Câmara e ao qual o mesmo oficial pendurou um peso de madeira. Pelo major Hipólito foi espancado a cassetetes até cair sem sentidos, após o que era levantado do chão pelos cabelos. Teve, depois, a cabeça e sobrancelhas raspadas. Sofreu de parte dos tenentes Câmara e Correia Pinto, durante vários dias, torturas a golpes de jiu-jitsu, em consequência das quais seus braços ficaram deformados pelas inchações. Numa das noites de suplício, quando um oficial o segurava, o major Souza Mendes o espancava na cabeça, o sargento Correia o espancava na planta dos pés, e o tenente Câmara queimava seu corpo com um cigarro aceso. Em consequência o seu corpo ficou cheio de queimaduras e bolhas, a ponto de os soldados da guarda se mostrarem atemorizados, imaginando tratar-se de varíola. Durante os espancamentos foi obrigado a ingerir doses de óleo de rícino. Sentado diante de uma mesa, teve os braços imobilizados por um oficial, que se postou sobre seus braços. Isso serviu para que o tenente Câmara, rindo sadicamente, introduzisse agulhas em suas unhas, das quais várias apodreceram. Na cela, era constantemente espancado a pontapés nas costelas e nas pernas. Também batiam violentamente a sua cabeça nas paredes de cimento-armado, ficando em estado de delírio…”

terça-feira, 15 de março de 2022

SENTIMENTO POÉTICO...

Quando eu era ainda mais criança,

Praticava os meus pensos tortos que só!

Pensava que poesia só existia agarrada aos livros.

Que poesia legislava estar escrita.

Gastei infância inocentando que poetas eram quais artistas de televisão,

Seres inatingíveis, importantes que estavam com lápis e papel.

Matutava-os ocupados em lugares longínquos e insabidos.

Entortadamente, lesava que eles se resguardavam hibernando inspiração.

Mas o tempo escorreu e resplandeceu-me que poesia mora no mundo,

Que urge sentidos para compô-las.

Se a Philos diz que vemos o que somos, logo sentimos a poesia onde estamos.

Então desapareci na mata que emoldurava a cidade,

Ali pratiquei os meus sentimentos,

Vi um tapete bordado de folhas secas.

Cheirei das flores da ceiba que me levitava,

Degustei o filete de mel que escorria do tronco,

Toquei o azul de uma arara...

Confesso que chorei...

Fiquei todo emocionado de poesia.

Um índigena, agachado que estava junto a ceiba, me perguntou:

Ei, menino, chorando ai no corixo por quê? Você não é chuva para chorar!

Enlouqueci!

Entrei para fora daquilo num raio instante,

Tudo ali brotava poesia.

Voltei pra casa com um cesto cheio,

Descobri que poesia realmente mora no mundo...