ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

domingo, 2 de março de 2025

Roubo em igreja...

 

OBS. Todas as imagens aqui postadas dizem respeito a essa reportagem. Não se tratam das igrejas mencionadas no texto.

Antes de ontem assisti a uma reportagem sobre roubo em igreja. O fato se deu no Rio de Janeiro. O ladrão é pessoa conhecida naquele espaço, pois costumava decorar o templo, portanto tinha total liberdade para transitar ali sem despertar suspeita. O criminoso é colecionador de obras de Arte e tem um acervo impressionante (se não fosse tão ladrão).


Ter obras de Arte sacra de 300/400 anos não significa ser ladrão. Os livros contam histórias de homens que, há mais de 100 anos, empreendiam longas viagens pelas províncias do Brasil comprando oratórios, santos de madeira (folheados a ouro) e peças sacras dos engenhos falidos e em decadência. E esse comportamento, por si, explica o porquê de - hoje - existir tanta peça sacra nas mãos de colecionadores sem que isso seja fruto do furto em igrejas.


Esses homens eram justamente colecionadores e comerciantes desse tipo de obra de Arte. Isso não se resumia aos engenhos e fazendas, mas às casas da cidade, onde os fazendeiros residiam e mantinham verdadeiros museus sacros. 


Esses homens, no caso, eram meramente oportunistas e espertos. Não eram ladrões. É certo que eles pagavam valores irrisórios, trocavam por outras coisas, mas, enfim, não havia ilegalidade naquela aquisição. Por mais que nos admiremos com o fato de um colecionador possuir objetos sacros de 200/300 anos ou mais, os mesmos não devem ser vistos como criminosos, mas é necessário os olharmos com reservas, pois, infelizmente, entre os honestos há os ladrões.


Isso explica o porquê de encontrarmos tantos tesouros em galerias de obras de Arte sacra principalmente nas capitais brasileiras, até porque os donos morrem, os filhos vendem, trocam, doam, até jogam no lixo (por ignorância). Dia desses um homem estranhou certa peça numa galeria de arte Sacra. Ele achou muito parecida com uma obra roubada na igreja de determinado estado há mais de 40 anos. Então ele fotografou-a. Na mesma hora recebeu o retorno de um especialista confirmando se tratar  da peça roubada. A polícia federal baixou no local instantes depois. Isso acontece eventualmente, pois muitos especialistas visitam essas galerias com tal finalidade.

Há pouco mais de um ano, vi uma postagen no no Instagran, em que uma figura muito conhecida e respeitada no Rio Grande do Norte mostrou um medalhão com a imagem de Nísia Floresta em bronze. É uma peça no diâmetro de um LP.  Ele a adquiriu numa galeria de Arte no Rio de Janeiro. Identifiquei aquela peça no mesmo instante, bastou bater os olhos. Ele, no caso, não cometeu nenhum crime, mas digo com certeza absoluta que é uma peça roubada. Creio que pertencia ao Centro Norte-Rio-Grandense, pois tenho fotografias de uma exposição sobre Nísia Floresta que ocorreu ali em 1954 e esse medalhão está sobre uma mesa envolta por figuras potiguares notáveis, dentre elas o ex-presidente Café Filho. Esse medalhão foi confeccionado na França em 1851. Entrei em contato com a pessoa, expus o fato e o orientei a doá-la ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, mas a pessoa me  ignorou. Nunca respondeu.

Excetuando esses colecionadores e comerciantes de obras de Arte Sacra, o único local que possui grandes acervos são as igrejas e, infelizmente, é o local preferido de colecionadores criminosos. Uns pagam para roubarem. Outros vão em pessoa. Há, inclusive, ladrões de obras de Arte em cemitérios também.



Na década de 70 houve um furto milionário na Igreja Matriz de São José de Mipibu, cidade da região metropolitana de Natal. Até hoje, lá pelas bandas do Pantanal, minha mãe guarda uma carta com o recorte de jornal dando notícia do episódio. 


Foram várias imagens portuguesas do século XVIII, em madeira, folheadas a ouro. Por sorte a Polícia Federal encontrou as peças muito tempo depois.


O maior acervo de obras de Arte Sacra no Rio Grande do Norte – na minha opinião – se encontra na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, município integrante da região metropolitana de Natal. Há um ostensório em prata pura e um relicário em prata e ouro puros, imagens portuguesas do século XVIII em madeira folheada a ouro, um lampadário de 20 kg em prata portuguesas maciça, crucifixos em madeira e Jesus Crucificado, crucifixos solitários – todos em madeira do século XVIII, candelabros de bronze, escultura em tamanho natural de Jesus Morto em madeira do início do século XIX, roupas clericais centenárias com galões de ouro e prata, toalhas, cálices, bandeiras de procissões da época que o município se chamava “Papary”, grandes móveis em madeira de lei (cômodas e roupeiros), livros manuscritos e uma infinidade de pequenos assessórios sacros.


Sabemos que a Igreja Matriz de Nossa Senhora já sofreu vários furtos (não é segredo para ninguém). Alguns atribuídos a determinados padres – ditos a boca de siri – e outros supostamente furtados a pedido de colecionadores. Particularmente, sinto falta de algumas imagens e peças valiosas e até móvel que conheci em 1992 e que fui percebendo estarem sumindo ao longo do tempo. “Quem disso usa disso cuida”, portanto, sem intimidade com aquele templo, pensava que a exposição dessas peças oscilava, de acordo com alguma orientação dos padres, numa espécie de reserva técnica como fazem nos museus. Muito tempo depois percebi que eu estava tremendamente enganado.


O fato de a igreja ainda não ter sido tombada nos impede de termos uma lista com todos esses elementos sacros, portanto só quem conhece a igreja de longas datas sabe sobre esses furtos. Vale ressaltar que esses furtos não se resumem apenas a obras de Arte de grande valor, mas até mesmo a peças em gesso (a exemplo do “Anjinho Deus lhe Pague”), uma peça aparentemente sem valor, mas só aparenta, tendo em vista que ela e outras que foram furtadas têm valor histórico pelo tempo que ali estão.

Pois bem, vendo essa reportagem, me voltei para a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, tendo em vista a dimensão do seu acervo e a falta de um esquema de vigilância eletrônica.



Entendo que lugares como Nísia Floresta, com um patrimônio dessa monta deve haver uma politica pública de proteção diferenciada, não por privilégio, mas por dever de salvaguarda. O verdadeiro privilégio é saber que a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, é um museu vivo, um elemento singular, inigualável, um tesouro da História da Arte e da Arquitetura Sacra. 


A Prefeitura Municipal de Nísia Floresta e a Câmara Municipal de Vereadores devem ao povo de Nísia Floresta a proteção desse tesouro. É hora de criar uma lei com edital para concurso, providenciando uma guarda especializada pela proteção 24 horas desse templo. Não se trata de privilégio, pois estamos falando da História do Brasil. Estamos falando de precaução.

Fica a reflexão e a sugestão.














sábado, 1 de março de 2025

Tarcísio Gurgel O informante da literatura potiguar



“Tarcísio Gurgel é um escritor de duas cabeças”. A definição é do próprio Tarcísio, explicando o fato de haver produzido literatura exclusivamente em Natal, mas inspirado no universo mítico de Mossoró, onde nasceu e participou de movimentos importantes, como o Teatro de Estudantes Amadores (Team).

Em entrevista exclusiva a O Mossoroense, o escritor revela elementos de sua obra ficcional, constituída por três livros de contos: “Os de Macatuba”, “O Eterno Paraíso”, e “Conto por Conto”, e comenta aspectos positivos e negativos da literatura norte-rio-grandense.

Ao longo da conversa, Tarcísio Gurgel, que confessa haver abandonado uma experiência com a poesia para se dedicar ao conto, na hora certa, antecipa detalhes sobre “Informações da Literatura Potiguar”, livro mais recente de autoria dele, cujo lançamento nesta cidade será hoje, às 18 horas, na filial da livraria A.S. Book Shop.

POR CID AUGUSTO

O MOSSOROENSE – Você nasceu em Mossoró, fez teatro na cidade, mas tornou-se escritor em Natal. Pelos critérios adotados em “Informação da Literatura Potiguar”, Tarcísio Gurgel é um escritor mossoroense ou natalense?
TARCÍSIO GURGEL – Tarcísio Gurgel é um escritor de duas cabeças, porque, na verdade, se você pegar a minha pequena obra de ficção curta, ela tem um imaginário que não é explicitamente mossoroense, mas certas situações remetem a isso. No último livro, “Conto por Conto”, tem uma história em que há alusão à luta política de Mossoró. Então, o meu universo mítico, por assim dizer, é Mossoró e isso me marcaria como um autor mossoroense. Mas, inegavelmente, toda a minha vida literária é em Natal.

OM – É possível alguém se tornar escritor?
TG – Tornar-se escritor é uma coisa de processo. Você nunca pode dizer: “A partir deste momento, eu me tornei escritor”. Mas comigo aconteceu pela orientação providencial de Deífilo [escritor Deífilo Gurgel, irmão de Tarcísio] que, aliás, foi quem decretou a morte do poeta em mim, em boa hora. Ele foi muito honesto ao ler os poemas que eu escrevia e ao sugerir, sem ser grosseiro: “Você não acha que você talvez escrevesse melhor conto?”, partindo de uma dedução simplista, que era a do meu envolvimento com o teatro.

OM – Por que Nísia Floresta e Milton Pedroza não podem ser considerados escritores norte-rio-grandenses, apesar de haverem nascido no Estado?
TG – Nísia, não. Ninguém mais européia, carioca, pernambucana que ela no âmbito literário, o que não diminui o valor intelectual da sua obra. Milton Pedroza, sim, e eu até me penitencio porque acho que não dei a devida ênfase à contribuição dele.

OM – Mas ele saiu sedo de Mossoró e do Rio Grande do Norte?
TG – Veja bem: ao sair, ele já havia publicado “Passos Cegos” e, parece-me, um outro trabalho cujo título não lembro. Há um substrato mossoroense, norte-rio-grandense, na obra de Milton que o torna presente em nossa literatura e ele, de resto, é um autor muito importante. Para se ter idéia, numa antologia de Graciliano Ramos, publicada postumamente, estão três autores do Rio Grande do Norte: Milton, Humberto Peregrino e Peregrino Júnior, sendo este um autor cuja obra mais importante é amazonense.

OM – Qual o caminho de Macatuba?
TG – O caminho de Macatuba passa por Mossoró e passa por outras cidades literariamente marcantes, numa gradação difícil de se explicar.

OM – As personagens de “Os de Macatuba” são inspiradas em pessoas reais de Mossoró?
TG – Não necessariamente. Aqui e acolá houve personagens episódicas que eu saberia identificar. Por exemplo, há um papagaio no livro que realmente existiu, e que foi iniciado em safadeza por uma prima minha, maravilhosa, chamada Aparecida, infelizmente já falecida. Durante muito tempo ela tentou pervertê-lo, até que conseguiu.

OM – A experiência de ator do Team, com participação em “Eles não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Gaurnieri, “Esquina Perigosa”, de J.B. Priestley, e “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes, exerceu que influência em sua carreira de escritor?
TG – Nessa coisa de facilitar a criação de diálogos, de uma certa agilidade com que esse diálogo se constrói. As coisas que eu escrevo, quanto à qualidade, não sou eu quem deve avaliar, mas, no que diz respeito aos diálogos, como eu exercito muito, eu escrevo, reescrevo, rasgo, até alcançar uma forma que me satisfaça, a coisa se constrói sem aborrecer o leitor e, com certeza, é fruto da vivência no Team.

OM – O seu segundo livro de contos, “O Eterno Paraíso”, é dedicado a Maria Pata Choca, Zé Alinhado, Manoel Cachimbinho, Benício Gago e Cristina dos Pimpões, entre outras figuras populares de Mossoró. É somente isso ou o contista buscou algo nelas para compor personagens?
TG – Essas figuras me ajudaram a construir esse universo mítico. Benício Gago, por exemplo, chegava à padaria de meu pai e os padeiros mexiam com ele. Quando estava de boa veia, Benício cantava uma musiquinha que, melodicamente, lembrava “Águas de Março”, o que cresce a minha convicção de que aquela música deve ter raízes populares.

OM – Por falar em dedicatória, “Informação da Literatura Potiguar” é dedicado a Luís da Câmara Cascudo, por ser “um clássico em qualquer literatura” e a Deífilo Gurgel, Vingt-un e Raimundo Soares de Brito, por serem “generosos exemplos”....
TG – Exatamente isso que eu penso. Cascudo é muito citado e/ou criticado, mas pouquíssimo lido. Quando as pessoas lêem Cascudo de forma seletiva, chegam à constatação de que eu não exagerei. E quanto a Vingt-un, Deífilo e Raimundo Soares de Brito, é que esses (não estou falando inverdade nem estou sendo grosseiro), embora não tenham atingido, por força das circunstâncias, aquele estágio literário, são pessoas de uma generosidade intelectual que me comove.

OM – Quais são essas circunstâncias?
TG – É que Cascudo teve o direito de se preparar para revelar à humanidade o talento dele, enquanto os outros lutaram com muita dificuldade, trabalhando desde muito jovens. O que Raimundo Soares de Brito faz em Mossoró, gastando os próprios proventos, que não devem ser tão altos, para manter aquele acervo, recebendo com carinho as pessoas que o procuram e valorizando a nossa produção intelectual, é incrível. Essa tarefa de Vingt-un com a Coleção Mossoroense, que já ultrapassa três mil títulos, ninguém, nenhuma instituição cultural do Brasil tem a coragem, a paciência e o zelo de fazer. De modo que todo tipo de homenagem a eles acaba sendo pequena.

OM – Foi mesmo a de Cascudo a maior contribuição para a literatura Potiguar?
TG – No que diz respeito ao tipo de produção literária, com traços distintivos de outros povos, eu nem sei se seria Cascudo. Com relação à vida cultural do Estado, tenho certeza. Há outro nome que se aproxima de Cascudo, que é Henrique Castriciano. Em determinado momento, Henrique serviu de exemplo para o próprio Cascudo.

OM – Cascudo era um animador cultural...
TG – Cascudo, também como Henrique, acabou sendo um animador cultural de extrema importância. Em alguns momentos eu digo, e alguns amigos ficam chocados, que chego a desconfiar de o que seria Jorge Fernandes se não tivesse tido um interlocutor como Cascudo, que ouvia e reconhecia a importância da poesia e, mais do que isso, remetia sua produção poética para outros intelectuais.

OM – Existe realmente uma literatura norte-rio-grandense ou é preferível chamá-la apenas de literatura produzida no Rio Grande do Norte?
TG – Há uma literatura norte-rio-grandense.

OM - Existem traços peculiares na produção livresca do RN?
TG – Não tenho dúvida de que a literatura produzida por Ferreira Itajubá era uma literatura norte-rio-grandense. Não tenho dúvida de que a literatura produzida por Palmira, Jorge Fernandes, Zila Mammede, Jaime Hipólito, Raimundo Nonato, é literatura norte-rio-grandense, pois possui peculiaridades culturais do nosso povo.

OM – Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, ou escrever maus versos não compensa?
TG – Escrever maus versos não compensa. Não há como se blefar com literatura, porque a literatura tem uma mensagem a ser veiculada, cujo elemento fundamental é a beleza, uma beleza que pode ser até feia, conforme nos ensinou Baudelaire.

OM – Antônio Marinho criticou duramente Segundo Wanderley, acusando-o de ser condoreiro em tempos de simbolismo. Ainda existem escolas em tempo de globalização?
TG – Se não um estilo de época, há pelo menos um discurso de época. Vivemos um período em que se colocam desafios em variados planos, período de uma revolução na eroticidade, na política, na economia, na configuração urbana, nos meios de transporte e, no plano das linguagens, algo que chega ao virtual, ao plano da Internet. O discurso de época tem que contaminar as obras de arte, afinal a gente não escreve para pessoas do passado, mas sim para dar a pessoas do futuro a dimensão de como as coisas se constituíram numa determinada época e local.

OM – E as formas?
TG – Ainda hoje há poetas exercitando, já não digo nem formas poéticas, porque essas são eternas, mas novos sentimentos, novos discursos.

OM – O que você acha das pessoas que optam por divulgar obras exclusivamente na Internet?
TG – Não me agrada muito. O suporte físico do livro ainda é muito veemente para ser descartado.

OM – No Brasil, há políticas culturais de efeito prático?
TG – Eu não acredito nessas leis de cultura que estão postas aí, até por uma questão de impaciência. O governo precisa é abrir linhas de crédito para quem escreve ter oportunidade de publicar e comercializar o próprio trabalho.

OM – Mudando o rumo da conversa, não seria a crítica uma tentativa de se impor o gosto pessoal do crítico?
TG – Isso depende do crítico. Por quê? Porque uma coisa é você levar em conta uma resenha feita por um cidadão que trabalha profissionalmente em jornal, com pouco mais de 25 anos de idade, e outra coisa é você pegar um trabalho crítico da dimensão de um Antônio Cândido.

OM – Mas a crítica é realmente importante?
TG – Ou a gente cuida de preservar características essenciais, não fazendo concessões demasiadamente, ou tende a ter uma literatura de qualidade inferior. Claro, eu sou o primeiro a reconhecer que isso é antipático, que isso é uma maneira até certo ponto grosseira de falar, sobretudo entre pessoas que estão se iniciando, mas vejo a crítica como uma necessidade. É aquela coisa de a gente, de alguma maneira, lutar pelo aprimoramento do gosto. Sem essa luta, corre-se o risco de se fazer um tipo de obra artística simplista.

OM – O RN possui bons críticos?
TG – A gente se ressente muito de um exercício crítico pra valer. Não existe crítica no Rio Grande do Norte. O último grande crítico daqui terá sido, certamente, Antônio Pinto de Medeiros, outro intelectual importante que passou por Mossoró. Acho até que Dorian Jorge Freire e o próprio Jaime sofreram influência do espírito meio irreverente de Antônio Pinto.

OM – Você compara os acervos das instituições públicas a velhos sótãos. Nossa cultura está entregue às ratazanas e traças?
TG – Em alguns casos, sim, infelizmente.

OM – O jornalismo roubou Dorian Jorge Freire da literatura ou ele seria uma espécie de escritor realizado no jornalismo?
TG – Eu tive dois prazeres enormes com cronistas norte-rio-grandenses, organizando um livro de Dorian e um de Sanderson Negreiros. Mas Dorian é um tipo de escritor lato senso [expressão que significa em sentido amplo]. Sobretudo quando ele trata de uma memória com acento de nostalgia, nenhum outro autor do Rio Grande do Norte consegue alcançá-lo. Dorian escreve de forma notável essa coisa da memória.

OM – A Coleção Mossoroense, coordenada por Vingt-un, não merecia análise mais profunda em “Informação da Literatura Potiguar”?
TG – Merecia, não: merece! Mas eu preciso realizar uma pesquisa mais aprofundada sobre a Coleção Mossoroense. Como me fixei em Natal e nem sempre dispus de muita oportunidade de fazer esse trabalho, acabei ficando devedor de algumas coisas.

OM – Os novos movimentos poéticos do Estado, tipo a Sociedade dos Poetas Vivos e a Poema, pecam pela ausência de uma estética?
TG – Os movimentos são muito válidos e muito importantes, mas todos os que existiram se caracterizavam por uma grande desorganização. No movimento modernista de São Paulo, por exemplo, um brigou com o outro, uns se destacaram mais, outros menos. Preocupa-me, muitas vezes, tentar um certo traço de união, uma identidade. O ecletismo que caracterizou a “Revista Antropofágica”, me agrada mais que um certo “espírito de corpo” de grupos constituídos que, muitas vezes tem a marca da generosidade, mas que, esteticamente, pode ser perigoso. No entanto, como esses do nosso Estado são movimentos muito novos, com certeza terão desdobramentos interessantes.

OM – Os romancistas norte-rio-grandenses são ruins ou o fato de estarem distantes dos grandes centros editoriais, fora das igrejinhas do Centro-Sul, é o responsável pela pouca divulgação de suas obras?
TG – A literatura do Rio Grande do Norte padece de uma situação muitíssimo curiosa, que é a seguinte: como ela praticamente nasceu em Natal, com um poeta de estrema popularidade, que era Lourival Açucena, criou-se uma coisa da poesia. A literatura do Rio Grande do Norte é uma literatura predominantemente poética e isso há de ter inibido alguns ficcionistas, inicialmente.

OM – Mas o Rio Grande do Norte não tem elementos interessantes para a ficção?
TG – A história cultural de Natal registra episódios e tem um sabor dramático, romântico, que faria a festa de qualquer ficcionista. E se a gente vai para Mossoró, essa é uma cidade potencialmente fantástica para a ficção. Espanta-me, exatamente isso. A gente não tem tido a sorte de ter grandes ficcionistas em Mossoró, produzindo a partir da saga mossoroense. Eu costumo dizer que enquanto Natal é lírica, Mossoró é épica.

OM – Como você analisa a sua própria ficção?
TG – Se você me perguntasse se eu considero o que eu escrevo em matéria de ficção uma coisa ótima, eu responderia que não considero; se você me perguntar se eu me acho um bom contador de histórias, também não. Na verdade, as histórias se constroem para mim, esses pequenos contos, com certa lentidão, com certa dificuldade. O que me socorre é o exercício com linguagens e, como eu sou egoísta, penso que todos deveriam fazer o mesmo.

 

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

CRIME SEM CASTIGO

 

     Marco do aldeamento encontrado em Nísia Floresta

MARCO DE PEDRA COM INSCRIÇÕES E DATADO DA ÉPOCA DOS ALDEAMENTOS DE SANTANA DE MIPIBU E NOSSA SENHORA DO Ó É ENCONTRADO APÓS 261 ANOS NO MUNICÍPIO DE NÍSIA FLORESTA.

Ontem fui surpreendido por uma postagem em rede social – sobre um singular achado arqueológico que até então encontrava-se ignorado há 267 anos no município de Nísia Floresta (antiga Papary), distando 42 km de Natal, Rio Grande do Norte. Trata-se de um marco de pedra com as seguintes inscrições 

1758   Sª ANNA  INDIOS

Coincidentemente o então município de VILA DE SÃO JOSÉ DO RIO GRANDE foi criado pelo alvará de 3 DE MAIO DE 1758, exatamente no ano em que fizeram as inscrições nessa peça. A pedra pode ser cantaria, mas também aparenta ser um pedaço de arrecife.

Sempre entendi o centro de Nísia Floresta - principalmente - como um grande sítio arqueológico, mas até então nenhuma escavação foi feita ali. Quando vi as fotografias, minha alegria agigantou-se. Pensei em entrar em contato com a Arquidiocese de Natal, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, IPHAN, Fundação José Augusto e com o arqueólogo Pedro Tadeu de Carvalho Albuquerque, que descobriu os restos mortais de André de Albuquerque Maranhão, quando restaurava a antiga igreja Matriz de Natal. Mil pensamentos ferveram na mente, mas, conforme meus olhos foram correndo no texto, a decepção aumentava, conforme explicarei. A informação é de interesse do Brasil, mas para a Igreja Católica ela tem uma significação muito especial. Fiquei pensando a felicidade do arcebispo e a equipe que trabalha com História na Arquidiocese. Eles se deslocariam para Nísia Floresta no mesmo instante, pois isso interessa ao Brasil. Motivo de notícia nacional.

Desconheço a existência de um marco como esse em se tratando de missões religiosas em aldeamentos. É uma peça singular. Um marco. Um recorte precioso da História do Brasil revelada numa pedra. Nem as missões do Rio Grande do Sul, nem no Uruguai e Paraguai existe um marco como esse. Uma peça civil religiosa com datação e localização da aldeia de Santana do Mopobu de Nossa Senhora do Ó.

Exemplo de inscrição em pedra na Europa, datada de 1158. Imagem ilustrativa. OBS. A pedra, abaixo também tem o mesmo caráter.

Para entendermos a preciosidade desse achado arqueológico é fundamental direcionarmos todos os holofotes para o período do BRASIL COLÔNIA (1530 a 1822)  e o que acontecia especificamente nessa região à ocasião. Lembrando que o achado arqueológico se deu em Nísia Floresta quando essa localidade pertencia a São José de Mipibu.

Esse achado arqueológico registra a presença do Aldeamento dos indígenas de Santana de Mipibu, o que justifica estar esculpida a palavra “SANTANA”, e tenho quase certeza que a peça foi esculpida pelos FRADES CAPUCHINHOS, tendo em vista que eles literalmente residiam em ambas as localidades, administrando-a nesse período.

No período colonial, os homens públicos/políticos oriundos de Portugal, que se instalavam em Natal para administrar o Rio Grande do Norte, sofriam consequências sérias da hostilidade dos povos originários e tinham dificuldade em aceitá-los como eram. Assim, passada a chegada dos portugueses e a fundação da Fortaleza dos Reis Magos, a Coroa Portuguesa manifestou profunda preocupação na evangelização dos pagãos e dos não-cristãos que habitavam toda a região. Desse modo, eles reivindicaram a Portugal a presença de ordens religiosas na colônia.

Os padres jesuítas e franciscanos chegaram ao Rio Grande do Norte em 1597, quinze anos antes dos CAPUCHINHOS, e passaram a realizar Missões Itinerantes nas comunidades indígenas, evangelizando e administrando sacramentos para que os nativos se comportassem segundo os preceitos cristãos e fossem aceitos pelos portugueses. As primeiras Missões Itinerantes em solo potiguar, tiveram início justamente em 1597, pelas mãos dos padres Gaspar de Samperes e Francisco de Lemos, que visitavam as aldeias situadas às margens dos rios Potenjy e Jundiay.

No relatório do espião holandês Adriano Wedouche, escrito em 1630, dirigido ao Conselho Político do Brasil Holandês, constava que "existiam na capitania cinco ou seis aldeias que reunidas podiam contar de 700 a 750 índios flecheiros e que a principal flecha era chamada de Mopebu". Em sua descrição ele apresenta essa aldeia como a maior, mais populosa e a principal entre as seis aldeias da Capitania do Rio Grande do Norte.

Os habitantes originais dessa região eram os indígenas Tupis que habitavam as proximidades do rio Mipibu. Nesse tempo os FRADES CAPUCHINHOS, que haviam chegado oficialmente (ao Brasil) em 1612, começaram a atender algumas colônias em alguns pontos do Nordeste, predominantemente no Maranhão.

Como a região onde se desenharia São José de Mipibu e Nísia Floresta apresentava sinais bem delineados de povoamento de portugueses e indígenas, os FRADES CAPUCHINHOS passaram a coordená-las até o final do século XVII, precisamente até o ano de 1762, quando foi instalada a VILA DE SÃO JOSÉ DO RIO GRANDE DO NORTE. A partir desse ano os nativos assumiram a condução da vila e os CAPUCHINHOS se desligaram da aldeia após quase 80 anos de atividades, sendo o Frei Annibale de Genova, o último padre capuchinho a administrar São José e Papary.

Na verdade, em 1681, a junta das missões deliberou que as aldeias indígenas fossem administradas pelos jesuítas, mas isso não se efetivou.

Exemplo de inscrição em pedra na Europa. Imagem ilustrativa. 

 Em 1703, um juiz demarcou terras exclusivas dos ÍNDIOS DA ALDEIA DE NOSSA SENHORA DO Ó DO MIPIBU e a coroa Portuguesa confirmou tal demarcação em 1704. Sobre isso, é importante ressaltarmos que, geograficamente, Nísia Floresta (então Papary), onde estava a aldeia de Nossa Senhora do Ó, pertencia às terras onde se encontra o município de São José de Mipibu.

Em 1736, a aldeia de Mipibu recebeu a denominação de MISSÃO DE NOSSA SENHORA DE SANT’ANA DOS CABOCLOS DE MIPIBU, em terras onde atualmente é o município de Nísia Floresta, sob administração dos padres Capuchinhos que literalmente residiam no local. Nessa ocasião foi feita uma nova demarcação de terras, cuja Missão foi instalada em local diferente, na área atual da cidade de São José de Mipibu.

No local anterior, por volta de 1722, os missionários italianos fundaram uma missão capuchinha e deram continuidade à construção da Igreja Nossa Senhora do Ó na freguesia de Papary, concluída 52 anos depois, em 1755.

No final do século XVIII, a missão capuchinha de São José de Mipibu passa da condição de aldeia para vila. Concluída a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, a missão foi deslocada para São José. Apesar de a Vila de Papary até então contar com suas lideranças locais, ela passa a depender, política e administrativamente, da vila de São José.

O padre Annibale de Genova, ao deixar São José e Papary no ano de 1762, descreveu Papary da seguinte forma

“Esta aldeia foi construída sob a direção dos nossos missionários com a forma de uma praça de armas, com as casas todas unidas à maneira de um quartel de soldados. A aldeia está situada numa planície muito grande, sendo as casas dos oficiais situadas nos cantos e bastante mais altas que as outras, com duas portas uma ao lado da outra pelas quais se entra e se sai. Há uma igreja bastante grande e bem fornecida de todos os ornamentos necessários e muito decentes”.

Em 1833 foi criada a paróquia Nossa Senhora do Ó, desmembrada de Sant’Ana de Mipibu. O nome “Santana” (conforme consta no citado achado arqueológico), reforça a forte relação religiosa, administrativa e econômica com São José de Mipibu. A emancipação política de Papary se deu em 1852, quando passou a se chamar Vila Imperial de Papary, separando-se de São José do Rio Grande. Em 1º de fevereiro de 1890, com o fim do regime imperial no Brasil, no ano anterior, a denominação “Papary” passou à denominação de Vila de Papary. No dia 29 de março de 1938, tornou-se Cidade de Papary. Em 1948, após um abaixo-assinado feito por um professor (essa história está neste blog), atendendo aos anseios da população insatisfeita com apelidos e piadas decorrentes da denominação papary, o projeto chegou a Assembleia Legislativa e se tornou lei por intermédio do deputado Arnaldo Barbalho Simonetti.

Com relação a São José, a definição de “município” deu-se pelo alvará de 3 de maio de 1758 (ano desse achado arqueológico, como vimos), instalado em 22 de fevereiro de 1762, com a denominação de VILA DE SÃO JOSÉ DO RIO GRANDE. A mudança de distrito para município ocorreu 30 anos depois, em 1788. Em 16 de outubro de 1845, a vila de São José do Rio Grande foi elevada à categoria de cidade, então denominada cidade de Mipibu. Em 1855, a cidade recebeu o nome de São José de Mipibu.

Pois bem, achei coerente situar os fatos e fazer uma síntese sobre a história local para que o leitor que desconhece os fatos entenda melhor o valor histórico desse achado arqueológico. Não vejo o local onde ele foi encontrado como um sítio onde possam existir outros elementos significativos. Não descarto a existência de outras preciosidades, mas essa pedra, por ser um marco, supostamente, resistiu solitariamente ali, como também ocorreu com o Marco de Touros, que, embora fosse uma pedra em formato de totem – ou pilar – bastava ela para marcar o episódio. É certo que na área onde foi encontrada a pedra com as inscrições, também foi encontrado um penico aparentemente de louça, mas são peças, aparentemente, de tempos diferentes.


Penico de louça encontrado no mesmo terreno onde se descobriu o achado arqueológico

O mais deplorável desse fato é que a pessoa que trouxe à baila essa descoberta – e que não quer informar o local exato nem o nome do proprietário – por temer represálias, informou que o fato se deu há nove anos – ou seja, em 2016 –, e só agora ela tornou público. Para piorar, também informou que no dia que houve esse achado ela foi chamada para ver, mas antes que chegasse ao local ambas as peças foram destruídas. O proprietário, que segundo ela “é pessoa esclarecida”, mandou quebrar tudo, temendo que o IPHAN embargasse as obras que ele realizava na propriedade. Esse homem não tem noção do crime e da estupidez que ele fez.

Como já expus, desconheço a existência de um marco como esse em se tratando de missões religiosas em aldeamentos. É algo singular. Um marco. Um recorte precioso da História do Brasil revelada numa pedra. Nem as missões do Rio Grande do Sul, nem no Uruguai e Paraguai existe um marco como esse. Uma peça civil religiosa com datação e localização da aldeia de Santana do Mopobu de Nossa Senhora do Ó. Não sei o que impacta mais, se a notícia gloriosa da descoberta desse marco ou se a fatalidade da estupidez de sua destruição. Fica aqui o meu repúdio a esse senhor que deixou de dar uma contribuição impagável ao Brasil, à história da Igreja Católica, ao IPHAN, ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esse foi um terrível sado de um crime sem castigo. 

Por questão de ética não revelarei o nome da pessoa que me trouxe essa informação, pois ela deixou esclarecido que teme sofrer represálias. Estou publicando este texto porque ela tornou públicas as fotografias e o texto dela em sua rede social. Não sei se hoje os fragmentos dessa peça estão debaixo de algum comércio, de alguma casa, alguma calçada ou cerâmica do quintal. Também não acredito que essa peça esteja reduzida a pó, pois é uma pedra, mas devo documentar esse fato para que no futuro outra geração a reencontre e aja com civilidade, salvaguardando esse tesouro. E então isso será uma notícia de repercussão nacional. É a esperança que tenho.

Eu estou sob choque. Confesso que escrevi este texto com dificuldade e nem o revisei, pois hoje foi um dia muito cheio para mim. Sentei-me me para escrever há uma hora mais ou menos, quando me desocupei de coisas do trabalho. É algo que não tem mais jeito. A monstruosidade do que foi feito é imperdoável, e justamente por sê-lo, faço questão de pelo deixar registrado nos anais da história. Antes eu nunca tivesse tomado conhecimento disso, pois o que os olhos não veem, o coração não sente. Cumpro aqui o dever moral de registrar o fato para, pelo menos torná-lo, de fato, público, assim, “contribuir” com a história do nosso país. Essa peça, hoje, mesmo debaixo de algum alicerce, tanto pode estar inteira (pois pode ter sido blefe do dono da propriedade) ou quebrada. Mas está no local onde foi descoberta.  Infelizmente não tomei conhecimento em tempo real, quando, com certeza, eu teria registrado a ocorrência na Polícia Federal, em Natal e na Delegacia de Polícia de Nísia Floresta, impedido, mesmo sob força policial, ou que até fosse aos extremos, impedindo que tal crime se configurasse, mesmo que fosse apenas para recolher os fragmentos. LUÍS CARLOS FREIRE – SÓCIO-EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, 20 DE FEVEREIRO DE 2025.

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