ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

BREVE ESTUDO SOBRE VERDADES E LENDAS DO BAOBÁ DE NÍSIA FLORESTA

A África é o berço dos baobás, árvore diferente por seu aspecto singular. Uns acham-na feia e esquisita, outros vêem-na como exótica, bela e atraente. Mas algo é certo, um baobá não passa despercebido .
Nativo das regiões tropicais da África, o baobá pode viver até dois mil anos. Também é conhecido por outros nomes. no Guiné-Bissau é fruta-pão-de-macaco, cabaceira, calabaceira; no Cabo Verde é embondeiro, imputeiro; em Moçambique é licondo; na Angola é melambeira e micondó; em São Tomé e Príncipe é molambeira; em Moçambique é molambo e na Angola é nebondo.
Etimologicamente falando, o “baobá” é vocábulo de origem latina: “baobab”, em francês e “bu-ibab”, em árabe.
O Rio Grande do Norte possui dezenas de baobás espalhados em pontos distintos, como Apodi, Macaíba, Natal e outros municípios, testemunhando um passado remotíssimo, quando as placas tectônicas do Continente Americano ainda não tinham se separado do Continente Africano, onde os baobás são tão abundantes como são para nós tantas espécies brasileiras comuns.
Poucas pessoas sabem, mas o município de Nísia Floresta possui dois baobás adultos, e até na década de 1970 possuia três exemplares. O maior está no centro da cidade, outro na Fazenda Mãe-Ia, no Sítio Floresta, exatamente na divisa com a estrada, na altura do distrito de Golandi. O terceiro baobá – extinto – ficava próximo a entrada do município, nas imediações do engenho São Roque, num declive íngreme. Com o advento da terraplanagem e urbanização, a terra da sua base foi deslizando, facilitando seu tombamento, após uma forte chuva do meado de 1970. Se naquela época existisse um nível de consciência mais cidadão por parte das autoridades, teria-se feito um trabalho de recolocação da espécime, às custas de tratores e guindastes, pois boa parte de suas raízes permaneceram fincadas no solo. A preciosidade de tal exemplar permitiria tais esforços. Faltou apenas visão.
O baobá pertence à família das bombacáceas, cujo nome científico é Adansonia digitata. Possui tronco extremamente grosso, galhos curtos, folhas comestíveis e flores branco-róseas, cujo branco se sobressai. Na África sua madeira, mole e porosa, é usada para confecção de embarcações e na produção de fibras, cordas, papel e tecido. A árvore do centro de Nísia Floresta costuma florescer de janeiro a março. Segundo se percebeu em 2010, sua floração superou todas as anteriores, conforme observaram os mais idosos. Supostamente isso aconteceu em decorrência da forte temperatura desse ano, fenômeno este também nunca visto.
Não apenas o visual do baobá é diferente. Suas flores são singulares. Elas despencam de um talo de aproximadamente 20 cm e se abrem como se estivessem de cabeça para baixo.
O mesmo fenômeno da multiplicação das flores ocorreu com os frutos, pois nunca se viu tantos como em 2010. Os frutos têm o formato de cápsulas oblongas (parecida com o corpo de um pinguim) e pubescentes (semelhantes ao veludo). Dentro se formam uma espécie de fibra que produz bagas secas, comestíveis. Em Nísia Floresta ouvi depoimento de pessoas que fazem suco do pó que sai dessas fibras e, segundo dizem, é delicioso, adquirindo uma consistência leitosa com facilidade. O sabor, exótico, lembra o gosto do tamarindo.
O baobá de Nísia Floresta é tombado pela lei federal nº 4.771/65 e pela lei municipal nº 169/79. Consta em sua lateral uma placa informando que o exemplar foi plantado por um cidadão chamado Manoel de Moura Júnior, no ano de 1877. Acredito que isso seja pura pretensão, tendo em vista que a árvore é muito mais antiga do que informa a ingênua placa, conforme podemos constatar lendo mais aprofundadamente sobre tal espécie, a qual necessita de mais tempo de vida para ter o diâmetro e a altura atuais. O próprio Câmara Cascudo levantou essa questão, a qual acho muito pertinente. O conteúdo da placa soa mais como uma lenda, dentre tantas que povoam o imaginário popular.

FANTASIAS CONTADAS POR NATALENSES QUE SONHAM DEMAIS

Diógenes, em sua Natal Biografia de Uma Cidade, p. 278 a 279 diz que Antoine de Saint-Exupéry esteve na América do Sul, entre outubro de 1929 a janeiro de 1931, trabalhando para a Lattécoère como diretor da subsidiária Cia. Aeroposta Argentina. E diz que Pery Lamartine registrou a sua presença:
“Como diretor e também aviador profissional, ele tinha um avião à sua dsiposição para fazer visitas a todas as bases de linha. Natal era uma das principais, pois aqui se faziam a baldeação das malas postais entre os navios (avisos) e os aviões e vice-versa. Assim sendo, Natal hospedava constantemente tripulações completas para substituir os pilotos da escala de voo. Essas tripulações conviviam cordialmente com a sociedade natalense, a exemplo de Jean Mermoz, que deixou aqui uma lembrança.”
Segundo o autor, Rocco Rosso, encarregado do setor de rádio e comunicação da Lattécoère, bateu fotos do escritor herói em Natal. Diga-se de passagem, tais fotos são desconhecidas pelos os historiadores. D. Amelinha Machado (viúva Machado), dona Nati Cortez e dona Nair Tinoco confirmam a importância da presença. Dona Nair lembra, em Outras recordações, as suas subidas à torre da matriz para apreciar o por-do-sol. Nilo Pereira foi-lhe apresentado por Jean Mermoz.
Diz ainda, o autor, que o escritor José Rafael de Menezes, em seu Amizades Bibliográficas, que não havendo tempestades nas costas nacionais, beber água de coco não seria tema de grandes manifestações literárias para o piloto, que se alternava entre duas paisagens: o deserto e as montanhas. Rafael fala da “poética valorização do ser humano” e destaca: “O maior deles na década de 40, Antoine de Saint-Exupéry”. José Rafael registra ainda que “somente os colegas oriundos de Natal exibiam um autógrafo com o retrato do homem”. Alguém já viu uma cópia desse retrato em algum livro?
As mentes férteis comentam que foi em Natal que Exupéry fez os desenhos de O pequeno príncipe, seu livro mais famoso, lançado em Nova Iorque, em 1943. Diz-se que o francês viu com estranheza o baobá da rua São José, em Natal. Haja imaginação! Exupéry já se fartara de ver baobás na África tão conhecida por ele, inclusive era rota de voo.
Há até quem pontue tópicos para reforçar a lenda. Leiamos os mesmos, na visão de Diógenes:
- O aviador hospedou-se na casa de dona Amelinha Machado, proprietária do terreno onde está o baobá;
- Há depoimentos que Exupéry teria declarado que o por do sol do Potengi é o mais lindo do mundo.
- O elefante, um dos desenhos do livro, é o símbolo do Rio Grande do Norte (a semelhança com o mapa do estado é sempre estilizado).
- Há desenhos de falésias, de dunas e de estrelas, que é o símbolo da cidade de Natal;
- No livro póstumo Cartas à sua mãe, há um trecho onde Exupéry diz que “Dacar é bem feia, mas o resto da linha, uma maravilha”. O resto da linha começava em Natal.
É prudente analisarmos uma série de detalhes, tanto dos tópicos acima quanto do contexto da época.
Fernando Hipólyto da Costa, um historiador respeitado, fez um levantamento de época, de todos os vôos Paris/Brasil e Argentina/Natal, tendo em vista a relação profissional de Exupéry com as plagas pampas, e sequer foi encontrado um registro de voo do citado francês para Natal.
Como Exupéry estranharia uma árvore a qual estava acostumado a ver em abundância e em todas as nuanças na África?
Por que Exupéry baseou seu elefante num mero mapa do Rio Grande do Norte – com diferenças gritantes do desenho real de um elefante – se ele estava habituado a ver elefantes ao vivo e em cores, na África?
Atribuir os desenhos de falésias, dunas e estrelas existentes no livro a Natal é muita imaginação, considerando que Exupéry era acostumado a ver tal cenário por quilômetros a fio quando sobrevoava a África. De dia e de noite. Por outro ângulo, devemos entender – sem precisar se esforçar – que as estrelas do livro são óbvias ao contexto do desenho, pois ele retratou o planeta Terra com direito a céu. Por que tais estrelas, que existem no mundo inteiro, haveriam de ter sido inspiradas justamente nas de Natal/RN? O argumento “símbolo da cidade” é muito ingênuo. Ainda sobre céus e estrelas, o primeiro livro escrito por Exupéry, Correio Sul, é repleto de referências poéticas aos céus da África.
Sobre as palavras escritas pelo autor, no livro Cartas à sua mãe, “o resto da linha, uma maravilha”, Exupéry poderia ter feito a peripécia de, em voo para a Argentina, ter passado sobre Natal, pois é caminho. Mas isto não significa dizer que as linhas divisórias imaginárias retratassem um elefante passível de ser visto lá de cima.
Sobre o francês ter se hospedado na casa da dona Amelinha Machado – justamente encostada ao baobá – segundo o citado autor, e sobre todas essas suposições, fica uma lacuna incompreensível. Por que Luís da Câmara Cascudo, que registrou em livros sobre inúmeros viajantes brasileiros e estrangeiros ilustres que passaram em Natal, se esqueceu justamente de Exupéry?

TROCANDO SUPOSIÇÕES POR DOCUMENTOS

Fernando Hipólyto da Costa, Coronel-aviador, historiador e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, escreveu que certa vez um cidadão lhe perguntou se tinha sido Exupéry quem plantara o baobá da rua São José, em Lagoa Seca, Natal. Ele riu, pois não podia ser diferente.
Segundo ele, Exupéry nunca foi partícipe dessa fase dourada da aviação comercial francesa, no que se refere às travessias Dakar-Natal-Dakar (3.200 km em cada trecho), ocasiões em que os tripulantes enfrentavam condições meteorológica diversas, o capricho dos ventos alíseos, os frios das Madrugadas e a imensidão de céu e água em viagens que consumiam 15 a 20 horas de voo.
O historiador recomenda a leitura detalhada da publicação francesa “Répertoire des Traversés Aériennes De L’Atlantique Sud Par L’Aéropostale Et Air France (1930-1940)”, escrita por Perre Labrousse em Paris em 1974. O livro lista todas as travessias, as quais, acaso Exupéry tivesse feito, estariam ali evidenciadas. Hipólyto, chamando esse contexto mítico de “absurdidades”, diz: “Se tudo passa na vida, a História fica e ela não perdoa os que não lhe entendem a lição”.
No livro citado, é possível constatar 512 travessias (256 em cada sentido: Dakar-Natal ou Natal-Dakar), onde somente 4 não foram cumpridas, veja:
- Viagem 001-regresso, de 8 para 9 de julho de 1939. Motivo: amerrissagem forçada a 700 km de Dakar, em conseqüência de um vazamento de óleo de motor. Tripulantes e malotes do correio recolhidos pelo navio Phocée (“Aviso”). Foram voadas 14 horas a partir de Natal.
- Viagem 035-regresso, em 10 de fevereiro de 1936. Perdido no oceano depois de 7 horas de voo, na etapa Natal-Dakar. Perda total da aeronave e dos tripulantes, além de 1 passageiro.
- Viagem 074-ida, em 7 de dezembro de 1936. Motivo: Perdido no oceano depois de 3 horas e 57 minutos de voo. Perda total da aeronave e dos 5 tripulantes.
- Viagem 074-regresso. Não foi cumprida devido ao acidente constante na travessia anterior (074-ida). Seria a etapa Natal-Dakar.
A primeira travessia foi efetuada de 12 para 13 de maio de 1939, com o monomotor Late 28, matrícula F-AJNQ, sendo o primeiro voo realizado para o Brasil com malas postais. Apenas 3 tripulantes: Mermoz (piloto), Darby (navegador) e Gimié (radiotelegrafista).
A última (512, ou 256-refresso) ocorreu em 2 de julho de 1940, voando o F-AQCX de Natal para Dakar, com cinco tripulantes e tempo de voo de 15 horas e 51 minutos. A Air France suspendeu as atividades por se encontrar a Europa imersa na 2ª. Guerra Mundial.
O nome de Exupéry não consta nas relações de viagens. A empresa, que contava com treze aeronaves, destinava-se unicamente ao transporte de malas postais; em apenas dezenove travessias foram incluídos vinte e dois passageiros e esses somente viajaram com autorização expressa do presidente da companhia. E Exupéry não consta nessa relação.
O quadro de pessoal “aeronavegante”, na época pesquisada (1930-1940), compunha-se de dezessete comandantes, quarenta e um copilotos, 12 navegadores, dez radiotelegrafistas e 15 mecânicos; desse grupo de noventa e cinco tripulantes que operavam no Atlântico Sul, não é encontrado o nome de Exupéry.
O historiador Hipólyto pesquisou toda a documentação antiga referente a vôos de chegada e saída de Natal para outros países. E o nome de Exupéry não está entre os demais. Pesquisou também nos anais da Air France e informaram que ele nunca fez tal voo.
Interessante é o fato de Exupéry, enquanto escritor portador de uma verve literária de extrema sensibilidade, não ter registrado nada sobre Natal, acaso aqui tivesse colocado os pés. Concordam?
Diante desse quiprocó, por que insistem tanto se existem provas que ele nunca veio ao Rio Grande do Norte. Segundo o autor, a explicação é simples. Exupéry foi convidado pela Argentina a ocupar a gerência da Companhia Latécoère em Bueno Aires. Exupéry deixou a França viajando em navio de grande porte, chegando a capital portenha em outubro de 1929. Na ida o navio fez escala no Rio de Janeiro e Santos. No Rio ele teve algumas horas para conhecer a cidade, prosseguindo a viagem rumo a Argentina.
Regressando à França, após pouco mais de um ano, novamente por via marítima, Exupéry passou pelas mesmas localidades da ida. Tanto na vinda da Europa como no regresso para a França. Tanto na vinda de Europa como no regresso para a França, não ocorreu atracação no porto de Natal.
No livro “O caminho do avião”, de autoria de Luís da Câmara Cascudo, ele apresenta uma série de reportagens escritas de 1922 a 1933, acerca de 33 reides famosos com passagem para Natal. Por que o mestre da história do Rio Grande do Norte haveria de ter esquecido justamente de nome tão famoso e representativo? É lógico, ele não esqueceu, afinal Exupéry não esteve por aqui.
Os aviadores franceses também participaram das travessias aéreas do Atlântico Norte, existindo registros de 12 viagens de longa duração, consideradas “experimentais” e decorridas nos anos de 1938 e 1939.
As informações constam da publicação “La Ronde S’Arrête”, de autoria de George Bouchard, o qual tomou parte de todas as viagens.
Um registro importante na viagem n. 7 transcorrida de 7 a 10 de julho de 1939, Saint-Exupéry viajou como passageiro em aeronave de matrícula F-NORD, sob comando de Guillaumet, umas das “estrelas” da aviação francesa.
Regressou à França (viagem n. 8) deixando os Estados Unidos em 14 de julho de 1939, com a mesma tripulação e novamente na condição de passageiros.

E, AFINAL, QUEM FOI EXUPÉRY?

Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry, seu nome de batismo, tinha a aviação como fonte de ação heróica e novo tema literário: exalta a aventura com riscos de vida como suprema realização humana. Sua obra é o testemunho singular de um piloto de guerra com a alma de poeta.
Nasceu em Lyon, na França, em 29 de junho de 1900, oriundo de família aristocrática empobrecida. Obteve licença de piloto em 1922, no serviço, e quatro anos depois ingressou na aviação pela Latécoère. Ajudou a implantar rotas de correio aéreo na África, América do Sul e Atlântico Sul, além de ter sido pioneiro nos vôos Paris-Saigon e Nova York-Terra do Fogo. Nessa época, publicou seu primeiro livro Courrier-Sud (1929 – Correio Sul).
Exupéry soube aliar – e daí talvez a razão do seu permanente sucesso – a sensibilidade do artista a uma visão de mundo caracterizada pela autenticidade de quem só escreveu sobre o que de fato viveu. Permanentemente preocupado com os acontecimentos que o circundaram, seus livros refletem os problemas da sociedade e dos indivíduos de sua época. O despojamento do estilo, a narrativa direta, a linguagem depurada de tudo que não contribui para a expressão concreta e imediata do que o escritor deseja contar, estão a serviço de um objetivo presente na obra inteira de Exupéry: o de dignificar a condição humana, o de reivindicar a sua essencial liberdade, sem abrir mão da complexidade – não raro feita das mais dramáticas contradições – que a define.
Na década de 1930, trabalhou como piloto de provas, adido de publicidade para a Companhia Aérea Air-France e repórter do Paris-Soir. Nomeado diretor da Cia. Aeroposta Argentina, exerceu o cargo até 1931. Em seu segundo romance, Vol de nuit (1931 – Voo noturno), exaltou os primeiros pilotos comerciais, que enfrentavam a morte no cumprimento do dever. Registrou suas próprias aventuras em Terre dês hombres (1939 – Terra dos homens).
Em 1939, apesar das dificuldades físicas causadas por acidentes aéreos, serviu na aviação aliada. Com a queda da França em poder dos Nazistas, fugiu para os Estados Unidos. Ali, escreveu Lettre à um otage (1943 – Carta a um refém), exortação a unidade dos franceses, e Le petit prince (1943 – O pequeno príncipe), fábula infantil para adultos , traduzida no mundo inteiro. Seu pessimismo aparece em Citadelle (1948 – Cidadela), volume póstumo de reflexões, no qual expressa a convicção de que o homem deve ser repositório dos valores da civilização. Em 1943, voltou à força aérea no norte da África e morreu em missão, 31 de julho de 1944, participando de uma esquadrilha de bombardeiros da libertação da Sicília. Tendo ultrapassado o limite de idade para continuar pilotando, recebe a permissão para realizar mais cinco missões de reconhecimento. Numa delas desapareceu para sempre no mar.
Exupéry nunca se sujeitou à classificação de escritor profissional. De personalidade irriquieta, nada em sua formação (foi péssimo aluno) fazia crer que viesse a se tornar autor dos excepcionais livros que escreveu. Herói da segunda guerra mundial, dedicou todo o seu trabalho literário à defesa daquilo que o levou a morrer: a liberdade do homem.

CONCLUSÃO

Ficam aqui as provas de que Antoine de Saint-Exupéry esteve em Natal, sim, mas na imaginação fértil de tantos que preferem acreditar na “história da carochinha”, se pautando pelo hábito de dizer “foi fulano quem falou”, “ouvi dizer”, “dizem que” ou “o povo é quem diz”. Tal comportamento me recorda o depoimento de Rita Ribeiro, uma professora da UFMA, a qual, durante o lançamento do seu polêmico livro “Ana Jansen” – ocasião em que estive presente – informou à platéia que sofreu muitas críticas e até ameaças por ter revelado em seu livro a verdade sobre a referida personagem.
Nas suas pesquisas aprofundadas ela descobriu (com provas documentais) que figurões da história do Maranhão, com os seus nomes dados à diversas instituições, com direito a placas de bronze e enormes letreiros, foram verdadeiros crápulas. Nesse caso não me refiro a Exupéry, mas ao fato de existirem pessoas que, mesmo descobrindo a verdade, provada por documentos, preferem contar e recontar mentiras em livros e em palestras, prestando desserviço à história. Isso se agrava quando quem o faz muitas vezes atende ao adjetivo de “historiador ou “escritor”.
Ao apresentar as provas documentais, Hipólyto finalizou dizendo “E o tempo se encarrega de transmitir às novas gerações disparatados epílogos que não traduzem a realidade. De minha parte, posso afirmar à luz da História e com o apoio da documentação em meu poder, e ainda sem qualquer vacilação, que Antoine de Saint-Exupéry nunca esteve em Natal”.
Um fato bem curioso ocorreu em Natal, recentemente, quando o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, muito sensato e prudente, cancelou o projeto de colocar uma estátua do aviador francês na “Praça-do-pôr-do-sol” – que atendia sugestão justamente das pessoas que prestam desserviço à história -, as quais afirmavam que naquele lugar Exupéry costumava “assistir o crepúsculo vespertino sobre o rio Potengi”. Carlos Eduardo, com certeza constatou que, de todas as informações que dizem do Francês, ditas como passadas em Natal, nenhuma foi comprovada – nem com fotos – nem com escritos.



Bibl. Barsa, 2000, vol. 13; p.39/ Correio Sul, EXUPÉRY, Antoine de Saint, 198113ª ed. N. Fronteira/ Diário de Natal, 20.4.08 “Exupéry aqui? Impossível”/ FREIRE, L. Carlos, “Os baobás de Nísia Floresta”. 1999, 40 p. fl. dig./ Folhas avulsas de anos avariados.




BAOBÁS DE NÍSIA FLORESTA

A África é o berço dos baobás, árvore diferente por seu aspecto singular. Uns acham-na feia e esquisita, outros vêem-na como exótica, bela e atraente. Mas algo é certo, um baobá não passa despercebido .
Nativo das regiões tropicais da África, o baobá pode viver até dois mil anos. Também é conhecido por outros nomes. no Guiné-Bissau é fruta-pão-de-macaco, cabaceira, calabaceira; no Cabo Verde é embondeiro, imputeiro; em Moçambique é licondo; na Angola é melambeira e micondó; em São Tomé e Príncipe é molambeira; em Moçambique é molambo e na Angola é nebondo.
Etimologicamente falando, o “baobá” é vocábulo de origem latina: “baobab”, em francês e “bu-ibab”, em árabe.
O Rio Grande do Norte possui dezenas de baobás espalhados em pontos distintos, como Apodi, Macaíba, Natal e outros municípios, testemunhando um passado remotíssimo, quando as placas tectônicas do Continente Americano ainda não tinham se separado do Continente Africano, onde os baobás são tão abundantes como são para nós tantas espécies brasileiras comuns.
Poucas pessoas sabem, mas o município de Nísia Floresta possui dois baobás adultos, e até na década de 1970 possuia três exemplares. O maior está no centro da cidade, outro na Fazenda Mãe-Ia, no Sítio Floresta, exatamente na divisa com a estrada, na altura do distrito de Golandi. O terceiro baobá – extinto – ficava na entrada do município, no Conjunto Jessé Freire, num declive íngreme. Com o advento da terraplanagem e urbanização, a terra da sua base foi deslizando, facilitando seu tombamento, após uma forte chuva do meado de 1970. Se naquela época existisse um nível de consciência mais cidadão por parte das autoridades, teria-se feito um trabalho de recolocação da espécime, às custas de tratores e guindastes, pois boa parte de suas raízes permaneceram fincadas no solo. A preciosidade de tal exemplar permitiria tais esforços. Faltou apenas visão.
O baobá pertence à família das bombacáceas, cujo nome científico é Adansonia digitata. Possui tronco extremamente grosso, galhos curtos, folhas comestíveis e flores branco-róseas, cujo branco se sobressai. Na África sua madeira, mole e porosa, é usada para confecção de embarcações e na produção de fibras, cordas, papel e tecido. A árvore do centro de Nísia Floresta costuma florescer de janeiro a março. Segundo se percebeu em 2010, sua floração superou todas as anteriores, conforme observaram os mais idosos. Supostamente isso aconteceu em decorrência da forte temperatura desse ano, fenômeno este também nunca visto.
Não apenas o visual do baobá é diferente. Suas flores são singulares. Elas despencam de um talo de aproximadamente 20 cm e se abrem como se estivessem de cabeça para baixo.
O mesmo fenômeno da multiplicação das flores ocorreu com os frutos, pois nunca se viu tantos como em 2010. Os frutos têm o formato de cápsulas oblongas (parecida com o corpo de um pinguim) e pubescentes (semelhantes ao veludo). Dentro se formam uma espécie de fibra que produz bagas secas, comestíveis. Em Nísia Floresta ouvi depoimento de pessoas que fazem suco do pó que sai dessas fibras e, segundo dizem, é delicioso, adquirindo uma consistência leitosa com facilidade. O sabor, exótico, lembra o gosto do tamarindo.
O baobá de Nísia Floresta é tombado pela lei federal nº 4.771/65 e pela lei municipal nº 169/79. Consta em sua lateral uma placa informando que o exemplar foi plantado por um cidadão chamado Manoel de Moura Júnior, no ano de 1877. Acredito que isso seja pura pretensão, tendo em vista que a árvore é muito mais antiga do que informa a ingênua placa, conforme podemos constatar lendo mais aprofundadamente sobre tal espécie, a qual necessita de mais tempo de vida para ter o diâmetro e a altura atuais. O próprio Câmara Cascudo levantou essa questão, a qual acho muito pertinente. O conteúdo da placa soa mais como uma lenda, dentre tantas que povoam o imaginário popular.

FANTASIAS CONTADAS POR NATALENSES QUE SONHAM DEMAIS

Diógenes, em sua Natal Biografia de Uma Cidade, p. 278 a 279 diz que Antoine de Saint-Exupéry esteve na América do Sul, entre outubro de 1929 a janeiro de 1931, trabalhando para a Lattécoère como diretor da subsidiária Cia. Aeroposta Argentina. E diz que Pery Lamartine registrou a sua presença:
“Como diretor e também aviador profissional, ele tinha um avião à sua dsiposição para fazer visitas a todas as bases de linha. Natal era uma das principais, pois aqui se faziam a baldeação das malas postais entre os navios (avisos) e os aviões e vice-versa. Assim sendo, Natal hospedava constantemente tripulações completas para substituir os pilotos da escala de voo. Essas tripulações conviviam cordialmente com a sociedade natalense, a exemplo de Jean Mermoz, que deixou aqui uma lembrança.”
Segundo o autor, Rocco Rosso, encarregado do setor de rádio e comunicação da Lattécoère, bateu fotos do escritor herói em Natal. Diga-se de passagem, tais fotos são desconhecidas pelos os historiadores. D. Amelinha Machado (viúva Machado), dona Nati Cortez e dona Nair Tinoco confirmam a importância da presença. Dona Nair lembra, em Outras recordações, as suas subidas à torre da matriz para apreciar o por-do-sol. Nilo Pereira foi-lhe apresentado por Jean Mermoz.
Diz ainda, o autor, que o escritor José Rafael de Menezes, em seu Amizades Bibliográficas, que não havendo tempestades nas costas nacionais, beber água de coco não seria tema de grandes manifestações literárias para o piloto, que se alternava entre duas paisagens: o deserto e as montanhas. Rafael fala da “poética valorização do ser humano” e destaca: “O maior deles na década de 40, Antoine de Saint-Exupéry”. José Rafael registra ainda que “somente os colegas oriundos de Natal exibiam um autógrafo com o retrato do homem”. Alguém já viu uma cópia desse retrato em algum livro?
As mentes férteis comentam que foi em Natal que Exupéry fez os desenhos de O pequeno príncipe, seu livro mais famoso, lançado em Nova Iorque, em 1943. Diz-se que o francês viu com estranheza o baobá da rua São José, em Natal. Haja imaginação! Exupéry já se fartara de ver baobás na África tão conhecida por ele, inclusive era rota de voo.
Há até quem pontue tópicos para reforçar a lenda. Leiamos os mesmos, na visão de Diógenes:
- O aviador hospedou-se na casa de dona Amelinha Machado, proprietária do terreno onde está o baobá;
- Há depoimentos que Exupéry teria declarado que o por do sol do Potengi é o mais lindo do mundo.
- O elefante, um dos desenhos do livro, é o símbolo do Rio Grande do Norte (a semelhança com o mapa do estado é sempre estilizado).
- Há desenhos de falésias, de dunas e de estrelas, que é o símbolo da cidade de Natal;
- No livro póstumo Cartas à sua mãe, há um trecho onde Exupéry diz que “Dacar é bem feia, mas o resto da linha, uma maravilha”. O resto da linha começava em Natal.
É prudente analisarmos uma série de detalhes, tanto dos tópicos acima quanto do contexto da época.
Fernando Hipólyto da Costa, um historiador respeitado, fez um levantamento de época, de todos os vôos Paris/Brasil e Argentina/Natal, tendo em vista a relação profissional de Exupéry com as plagas pampas, e sequer foi encontrado um registro de voo do citado francês para Natal.
Como Exupéry estranharia uma árvore a qual estava acostumado a ver em abundância e em todas as nuanças na África?
Por que Exupéry baseou seu elefante num mero mapa do Rio Grande do Norte – com diferenças gritantes do desenho real de um elefante – se ele estava habituado a ver elefantes ao vivo e em cores, na África?
Atribuir os desenhos de falésias, dunas e estrelas existentes no livro a Natal é muita imaginação, considerando que Exupéry era acostumado a ver tal cenário por quilômetros a fio quando sobrevoava a África. De dia e de noite. Por outro ângulo, devemos entender – sem precisar se esforçar – que as estrelas do livro são óbvias ao contexto do desenho, pois ele retratou o planeta Terra com direito a céu. Por que tais estrelas, que existem no mundo inteiro, haveriam de ter sido inspiradas justamente nas de Natal/RN? O argumento “símbolo da cidade” é muito ingênuo. Ainda sobre céus e estrelas, o primeiro livro escrito por Exupéry, Correio Sul, é repleto de referências poéticas aos céus da África.
Sobre as palavras escritas pelo autor, no livro Cartas à sua mãe, “o resto da linha, uma maravilha”, Exupéry poderia ter feito a peripécia de, em voo para a Argentina, ter passado sobre Natal, pois é caminho. Mas isto não significa dizer que as linhas divisórias imaginárias retratassem um elefante passível de ser visto lá de cima.
Sobre o francês ter se hospedado na casa da dona Amelinha Machado – justamente encostada ao baobá – segundo o citado autor, e sobre todas essas suposições, fica uma lacuna incompreensível. Por que Luís da Câmara Cascudo, que registrou em livros sobre inúmeros viajantes brasileiros e estrangeiros ilustres que passaram em Natal, se esqueceu justamente de Exupéry?

TROCANDO SUPOSIÇÕES POR DOCUMENTOS

Fernando Hipólyto da Costa, Coronel-aviador, historiador e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, escreveu que certa vez um cidadão lhe perguntou se tinha sido Exupéry quem plantara o baobá da rua São José, em Lagoa Seca, Natal. Ele riu, pois não podia ser diferente.
Segundo ele, Exupéry nunca foi partícipe dessa fase dourada da aviação comercial francesa, no que se refere às travessias Dakar-Natal-Dakar (3.200 km em cada trecho), ocasiões em que os tripulantes enfrentavam condições meteorológica diversas, o capricho dos ventos alíseos, os frios das Madrugadas e a imensidão de céu e água em viagens que consumiam 15 a 20 horas de voo.
O historiador recomenda a leitura detalhada da publicação francesa “Répertoire des Traversés Aériennes De L’Atlantique Sud Par L’Aéropostale Et Air France (1930-1940)”, escrita por Perre Labrousse em Paris em 1974. O livro lista todas as travessias, as quais, acaso Exupéry tivesse feito, estariam ali evidenciadas. Hipólyto, chamando esse contexto mítico de “absurdidades”, diz: “Se tudo passa na vida, a História fica e ela não perdoa os que não lhe entendem a lição”.
No livro citado, é possível constatar 512 travessias (256 em cada sentido: Dakar-Natal ou Natal-Dakar), onde somente 4 não foram cumpridas, veja:
- Viagem 001-regresso, de 8 para 9 de julho de 1939. Motivo: amerrissagem forçada a 700 km de Dakar, em conseqüência de um vazamento de óleo de motor. Tripulantes e malotes do correio recolhidos pelo navio Phocée (“Aviso”). Foram voadas 14 horas a partir de Natal.
- Viagem 035-regresso, em 10 de fevereiro de 1936. Perdido no oceano depois de 7 horas de voo, na etapa Natal-Dakar. Perda total da aeronave e dos tripulantes, além de 1 passageiro.
- Viagem 074-ida, em 7 de dezembro de 1936. Motivo: Perdido no oceano depois de 3 horas e 57 minutos de voo. Perda total da aeronave e dos 5 tripulantes.
- Viagem 074-regresso. Não foi cumprida devido ao acidente constante na travessia anterior (074-ida). Seria a etapa Natal-Dakar.
A primeira travessia foi efetuada de 12 para 13 de maio de 1939, com o monomotor Late 28, matrícula F-AJNQ, sendo o primeiro voo realizado para o Brasil com malas postais. Apenas 3 tripulantes: Mermoz (piloto), Darby (navegador) e Gimié (radiotelegrafista).
A última (512, ou 256-refresso) ocorreu em 2 de julho de 1940, voando o F-AQCX de Natal para Dakar, com cinco tripulantes e tempo de voo de 15 horas e 51 minutos. A Air France suspendeu as atividades por se encontrar a Europa imersa na 2ª. Guerra Mundial.
O nome de Exupéry não consta nas relações de viagens. A empresa, que contava com treze aeronaves, destinava-se unicamente ao transporte de malas postais; em apenas dezenove travessias foram incluídos vinte e dois passageiros e esses somente viajaram com autorização expressa do presidente da companhia. E Exupéry não consta nessa relação.
O quadro de pessoal “aeronavegante”, na época pesquisada (1930-1940), compunha-se de dezessete comandantes, quarenta e um copilotos, 12 navegadores, dez radiotelegrafistas e 15 mecânicos; desse grupo de noventa e cinco tripulantes que operavam no Atlântico Sul, não é encontrado o nome de Exupéry.
O historiador Hipólyto pesquisou toda a documentação antiga referente a vôos de chegada e saída de Natal para outros países. E o nome de Exupéry não está entre os demais. Pesquisou também nos anais da Air France e informaram que ele nunca fez tal voo.
Interessante é o fato de Exupéry, enquanto escritor portador de uma verve literária de extrema sensibilidade, não ter registrado nada sobre Natal, acaso aqui tivesse colocado os pés. Concordam?
Diante desse quiprocó, por que insistem tanto se existem provas que ele nunca veio ao Rio Grande do Norte. Segundo o autor, a explicação é simples. Exupéry foi convidado pela Argentina a ocupar a gerência da Companhia Latécoère em Bueno Aires. Exupéry deixou a França viajando em navio de grande porte, chegando a capital portenha em outubro de 1929. Na ida o navio fez escala no Rio de Janeiro e Santos. No Rio ele teve algumas horas para conhecer a cidade, prosseguindo a viagem rumo a Argentina.
Regressando à França, após pouco mais de um ano, novamente por via marítima, Exupéry passou pelas mesmas localidades da ida. Tanto na vinda da Europa como no regresso para a França. Tanto na vinda de Europa como no regresso para a França, não ocorreu atracação no porto de Natal.
No livro “O caminho do avião”, de autoria de Luís da Câmara Cascudo, ele apresenta uma série de reportagens escritas de 1922 a 1933, acerca de 33 reides famosos com passagem para Natal. Por que o mestre da história do Rio Grande do Norte haveria de ter esquecido justamente de nome tão famoso e representativo? É lógico, ele não esqueceu, afinal Exupéry não esteve por aqui.
Os aviadores franceses também participaram das travessias aéreas do Atlântico Norte, existindo registros de 12 viagens de longa duração, consideradas “experimentais” e decorridas nos anos de 1938 e 1939.
As informações constam da publicação “La Ronde S’Arrête”, de autoria de George Bouchard, o qual tomou parte de todas as viagens.
Um registro importante na viagem n. 7 transcorrida de 7 a 10 de julho de 1939, Saint-Exupéry viajou como passageiro em aeronave de matrícula F-NORD, sob comando de Guillaumet, umas das “estrelas” da aviação francesa.
Regressou à França (viagem n. 8) deixando os Estados Unidos em 14 de julho de 1939, com a mesma tripulação e novamente na condição de passageiros.

E, AFINAL, QUEM FOI EXUPÉRY?

Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry, seu nome de batismo, tinha a aviação como fonte de ação heróica e novo tema literário: exalta a aventura com riscos de vida como suprema realização humana. Sua obra é o testemunho singular de um piloto de guerra com a alma de poeta.
Nasceu em Lyon, na França, em 29 de junho de 1900, oriundo de família aristocrática empobrecida. Obteve licença de piloto em 1922, no serviço, e quatro anos depois ingressou na aviação pela Latécoère. Ajudou a implantar rotas de correio aéreo na África, América do Sul e Atlântico Sul, além de ter sido pioneiro nos vôos Paris-Saigon e Nova York-Terra do Fogo. Nessa época, publicou seu primeiro livro Courrier-Sud (1929 – Correio Sul).
Exupéry soube aliar – e daí talvez a razão do seu permanente sucesso – a sensibilidade do artista a uma visão de mundo caracterizada pela autenticidade de quem só escreveu sobre o que de fato viveu. Permanentemente preocupado com os acontecimentos que o circundaram, seus livros refletem os problemas da sociedade e dos indivíduos de sua época. O despojamento do estilo, a narrativa direta, a linguagem depurada de tudo que não contribui para a expressão concreta e imediata do que o escritor deseja contar, estão a serviço de um objetivo presente na obra inteira de Exupéry: o de dignificar a condição humana, o de reivindicar a sua essencial liberdade, sem abrir mão da complexidade – não raro feita das mais dramáticas contradições – que a define.
Na década de 1930, trabalhou como piloto de provas, adido de publicidade para a Companhia Aérea Air-France e repórter do Paris-Soir. Nomeado diretor da Cia. Aeroposta Argentina, exerceu o cargo até 1931. Em seu segundo romance, Vol de nuit (1931 – Voo noturno), exaltou os primeiros pilotos comerciais, que enfrentavam a morte no cumprimento do dever. Registrou suas próprias aventuras em Terre dês hombres (1939 – Terra dos homens).
Em 1939, apesar das dificuldades físicas causadas por acidentes aéreos, serviu na aviação aliada. Com a queda da França em poder dos Nazistas, fugiu para os Estados Unidos. Ali, escreveu Lettre à um otage (1943 – Carta a um refém), exortação a unidade dos franceses, e Le petit prince (1943 – O pequeno príncipe), fábula infantil para adultos , traduzida no mundo inteiro. Seu pessimismo aparece em Citadelle (1948 – Cidadela), volume póstumo de reflexões, no qual expressa a convicção de que o homem deve ser repositório dos valores da civilização. Em 1943, voltou à força aérea no norte da África e morreu em missão, 31 de julho de 1944, participando de uma esquadrilha de bombardeiros da libertação da Sicília. Tendo ultrapassado o limite de idade para continuar pilotando, recebe a permissão para realizar mais cinco missões de reconhecimento. Numa delas desapareceu para sempre no mar.
Exupéry nunca se sujeitou à classificação de escritor profissional. De personalidade irriquieta, nada em sua formação (foi péssimo aluno) fazia crer que viesse a se tornar autor dos excepcionais livros que escreveu. Herói da segunda guerra mundial, dedicou todo o seu trabalho literário à defesa daquilo que o levou a morrer: a liberdade do homem.

CONCLUSÃO

Ficam aqui as provas de que Antoine de Saint-Exupéry esteve em Natal, sim, mas na imaginação fértil de tantos que preferem acreditar na “história da carochinha”, se pautando pelo hábito de dizer “foi fulano quem falou”, “ouvi dizer”, “dizem que” ou “o povo é quem diz”. Tal comportamento me recorda o depoimento de Rita Ribeiro, uma professora da UFMA, a qual, durante o lançamento do seu polêmico livro “Ana Jansen” – ocasião em que estive presente – informou à platéia que sofreu muitas críticas e até ameaças por ter revelado em seu livro a verdade sobre a referida personagem.
Nas suas pesquisas aprofundadas ela descobriu (com provas documentais) que figurões da história do Maranhão, com os seus nomes dados à diversas instituições, com direito a placas de bronze e enormes letreiros, foram verdadeiros crápulas. Nesse caso não me refiro a Exupéry, mas ao fato de existirem pessoas que, mesmo descobrindo a verdade, provada por documentos, preferem contar e recontar mentiras em livros e em palestras, prestando desserviço à história. Isso se agrava quando quem o faz muitas vezes atende ao adjetivo de “historiador ou “escritor”.
Ao apresentar as provas documentais, Hipólyto finalizou dizendo “E o tempo se encarrega de transmitir às novas gerações disparatados epílogos que não traduzem a realidade. De minha parte, posso afirmar à luz da História e com o apoio da documentação em meu poder, e ainda sem qualquer vacilação, que Antoine de Saint-Exupéry nunca esteve em Natal”.
Um fato bem curioso ocorreu em Natal, recentemente, quando o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, muito sensato e prudente, cancelou o projeto de colocar uma estátua do aviador francês na “Praça-do-pôr-do-sol” – que atendia sugestão justamente das pessoas que prestam desserviço à história -, as quais afirmavam que naquele lugar Exupéry costumava “assistir o crepúsculo vespertino sobre o rio Potengi”. Carlos Eduardo, com certeza constatou que, de todas as informações que dizem do Francês, ditas como passadas em Natal, nenhuma foi comprovada – nem com fotos – nem com escritos.

Referências:

- BARSA, Enciclopédia 2000, vol. 13; p.3

- EXUPÉRY, Antoine de Saint. Correio Sul, 1981, 13ª ed. N. Fronteira
- Diário de Natal, 20.4.2008 “Exupéry aqui? Impossível
- FREIRE, L. Carlos, “Os baobás de Nísia Floresta”. 1999, 40 p. fl. dig./ Folhas avulsas de anos avariados.












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