127 ANOS DA MORTE DE NÍSIA FLORESTA
Hoje
fazem 127 anos que o solo gelado e pedregoso de Rouen acomodou a esquife que
conservou intacto o corpo de Nísia Floresta até 1954, ano em que foi trasladado
para o Brasil.
Calou-se
uma filósofa que fez o mundo pensar e incomodou principalmente o sistema
político brasileiro.
Depois
dela houve um grande silêncio e demorou muito para que outras mulheres - e
homens - proclamassem ideias similares às dela. Ideias simples, mas por estarem
a frente do tempo, soaram escabrosas, rendendo-lhe rótulos depreciativos,
principalmente no Rio de janeiro, onde ela mais atuou.
Calou-se a voz que ...
*
defendeu a educação brasileira,
*
desmistificou a imagem preconceituosa do Brasil propagada por viajantes europeus
na Europa,
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Condenou a escravidão muito antes de a Princesa Isabel nascer;
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Criticou o monopólio estrangeiro no Brasil;
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Condenou o autoritarismo do Governo Imperial;
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Enalteceu revolucionários brasileiros,
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Mostrou um índio real, diferente dos propalados pela literatura brasileira e
por viajantes estrangeiros que por aqui passavam;
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Afrontou o governo brasileiro, pedindo-lhe a criação de leis que dessem às
mulheres os mesmos direitos dados aos homens;
*
Conclamou o povo brasileiro a pedir a mudança do regime monárquico para o
regime presidencial;
*
Defendeu a liberdade de culto;
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Defendeu a liberdade de expressão;
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Defendeu a federação das províncias, enfim falou o que bem quis e – inexplicavelmente
– passou meio “despercebida” às guilhotinas e forcas tão comuns.
Tantos
anos se passaram e, inacreditavelmente, a norte-riograndense corajosa que se
calou – parece não ter inspirado muitas pessoas em sua própria terra, pois, em
pleno século XXI, muitas das causas defendidas por ela permanecem silenciadas,
inclusive por autoridades detentoras dos mecanismos capazes de promover o que
ela tanto defendeu.
Muitos
permanecem em silêncio.
Silêncio
covarde.
Silêncio
triste e vergonhoso.
Silêncio
permissivo.
Muitos
se calam para não desagradar alguém, para não ver um membro da família perder
um empreguinho submisso aos grilhões invisíveis.
Muitos
se calam para não ficar de fora de um esquema que favorece apenas os
aficionados.
Muitos
se calam por ainda não terem se libertado de uma cultura asquerosa que as fazem
temer aos que estão no poder.
Esquecem
essas pessoas que esse silêncio está dizendo alto em bom tom o seguinte:
“Sou
alienado.
Não
tenho personalidade.
Não
tenho caráter.
Vejo
a miséria acometendo meus conterrâneos, mas finjo que não vejo.
Calo-me
quando deveria gritar.
Elogio
os crápulas e os coloco nos mais altos patamares, mesmo sabendo que não são
merecedores, mas o faço para garantir meu lugar junto à mesa do rei.
Fujo
das pessoas que fazem igual ao que fez Nísia Floresta, pois pensarão que sou
igual a elas.
Desprezo
Nísia Floresta, pois ela lutou pela cidadania e eu apenas finjo ser um cidadão.
No
meu íntimo sou um covarde.
Sou
um ser desprezível.”
Como
fazem falta as ideias de Nísia Floresta na sua própria terra.
Que
pena que quase um século e meio depois ainda sobreviva esse comportamento “dinossáurico”
fossilizado na mentalidade de muitos.
Mas algo é implacável: vale a pena resistir! Nísia Floresta é um grande exemplo a ser seguido!
Parabéns Nísia Floresta e obrigado por ser esse sol gigantesco sobre a cidade em que você nasceu. Pena que uma camada gigantesca de história deturpada impeça que seus raios cheguem a muitos de seus próprios conterrâneos.
Obrigado Nísia Floresta! Luis Carlos Freire - 24 de abril de 2012
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