ANTES DE LER É BOM SABER...
segunda-feira, 31 de julho de 2023
quinta-feira, 27 de julho de 2023
Memória de São José de Mipibu
Num dia de festa na terra do açúcar amargo. Vemos aqui o monsenhor Antônio Barros, pároco de São José de Mipibu, Agnelo Alves (prefeito de Natal), José Pinto Freire, (empresário, ex-prefeito e ex-presidente da Câmara de Natal, irmão do ex-senador Jessé Freire), Sebastião Amorim de Souza (prefeito de Areia Branca, tendo sido vereador e presidente da Câmara Municipal de Areia Branca por diversas legislatura. Foi ainda, diretor do Hospital-Maternidade Sara Kubitschek e comerciante por décadas).
A imagem, até então inédita, se soma ao acervo regional. Sebastião Amorim de Souza falecido em 1994, aos 94 anos. Monsenhor Antonio Barros faleceu em 2000, aos 86 anos, Agnelo Alves faleceu em 2015, aos 82 anos e José Pinto Freire faleceu em 2016, aos 95 anos de idade. As crianças da imagem não faço a menor ideia sobre quem são. Supostamente estão vivas, hoje. Suponho que um dos demais homens adultos seja o prefeito de São José de Mipibu, mas o destrinçar fica para os universitários...
quarta-feira, 26 de julho de 2023
segunda-feira, 24 de julho de 2023
A menina da boneca de louça – Histórias que não estão nos livros... (Escrito em 2018)
Filha de Dom João Izaías de Macêdo e Maria Peixoto de Macedo uma das famílias mais antigas e ricas de Parnamirim, Maria das Graças de Macedo é o nome dessa bela criança agarrada à boneca de louça. Em setembro de 2018, recebi Graça - hoje com 67 anos de idade -, e Sônia, sua irmã, residente em Guaratinguetá, São Paulo.
A conversa, despretensiosa, se deu no Teatro Municipal de Parnamirim, de maneira que, ao longo de umas duas horas, colhi as informações que jorravam de ambas, as quais me pareceram irmãs muito unidas, crescidas juntas. As recordações da infância e adolescência delas fluíam, abundantes, surpreendendo-me pela química entre elas. Ora uma completava ou complementava a frase da outra, ora esquecia o nome de alguém ou determinado dado e a outra se lembrava, tanto era a verdade contida naqueles testemunhos. E o grande trunfo desse momento de História Oral é que ambas foram protagonistas daquelas narrativas. E eu ali, jogando tudo no papel para depois destrinçar o texto que ora você está lendo. Obviamente que o registro não se trata de uma biografia, apenas retalhos de memórias.
O quarto de Graça e Sônia era repleto de brinquedos, sonho de consumo das crianças dessa idade. Naquele tempo as bonecas de louça eram importadas, normalmente da Alemanha, portanto um brinquedo sofisticado e, infelizmente, inacessível à muitas crianças. Sua mãe encomendava roupas e brinquedos numa sofisticada loja da Ribeira, “A Despensa Natalense”, situada na rua do Comércio, hoje Rua Chile. Por coincidência, pertencia ao casal Manoel Machado e Amélia Machado, doadores do terreno onde se ergueu o campo de pouso de aviões, que se tornou a Base Aérea de Natal e as terras onde município de Parnamirim se espraiou.
Embora Graça e Sônia nasceram uma década depois do advento da chegada dos norte-americanos, para instalar a Base Aérea, elas contam o que ouviam dos pais, os quais testemunharam a presença deles e tudo o que desencadeou nas imediações. Elas disseram que Parnamirim era um local ainda acanhado, praticamente um bairro de Natal na década de 40 e tudo era muito diferente. A cidade engatinhava, tímida e bucólica, com ruas de areias alvas como praia,
Nas palavras de Graça: “Mamãe mandava a empregada dar banho na gente, ficávamos bem bonitas e perfumadas dentro de casa mesmo, nosso pai também costumava sair conosco eventualmente para passear. Parnamirim toda era um tabuleiro. Não existia quase nada por aqui. Ver os aviões descendo já era um divertimento para quem nunca tinha visto aquilo... ir ao aeroporto era um passeio...”.
Maria das Graças, a bela menina, se tornaria uma linda moça e seria eleita rainha de Piranji, no Clube de Piranji. No evento estava o governador Sylvio Piza Pedrosa, amigo pessoal de Dom João, dentre outras autoridades que, naquela época, valorizavam muito esse tipo de evento. Hoje, Maria das Graças tem 67 anos e nunca deixou de residir em Parnamirim.
O casal Dom João Izaías de Macedo e Maria Peixoto de Macedo foi um dos primeiros moradores de Parnamirim. Em 1939, ele adquiriu uma grande área de tabuleiro no centro de Parnamirim. Ali construiu um belo palacete, comparado aos padrões de época. Era a casa mais bonita e luxuosa da localidade. Ficava exatamente na esquina, onde atualmente está erguido o “Shopping Parnamirim”, ao lado do Fórum.
Todo o quarteirão pertencia a ele. Havia uma parte separada da casa, por cerca, onde ele acomodava o gado que vinha das áreas rurais e seria abatido para vender em seu açougue e na Base Aérea. Dom João foi proprietário do primeiro açougue de Parnamirim. Nas imediações de seu palacete, Dom João também construiu um parque de vaquejada. Até hoje há um imóvel nesse quarteirão, na esquina oposta ao shopping, pertencente a um dos seus filhos, cuja casa de morada fica nos fundos. Até pouco tempo essa casa se destacava no local, pois tinha uma característica dos anos 40. Hoje, a parte da frente consiste de casas comerciais que ele aluga.
Dom João faz parte de uma família muito antiga de São José de Mipibu, a qual reside nesse município até hoje. A família Macedo também perpassa por Goianinha. Embora não se saiba com exatidão – até porque desconheço a genealogia dos mesmos –, suponho que tenham ascendência portuguesa. Eles sempre foram proprietários rurais. Em Parnamirim Dom João dedicou-se ao abatimento de carne de boi e ao ramo de açougue. Em 1942, quando os norte-americanos aterrissaram na região, durante a Segunda Guerra Mundial, ele tornou-se o principal fornecedor de carne à Base Aérea Norte-Americana.
Dom João e sua esposa eram muito caridosos e ajudaram muita gente que chegava a Parnamirim para trabalhar na Base Aérea, oriundos do sertão, do Seridó do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Muitos retirantes tiveram nele o porto seguro, pois ele fornecia os miúdos dos animais para os pobres que chegavam de todos os lados à procura de emprego, num tempo em que a seca consumia tudo, cuja ajuda de Dom João muitas vezes consistiu no único alimento que muitos pobres poderiam contar. Naquela época as partes como vísceras, fígado, rim, coração, passarinha, mão e pé do boi eram consumidas pelas pessoas realmente mais simples. Assim ele deu de comer a muitos.
Dom João era querido pelos militares, inclusive alguns oficiais, talqualmente Dom João, eram simpatizantes de vaquejada, esporte muito praticado na região. Um deles viajava todo o Nordeste e Norte do Brasil com D. João e levava os cavalos para participar de vaquejada. Os melhores cavalos de D. João embarcavam nas aeronaves no Campo de Parnamirim e partiam para onde estivesse acontecendo grandes vaquejadas.
Dom João faleceu em Parnamirim aos 31 de outubro de 1988. Sua esposa faleceu em 20 de setembro de 1990. Hoje é um homem esquecido, mas alguns poucos octogenários, parnamirinenses, ainda se lembram deles. Entretanto, o esquecimento não apaga essa página real da história, pois esse casal foi um dos pioneiros de Parnamirim. No bairro Vale do Sol há uma rua com o nome de João Izaías de Macedo. A esposa, Maria Peixoto, só é lembrada em seu epitáfio (eis a sugestão para que algum vereador lembre desse nome pioneiro, quando abrir algum loteamento no município. Ela, que, nos primórdios de Parnamirim, alimentou a tantos que ali chegavam, sem nada, somente com esperança de uma vida melhor. Excetuando isso, ninguém se incumbiu de dedicar-lhes uma crônica, um texto, nada. Infelizmente a história também comete injustiças. L.C.F. 17.5.2018.
domingo, 23 de julho de 2023
Digital literária, artística e outras digitais...
Há pessoas múltiplas. Elas escrevem poesia, contos, romances, crônicas, peças teatrais, pintam telas, são calígrafas, escrevem textos históricos, fazem cenografia e mais meia dúzia de afazeres. Sua “digital” é essa.
Nas Artes Plásticas isso ocorre da mesma forma. A “digital artística” é claramente perceptível nas obras de cada pintor. O pintor abstracionista russo Kandinsky, por exemplo, o homem que inaugurou o abstracionismo no planeta Terra, cujas obras estão todas - pasmem! - no MOMA, Estados Unidos da América, por mais que a maioria sejam “parecidas”, identifica-se facilmente às suas digitais artísticas. Mas ele também pintou realismo (uma dessas obras está na Sérvia). Por incrível que pareça, a Rússia não tem quase nada de Kandinsky. É longa história…
O que quero dizer é que, seja qual for a escola, o estilo, a característica, há uma digital nesses fazeres artísticos. Só há uma digital. É o que chamo de “digital artística”. Isso é visível no escritor/pintor/novelista/teatrólogo/etc. Quem não identifica Guimarães Rosa? Quem bate o olho e não reconhece Flávio Freitas, Doryan Gray (seja tapeçaria,tela etc)? Quem não conhece o estilo de Assis Costa, Levi Bulhões etc? Chagall e Dali são surrealistas. Cada um na sua digital. É possível confundir Miró com Kandinsky? Pessoas inexperientes os confundem, mas eles são completamente diferentes entre si. Mesmo que o artista porventura salte do abstracionismo ou surrealismo para o realismo ou qualquer outro estilo, o metódico observador o detecta, pois captura a digital.
Certa vez precisei encomendar uma perícia grafotécnica na Polícia Federal, em Natal, a partir de duas peças escritas à mão. O resultado comprovou que todos os escritos foram feitos pela mesma pessoa. Isso foi em 1994, mas ainda me recordo do laudo escrito, o qual me impressionou devido às considerações científicas contidas, por exemplo, a expressão “movimentos sinérgico dinâmicos” para se referir ao modo peculiar da pessoa que escreveu, dentre uma infinidade de expressões científicas que não me lembro mais, porém havia dados que simples mortais são incapazes de perceber e que são as pistas que reveladoras de autoria (a pressão da ponta da caneta no papel, a distância entre uma letra e outra, o I parecido com E, o pinguinho no I (que muitos fazem uma bolinha), o T que na verdade é um l cortado como um T, enfim.
Há pintores que pintam segurando o pincel na ponta do cabo, outros, no meio, outro, na base. Uns intercalam espátula com pincel, palitos, dedos etc, e esse modus operandi significa a sua “digital artística”. Transportando o raciocínio para outra área, entendo que a “digital literária” se formata a partir da “liquidificação” de fatores como: o que o autor leu, o habitat onde vive, sua sexualidade (mulher e homem veem as coisas diferentemente), aspectos filosóficos, a religião praticada, ou o próprio ateísmo etc. Característica não é digital, mas digital é uma série de características. Um detalhe: essa digital está em toda forma de expressão artística (digital teatral, digital coreográfica, o diabo a quatro…
sexta-feira, 21 de julho de 2023
Exposição "Chão dos Simples" , de Manoel Onofre Jr. Um encontro da Literatura com as Artes visuais potiguares. Amanhã, dia 22 de julho, a partir das 10 horas, abertura da Exposição "Chão dos Simples", de Manoel Onofre Jr. com curadoria de Manoel Onofre Neto e Angela Almeida.
Manoel Onofre por vezes nos transporta a Policarpo Feitosa, José Lins do Rego, Cervantes (no seu Dom Quixote) e até Dostoiévski. Não apenas em “Chão dos Simples”, mas no conjunto das suas obras. Porém “Chão dos Simples” tem bem forte as cores desses notáveis, a meu ver. Daqui também me recordei dos escritos de Iaperi Araújo.
A Literatura é uma mágica extraordinária, tem o poder de fazer com que o leitor encontre livros dentro de livros, encontre personagens daquele livro naquele livro. Isso com singularidade, afinal há escritores que conseguem não serem iguais a outros escritores e saem do lugar comum, e mesmo que seu pincel imaginativo respingue matizes parecidas, são diferentes em sua essência, em sua digital literária. Manoel Onofre Neto foi feliz por fazer passear “Chão dos Simples” pelas obras de irretocáveis pintores norte-rio-grandenses. Casamento perfeito. Ideia singular.
A exposição tem um caráter inédito ao promover o encontro das Artes Plásticas desses renomados pintores potiguares com a bela obra literária “Chão dos Simples”. Encontro de excelências.
Manoel Onofre Jr. “pintou” diversos contos nessa obra, inventando uma cidadezinha de ruas de terra batida e casinhas de taipa saída de sua imaginação. Mas no chão potiguar, chão de sua infância, chão que ouviu o seu primeiro choro. Chão cujo povo simples, envolto em cenário bucólico, se tornou matéria prima para contar e recontar – de maneira deliciosa e muito pessoal – as mais diversas histórias.
Seus contos trazem cores hilárias, amargas, pitorescas, tristes... Se em suas histórias são encontrados fatos parecidos com reais, e até acontecidos entre os próprios familiares, mas que são inventados, eis um pintor da vida.
Tendo escrito “Chão dos Simples” em 1983, há 40 anos, ele desnuda pessoas e fatos com a classe de um escritor que nasceu experiente, pronto, assim como pronto nasceu Estelo, um dos artistas plásticos mais singulares do Rio Grande do Norte, dentre tantos. Quantas histórias de Manoel Onofre Jr. saíram dos casarios parecidos aos encontrados nas telas de Estelo e nos cenários dos demais artistas?
Em 1952 o dramaturgo Nelson Rodrigues declarou, numa entrevista que “A literatura está deplorável. Os humoristas, profundos. O mal da literatura brasileira é que nenhum escritor sabe bater um escanteio”. Isso até pode ser verdade em seu tempo, mas Manoel Onofre conseguiu, sim, bater um escanteio. Nelson, que era um devorador de livros, também disse que “O leitor ideal é o que lê os mesmos vários livros todos os dias”.
Reler Manoel Onofre Jr. é reencontrar novas nuanças em suas histórias, descobrir nova característica nos personagens, reaprender, filosofar, ouvir o mato, o vozerio da feira, o badalar do sino da igrejinha, o fremir dos voejos de arribaçãs, enxergar novos cenários... sem contar a poeticidade e as viagens filosóficas nele contida.
quarta-feira, 19 de julho de 2023
Milan Kundera - “A insustentável leveza do ser”...
domingo, 16 de julho de 2023
Sanderson Negreiros e Tarcísio Medeiros... Invisíveis Visíveis...
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Sanderson Negreiros |
Ano que vem completará meio século da primeira edição de “Aspectos geopolíticos e antropológicos da História do Rio Grande do Norte”, uma das obras de Tarcísio Medeiros, insigne escritor norte-rio-grandense. Li-a em 1993, então aluno na UFRN, na aula de Cultura Brasileira, por orientação do também ilustre potiguar Sanderson Negreiros.
Sanderson tinha um modo interessante de construir o conhecimento com seus alunos. Lembro-me que certa vez, em sala de aula, quando ele citava Dorian Gray Caldas, disse “querem ir em sua casa, conhecê-lo”. E fomos naquele instante. Assim conheci outro renomado mito da terra de Câmara Cascudo. Aquilo me marcou.
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Tarcísio Medeiros |
Outra vez eu havia faltado na semana anterior. NÃO EXISTIA WHATSAPP. Quando voltei, soube que teríamos que ler alguns livros para, depois, discuti-los. A dinâmica seria assim: a pessoa que leu discorreria sobre a obra. Sanderson Negreiros, o professor, faria possíveis observações, e o restante da turma, que não havia lido aquele livro, ouviria a explanação fazendo perguntas e outras abordagens. Assim, todos saberiam sobre todos os livros.
Como eu havia faltado, sobrou para mim “História da Alimentação no Brasil”, de Câmara Cascudo. Ninguém quis ficar com ele, pois é tão grande que algumas editoras o publicam em dois volumes. No caso, li todo num livro só. As obras eram de Sanderson. Li como uma criança degustando o seu sorvete preferido. É simplesmente fascinante e foi um dos livros que mais me marcaram.
Essas foram duas passagens marcantes com o professor Sanderson, na UFRN...
Eis que chega em minhas mãos, ontem, a obra “Aspectos geopolíticos e antropológicos da História do Rio Grande do Norte”, de autoria de Tarcísio Medeiros. Até aí, nada demais além da importante obra. Mas ela continha esses invisíveis que a mim, pelo menos, impressionam e que acho digno dar-lhes visibilidade.
O livro, apesar de carregar 49 anos de idade, está intacto, mas o que mais chamou a minha atenção foi um cartão onde está datilografada uma mensagem escrita pelo autor, dirigida a Sanderson Negreiros, além da dedicatória.
O texto traz informações preciosas em que é possível viajar até a Redinha e ver esses dois mitos sentados no alpendre de uma espaçosa varanda jogando conversa fora. Dentre elas as ideias que ele findou escrevendo nessa obra.
O que me encanta é a humildade. Ele fala do livro como se não fosse o tesouro que é. Dá impressão que é um desses livros que você lê, lê e não há o novo, o inédito, o fascinante... só mesmices.
O cartão foi escrito no dia 22 de maio de 1973. Tarcísio tinha 55 anos de idade e Sanderson 34. 21 anos de experiência a mais carregava Tarcísio, e ele acolheu sugestões do jovem Sanderson. Humildade e respeito a um jovem que com certeza muito cedo se revelou genial.
Ele assina o cartão e com a mesma caneta Bic diz “N.B. Releve os erros tipográficos”.Quem daria importância para “erros tipográfico” diante daquele pergaminho de conhecimentos?
O que está ali que foi sugestão de Sanderson? Quais as lacunas dos “grandes mestres” citadas por Tarcísio? São esses invisíveis que nutrem a minha imaginação... Fico pensando o que conversaram esses notáveis.
O clipe estava se desmanchando; deixou nódoas no cartão e na página. Senti-me como os egiptólogos descobrindo câmara em pirâmide ao retirar a peça metálica e imprestável, ali colocada por Tarcísio e retirada por mim. Sanderson foi tão bom que deixou para alguém esse presente.
Tarcísio partiu em 2003, aos 85 anos. Sanderson se encantou em 2017, aos 78 anos. Ambos deixaram obras preciosas para o Rio Grande do Norte e para o Brasil, tanto assinadas por eles quanto contidas em suas bibliotecas.
https://www.facebook.com/reel/7037327389628361?mibextid=6AJuK9&s=chYV2B&fs=e
HONORIS CAUSUS (O PT e a Cidade Alta na visão de um anônimo)
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Google Maps |
Eventualmente tomo um caldo de cana com coxinha de camarão na “Casa da Maçã”, encostada na Delícias do Mate, esquina das ruas Coronel Cascudo com Princesa Isabel, na Cidade Alta. Digo eventualmente porque nos meus 56 anos de idade, não é bom abusar dessas iguarias, então, quando me programo para exercer tal abuso, esqueço o mundo e comporto-me como quem escreve um poema, sem qualquer sentimento de culpa. Talvez como quem fosse morrer amanhã e precisasse levar o gosto desses acepipes maravilhosos para o túmulo…
Eis que sentando-me numa daquelas mesas envoltas em cadeiras, defronte ao estabelecimento, ouço uma voz afirmando que o PT estava acabado com a Cidade Alta. Olho para o lado e dou-me com um grupo sentado à mesa ao lado. Então programo os meus ouvidos no modo “captação total das vozes”. Era um senhor, dois rapazes e uma moça. O senhor alegava que a Cidade Alta, antigo bairro de Natal, estava se acabando, o comércio fechando, o movimento diminuindo, “o PT quase havia acabado com as Lojas Americanas, mas conseguiu acabar com a Lojas Marisa”…
Dizem que “ouvido não é penico”, mas, confesso, quando estamos na rua, devemos programar as nossas “oiças” no modo “penico”, afinal não podemos andar pelo mundo em constantes desacordos com estranhos, e como eu estava em estado de êxtase alimentar, não quis gastar a minha boca com coisa que não fosse deleitar-me com as delícias que consumia. Gastei apenas os ouvidos. E minha decisão foi sábia, pois imediatamente ouvi um rapaz falando por mim, discordando totalmente daquele homem equivocado. As palavras do jovem pareciam sair de dentro dos meus neurônios. Então passei a comer aquela conversa também.
O rapaz explicou cientificamente que as Lojas Marisa havia fechado porque os donos fizeram o mesmo que os donos das Lojas Americanas, cujo rombo foi de bilhões, que houve incompetência admistrativa etc. E que isso não teve nada a ver com o PT. A moça, ampliando o sabor daquela conversa, reforçou as palavras do rapaz. O outro jovem só ouvia, como quem concordasse com o senhor iniciante da palestra, mas por faltar-lhe argumentos, só assistia o diálogo.
Eis que o senhor, não querendo dar por vencido, listava uma sequência de pequenas lojas fechadas naquelas imediações, reforçando a culpa petista. Logo, o rapaz, que parecia bem enfronhado no bairro, destrinça a situação das casas comerciais fechadas, explicitando cada caso, e no frigir dos ovos, a Pandemia havia gerado aquele fracasso. Nesse ponto, sou testemunha. Vi várias lojas fechando durande a Pandemia. Essa área da Cidade Alta tem uma infinidade de pequenas casas comerciais cujos produtos oferecidos oscilam. Abre um armarinho que funciona durante seis meses e fecha. Depois instala-se no mesmo local uma lanchonete que não chega a um ano de funcionamento. Em seguida vem uma loja de roupas que não esquenta o local. O Google Maps que o diga. É só fazer um passeio digital e constatar a variedade de fachadas com nomes distintos. Creio que seja uma questão de inexperiência em empreendedorismo ou concorrência acirrada. Suponho. Também ouvi dizer que alguns comerciantes iniciantes querem ganhar dinheiro com a cara. Comércio é renúncia. O dono tem que “morar ali” e ter consciência de que um dia está ótimo e o outro, não.
Enfim a conversa se dava nesses conformes, quando sorvi o último gole do açúcar líquido concentrado, também chamado de caldo de cana, e degluti o último pedaço da pomposa coxinha de camarão, também chamada de bola de gordura. Delícias estonteantes que nos acalmam, nos desarmam de brigas com gente desnutrida de visão. Eu ia bem invadir a prosa e brigar com aquele homem! Claro que não. Aqueles jovens falaram por mim…
Depois, conversando com Alysgardênia, disse desse episódio. As pessoas, hoje em dia, salvas as exceções, tem a mania de não gostar de algo, e usar esse algo como culpa das desgraças que vê. Isso é ingênuo e sem noção. De fato a Cidade Alta está numa aparente decadência comercial. Isso não é novidade. Hoje mesmo, 15.7.2023, estive na Rio Branco com Alysgardênia e ela comentou sobre a baixa frequência de pessoas. Recentemente, assisti a uma reportagem na InterTV Cabugi sobre esse mesmo fenômeno, mas no bairro do Alecrim. Os comerciantes reclamavam sobre lojas fechando as portas e público diminuto.
É esquisito afirmar, mas isso tudo é reflexo do próprio progresso. O progresso traz maravilhas, mas arrasta junto a ele muitos estragos em diversos aspectos. Natal deu um salto. A Zona Norte cresceu vertiginosamente. Natal se confunde com Parnamirim, e Parnamirim em breve se confundirá com São José de Mipibu. Em cem anos, essas cidades serão uma só. Sem lugar para enfiar uma casa.
O progresso muda tudo. Supermercados e Armazéns imensos estão dentro de shoppings e nas margens das rodovias. Quantos grandes armazéns e atacadões se espalharam em toda a geografia de Natal? Inúmeros. Há trinta anos tudo isso se resumia ao Alecrim e a Cidade Alta (grandes pontos comerciais). O que segura, de certo modo, hoje, o Alecrim, são alguns armazéns, mas isso também vai mudar (Pelo andar da carruagem). Ressalvando-se que esse fenômeno não é exclusivo de Natal, mas acontece em quase todo o Brasil.
Essa coisa que esse senhor - que eu prefiro chamar de inocente - ao culpar o PT, nada mais é que o progresso acontecendo em novos lugares. Antes, onde tudo era mato, hoje é um gigantesco armazém. Onde era um terreno baldio, hoje é um imenso condomínio habitacional. A geografia muda e com ela mudam os hábitos, o trânsito etc. Os novos bairros, que antes eram apenas residenciais, cujos moradores vinham para o Alecrim e Cidade Alta para fazerem compras, hoje estão permedados de lojas, agências bancárias, feiras, supermercados, lotéricas, praças etc. Tem de tudo na ruam onde moram, ou próximo. Quem vai sair da Zona Norte para comprar grãos se lá tem preço até melhor?
Esse fenômeno de desocupação comercial se estende também à desocupação residencial. Há muitas casas fechadas no centro de Natal. A moda no momento é morar em condomínio. É um fenômeno nacional. As pessoas se sentem mais seguras, dizem que dormem de janelas e portas abertas, e nada contece (diferente de estar numa casa no centro de uma metrópole). O condomínio é outro causador dessa evasão comercial, pois o povo deixa determinados bairros em massa, diminui os clientes e as lojas deixam de vender. Quisera que todos pudessem dormir de portas e janelas abertas no centro de Natal, sentar nas calçadas e ter, de certo modo, aquele antigo costume mais humanizado, mas o progresso traz mazelas com ele.
As autoridades falam sobre plano diretor, estatuto das cidades, plano de urbanismo, reurbanização, reocupação de áreas, são tantas expressões… mas não praticam políticas públicas civilizadas nos locais onde tais problemas se agravam. Tudo está mais no campo dos discursos e de fotografias para constar. Segurança pública e educação vem a calhar como nunca nesse assunto. A Câmara de Dirigentes Lojistas deveria protestar mais, buscar caminhos. Na verdade, esse assunto é muito complexo e envolve muitas causas.
Pois bem, quando esse senhor, da história lá em cima falava o tempo todo do PT, creio que, na verdade, ele queria dizer sobre os Políticos Tortos (PT). Natal está cheia de Políticos Tortos, satisfeitíssimos com seus altos salários e benesses. É uma pena que apenas esses senhores tenham o poder da caneta. Natal poderia ser pioneira num grande projeto que desse uma virada nesse fenômeno de evasão das áreas nobres da metrópole. Mas isso exige muito compromisso e ação, coisa que não costumamos ver muito em nosso estado. Não tem nada a ver com o PT (partido). Todos são culpados. Temos um povo inerte, que entrou em casa, fechou a porta, que o mundo se exploda. Não importa que saindo de casa, ele mesmo pode ser explodido a qualquer minuto.
Pequi no frango tem cheiro de lembranças inesquecíveis...
Os botânicos dizem que o fruto é do reino “plantae”, espécie C. Brasiliense, da família Caryocaraceae, classe Magnoliopsida, ordem Malpighiales, divisão Magnoliophyta. Mas não precisa toda essa latinidade para dizer - a quem não conhece - que “Pequi” é um fruto. Tem formato de um grande cajá ou um embu, cuja polpa é densa e firme.
A cor é essa vista na fotografia. O fruto se forma dentro de uma proteção/cápsula, semelhante a um coco meio deformado, todo verde embranquiçado. É uma capa grossa. Quando maduro a proteção se abre um pouco, permitindo que se retire o fruto que pode ser consumido, que é exatamente o “pequi”.
Cada bola tem até cinco bagos, mas é mais comum trazerem três belos frutos. O cheiro é bastante peculiar. Mata que tem pequiseiro se localiza a árvore pelo olfato. Pequi, para mim, tem cheiro de infância, cheiro inigualável do fogão a lenha e sabor inconfundível das comidas da minha mãe. Quando criança, íamos à mata colher pequi. Minha mãe usava eventualmente no preparo do arroz ou do frango, ao modo dos flagrantes dessas fotografias.
Conservei essa tradição materna até mesmo na panela de ferro. É indescritível o sabor da comida preparada com pequi em panela de ferro. Também se faz licor. O preparo de molho de pimenta com pequi é coisa do outro planeta. Quando Fídias foi ao Mato Grosso do Sul, trouxe dois potes, enviados por uma cunhada, colhido na mata que emoldura a cidade. Trouxe Tubaína e erva de tereré. Para mim é presente sagrado. Então, eventualmente, dou-me a esse regalo como criança degustando guloseimas preferidas.
Criança nascida no Mato Grosso do Sul é habituada a uma arte que deveria ser circense: “fazer malabarismo com pequi na boca”. Tarefa tão deliciosa quanto perigosa. E nesse folguedo os dentes vão roendo a polpa como um engenho mecânico, até chegar ao caroço despolpado.
Criança versada no costume faz isso no modo “mecânico”. Quando dá fé, sem perceber, expurga o caroço como fazem os velhos cachimbeiros que cospem tão forte como se a boca fosse catapulta.
Tem um detalhe, menino criado em metrópoles, forrado de caprichos, não deve chegar nem perto de pequi para degustar.
Roer pequi é para os fortes. Seu caroço possui espinhos tão finos como as palmas daqui do Nordeste. É espinho que parece pelo. Finca na língua, na gengiva, no palato e pode até levar à morte. Pequi é para menino-índio, nascido grudado aos Guarani-Kaiowá.
Eis que preparando frango com pequi descortinou-se em minhas lembranças esse fragmento de infância. Pequi, inesquecível pequi, delicioso pequi. Árvore sagrada.
Problemas de feminismo - Por Rachel de Queiroz - 1952
Um grupo de amigas - caras amigas - acaba de me fazer um apelo que vá trabalhar ao lado delas em determinada sociedade de mulheres.
Argumentam bonito, explicam que não se trata de feminismo, que nenhuma das consócias tem nada da virago meio masculina celebrizada pela caricatura, que elas não querem entrar em concorrência com os homens, mas mas apenas para lutar pela defesa dos direitos da mulher, ainda hoje espezinhados pela sociedade e pela legislação em vigor.
Ora, minhas flores, mulheres reunidas fazendo discursos, escrevendo manifestos, batalhando pelo progresso do sexo, lutando pelos nossos famosos direitos, que é isso senão feminismo?
Dizem vocês, a certa altura: “Nenhuma de nós gosta do chamado feminismo…” O ponto não é bem esse. O importante, para mim, não é que eu goste ou que não goste; o ponto, comigo, é outro: o importante é que eu não acredito em feminismo. Não creio numa rede de interesses comuns que ligue as mulheres do mundo, separando-as dos homens e dos interesses masculinos. Acho que vai uma distância muito maior entre uma comunista e uma católica, ambas mulheres, do que aquela que separa um homem e uma mulher das mesmas convicções.
Também não acredito na igualdade dos sexos.Afirmar isso, hoje, já é um truísmo. Pois é. E como acontece com quase todos os truísmos, este é também uma verdade. Concordo que a nossa legislação sobre os direitos civis da mulher casada é irritante e injusta, mas soma-se à grand cópia de injustiças que correm mundo sob o nome de leis, e que é mister remediar, não porque sejam especificamente contra as mulheres, mas principalmente porque são injustas.
Continuando a falar com franqueza, chego a confessar que não tenho ideias muito seguras a respeito do papel que a mulher pode e deve desempenhar no mundo moderno. Se, por um lado, somos capazes de aprender muitas das coisas que os homens sabem, e se podemos dar conta da maior parte dos ofícios masculinos (talvez porque a civilização ocidental suavizou de tal modo a tarefa dos homens e a pôs ao alcance das mulheres…), por outro lado a nossa carga - biográfica, digamos - já é de si muito pesada para que procuremos outros encargos além do que a natureza nos reservou.
Nas cartas de vocês há uma que diz uma coisa muito engraçada: “A mulher moderna cansou-se de ser um simples animal reprodutivo”. Infelizmente, meu bem, a natureza não é progressista nem tem ideias modernas; a natureza, com a sua cegueira e a sua característica falta de imaginação, teima em fazer da mulher, moderna ou antiga, um mero animal reprodutor e aleitador. Por mais brilhante, intelectual, artista, ambiciosa que seja a mulher, não deixa por isso de ser - com licença da palavra - a fêmea da espécie, e ter ao seu encargo exclusivo o penoso trabalho de gestação e criação dos filhos. Que os homens, tudo o que eles fazem pela prole é o que se pode chamar de trabalho voluntário e não compulsório, como o nosso…
Nessa teima da natureza nasce o grande conflito da mulher de carreira, da mulher profissional, que pelos seus dotes intelectuais, capacidade de trabalho e agressividade ousa e consegue competir com os homens nos terrenos que até bem pouco eram reserva particular deles. Conflitos com os homens, pode-se dizer que já não existem, que eles já estão vencidos e convencidos.O conflito é com ele própria. A mulher ainda não descobriu uma fórmula que resolva o problema da maternidade quando esta entra em choque com a profissão, o que quase sempre sucede. É sistematicamente obrigada a escolher entre a carreira ou os filhos: ser ou a amazona, ou a mãe de família. Nenhuma das outras soluções experimentadas resolve: porque a melhor delas, que são as “creches”, ou as armas, governantes, etc., não representam uma solução, mas simplesmente uma transferência. Arranja-se uma mãe substituta, mas a necessidade da mãe permanece e tem que ser suprida; e o problema não foi resolvido, foi passado adiante. Há as que tentaram ao mesmo tempo ser uma profissional e dar conta dos filhos: mas isso representa uma sobrecarga pesada demais, acaba sempre resultando no mesmo: o sacrifício de uma das duas tarefas - a família ou a profissão. Com isso quero dizer que os atuais problemas femininos não consistem mais em arrebatarmos dos homens este ou aquele direito - que já o estamos adquirindo sem disputa; os poucos que os coitados ainda retêm são mais simbólicos do que reais e apenas servem para lhes salvar o amor próprio. O nosso conflito básico é com a nossa condição de mulher - e representa em verdade um desses dramas terríveis e insolúveis da natureza humana, como o do amor, por exemplo, e para os quais, aparentemente, não há forma conhecida de solução. O melhor ainda é a gente tentar uma acomodação à inglesa - quero dizer, empregando o velho sistema inglês de compromisso. Se o mundo moderno nos abre maiores horizontes, se nos permite uma porção de profissões, e interesses que nos eram vedados há alguns anos atrás, aproveitemos essas oportunidades nas medidas das nossas possibilidades, mas sem muito arrojo, sem muita soberba. Porque, a menos que reneguemos a nossa própria condição de mulher, faça a gente o que faça, dirija aviões, arengue as massas, dispute na política, ajude a governar o Estado - lá escondida nas nossas entranhas de mulher estará sempre presente a misteriosa máquina, pronta a funcionar sem respeitar cartaz nem coroa, pronta a transformar a valquíria audaciosa que toma o lugar dos homens na simples e eterna mulher que carrega um filho consigo e por isso mesmo se torna fraca e desinteressada do mundo, carecida de proteção e ajuda. Isso, meninas, pode ser uma verdade desagradável, mas é também a verdade nua e crua. E, sendo assim, para que perder tempo com feminismos?
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RACHEL DE QUEIROZ é escritora cearense. Este artigo foi publicado na edição de 26 de julho de 1952 da revista O Cruzeiro. @herdeiros de Rachel de Queiroz
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OBS. Transcrevi este artigo para a minha página por achá-lo um dos mais curiosos de Rachel de Queiroz, na minha opinião. Obviamente que há um contexto o envolvendo, mas preferi não emitir nenhuma opinião sobre o mesmo. Deixei para você que ora lê. O texto fala por si. Raquel era trotskysta, comunista e ateia.
sábado, 15 de julho de 2023
Uma crítica que mais parece demonstração de inveja e preconceito...
sexta-feira, 14 de julho de 2023
Restaurar é isso (Residência do médico e deputado Afonso Moreira de Loyola Barata - Cidade Alta - Natal/RN)...
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Residência do médico e deputado Afonso Moreira de Loyola Barata... |
Construído no preâmbulo do século XX, na famosa rua Padre João Manoel, Cidade Alta, era a residência do médico e ex-deputado Afonso Moreira de Loyola Barata. Muito tempo depois, com sua morte, tornou-se o "Hotel Majestic". O tempo passou, entrou em estado de abandono total. Quando já ameaçava ruir, o Tribunal de Justiça do RN comprou o imóvel. Então, a partir de 2007, surgiu o "Memorial do Poder Judiciário Estadual Desembargador Vicente de Lemos".
Acta noturna - Casa de Câmara e Cadeia de São José de Mipibu - Um registro de Mário de Andrade e reflexões afins...
Como todos sabem, Mário de Andrade fez um "tour folclórico" pelo Norte e Nordeste do Brasil, encampado pelo "Ministério da Cultura de São Paulo". Isso se deu nos primórdios da etnografia brasileira. Foi um amplo trabalho de registros audio-visuais. Riquíssimo. Em 1928 andou por terras potiguares percorrendo diversos municípios, colhendo as informações mais substanciais sobre o folclore de cada lugar: pessoas de destaque, expressões contidas nas danças, linguística, alimentação, artesanato, enfim hábitos e tradições de toda espécie. Fazia um apanhado da Cultura do povo. A caminho de Goianinha, onde visitaria o mestre "Chico Antonio", (1904-1993), o maior expoente do coco de embolada (tradição sonora da cultura popular nordestina), passou em São José de Mipibu e findou clicando essa bela construção. Mario estava paramentado com as mais avançadas tecnologias daquela época.
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Mario de Andrade - 1928 |
O prédio era a Casa de Câmara e Cadeia da localidade. Ficava quase defronte à Igreja Matriz de Santana e São Joaquim, uma das poucas única testemunhas que restaram até hoje. Pena! Seria um dos raros municípios brasileiros a contar com esse tipo de construção. O prédio funcionava como uma conglomerado de serviços: presídio (nesse tempo, eram poucos os "meliantes": só ladrões de galinha e revolucionários), Câmara de Vereadores e Delegacia. Se fosse hoje, estaria abarrotada de gente que é contra o Sistema, todos 'presinhos da Silva', a mando desse Desgoverno Federal. São José de Mipibu é um museu a céu aberto. Uma das cidades mais ricas em história, berço de fatos importantíssimos. Mas parece que alguns não dão valor a isso, principalmente algumas autoridades. A derrubada da Casa de Câmara é Cadeia é um dos maiores crimes contra o patrimônio histórico do Rio Grande do Norte. Não era um prédio de herdeiros (já que muitos herdeiros acham normal demolir).
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Chico Antonio |
Mas nada justifica esse crime contra a História. O prédio estava intacto. A estrutura era de ferro, mas as autoridades da época achavam feio. Ainda bem que o genial Mário de Andrade andou por aqui. Do contrário, não existiria nem a fotografia, já que essa é a única que dá um close na arquitetura. Lastimável esse nosso Brasil de pessoas desmemoriadas e desmioladas. Falta civilidade. É duro saber que - pasmem - algumas autoridades se ofendem quando um grito de protesto é lançado em defesa do Patrimônio Histórico. É um problema de Educação e Cultura. Temo pelo que restou. Não vejo muito interesse. Ultimamente está na moda vidro, inox, alumínio, concreto armado. As pessoas sem formação acham bonitinho.