Apesar
de anos de pesquisa não encontrei nada de substancial sobre o
Engenho Pavilhão. Conheci-o em 1992, vislumbrando explorá-lo no
documentário sobre Nísia Floresta Brasileira Augusta (ela nasceria
ali). À ocasião falei apenas com os funcionários, os quais eram de
outra cidade e nada sabiam.
Câmara
Cascudo conta-nos que até os fins do século XIX o Vale do Capió
era berço de casarões esplêndidos, onde ocorriam bailes e festas
imponentes, aos sons de modinhas de piano ao vivo e a famosa banda do
mestre Bethlein. Ele não cita o Descanso, mas o Pavilhão. Isso
pode causar estranhamento no leitor, afinal a Casa Grande do Descanso
era única. Sua arquitetura destoava de tudo o que existia nas
imediações. Não há como compará-lo à casa que hoje se vê no
Pavilhão, mas vamos as explicações. Na realidade ele se referiu a diversos casarões que antes se espraiavam na área do Capió, inclusive precisamos tentar dirimir a geografia atual para entender. Um desses engenhos era o da família Oliveira, que ficava exatamente onde hoje se situa a atual Prefeitura Municipal. Havia outro nos fundos do restaurante Gâmberi, pertencente a família Sousa, onde nasceu o ex-governador Antonio de Sousa (nesse mesmo blog você pode encontrar interessantes informações sobre ele).
A
casa atual do Engenho Pavilhão (como se vê na fotografia) não é a
casa referida por Cascudo, pois foi demolida. Contou-me o Sr. Pedro
de Araújo (in memorian), neto do Coronel José de Araújo, que era
um casarão de extrema beleza. "Eu ia com papai no Pavilhão e
via o casarão, já estava ficando feio, mas só pela pintura. Era
muito bonito, quase do tamanho do Descanso", depois eles
demoliram". A casa atual traz no seu frontão o ano de 1937,
certamente quando foi construída.
O
Engenho Pavilhão pertencia a Trajano Leocádio de Medeiros Murta,
inclusive a leitura que fiz se refere não exatamente ao Pavilhão,
mas a esse personagem de certo destaque na história potiguar,
inclusive foi vereador em São José de Mipibu.
Um
detalhe curioso diz respeito a morte de um de seus filhos quando
criança. O enterro chamou a atenção dos paparienses, pois ele
mandou fazer uma charola (espécie de andor) e a criança foi
colocada em pé. Ele mandou enfeitá-la como se fosse um anjo e o
vestiu com um chambre de renda. Desse modo o enterro percorreu as
principais ruas da cidade, deixando todos perplexos.
Engenho Pavilhão em 2003, última vez que o visitei. Na fotografia aparecem Marcos Moura Freire (meu primo) e Fídias Freire (meu filho) |
Conversando
com o Sr. Isaac Newton de Carvalho, em 2008, ele disse-me que o
Engenho Pavilhão, no que ser refere ao período que se encontra nas
mãos de sua família, não há notícias de documentos ou
fotografias que tragam alguma informação significativa. Tudo o que
se sabe vem de boca, dito pelos mais velhos. Sabe "de ouvir
dizer".
Contou-me
que "Naquela época as pessoas não se importavam em escrever,
em fazer fotografias... era algo difícil. Tanto eu quanto os meus
irmãos não sabemos nada sobre o Pavilhão".
O
sr. Newton, como é mais conhecido, nasceu aos 9 de outubro de 1940.
É filho de Lourival de Carvalho (nascido em 1913) e neto de Joaquim
Januário de Carvalho (provavelmente falecido em 1939, segundo o sr.
Newton). "Quando eu nasci, vovô já havia morrido, morreu bem
velho, inclusive foi desses que foram tentar a vida no Amazonas. Foi
lá que ele conheceu minha avó Maria Mércia de Carvalho e a trouxe
para cá. Mamãe contava que ele mandava comprar ferramentas e coisas
de fazenda na loja 'Galvão Mesquita', na Ribeira", explicou-me.
O
sr. Lourival foi homenageado pelo ex-prefeito George Ney Ferreira em
sua primeira gestão. Houve a instalação de um busto na Praça dos
Velhos, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Curiosamente
a peça foi retirada na gestão da ex-prefeita Camila Ferreira,
sobrinha de George Ney.
Segundo
o Sr. Newton, o busto foi deixado numa secretaria, como sucata, mas
alguns populares o avisaram e ele o retirou e o guardou no Pavilhão.
Desconheço
os méritos do Sr. Lourival no que se refere a ser contemplado com um
busto na praça, mas, desde que houve a homenagem, a atitude de
"desomenageá-lo" soa como desrespeito à sua memória.
Creio que os louros venham do fato de ele ter sido um antigo morador
e colaborado com o desenvolvimento do município enquanto gerador de
emprego em sua propriedade, fato significativo num lugar sem
perspectiva alguma até pouco tempo. Isso é suposição minha, pois
nunca procurei saber a razão da homenagem. Fica
aqui essa acanhada contribuição sobre o Engenho Pavilhão,
aguardando outras informações.
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