Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, Rio Grande do Norte. |
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó pertence à Arquidiocese de Natal e está erguida em Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, no mesmo local que existiu a capela de taipa e palha que abrigava a imagem de “Nossa Senhora Pequena”, quando teve início os seu arruado, nos idos de 1703. A Matriz atual teve sua construção iniciada em 1735, e concluída em 1755. A paróquia foi criada em 29 de agosto de 1833.
Na década de 1993 o padre João Batista Chaves
da Rocha localizou um manuscrito, original, datado do início do século XIX,
informando exatamente que a sua construção teve início em 1735, e conclusão em
1755.
Sabe-se que, de fato, a conclusão desse belo
templo ocorreu lentamente, levando em conta as condições socioeconômicas dos
habitantes da vilas, principalmente por tratar-se de uma obra desafiadora,
levaria em boa parte de suas paredes e ornamentos, e em muitas de suas imagens,
folheamento em ouro original. Na realidade, a complementação de seu conjunto
permaneceu ocorrendo até muito tempo depois.
Na administração do Cônego
Rui Miranda houve uma grande reforma, mas a maior delas ocorreu sob os cuidados
do Padre João Batista Chaves da Rocha, a partir de 1993, cujo templo ameaçava desabar.
Nessa reforma houve um trabalho minucioso de restauração das características originais.
Foram evidenciados detalhes, em ouro, cobertos por sucessivas demãos de tintas,
ocorridos ao longo de séculos, tanto nos entalhes ornamentais quanto nas peças
sacras em madeira.
Durante tal reforma houve
uma descoberta que surpreendeu a todos, principalmente os mais antigos. Os
pilares que sustentam a estrutura em madeira, na qual ficam os equipamentos
musicais, tidos, durante séculos como sendo de alvenaria, mas eram de madeira.
Cada um é uma peça inteiriça de uma árvore, totalmente trabalhada a mão. A
propósito dessa referência, o mesmo ocorre com a estrutura do forro, sustentada
por gigantescos troncos de madeira trabalhados à mão, somando mais de
quinhentos anos de idade, tendo em vista que, para uma árvore adquirir tal
diâmetro, deve ter mais de trezentos anos quando foi arrancada das matas. Essa
datação soma a idade que a árvore tinha (quando derrubada) com a idade atual da
igreja. Ou seja, o templo é uma aula de História.
A
referida Matriz, em estilo barroco moderno, abriga diversas imagens de madeira,
dos séculos XVIII e XIX, folheadas a ouro, além de outras de menor valor
artístico, inclusive algumas em gesso, mas nem por isso sem importância
histórica.
Trata-se
de uma das únicas - se não for a única - com maior acervo de indumentárias e
acessórios clericais. São peças raras, de grande beleza, guardadas numa imensa
cômoda do século XVIII, aliás na sacristia há um mobiliário em madeira de lei
que por si é um museu, piso de azulejo hidráulico, escultura em pedra-sabão
feita pelo pai de Nísia Floresta, sob um lavabo atualmente em desuso. Vale
ressaltar algumas flâmulas e bandeiras com o topônimo original do município
“Papary” e uma obra de arte de autoria anônima, pintada em tecido, em tamanho
natural de um homem, onde está pintado Jesus Cristo.
O
templo possui sótãos com acesso às torres, sendo uma delas com um imenso sino
do século XIX, de procedência pernambucana. Na realidade eram três, mas os
demais, (menores) se despedaçaram ao longo do tempo, restando apenas
fragmentos. Trata-se de uma construção erigida inteiramente de pedras, barro,
fragmentos de conchas do mar, sangue de baleia e cinza.
Dentre
as peças de madeira, destaca-se um grande sacrário entalhado em cedro com
belíssimos ornamentos, destacando a imagem de uma custódia. Todos os ornamentos
dessa rara peça são folheados a ouro verdadeiro, destacando por dentro uma
única folha verdadeira em ouro puro. Tão singular que parece artificial.
Esse
sacrário foi restaurado em Recife, no início da década de 90, sob os cuidados
do padre João Batista Chaves da Rocha, ocasião em que a Matriz passou por sua
maior restauração. A referida peça é
acompanhada de uma chave de prata, original, que também foi restaurada, pois à
época apresentava problemas em sua fechadura. A peça foi fabricada
artesanalmente, assim como todo o conjunto que compõe o altar-mor, consistindo
em nichos e uma série de ornamentos em cedro folheados a ouro verdadeiro.
No
altar-mor, situado na nave central, está construída a maior estrutura em madeira
entalhada de todo o templo. Sobressai a imagem de Nossa Senhora do Ó e São
José, ladeados por três castiçais. No centro fica o sacrário, e acima dele está
disposto um crucifixo grande. São seis imensos nichos que abrigam belíssimas
imagens banhadas a ouro sendo do lado direito: São Roque (abaixo), e Santo
Estevão (acima). E do lado esquerdo: Nossa Senhora das Dores (abaixo) e São
Benedito (acima). Tudo do século XVIII.
Originalmente,
tudo o que reluz na Matriz é de ouro verdadeiro. Defronte ao altar-mor, num
degrau abaixo, estão instalados dois imensos altares de madeira cedro, em ambos
os lados, na mesma nave central, curvados para o altar-mor, dando significado à
centralidade da igreja. Esses altares emolduram o altar-mor. Nele estão dispostos, no lado direito, a
imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, também chamada de Nossa Senhora
do Rosário dos Pretos, considerando a devoção dos antigos escravos que tinham
uma das laterais da matriz reservada para eles. E do lado esquerdo tem-se o Bom
Jesus dos Martírios, com vários elementos que compõem o martírio de Jesus:
escada, galo, coroa, báculo e outros acessórios.
A
Matriz também conta com outras imagens do século XVIII, e que ficam em outras
dependências, como por exemplo, “Nossa Senhora do Ó Pequena”, peça brasileira,
existente desde a época que antecedeu a construção da Matriz, quando era uma
capela. A tradição oral conta que ela foi feita pelos indígenas, cujo recorte
mongol dos olhos e o cabelo revelam características dos povos originários, “Bom
Jesus dos Passos”, uma imagem em que Jesus carrega uma cruz sobre as costas.
Essa obra de Arte sai em procissão ao lado de “Nossa Senhora das Dores”. Outra
peça significativa, de época, é o Senhor Morto, que fica guardado num dos
altares laterais da Matriz, dentro de uma urna. DESTACO QUE A MATRIZ CONTA COM
UM RELICÁRIO EM OURO E PRATA MACIÇOS, PERMEADA DE ORNAMENTOS EM ALTO E BAIXO
RELEVOS. PEÇA DE INCALCULÁVEL VALOR. UMA DAS MAIS BELAS DA MATRIZ.
Outro
elemento de grande destaque na Matriz é o “lampadário em prata maciça”, com
quase 10 quilos, suspenso por correntes de prata que são conectadas à peça
maior e pode ser desconectada para o polimento.
A
localidade onde se formou a cidade de Nísia Floresta fazia parte da doação de
terra feita pelo 2º capitão-mor do Rio Grande do Norte, Jerônimo de
Albuquerque, no dia 8 de março de 1610, e cujos beneficiários foram João
Pereira e Miguel Pereira. A doação, no rio Capió, tomou o nº 144 (FILHO, 1989).
O brabantino Adriano Verdonck, espião a serviço dos holandeses, em 1630, fazia
menção à aldeia do Mopobu, muito refereida pelos cronistas que descreveram o
período do domínio holandês (1630-1654) e a Guerra dos Bárbaros, ou o levante
do gentio tapuia (1683-1720).
Desde
o ano de 1689 já existia uma capela em Papary, local da primeira aldeia de
Mipibu. Em 1703, o desembargador Cristóvão Soares Reymão providenciou a
demarcação das terras dos índios da aldeia de Mipibu, onde já se encontrava a
Capela de Nossa Senhora do Ó da Missão de Mipibu (do Papary, ou da Ribeira de
Mipibu), mas obviamente que era uma capela de material frágil, como taipa e
palha. Padres pertencentes ao clero secular cuidavam dos indígenas ali
aldeados.
Em
1740, a Aldeia de Mipibu foi transferida para local distanciado de Papary, onde
hoje encontra-se a cidade de São José de Mipibu. Papary, onde funcionava a
velha Aldeia Mipibu, passou a receber a denominação de Povoação de Papary.
A
primeira Capela de Nossa Senhora do Ó de Papary, evoluiu para a atual Matriz de
Nísia Floresta, que ainda mantém o mesmo orago principal. O historiador Câmara
Cascudo, também afirma que o templo de Nísia Floresta foi concluído em 1755 com
a ajuda dos Capuchinhos residentes em São José de Mipibu. Essa informação de
Cascudo bate com um manuscrito encontrado pelo padre João Batista Chaves da
Rocha, na década de 90. Refiro-me ao detalhe acima mencionado, quando foi
localizado um manuscrito em que um sacerdote escreveu a informação dando conta
que a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó se deu no período entre
1735 a 1755. A freguesia de Nossa
Senhora do Ó data de 1833.
A
igreja é um prédio de grandes proporções, desenvolvido em dois pavimentos e
constituído de capela-mor, naves central e laterais, galerias superiores, coro,
nave torres, sacristia, pia batismal, além de uma gruta onde encontra-se a
imagem de Nossa Senhora de Lourdes. A gruta foi elaborada defronte ao
batistério, onde primitivamente existia uma máquina movida a carbureto, que
fornecia energia ao templo.
Desde
a conclusão das obras, a Igreja de Nossa Senhora do Ó não sofreu modificações
significativas, sendo beneficiada apenas com obras de conservação. O sino
principal da igreja veio de Pernambuco, no ano de 1831 e foi instalado na torre
direita, exatamente na envasadura frontal do prédio, batizado como “Sino de São
Joaquim”. A torre possui mais duas envazaduras: na primeira, do lado direito,
encontra-se instalado o “sino Joaquim” e na segunda, na parte detrás está
instalado o “sino Maria” e no centro, o
sino maior, batizado de “Emanoel”.
Em
1858, a Assembléia Provincial autorizou a doação, por parte do governo, de
500$000 (quinhentos mil réis) para melhoramentos do templo. Ao longo dos anos,
a igreja sofreu duas grandes restaurações. Na primeira foi recuperada a torre
esquerda que ameaçava ruir. A outra, na administração do Cônego Rui Miranda
(1953-1956), quando foi restaurada a capela-mor e abertas quatro arcadas onde
existiam apenas duas portas. Na época dessa reforma foram encontradas muitas
ossadas humanas nas paredes demolidas.
Em
1960, com renda arrecadada na festa da padroeira (14 a 17 de janeiro), o templo
recebeu um vitral que encontra-se no Altar do Senhor Morto. Em 1977 o poder
público municipal bancou uma pequena reforma substituindo o forro das naves por
tabuados de ipê. O templo não conserva mais o piso e o forro original. O forro
da capela-mor, que originalmente era ornamentado por belíssimas pinturas sacras
em estilo barroco, recebeu uma espessa camada de tinta a óleo, cobrindo todo o
trabalho original. Nele está instalado um imenso lustre de vidro. O piso era de
tijolinhos brancos e recebeu ladrilho hidráulico há quase 100 anos.
A
fachada da igreja exibe um frontispício triangular com um pequeno óculo,
ladeada por duas torres e arrematado por cornija. Possui três portas de acesso,
em corpo central, superpostas por igual número de janelas rasgadas por duas
portas e duas janelas. Verifica-se a presença de envasaduras nas torres, que
possuem cobertura arrematada por cornija e coroada por pináculos. Apesar das
modificações sofridas no templo, mantém-se fiel em seu aspecto original,
exibindo exuberantes altares, caprichosamente trabalhados em estilo barroco.
O
templo possui um valioso acervo de arte sacra entre altares e arcadas
trabalhadas em madeira e ouro. A pia batismal em pedra sabão maciça – onde a
intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta foi batizada – veio de Portugal.
Na sacristia está instalado um lavabo feito de argamassa e sangue de baleia,
cujo pé de sustentação tem o formato de um indiozinho, esculpido em pedra-sabão
por Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa, o pai de Nísia Floresta. A peça é adornada
por duas colunas em alto e baixo relevo. Essa informação foi prestada à História
pela educadora Isabel Urbana de Albuquerque Gondim.
Em
1991 técnicos da Fundação José Augusto diagnosticaram apodrecimento do teto da
igreja que poderia desabar a qualquer momento, comprometendo toda a estrutura
interna da monumental construção do século XVIII. A estrutura não suportava o
peso das telhas imensas e feitas à mão. O que pode ser mantido ficou como
estava, referindo-se às telhas que recobrem a nave principal e o forro da
capela-mor, feito em taipa e tela de arame. Os três sinos passaram por uma
reforma em Recife. O maior estava rachado e foi recuperado pela Marinha do
Brasil.
O
que se percebeu na reforma ocorrida em 1991 é que esse rico patrimônio foi
restaurado graças ao povo, o qual, motivado pelo administrador da Matriz à
época, o diácono João Batista Chaves da Rocha, empreenderam o chamado “Mutirão
Reconstruir”, no qual a comunidade angariou fundos para a obra que durou cerca
de um ano e meio. Houve doação de materiais de construção por parte da
iniciativa privada.
Dentre
o rico acervo destacam-se vasos de limorges, lâmpadas do Santíssimo em prata
portuguesa, lustres em cristal puro, turíbulos em prata, castiçais e nichos em
cedro puro e uma das mais curiosas peças da igreja, a imagem original da
padroeira Nossa Senhora do Ó, esculpida em uma única peça de madeira maciça.
Outro
elemento que chama a atenção trata-se de duas colunas em madeira maciça, as
quais sustentam o andar superior do hall. Essas peças medem mais de três metros
de altura e foram talhadas por escravos. Ambas passaram despercebidas durante
séculos, pensava-se serem de alvenaria. Somente com a reforma descobriu-se
tratar-se de madeira. A igreja ainda guarda instrumentos musicais quase
centenários, que tem relevância apenas museológica, além de muitos pedaços de
madeira entalhada, fruto de obras anteriores, mas que conservam banhamento de
ouro legítimo. Nísia Floresta, 3 de fevereiro de 1998. Professor Luís Carlos
Freire
SOBRE
ESTE TEXTO
Antes
de ler este estudo, é importante considerar que ele está em construção. Decidi
fazê-lo dessa forma para não perder diversas informações que guardei em
anotações avulsas que reuni ao longo dos anos, as quais, poderiam se perder
facilmente. Por outro aspecto, é uma oportunidade de o leitor colaborar com
informações. Meu propósito é concluir a primeira versão até dezembro de 2018.
Como sempre informo ao leitor, ao longo dos meus longos estudos sobre a
intelectual Nísia Floresta, iniciados em 1992,
encontrei muito material inédito e de interesse do povo, principalmente
nisiaflorestense. Desse modo estou digitalizando tudo o que escrevi a mão, as
'xeroquei' e, ultimamente, o que 'escaneei'. Sobre a sua colaboração é só
mandar algo que você queira acrescentar, sugerir ou corrigir, e que obviamente
tenha relação com o assunto. A propósito, se você quiser mandar informações
sobre algum padre (principalmente os mais atuais) para que eu o adapte aqui
será muito bem vindo e seu nome será inserido como colaborador.
Telha original dos primórdios da construção da então capela, pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, fabricada nas Olarias do "Pavilhão". A expressão "feito nas coxas" originou-se no fabrico artesanal das telhas d'outrora, as quais eram de fato, moldadas nas coxas, ou seja, nas pernas.
A história
dos sacerdotes que estiveram adiante dos prenúncios do que se tornou a Igreja
Matriz de Nossa Senhora do Ó – quando era uma acanhada capelinha de palha,
taipa e barro, cuja maioria de seus moradores eram índios, cujo lugar se
chamava “Papari” – é praticamente desconhecida. O que sabemos compreende o
período a partir da criação da freguesia, em 1833 – até o presente.
Oficialmente o primeiro padre chamava-se Antonio Gomes de Leiros, cuja
administração deu-se no período de 1833 a 1835. Ele foi assassinado na rua da
vila. Mas muitíssimo antes dele existiam os índios aldeados, que tinham como
pastor uma infinidade de religiosos estrangeiros que os evangelizaram séculos
antes.
Antes
de nos alongarmos é importante atentarmos para a palavra “Freguesia”, pois essa
denominação - embora até se pareça - não tem relação alguma com distrito, como
é o caso de Portugal. Durante o período do Império do Brasil a Igreja Católica
foi mantida como religião oficial do Estado, que tinha o dever de pagar
salários para padres e bispos, conforme registra a História. Deste modo, era
adequado que a estrutura administrativa civil não fosse distinta da estrutura
eclesiástica. As províncias eram divididas em municípios que por sua vez eram
divididos em freguesias. Havia uma confusa relação entre religiosos e
autoridades civis.
Chave centenária pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó; permitia o acesso ao "Sepulcro do senhor-Morto".
As
freguesias correspondiam às paróquias, mas também havia curatos para serviços
religiosos em povoações pequenas e sem autonomia política. Por sua vez, os
bispos comandavam as dioceses, típica organização administrativa religiosa, que
abrangiam geralmente diversos municípios, ou seja, diversas freguesias. Desse
modo Nísia Floresta, ou melhor, Papari, como era chamada originalmente, era
conhecida como Freguesia de Nossa Senhora do Ó.
No
dia 5 de julho de 1765 o Bispo de Olinda nomeou o padre Alexandre Dantas Correia
para coadjutor da Freguesia de Nossa Senhora do Ó e Santana de Mipibu. A
aldeia, desde a sua origem, possuía Nossa Senhora do Ó como padroeira. É
importante reconhecermos que é impossível falar de Papari dissociada de São
José de Mipibu, pois assim como alguns estados são divididos, São José de
Mipibu foi dividida inúmeras vezes, pois era um dos municípios mais extensos
desde a época da província.
Assim
como São José de Mipibu, outros municípios também foram divididos. Essa divisão
sempre foi muito comum, pois originalmente as capitais elegiam extensas áreas
meramente para compreendê-la melhor (geograficamente falando). Mas como era
impossível gerir gigantescos municípios, urgia dividi-los para facilitar a
administração. Essas divisões foram ocorrendo de acordo com a evolução
econômica de cada região; outras, obviamente, de acordo com conveniências
políticas.
Em
1993 o padre João Batista Chaves da Rocha trouxe a público, pela primeira vez,
uma lista com os nomes dos sacerdotes que administraram a Igreja Matriz de
Nossa Senhora do Ó entre 1833 até a época em que ele se encontrava atuando.
Listou também nomes de sacerdotes que tiveram curta passagem por ali. Nesse rol
inclui-se padres “domingueiros”, como foi o caso do Monsenhor Antonio Barros,
que além de ter sido realmente administrador oficial da Matriz de Nossa Senhora
do Ó, vinha celebrar missas aos domingos em tempos mais recentes, quando era
administrador oficial da Matriz de Santana e São Joaquim.
Raríssimo vaso decorativo pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, fabricado em Limoges - França no início do século XIX
Antes
de nos atermos a essa lista vamos refletir um pouco sobre os religiosos que
evangelizaram essas plagas muitíssimos anos antes, quando tudo isso era uma
densa floresta. Ocasião em que seus verdadeiros donos eram, de fato, mulheres e
homens nativos, apelidados “índios”, e que precisamos lembrar que eram – e
continuam sendo – gente como nós e possuidores de uma das mais lindas culturas
que a humanidade conhece.
Graças
ao esmero de alguns padres cuidadosos que exerceram sacerdócio na Matriz do Ó
no século XIX e tiveram o zelo de registrar os nomes dos sacerdotes que vieram
antes, conhecemos pelo menos os nomes dos antigos padres e o período de
exercício de alguns. Como já foi visto em termos de registro palpável,
conhecemos apenas um folder, organizado pelo padre João Batista Chaves da Rocha
em 1993.
Mas ficam perguntam obvias e
inquietantes, pelo menos para quem se preocupa com a História e a memória.
Ei-las:
1) um lugarejo que teve suas raízes
documentais em 1607, conforme os anais da História, onde existia uma capela de
palha antes de ser de taipa e, depois, a de alvenaria, iniciada em 1727, quem
eram os religiosos que andaram por aqui naquela época – e mesmo antes do seu
primeiro registro, fossem padres oficiais ou não?
2) Quem eram os padres que se deslocavam de
seus países ou mesmo brasileiros que deixavam outras paróquias e capelas para
pastorar as ovelhas de Papari?
3) Sabemos sobre os aldeamentos, os quais
agrupavam os índios (que é outra história), mas quanto aos nativos não-índios –
os chamados “brancos” – quem os reunia para pregar o evangelho?
Às
vezes as pessoas me perguntam a razão de a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó
não possuir documentos antigos, como certidões de batismo, livros-atas, enfim
algum acervo desde os seus primórdios. Não é difícil a resposta. O prédio já
esteve por várias vezes em petição de miséria, em termos de conservação.
Encontro essas informações nas velhas pesquisas que fiz em muitos documentos e
em várias instituições. Inclusive desde a época da província o governo enviava
verbas para reparos na Matriz de Nossa Senhora do Ò. Naquela época esse
procedimento era permitido, haja vista que Estado e Igreja eram praticamente um
só corpo.
Com
certeza muita coisa se desfez na umidade e mofo. Junte-se a isso a inoperância
de sacerdotes e da própria população, a qual nunca teve o interesse de pelo
menos guardar para a posteridade tudo o que era velho, independente do estado
em que se encontrava. Hoje em dia há especialistas em restauração que fazem
‘milagre’ com materiais que muitos julgam condenado. Mas esse milagre só
acontece se se tiver em mãos o acervo.
Óculo com decoração em alto e baixo relevo no frontão da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta/RN
Em
1992 vasculhei as igrejas de São José de Mipibu e de Nísia Floresta, justamente
para procurar resquícios de parentes antigos meus, assim como a própria
personagem Nísia Floresta, a qual pertence ao mesmo tronco genealógico da
família da minha mãe. Mas nada encontrei, exceto nomes de familiares mais
recentes. Ambas as igrejas não possuem documentos anteriores a 1860. Pelo menos
à época em que fiz uma demorada pesquisa. Não sei atualmente em que estado se
encontram tais documentos, principalmente de São José de Mipibu, os quais eram
incomparavelmente abundantes, nem por isso conservados adequadamente.
Nessa
mesma época estive na Arquidiocese de Natal, onde há um arquivo de documentos
raros, mas nada substancial em termos da velha Papari. Nessa época alguém me
disse que uma pesquisadora da vida e da obra de Nísia Floresta havia encontrado
na referida Matriz a certidão de batismo da citada intelectual, mas tenho
certeza que é equívoco, pois vasculhei minuciosamente e nunca vi nada do tipo.
Um documento dessa representatividade, se de fato encontrado, já estaria
reproduzido em livros, museus etc (e o original estaria num museu). Inclusive
poderia estar servindo ao Museu local, tendo em vista que Raimundo Melo, seu
idealizador ser um profissional de visão.
Após
o descobrimento do Brasil, o primeiro documento que menciona o acanhado
lugarejo de Papari e tece comentários sobre ele foi escrito coincidentemente
por um padre. O famoso mapa de Marcgrave nem sonhava ser traçado quando o padre
Gaspar de Samperes andou pelas terras de Papari e o descreveu.
Ao longo do tempo, li muitos
autores que escreveram sobre Papari e transcreveram informações escritas por
antigos viajantes e pesquisadores remotos, inclusive estrangeiros. Curiosamente
a maioria é unânime em afirmar o quanto Papari era acanhada em termos de
progresso. Houve quem passasse por Papari cinquenta anos depois – no século
passado – e afirmasse não ter visto uma única diferença com relação a primeira
visita.
Antigas peças de adorno, em madeira de lei, pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, as quais integravam as naves laterais da Igreja Matriz, dentre outras peças. Tratam-se de elementos de valor incalculável, inclusive trazem sucessivas camadas de ouro puro e supostamente aguardam espaço num futuro Museu sacro da Matriz
Para
entendermos melhor o universo dos padres que realizaram trabalhos de
evangelização desde os primórdios até a atualidade é importante entendermos o
contexto religioso do passado, até porque Papari não era uma ilha. Pelo
contrário, era cercada por capelas e igrejas de outros municípios e vilas.
Desse modo, vamos retroceder no tempo e mergulhar um pouco na História do Rio
Grande do Norte para entender todo esse universo clerical.
Na
conquista do Rio Grande do Norte sabemos que os serviços de assistência
religiosos estavam confiados aos jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco de
Lemos e aos franciscanos freires Bernardino das Neves e João de S. Miguel.
Em
junho de 1598, terminada a Fortaleza dos Reis Magos, voltaram chefes e soldados
e ficaram os Jesuítas Gaspar de Samperes, arquiteto e autor da planta da citada
edificação, e Lemos na luta da catequese, reunindo-lhes o padre Francisco
Pinto, jesuíta que se popularizou entre os indígenas que o chamavam Pai Pinto e
o apelidaram “Amanaiara”, senhor da chuva, porque o supunham dispor dos
elementos naturais. Seria supliciado pelos Tocajurus na Serra de Ibiapaba.
Batizou o potiguar Antonio Felipe Camarão, no aldeamento de Igapó, ou
melhormente, Aldeia Velha, na margem esquerda do Potengi, olhando a cidade do
Natal. O jesuíta Gaspar de Samperes faleceu em 1635, exilado pelos holandeses,
em Cartagena de Índias, Colômbia.
A
Fortaleza dos Reis Magos foi concluída em 1598, ou seja, oito anos após os
portugueses terem construído a Casa Forte do Pium, em Papari. Isso nos ajuda a
entender que, mal o Brasil havia sido descoberto, Papari já era conhecida e
movimentada por toda espécie de europeus. E fica a pergunta: a “Casa Forte” de
Papari teria sido construída pelos portugueses que fizeram a Fortaleza dos Reis
Magos? Mas vamos lá.
O
“Auto de repartição de terras”, lavrado na cidade do Natal, no Rio Grande em
21.2.1614, registra uma “data” de duas mil braças de terra pertencente ao padre
Vigário Gaspar Gonçalves da Rocha em 24 de abril de 1601. É a mais antiga menção
do primeiro vigário, dois anos após a fundação da cidade.
Ao
longo desse texto perceberemos que não apenas pessoas de posses, como
presidentes de capitanias, seus filhos e apadrinhados eram presenteados com
grandes extensões de terras, mas muitos padres receberam verdadeiros
latifúndios. Às vezes a terra de interesse era tão grande que Portugal indagava
o motivo de uma única pessoa receber uma área maior que muitas vilas
portuguesas. Isso aconteceu até pouco tempo, inclusive no período de D. Pedro
II. Portugal queria ter a certeza de que todo aquele universo de terras realmente
seria usado ou não. E claro que não!
O
Pe. Serafim Leite S.J. mostrou que os Jesuítas pastoreavam o rebanho antes e
depois da criação da freguesia, em data ignorada até hoje. Padre Gaspar de
Samperes esteve quase sempre em Natal, e temos a sua presença nos anos de 1606
e 1616. Ele e o padre Diogo Nunes tinham batizado o velho Potiguaçu, o
Camarão-Grande, chefe dos potiguares na época da colonização. Depois do Pe.
Gonçalves Gaspar da Rocha, só aparece nome de padre em 1645, com o Pe. Ambrósio
Francisco Ferro, trucidado pelos Cariris Janduís, a mando dos holandeses, no
massacre de Tinguijada, em Uruaçu, em 3.10.1645.
De
1610 a 1645, nada sabemos. Outros nomes de sacerdotes surgem no mesmo “Auto de
repartição”, como André de Soveral, paulista, mártir em Cunhaú, quando
celebrava a missa no domingo 26 de julho 1645. É fundamental que saibamos que
Papari faz parte desse aterrorizante Massacre, pois, conforme já escrevi no
texto intitulado
https://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2016/11/o-massacre-de-barra-de-tabatinga-no.html
o Engenho de João Lostão Navarro, em Barra de Tabatinga também foi cenário
desse episódio, onde morreram 17 católicos. Depois desse morticínio seguiu-se o
massacre de Uruaçu, diga-se de passagem.
O
superior eclesiástico seria o administrador da Prelazia de Pernambuco, criada
em 15.7.1614 pelo Papa Paulo V, separada do Bispado da Bahia, sede do nosso
Ordinário até essa data. O Prelado, Padre Antonio Teixeira Cabral, residia na
Paraíba, superintendendo de Itamaracá ao Rio Grande do Norte.
Em
1618, ainda o Brandônio dos “Diálogos das Riquezas do Brasil” informava: “no
espiritual é essa capitania da Paraíba cabeça das demais, da parte do Norte, de
Pernambuco adiante. “D. Marcos Teixeira, quando assumiu o bispado da Bahia
estava autorizado a jurisdicionar religiosamente Pernambuco, endossando depois
pela carta régia de 8.2.1623. Voltamos então a pertencer ao antístete baiano.
Pela
bula Ad sacram Beati Petri, de 16.11.1676, o Papa Inocêncio IX criou a Diocese
de Olinda. O primeiro bispo D. Estevão Brioso de Figueiredo visitou o Rio
Grande entre 1678, quando assumira em abril, em 1679, mais provavelmente. Até o
século XIX o Rio Grande do Norte foi redil pernambucano.
O
Papa Leão XII, pela bula Ad Universas Orbis Ecclesias, de 27 de abril de 1892,
deu nova organização à hierarquia católica, criando quatro novas dioceses,
entre essas a da Paraíba, desmembrada do Bispado de Pernambuco, dividindo o
Brasil em duas províncias eclesiásticas; a meridional, com sede metropolitana
no Rio de Janeiro, e a setentrional, sendo metropolita o prelado da Bahia.
O
Rio Grande do Norte se encontrou incluído na Diocese da Paraíba Ad efformandam
autem aliam novam Parahyben Diocesen territoriam status cognominis et Fluminis
Magni nordici, quae Pernambucensis Diocesis partem in praesens constituunt,
item perpetuo distrahimus, illique attribuimus, explicava a Bula. O Bispado da
Paraíba passou a Arcebispado a 6.2.1914 por ato do Papa Pio X. Foi nossa
metrópole eclesiástica até a Bula de 1.3.1952, do Papa Pio XII, elevando a
Diocese de natal a Arquidiocese.
O
Papa Pio X pelas letras apostólicas Apostolicam in Singulis, de 28.12.1909,
cumpridas pelo decreto executivo de 9.10.1910, do núncio apostólico Alexandre
Bavona, criou a Diocese de Natal, nomeando-se bispo da Paraíba administrador
apostólico.
Dom
Joaquim Antonio de Almeida, norte-riograndense de Goianinha, então Bispo do
Piauí, foi transferido para a nova diocese, tomando posse a 15.6.1911. Resignou
a 15.6.1915. Dom Antonio dos Santos Cabral, sergipano de Propiá, foi o segundo
Bispo, posse a 30.5.1918, sendo transferido em 21.11.1921 para a recém-criada
Diocese de Belo Horizonte. Tomou posse em 17.3.1923 o 3º Bispo dom José Pereira
Alves, pernambucano de Palmares, transferido para a Diocese de Niteroy a
27.1.1928. D. Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, 4º Bispo de Natal, e 1º
Arcebispo tomou posse em 29.6.1929. Esse ilustre prelado, bahiano de
Itanhambupe, deve ser credor da gratidão católica do Estado pela excelência de
suas virtudes.
O
Papa Pio XI pela Bula Pro Ecclesiarum Omnium, de 28.6.1934, criou o Bispado de
Mossoró, sendo seu 1º Bispo dom Jaime de Barros Câmara, assumindo a 26.4.1936,
transferido para a Arquidiocese de Belém do Pará em 1941 e desta para o do Rio
de Janeiro. É o 3º Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.
O 2º
Bispo de Mossoró, dom João Batista Pôrto Carreiro Costa, tomou posse a
8.12.1943. renunciou em 1953. O 3º Bispo dom Eliseu Simões Mendes, tomou posse
em 20.2.1954. A Bula E Diocesibus, de 25.11.1939, criou o bispado do Caicó.
O 1º
bispo foi d. José de Medeiros Delgado, posse a 26.7.1941 até 1951, quando foi
eleito Arcebispo do Maranhão. Substituiu-o d. José Adelino Dantas,
norte-riograndense, eleito em junho de 1952, então Reitor do Seminário de
Natal, poeta latino eminentíssimo e de alta dignidade sacerdotal, jornalista e
acadêmico. Sagrado em Natal a 14.9.1912, na praça onde se fundara a Cidade.
Tomou posse em Caicó em 20.9.1952.
O
mais antigo documento sobre a economia norte-riograndense na manhã de sua organização
é a “Relação das cousas do Rio Grande, do sítio e disposição da terra”,
referente a 1607, divulgado pelo Pe. Serafim Leite S.J. (História da Companhia
de Jesus no Brasil). “A mor parte da
capitania do Rio Grande, é terra plaina e sem montes, toda campina retalhada de
muitos rios e lagoas, tôdas elas mui a propósito para a criação de gados. Tem
também algumas várzeas capazes de alguns ingênios, das quaes a primeira, à
bando do sul, quando sái da capitania da Paraíba e entra na do Rio Grande, é a
que chamam de Camaratiba, na qual se está já fazendo um ingénio e tem terras
para alguns outros. A segunda é a de Corimataí, na qual também se faz outro
ingénio e tem terras, águas, lenhas e tudo necessário para oito ingénios. A
terceira se chama de Iaqui. Nessas fazem os índios grandes milharadas e
lavouras e tem muita cana de açúcar e tem também terras para alguns ingénios.
Nesta paragens caem as lagoas, tão grandes e nomeadas por sua abundância de
peixe, entre o gentio da terra, de Guirarira, de Upapeva e de Upapari que tem
muitas leguas assim de largo como de comprido. A quarta varzea se chama
Taraini;esta tem excelentes terras para ingénios e estão lá duas aldeias de
índios. A quinta se chama Nhumdiaí tem terras e águas para dous ingénios, e
tudo o necessário; esta várzea e Rio é da Companhia e nela tem já situadas
casas e roças e um curral de gado. A sexta é a Várzea do mesmo Rio Grande , do
qual toma nome toda capitania; esta várzea tem terras e tudo o necessário para
três ou quatro ingénios. Estão nelas já plantadas muitas laranjeiras e muitas
arvores de espinho, romeiras e muita cana de açúcar. A sétima é a grande várzea
de Siara. Tem de comprido cinco ou seis léguas e de largo quase uma légua. Toda
ela terra para ingénios tem cana de açúcar mui fermosa, e nela os Índios fazem
grandes lavouras no verão. Grã parte dessa várzea é da Companhia de Jesus”.
Pela
exposição anônima o Rio Grande possuía um engenho em construção na várzea de
Camaratiba (depois de 1611 pertencente à Paraíba), outro incompleto na do Curimataú,
que era o de Cunhaú, o vale do Jacú, com milharais, roçarias, canavial, a pesca
na lagoa de Guaraíras, Papeba e Papari, casas, roças e um curral de gado na
várzea do Potengi Rio Grande, havendo laranjas, romãs, limões frutificando e no
vale do Siara (Ceará Mirim), “cana de açúcar mui fermosa”. Era tudo em 1607.
Bem pouco, mas existiam as características econômicas de nossa vida social, o
gado, num curral único, os canaviais, e um engenho, que pertencia aos dois
filhos de Jerônimo d’Albuquerque. A pecuária e o açúcar responderiam pela
vitalidade do Rio Grande do Norte até o séc. XIX. Já se pediam notas em 1607.
Nos
registros de “Auto de repartições de terras”, em 1614 com 185 datas, vemos esse
pequenino começo. As terras cultivadas eram de lavoura de mantimentos, milho,
mandioca, feijão, as raízes feculentas para degustação diária, algum gado e
três ou quatro portos de pescarias, em Pirangi, Redinha e Barra do Trairi. O
gado viria de Pernambuco assim como a cana de açúcar. O ecúmeno alcançava
Taipu, a noroeste, litoral para o sul, e para o norte, vagamente, sabia-se até
proximidade com o futuro Macau ou Guamaré, melhormente.
Em
princípio de 1630, o brabantino Adriano Verdonck espiona o Rio Grande. O núcleo
colonial era Cunhaú, já corrente e moente em 1614, quando da “Repartição das
terras”, graças às águas do Piquiri. Safrejava seis a sete mil arrobas de
açúcar, em cem e cento e deis caixas que eram enviadas para Pernambuco, assim
como farinha e milho. Não há lembrança documental de outro engenho funcionando.
Até
1643 a lagoa conhecida atualmente como Bonfim, tinha o nome de “Puxi”, sendo
mudada pelos Capuchinhos, os quais não gostavam da tradução em português.
A
Paróquia de São José de Mipibu, dedicada à Santana e São Joaquim, é uma das
mais antigas da Arquidiocese, e data do século XVIII e sua criação de 22 de
fevereiro de 1762 e compreendia o atual território de Nísia Floresta. Seu
primeiro vigário foi o padre Teodósio da Rocha Vieira, serviu de 1764 a 1770. O
bispo de Olinda, a 5 de julho de 1765 nomeava o padre Alexandre Dantas Correia
para coadjutor da freguesia de Nossa Senhora do Ó e Santana e Mipibu. A aldeia
possuía Nossa Senhora do Ó como padroeira. Oragos, Santana e São Joaquim. Foi
terra de missões sob a direção dos Capuchinhos em 1703.
O
patrimônio da paróquia é de 1746, quando foi doado pelo capitão Diogo
Malheiros, 1100 braças de terra, sendo 600 de tabuleiro e 500 de plantações,
entregue ao superior dos padres da aldeia, Capuchinhos, e a medição foi feita
em 1762. A Igreja que serve de matriz deve ser muito antiga; deve ter seu
início nos anos de 1726 a 27 pelo Frei Mauro de Leçano, continuada por Frei
Cristovão de Gênova e terminada pelos anos de 1733 a 34 por frei Juvenal de
Santo Albano, superior dos capuchos da aldeia.
Em
1749 o Rio Grande do Norte possuía cinco aldeias indígenas sob a direção de
sacerdotes. Os Jesuítas tinham São Miguel de Guagiru (hoje Extremoz), e São
Joáo Batista de Goaraíras, (hoje, Arês). Os Capuchinhos estavam na Aldeia de
Mopobu (hoje São José de Mipibu). A aldeia de Apodi estava confiada aos
missionários de Santa Tereza, Carmelita Descalços. A aldeia de Gramació a um
missionário do Carmo da reforma, isto é, das Carmelitas da reforma Turônica ou
Turonense. Além de evangelizar, os sacerdotes ensinavam a tecer, fiar e coser.
Os padres que para cá vieram cuidar dos índios não tinham a mesma dedicação e
abnegação dos Beneditinos que foram para a Paraíba. Em 1689 Extremoz (São
Miguel do Guagiru) estava sob o comando do Padre Gaspar da Silva. Não havia homogeneidade de raízes entre os
índios da aldeia de Mipibu, inclusive os religiosos de outras regiões enviaram
muitos cariris para ali.
Em
1689 o Senado da Câmara de Natal pedia ao Bispo de Pernambuco um padre,
informando que havia na capitania uma paragem chamada Mopebi, a qual possuía
uma capela. Em 1703 ele informava já existir ali a aldeia de Mopebu. O
aldeamento tinha meia légua e 168 braças de largura por uma légua de longo, com
57 casais indígenas. A demarcação principiou á margem leste da Lagoa do Puxi,
onde se fincou um marco de pedra lavrada em quina viva com as seguintes letras
escritas com as quatro regras: “Índios de N. S. do Ó de Mopebu A M DCC III, que
querem dizer: Índios de Nossa senhora do Ó de Mopebu ano de 1703.
Essa
demarcação foi feita pelo juiz sesmeiro Dr. Cristóvão Soares Reimão, em
presença do Governador da Aldeia, Francisco da Silva. Em setembro de 1736 o
Capuchinho Frei Próspero de Milão, missionário local, solicitava 860 braças de
terra que faltavam para a légua quadrada prometida pelo rei aos aldeamentos
indígenas, o que lhe foi deferido e o terreno demarcado.
Em
1757 informava o ouvidor Domingos Monteiro da Rocha que Papari era uma povoação
com “bastantes moradores”. Em 1762 o juiz Miguel Carlos Caldeira de Pina
Castelo Branco (que ficou hospedado no Engenho Morgado), da família Peixoto,
assegurava cinquenta braças em círculo as residências construídas ao redor da
Igreja de Nossa senhora do Ó, edifício erguido com esforço local, auxiliado
pelos Capuchinhos italianos instalados em São José de Mipibu, terminado em 1755
e ostentando freguesia 98 anos depois, no dia 30 de agosto de 1833. Um dos
fundadores de Papari foi o Capitão Estevão Ribeiro, inclusive há no município
uma povoação conhecida como “Barra de Estevão Ribeiro”, também chamada “Barra
Velha”. Era assim a "Vila do Reino de Portugal", com direito a
pelourinho, Senado da Câmara, administração eleita e vida administrativa
independentes.
Até
essa época nada se sabia de mais substancial no Rio Grande do Norte, sobre
outras religiões. Apenas sabia-se que os holandeses do passado não praticavam o
catolicismo. As próprias leis pertinentes à educação eram claras nesse aspecto.
O artigo 6, (citar livro) diz: “Os professores ensinarão a ler, escrever, as
quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as
noções de geometria prática, a gramática da língua nacional e da doutrina
Religião Católica Apostólica Romana, proporcionados à compreensão dos meninos;
preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil”. Observe
que o ensino da doutrina católica era uma obrigação do Estado. Até aí o Estado
não era laico como hoje.
ACERVO
MAIS SIGNIFICATIVO DA IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó
1) 1 Lampadário de prata (P
Coroa) contrastada;
2) Ostensórios de prata portuguesa e francesa
(contratados);
3) Naveta de prata contrastada “Águia
Portruguesa”;
4) Turíbulo (também chamado incensário) de prata
“P Coroa” contrastado;
5) Cálice de prata com martírios (símbolos), “P
Coroa”, contrastado;
6) Cálice de prata “Javali”, francês;
7) Concha batismal de prata “Javali” (francês);
8) Resplendor de prata “Águia”, português,
contrastado (imagem de São José);
9) Grande resplendor de
prata “P Coroa” (imagem de Bom Jesus dos
Martírios);
10) Resplendor de prata
dourada (muito rara), portuguesa (imagem de São Benedito);
11) Resplendor de prata portuguesa (Imagem de
São Roque);
12) Resplendor de prata
portuguesa com pedras portuguesas (imagem de Santo Estevão);
IMAGENS
BARROCAS BICENTENÁRIAS
1) Nossa Senhora do Ó (há
dúvida se portuguesa ou espanhola) FOI DANIFICADA NA REFORMA ATUAL
2) São Cristovão (possivelmente das origens da
da Vila Imperial de Papari);
3) Nossa
Senhora das Dores (há dúvida se portuguesa ou espanhola);
4) Santo Estevão (há dúvida se portuguesa ou
espanhola);
5) Nossa Senhora do Rosário - da antiga Capela
dos Pretos (lateral);
6) Santo Antônio (possivelmente pernambucana);
IMAGENS
CLÁSSICAS
1) São José (imagem clássica, possivelmente
pernambucana), atualmente restaurada pelo artista plástico Genival, de Recife;
IMAGENS
DE ROCAS (VIERAM DA ITÁLIA E ERAM MONTADAS NO BRASIL)
1) Bom Jesus dos Martírios;
2) Nossa Senhora da Soledade (seus cabelos são
naturais);
ACERVO
DE PEÇAS AVULSAS
1) 1 par de floreiras “Velho
Paris”, pintados a ouro (remontam as origens da igreja);
2) 1 sacrário de madeira (barroco);
3) Castiçais em madeira
pintados a ouro (restaurados pelo artista plástico Genival);
4) 1 arcais (grande) “Dona
Maria”, em carvalho, espécie de cômoda, da origem da igreja. Só existem duas
peças deste design. Uma está em Minas Gerais;
5) 1 arcais (pequeno) “Dona Maria”,
em carvalho, possivelmente das origens
da igreja.
6) 1 crucifixo de madeira (do antigo altar-mor);
7) 1 imagem do Senhor Morto
(tamanho natural), em madeira (possivelmente das origens da igreja);
8) 24 castiçais em bronze, possivelmente das
origens da igreja;
OBS. Há várias imagens
centenárias, em gesso, de grande qualidade e beleza. A MAIOR PARTE DAS PEÇAS
ACIMA É FOLHEADA A OURO E PRATA MACIÇA.
Retornemos
ao cerne desse estudo. Devo explicar ao leitor que, além de reflexões sobre
fatos históricos relacionados aos clérigos do passado, explorei a lista
publicada pelo padre João Batista Chaves da Rocha, anexando todas as
informações que reuni ao longo de vinte e seis anos de pesquisa. Muita
informação é inédita, mas infelizmente não tenho novidades sobre todos os
sacerdotes. Nesse caso, optei por escrever fatos ocorridos no período em que
eles atuaram em Papari. Não necessariamente o que fizeram. No momento estou
apenas publicando para que os velhos papéis não se percam. Alguns já até
esfarelam. Por se tratar de informações inéditas, serão de grande utilidade
para pesquisadores e principalmente estudantes de Nísia Floresta. Daí a razão
principal.
Devo
esclarecer, obviamente, que não se trata de um material pronto, inclusive muito
ainda pode e deve ser descoberto para enriquecê-lo. E por incrível que pareça,
trago mais informações sobre os padres dos primórdios de Papari, que andaram
por aqui há mais de um século, que os padres atuais. Isso se explica pelo fato
de meus estudos terem abarcado o período da capitania hereditária até meados do
século XIX.
A
lista do padre Batista enumera a partir do primeiro padre oficial, designado
pelo bispo de Olinda, mas antes dele existiram sacerdotes que trabalhavam em
São José de Mipibu e davam assistência em Papari. São esses:
• Padre Francisco Bezerra de Góis – 1727
Nesse mesmo tempo era sacerdote na capela de Nossa Senhora dos Remédios, em
Cajupiranga. Esse sacerdote assumiu o seu posto seis anos após a mudança de
nomenclatura das terras do Rio Grande, de “Capitania” para “Província”, sendo
que a mudança se deu em 1821. Convém destacar que nessa época o povoado de
Cajupiranga (caju vermelho) pertencia, geograficamente, a Papari (atualmente pertence
a Parnamirim).
• Padre Bernardo de Paiva Freire,
coadjutor do Rio Grande (1727-1740),
• O licenciado padre José Freire de
Amorim (1733-1741)
• Padre João Gomes Freire (1740).
• Padre Francisco Xavier de Barros –
1730
• Padre Antonio Araújo de Souza – 1731 a
1749
• Padre Domingos de Rezende – 1741
• Padre João Gomes Freire (licenciado) –
1745
• Padre João Damasceno Carneiro – 1786
ao começo do século XIX (era padre de São José de Mipibu e dava assistência em
Papari).
A
partir de agora eis a lista oficial, mas com informações sobre alguns
sacerdotes. Por vezes foi possível encontrar local, data de nascimento e morte,
nome dos pais e uma breve biografia de alguns. Achei interessante contextualizar
alguns fatos, por exemplo, o que estava acontecendo no Brasil, em Natal e em
Papari naquela época. Infelizmente o leitor encontrará alguns nomes sem
qualquer informação. É que ainda não encontrei nada sobre tal padre, mas se
você as possui, envie por e-mail que anexarei com crédito para o seu nome.
Sobre isso é interessante contextualizarmos um fato bastante importante nessa
época. Seis anos antes de o primeiro padre oficial de Papari tomar posse, ou
seja, aos 15 de outubro de 1827, o imperador ordenou que em todas as cidades,
vilas e lugares mais populosos do império fossem criadas escolas de primeiras
letras, e Papari foi um dos lugares contemplados.
É
importante entendermos que apesar de a lista obedecer uma ordem cronológica,
nota-se algumas lacunas. Dá-se a impressão que Papari ficava eventualmente sem
padres oficiais por razões que desconheço e que no futuro poderão ser estudadas
e explicadas ao leitor. É possível perceber que algumas vezes ocorre “choque”
de datas, ou seja, dois padres aparentam exercer funções na mesma época, ou num
mesmo ano. Isso é muito comum em algumas igrejas atuais, mas não sei se é o
caso ou se são informações equivocadas. Seja como for, respeitei a lista que já
estava pronta e apenas trouxe informações sobre a época que cada sacerdote
administrou a paróquia. Se porventura há equívocos sobre períodos de um ou
outro, creio que não sejam tantos, nem foram feitos por mim. Mas vamos aos
fatos:
O
PADRE ASSASSINADO POR TENTAR SE APOSSAR DE TERRAS ALHEIAS
Padre
Antonio Gomes de Leiros, de 1833 a 1835 (primeiro sacerdote
oficial de Nísia Floresta). A Paróquia de Nossa Senhora do Ó foi criada pela
Resolução da Assembleia Geral nº 44, de 30 de agosto de 1833. Padre Leiros foi
o primeiro sacerdote a conduzi-la nesses conformes de paróquia. Podemos afirmar
que ele foi o primeiro padre oficial, mas seria injusto dizer que fora o
primeiro padre que surgiu em Papari. Exemplo disso é a lista de padres acima, a
começar pelos Capuchinhos, destacando-se Frei Mauro de Leçano, que esteve adiante
das igrejas/capelas de São José e de Nísia Floresta em 1726 e logo em seguida,
Frei Cristovão de Gênova, Frei Juvenal de Santo Albano, então superior dos
Capuchos da aldeia. Esses religiosos se doaram de forma incomum, inclusive
participando da própria construção da Matriz. A matriz de Nossa senhora do Ó
foi erguida graças aos espólios de famílias ricas, fundadoras de Papari,
destacando-se os Marinho, os Peres e os Gusmão e os Ribeiros, inclusive há um
topônimo nisiaflorestense por nome “Barra de Estevão Ribeiro”, justa homenagem
a esse pioneiro. O Padre Leiros era muito querido, mas infelizmente se deixou
valer pela vaidade e foi assassinado. Nos arredores da Matriz haviam terras
muito férteis, mas não eram cuidadas. Um nativo, por nome de Tomaz Marinho adquiriu
o terreno e em pouco tempo a transformou num verdadeiro oásis. Organizou as
nascentes, fez guias para escoamento de água, plantou toda espécie de frutas e
legumes os quais prosperaram a olhos vistos. O padre Leiros, vendo a
prosperidade do sítio, cresceu os olhos, inventou que a área pertencia à Nossa
Senhora do Ó e entrou com um advogado para tomá-la. Não convencido, passou a
provocar o sitiante que, infelizmente, numa desses insultos, o matou em pleno
centro de Papari. A cidade, como não podia ser diferente, ficou chocada. Esse
assassino se escondeu em Assu. Por curiosidade morreu poucos dias depois de a
Milícia haver descoberto o seu esconderijo e estava preparada para prendê-lo.
Na época de sua morte não existiam cemitérios. As pessoas eram enterradas nas
paredes das igrejas e assim ele também foi. Por mais uma coincidência o Bispo
de Olinda visitava as paróquias do Rio Grande do Norte e percebeu ter havido um
enterro recente. Perguntou de quem se tratava e tomou conhecimento de que era o
assassino do padre de Papari, mas que até o seu sepultamento, o padre local
desconhecia a sua autoria. O bispo mandou arrancar os restos mortais e
enterrá-lo em local não sagrado sem cruz nem informação alguma por
escrito. Os restos mortais do padre
Leiros jazem na própria matriz. Maiores
informações sobre o assassino estão neste blog.
Padre
José Alexandre Gomes de Melo, em 1835 – Colado de 1855 a
1866 (1834 a 1835)
O
PADRE QUE RECEBEU O FAMOSO BISPO DOM FREI JOÃO DA PURIFICAÇÃO MARQUES PERDIGÃO.
Padre
Francisco Manoel Maciel, de 1836 a 1840. O grande acontecimento
na Papari da época desse sacerdote foi a visita do Bispo Dom Frei João da
Purificação Marques Perdigão. Foi um grande acontecimento. O religioso veio da
Diocese de Olinda, a qual jurisdicionava as igrejas de quase todo o Nordeste. O
Rio Grande do Norte não tinha diocese própria. Sobre esse assunto o leitor pode
ler maiores detalhes na história do padre Padre João Maria Cavalcante de Brito
(abaixo). Dom Perdigão visitou Papari entre 3 a 5 de novembro de 1839. A cidade
parou. Até então nunca explodiram tantas girândolas nem tantos enfeites foram
exibidos nos postes. Dom Perdigão adentrou no Rio Grande do Norte pelo Ceará.
Penetrou Apodi, descansando em “Sabe Muito”, nos arredores de Caraúbas, dormindo
no então povoado; almoçou em Coroas, perto da Vila de Campo Grande (Augusto
Severo),alcançando Açu. Atravessou Santa Quitéria, depois Patachoca, vila dos
Angicos e pelo seu itinerário sabemos que o prelado veio por São Romão
(Fernando Pedroza), Santa Cruz, Riacho Fechado, Várzea dos Bois, Umari, Boa
Agua, Ladeira Grande, Taipu do Meio (sede municipal), Capela, no vale do Ceará
Mirim e Extremoz. É a travessia do poente ao nascente, oeste-leste. De Natal,
D. Perdigão partiu para a Paraíba repetindo quase o trajeto de Mascarenhas
Homem no percurso de regresso em 1598. Natal, São Gonçalo, São José de Mipibu,
Papari, Arez, Goianinha, Vila Flor, Tamanduba, Camaranduba (Paraíba),
Mamanguape. É a descida norte-sul. A resolução provincial nº 7 de outubro de
1836 determinou que os eleitores da freguesia de Papari se reunissem em colégio
na “villa de São José, da comarca de Natal”. A resolução nº 17, de 19 do mesmo
mês determinou que as terras do patrimônio de Nossa Senhora do Ó da Matriz de
Papari fossem aforadas a foro perpétuo.
Padre
José de Melo Muniz, em 1840 (também era pároco em São José
de Mipibu nessa época)
O
PADRE POBRE
Padre
João Soares da Veiga Albuquerque e Almeida, de
1840 a 1842 Era potiguar. Foi o primeiro vigário de Santa Cruz: 1836 a 1840.
Quando se instalou em Papari veio justamente de Santa Cruz. Foi o nono vigário de Extremoz, em 1832,
exercendo-o durante um ano. Recebeu ordenação em Olinda. Em 1833 foi para São
Gonçalo como capelão, de 1834 a 1839. Nomeado bispo diocesano como padre de
Santa Cruz até 1840. Na visita pastoral que fez a São Gonçalo, o bispo Dom João
da Purificação Marques Perdigão teve uma conferência privada com o padre João
Soares a respeito de uma denúncia recebida. O padre não a negou, causando
estranheza no bispo, que o censurou. No entanto, não foi coisa gravíssima
porque teria sido punido com pena de suspensão de ordens. Dom João aconselhou o padre para que ele se
preparasse para um futuro concurso para uma igreja paroquial, de cujo ministério
já tinha prática. O padre manifestou ao diocesano algumas dificuldades,
alegando grande pobreza. O bispo prometeu a sua ajuda pecuniária para que o
padre conseguisse enfrentar o concurso para vigário colado de São Gonçalo. O
referido padre foi vigário encomendado em Papari, de 8 de dezembro de 1841 a
maio de 1842. Também se encarregou de São José de Mipibu no mesmo tempo de
Papari. Quando vigário em Santa Cruz, o padre João Soares não deixou de ser
capelão em São Gonçalo. De São José e Papari, depois de 1842, não se sabe o
rumo que tomou, nem onde morreu.
Padre Gregório Ferreira de
Lustoza, de 1842 a 1843 e 1847 a 1849 Foi nomeado vigário de São José de Mipibu
em 24 de janeiro de 1842, por D. João da Purificação Marques Perdigão, e serviu
até 1 de agosto de 1894. Foi um sacerdote muito competente e com destacada
capacidade de gerenciamento. A resolução nº 85, de 18 de outubro aprovou o
compromisso da irmandade do SS. Sacramento da Matriz de Papari, do município da
vila de São José de Mipibu.
O
PADRE DEPUTADO PROVINCIAL
Padre
José Manuel dos Santos Brígido, de 1843 a 1855 – Esse
padre também foi Deputado Provincial na sessão de 21 de outubro de 1847. Reside
em sua biografia um dado que o faz sobressair dentre todos, no aspecto de
pertencimento à história do município. Em seu período ocorreram fatos
significativos na história de Papari. Embora quase ninguém saiba ele é autor do
projeto que criou o novo município, ou seja, é o patrono - ou padrinho - da
Vila Imperial de Papari. Criada em dezembro de 1852. Na realidade a resolução
nº 242, de 18 de fevereiro de 1852, desmembrou do município da cidade de São
José de Mipibu e elevou à categoria de Villa a povoação de Papari, com a
denominação de “Villa Imperial de Papari.” A nova Villa foi instalada no dia 7
de janeiro de 1853. Os vereadores eleitos organizaram a solenidade na "Rua
do Fogo" para recepcionar o Tenente Coronel Antonio Basílio Ribeiro
Dantas, Presidente da Câmara Municipal de São José de Mipibu. A cidade parou
para comemorar. Houve fogos, girândolas. A festa foi grande. Após a abertura da
sessão, houve a chamada e cada vereador fez o seu juramento, seguindo-se a
instalação da Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari. A lavratura da ata
ficou a cargo do escrivão Alexandre Francisco de Sales e Silva, de São José de
Mipibu, que foi assinada por todos os vereadores e autoridades presentes. Os
primeiros dirigentes da Vila Imperial de Papari foram: Tenente Coronel Urbano
Égide da Silva Costa Gondim Carneiro de Albuquerque, Luís Bezerra Augusto da
Trindade, Francisco de Araújo Correia, Francisco Fernandes Lima, Francisco
Lopes Galvão, Lourenço Joaquim de Barros e Antonio Maximiano Cruz. O município
da nova vila passa a compreender todo o terreno pertencente à freguesia de
Nossa Senhora do Ó de Papari. A resolução nº 272, de 14 de abril de 1853,
declarou que o patrimônio da Câmara Municipal da cidade de São José de Mipibu,
que, em virtude da criação da Vila Imperial de Papari, ficou dentro do novo
município, serviria de patrimônio à Câmara desse novo município. Em 1854,
conforme a lei nº 288, de 11 de agosto, o governo liberou um conto de réis para
a “abertura da Barra de Camoropim”. Em 1855, conforme resolução nº 234, de 10
de setembro, dispôs o patrimônio da Câmara Municipal da cidade de São José de
Mipibu, que pela resolução provincial nº 272, de 14 de abril de 1853, foi
concedido à Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari, ficasse pertencendo em
partes iguais às duas sobreditas municipalidades. Podemos dizer que graças a
ele Papari foi emancipada. Até pouco tempo dividir um município era tão comum
como banana na feira. O único interesse era politico. Não se pensavam no povo.
E como o câncer da corrupção parece endêmica, tal prática era como se deparar
com um baúde ouro enterrado no quintal. Bastava juntar dez pessoinhas e estava
dividido o município. O que difere na atitude desse padre, embora ele tenha
sido político numa época diferente, é o fato de a ideia não ter partido dos
coroneis e senhores de engenho mipibuenses e paparienses, os quais queriam ser
os donos da cidade, donos do povo, como era comum. Ou ainda o é, embora com
outras roupagens. O que pesava então a favor desse padre? Ora, o próprio fato
de ele ser Deputado Provincial e estar com a faca e o queijo na mão (no bom
sentido) e, talvez mais, o fato de ser padre. Na época toda família tinha que
parir um padre para estar na moda e nas entranhas do poder. O padre era a
pessoa mais respeitada que os intendentes da cidade/vila. Houve uma soma de
força e poder. Curioso é que ele poderia ter escolhido o novo e primeiro
dirigente de Papari (prefeito), mas não o fez. Ele próprio poderia sê-lo. Mas
não o quis. A atitude nobre desse sacerdote nos mostra que ele apenas enxergou
a realidade da região, percebeu que era impossível a um só dirigente governar
um município gigantesco como São José, elaborou a lei, levou-a para a
Assembleia Provincial e conseguiu a aprovação. E fez bem, pois para a própia
Igreja Matriz de Santana e São Joaquim era um desafio pastorar as ovelhas num
município de proporções colossais como o foi Mipibu. Até hoje os sacerdotes
alegam dificuldades em Nísia Floresta, imagine quando foi essa imensidão
geográfica.
O
FILHO, PADRE; O PAI, ASSASSINO
Padre
João Leite de Pinho, de 1846 Natural de Natal (1801), filho
do português Tenente Coronel Antonio José Leite do Pinho e Benedita Bernarda
Antonia Rodrigues de Pinho. Eram pessoas muito ricas e relacionadas, moravam
num casarão na rua da Conceição. A casa foi demolida para abrigar a Praça 7 de
Setembro. O Padre João Leite de Pinho fez seus primeiros estudos no seminário
em Natal Foi ordenado sacerdote pelo bispo diocesano João da Purificação
Marques Perdigão, provavelmente em 1839, porque a sua primeira nomeação foi
para coadjutor de Extremoz, antiga sede paroquial. Administrou duas vezes a
Igreja de Extremoz: maio a dezembro de 1840 e 1857 a 1859. Em 1840 deixou
Extremoz e se tornou coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, em
Natal, nos anos de 1841 a 1842 no paroquiato do vigário colado padre Bartolomeu
da Rocha Fagundes. Antes de se tornar coadjutor em Extremoz, pela segunda vez,
foi para São José de Mipibu no ano de 1843, onde foi pró-pároco por um mês.
Padre João Leite esteve presente na paróquia de Papari de setembro a novembro
de 1846 como pró-pároco, substituindo o vigário José Manoel dos Santos Brígido,
quando este exercia a função Deputado Provincial. Sobre o referido padre, pouco
foi deixado escrito, exceto informações colhidas aqui e ali. Foi mais fácil
encontrar informações sobre a família dele que sobre ele. Mas um episódio
curioso, que vale a pena ser retirado da poeira do tempo conto abaixo. Seu pai,
o Coronel Antonio José Leite do Pinho assassinou o famoso revolucionário André
de Albuquerque Maranhão (Chefe do Governo Republicano de 1817. Faleceu a 26 de
abril de 1817, na Fortaleza dos Reis Magos, em consequência de ferimentos
recebidos no dia anterior, quando fora deposto e preso, por ‘representantes’ da
Coroa Portuguesa, ou seja, representantes da monarquia e contrário a
independência do Brasil). O Coronel Antonio José Leite do Pinho veio de
Portugal, Ilha do Porto, Freguesia de São José da Madeira. Pertencia à milícia
(não se trata de milícia no sentido moderno, mas guarda/polícia). Ele foi
assassinado em sua casa, Natal, na noite de 15 de março de 1834. Após ter
assassinado André de Albuquerque, percorreu vários lugares se gabando pelo
crime. Por onde andava exibia a faca suja de sangue, dando-a como do chefe
revolucionário. Achando pouco, moveu uma justificativa na Justiça alegando ter
matado o revolucionário em nome do tão proclamado patriotismo. A Coroa
Portuguesa, que adorava essas notícias, ofereceu-lhe os galões de
tenente-coronel e a Ordem de Cristo. Mas, numa época em que vingança era algo
muito comum, André de Albuquerque Maranhão Arcoverde, sobrinho do André
revolucionário, retornou da Europa e soube dos fatos. Cheio de ódio, estudou
minuciosamente os passos do Coronel Antonio e planejou um crime digno de um
filme de psicopata. Ele trouxe para Natal dois escravos do Engenho Cunhaú e
disse que iria mandá-los fazer uma coisa que, se bem feita, “eles não
precisariam de mais nada nesse mundo”. Isso significa que estava prometido aos
infelizes escravos liberdade e muito dinheiro. Desse modo, incumbiu-lhes de
matar o pai do padre Pinho. Naquele mesmo dia levou os negros até as
proximidades da casa do coronel para que eles reconhecessem a fisionomia da
vítima. Na tarde de 15 de março de 1834, o coronel brincava com um netinho na
calçada da varanda de sua casa (O netinho referido se formaria em medicina na
Bahia e tornaria-se presidente da província em 1879). Assim que a criança
entrou os dois negros o abordaram. Ele lutou bravamente, mas, pego de tocaia,
não obteve êxito. Os assassinos o crivaram de punhaladas. Ele sangrou até o dia
amanhecer, morrendo de maneira sofrida igualmente o que fez a André de Albuquerque
Maranhão. Os assassinos retornaram para dar a notícia ao mandante, o qual ficou
muito feliz. No outro dia, bem cedo partiram para o Engenho Cunhaú, onde
Arcoverde cumpriria o trato. Mas qual foi a surpresa. Assim que chegaram ele
pediu que um deles fosse a uma fazenda vizinha dar um recado. Era o plano para
ficar sozinho com o outro, o qual incumbiu-lhe de cavar um buraco para plantar
um coqueiro. O negro, ávido por sua liberdade, e certo de que fazia a sua
última missão como escravo, não mediu esforços. Estava o infeliz cavando o
buraco quando Arcoverde o golpeou com uma barra de ferro. Nem precisou jogá-lo
na cova. Sobre o “túmulo” plantou um coqueiro. Assim que o outro retornou do
mandado, Arcoverde inventou uma desculpa e o empalou numa na mata das almas, em
Tamatanduba. Realmente os infelizes pretos “não precisaram de mais nada desse
mundo”.
O
PRIMEIRO PADRE NASCIDO EM NÍSIA FLORESTA
Padre
Basílio Alustau Navarro, de 1849 e de 1865 a 1870 Padre Basílio
José Freire de Alustau Navarro, nascido em Papari, foi ordenado sacerdote, em
Olinda, a 20 de novembro de 1849, passando a servir as paróquias de Papari e
Arês. Era descendente do francês João Lostão de Alustau Navarro. Este, oriundo
do Reino de Navarra, morador de Barra de Tabatinga, época em que ali ocorreu um
massacre de 20 portugueses, em setembro de 1645, logo após o massacre de
Cunhaú. Feita a barbaridade eles sem embrenharam com destino a Uruaçu, onde
realizaram outro massacre. Na época do padre Basílio Alustau e na época de
gerência do Padre Targino Paulino de Carvalho (abaixo), o Presidente da
Província do Rio Grande do Norte (Governador) era D. Manoel de Assis
Mascarenhas. Representou na Câmara temporária primeiramente a provincia do Rio
Grande do Norte, depois a de Goyaz e finalmente a do Rio de Janeiro, sendo a 12
de Junho de 1850 escolhido senador pelo Rio Grande do Norte. Em 1845 a 1848 foi
na Câmara dos Deputados um dos luzeiros da oposicão, em cujas fileiras militou
quase sem tréguas durante toda a sua vida parlamentar. Era comendador da ordem
de Cristo, oficial da Rosa e gentil-homem da Imperial Câmara. Papari teve uma
grande conquista nesse ano (colocar o ano exato) com a instalação de duas
escolas públicas. A lei nº 559, de 16 de dezembro de 1865, suprimiu a freguesia
de São João Batista da povoação de Arez, ficando a pertencer o seu território
ao de Nossa Senhora do Ó, da Villa Imperial de Papari, e ao seu município.
Padre
Targino Paulino de Carvalho, 1850 – Nessa época morreram
muitas pessoas de febre amarela em Papari. A epidemia começou em 1850 e
terminou em 1851. A lei nº 272, de 14 de abril de 1853, determinou que o
patrimônio da Câmara Municipal, que em virtude da criação da Vila Imperial de
Papari ficou dentro do novo município, fique a este pertencendo. A resolução nº
334, de 10 de setembro determinou que o patrimônio da Câmara Municipal da
cidade de São José de Mipibu, que pela resolução presidencial nº 272, de 14 de
abril de 1853, fora concedido à Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari,
ficasse pertencendo em partes iguais às sobreditas municipalidades. Estabeleceu
o modo de executar a mesma resolução. Em 1856 Papari também foi tomada por uma
peste chamada “Cólera Morbo”, cujos mortos foram enterrados em covas afastadas
do centro para evitar contaminação. Desse cemitério resta um cruzeiro na mata
entre o Porto e a Moita. Nessa época Natal possuía um médico e uma botica. A
província perdeu 2.563 pessoas, sendo 36 mortos em Papari e 153 de São José de
Mipibu. Lei nº 382, de 16 de agosto de 1858, autorizou o Presidente da
Província a despender 500$000 com a conclusão da obra da Igreja Matriz e mandou
abrir uma estrada da vila à lagoa Puxi (Bonfim). A lei nº 460, de 16 de maio de
1859 concedeu mais cinco anos para a edificação da Casa de Câmara e Cadeia da
Vila de Papari. Essa informação é muito curiosa, pois essas edificações eram
muito peculiares e não se sabe onde foram erigidas, pois não existe resquício
algum. A lei nº 478, de 13 de abril de 1860 criou uma cadeira de primeiras
letras para o sexo feminino na vila.
O
PADRE ABOLICIONISTA
Padre
Manoel Fernandes Lustoza Lima – de 1870 a 1878. Esse
sacerdote era abolicionista e encobria fugas de cativos, escondendo-os onde
podia. E tal prática não era algo inusitado aos padres, pois muitos agiam da
mesma forma. Seu discurso era pautado por ideias de libertação dos negros
cativos. Em 1873 toda a província do Rio Grande possuía 10.892 escravos. Na
época desse padre Papari, possuidora de 5.176 habitantes, foi sacudida por um
levante de escravos, liderados pelo cativo “Manuel rei”, mas um escravo de
Manuel Laurentino Freire Alustau Navarro deletou a insurreição e todos foram
presos. Nessa época as duas escolas públicas possuíam 55 alunos, sendo 29
alunos e 26 alunas. Papari possuía apenas 13 eleitores, pois só podiam votar os
homens ricos e influentes. Nessa época, conforme portaria de 11 de agosto de
1876 as dependências superiores da Igreja Matriz serviam para reunião do
Colégio Eleitoral Municipal, formado com o município de Arês. Os Correios
surgiram em Papari na época desse sacerdote, criado em 18 de dezembro de 1875.
Durante a administração desse padre o estado do Rio Grande do Norte possuía o
seu 36º Presidente, sendo Antonio Passos de Miranda (1876 a 1877). Nessa
ocasião surgiu uma lei de alistamento militar para homens de boa saúde e com
idades entre 19 a 30 anos. Essa lei substituía a lei de recrutamento vigorado
na recente Guerra do Paraguai. O Governo determinou sedições locais em
Canguaretama, São José de Mipibu, Goianinha e Papari. Como era comum nessa
época, o alistamento ocorria nas igrejas, feitos por uma Junta composta por um
juiz, um delegado e um padre. Mas, revoltados com essa lei, homens e mulheres
invadiram as igrejas, dentre elas a de Nossa Senhora do Ó, rasgaram livros e
agrediram os funcionários do governo. Em Mossoró chamaram esse movimento de
motim das mulheres por ter sido dirigido por Ana Floriano, comandando trezentas
mulheres decididas, arrancando os editais e despedaçando as listas. Em
Goianinha houve três mortes. Os líderes desse movimento foram processados e a
lei continuou em vigor até hoje. O presidente seguinte, José Nicolau Tolentino
de Carvalho (1877-1878), governou na calamidade da seca. Sem ter muito o que
fazer, afluiu os flagelados para o litoral, inchando cidades como Natal, Papari
e São José de Mipibu. A lei nº 721, de 9 de setembro de 1871 criou uma cadeira
de 3º grau para o ensino primário do sexo feminino na povoação de Arez, termo
de Papari. A lei nº 642, de 14 de dezembro restabeleceu a freguesia de São João
Batista, da povoação de Arez, tendo por limites os mesmos de antes da sua
extinção. O território da freguesia continua incorporado ao município de
Papari. Nessa época São José de Mipibu possuía uma grande biblioteca, a qual
servia os habitantes de toda essa região.
O
PADRE PREFEITO
Padre
Antonio Xavier de Paiva – 1878, 1893 a 1898 – 1900 a 1907 -
1911 a 1912 – 1913 a 1918. Nasceu em 26 de maio de 1850, no povoado de Vera
Cruz, na época pertencente ao município de São José de Mipibu. Terminou seus
estudos eclesiásticos
O
PADRE PREFEITO
Padre
Antonio Xavier de Paiva – 1878, 1893 a 1898 – 1900 a 1907 -
1911 a 1912 – 1913 a 1918. Nasceu em 26 de maio de 1850, no povoado de Vera
Cruz, na época pertencente ao município de São José de Mipibu. Terminou seus
estudos eclesiásticos em Roma e ao regressar ao Brasil foi lecionar no
Seminário de Olinda, em Pernambuco. Em São José de Mipibu, foi coadjutor do
Cônego Lustoza, na Paróquia de Santana e São Joaquim. Monsenhor, de 1º de
janeiro de 1923 a 1º de janeiro de 1926, foi Chefe da Intendência (Prefeito) de
São José de Mipibu. Era irmão de Inácio Henrique de Paiva, também Intendente,
eleito em 1899 até 1922. Este fez a mais longa administração em São José de
Mipibu. Pouco fez pelo município. É de sua época o Cruzeiro do Século, cuja
cruz original resiste até os dias atuais na Mazapa. Entregou o cargo sem
explicações. Em 10 de agosto de 1923 elegeram para completar o triênio Pedro
Juvenal Teixeira de Carvalho (morava em Cajupiranga). Em sua época, São José de
Mipibu tinha 17.837 habitantes, sendo 8763 homens e 9111 mulheres. Foi admirado
por seus trabalhos junto aos pobres, criando uma colônia para abrigar cerca de
seis mil pessoas vítimas da seca de 1877 na região de Vera Cruz (Periperi), que
à época pertencia a São Hosé de Mipibu. Foi nomeade São José de Mipibu em 1895,
onde ficou até 1930, quando faleceu no dia 6 de junho. Em 1909, ainda na
administração do padre Antonio Xavier de Paiva. O papariense Dr. Antonio de
Sousa assumiu o cargo de deputado estadual, atuando durante seis anos e depois,
entre 1912 a 1914, entre 1915 a 1917, e novamente em 1918.
O
PADRE SANTO
Padre
João Maria Cavalcante de Brito – de 1878 a 1882 – Mais
conhecido como Padre João Maria, nasceu no “Arraial Logradouro do Barro”, em
Caicó, aos 23 de junho de 1848, filho de Amaro Soares Cavalcanti de Brito e d.
Ana de Barros Cavalcanti. Era irmão do eminente jurista Amaro Cavalcanti, que
tem nome de avenida em Natal. Aos 13 anos ingressou no Seminário de Olinda,
posteriormente transferindo-se para o de Fortaleza, onde ordenou-se dez anos
depois, em 1871. Padre João Maria foi vigário em Caicó, Jardim de Piranhas,
Flores (atual Florânia), Santa Luzia (Paraíba), Acari e Natal, onde fundou a
imprensa católica, fundou o jornal “8 de setembro”, participou do movimento
abolicionista e criou a Escola São Vicente de Paula. Pretendia construir a
catedral de Natal, chegando a tomar algumas providências, mas infelizmente
faleceu, e no lugar onde atualmente se encontra a moderna catedral, construíram
a Praça Pio XII. Foi sacerdote de intensa participação na vida da comunidade,
especialmente junto aos pobres e desvalidos. Era dinâmico e incansável nesse
sentido, percorrendo as choupanas humildes, distribuindo tudo o que lhe chegava
através de doação dos mais ricos. Henrique Castriciano, criador da Escola
Doméstica e uma das primeiras pessoas a se preocupar em pesquisar sobre a
escritora Nísia Floresta, disse o seguinte sobre o Padre João Maria “o seu
coração foi como uma hóstia que se repartiu com todos”. Para Câmara Cascudo
“foi a mais impressionante e sedutora figura de sacerdote que tenha paroquiado
os natalenses. Em vida, cercava-o uma auréola de santidade”. A Praça Padre João
Maria, no centro de Natal, é visitada por dezenas, às vezes centenas de pessoas
que vão rezar, acender velas em agradecimento por graças alcançadas,
depositando ex-votos no busto de bronze ali erguido ou apenas cultuá-lo
exatamente por seu testemunho de intensa bondade e humanismo. Pagadores de
promessas também afluem ao seu túmulo, no cemitério do Alecrim, particularmente
no dia de finados. Ele faleceu aos 16 de outubro de 1905, desde então é
venerado como santo. Consta que em seu enterro, o maior em Natal até então,
compareceram cinco mil pessoas, para uma população estimada em quinze mil
habitantes. Em sua época, o Rio Grande
do Norte não tinha Diocese própria. Os bispos vinham da Diocese de Olinda, a
qual geria vários estados do Nordeste. A Diocese de Olinda, criada pelo Papa
Inocêncio XI, a 16 de novembro de 1676, desmembrou-se da Diocese de São
Salvador, na Bahia, a qual compreendia todo o Nordeste brasileiro, tornando
difícil os trabalhos bispais. O padre João Maria foi quem acolheu o último
bispo a visitar o estado nessas condições jurisdicionais - Dom José Pereira da
Silva -, pois a partir de maio de 1892 o estado passou a contar com uma Diocese
própria. Esse padre sempre foi considerado santo. Sua história é marcada de
amor e bondade para com os pobres. Passava o dia inteiro fazendo o bem, sem
descanso. Contam que ele peregrinava Natal e cidades vizinhas no lombo de um
jumento evangelizando, dando extrema unção, enfim fazendo o seu papel de pastor
sob chuva e sol. Levava apenas água, farinha e rapadura. Os fiéis o recebiam
como quem recebe um deus, ofereciam do bom e do melhor, mas ele, diferente da
maioria de seus iguais, se recusava, priorizando o que levava. Sua história é
muito rica. Pe João Maria foi abolicionista. Em 1879 houve uma seca causticante
que devastou tudo o que era verde. A miséria se ampliou de forma assustadora. O
Presidente da Província Rodrigo Lobato Marcondes Machado fundou nas terras
frescas de Pitimbu e Cajupiranga a Colônia “Bom Jesus dos Navegantes”, com três
mil e seiscentas pessoas divididas em núcleos. A colônia plantou meio milhão de
covas de mandioca e legumes. Em Vera Cruz (à época pertencente a São José de
Mipibu, o padre Antonio Xavier de Paiva fundou outra colônia com seiscentos
“retirantes”. Aproveitando a facilidade a abundância do braço humano, o
presidente fez abrir estradas, cavar barreiros, construir açudes e desobstruir
os veios de rios em Pitimbu e Cajupiranga. O contexto de miserabilidade
arrastou muita gente do sertão bravo para Papari, atraídos pela abundância de
águas, peixes, crustáceos e terras aptas para plantio. Embora a lista
tradicional contendo os nomes dos padres não diz assim, encontrei fontes
informando que o padre João Maria foi substituído pelo padre José Hermínio da
Silveira Borges e não José Paulino Duarte, como segue abaixo. Preferi respeitar
a lista e destacar as novidades. Verídico ou não, são as coisas da História, as
quais são elucidadas aos poucos. Quem sabe por você?!
O
PADRE QUE RECUSOU A "CADEIRINHA DE ARRUAR"
Ilustração de domínio público mostrando como eram transportados os papas e, no Brasil, em algumas paróquias, até meados do século XIX, os padres.
Padre
José Paulino Duarte – 1881 a 1882 – O grande acontecimento
da época desse sacerdote foi a visita do Bispo Dom José Pereira da Silva
Barros. Ele chegou em 1882, inicialmente a Natal a bordo do navio Pirapama.
Percorreu inúmeras cidades e retornou a Natal. Em setembro embarcou no trem
rumo a Papari, tendo chegado quase noitinha. Uma multidão foi buscá-lo na
recém-inaugurada Estação “Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway
Company Limited”, onde autoridades de Natal e cidades vizinhas se acotovelavam.
Providenciaram uma "cadeira de arruar" para o transporte do bispo,
mas ele a recusou peremptoriamente. Essa peça era literalmente uma cadeira
presa a uma estrutura de madeira que dois escravos colocavam sobre os ombros,
permitindo suspender suspendê-la com a pessoa sentada, ficando protegida do
cansaço das caminhadas, do sol e da chuva. Era resguardada por cortinas. As
famílias dos senhores de engenho assim percorriam as ruas das velhas cidades
brasileiras. Mas o bispo preferiu ir andando junto ao povo, pisando na velha
estrada de barro. Naquela época o Papa Leão XII era transportado nesses
conformes. Certamente as autoridades de Papari, ainda fortemente mantenedoras
dos deploráveis hábitos imperiais, entenderam se tratar de uma espécie de
padrão para religiosos de tamanho posto.
A ilustração acima, de domínio público, traz um modelo de "cadeirinha de arruar". Os escravos - que não eram considerados gente - faziam o papel de animais
Essa
visita novamente parou a Vila Imperial de Papari. Perfilaram dezenas de
fogueiras nos dois lados da rua, de modo que iniciava próximo ao atual comércio
do Sr. Pedro Leandro e terminava próximo da Matriz. Como reza a tradição, acionaram incontáveis
girândolas. Os postes desapareceram em meio aos enfeites expostos nas ruas. A
família do padre José Paulino residia no Engenho Descanso, portanto o bispo Dom
José da Silva Barros foi ali hospedado. Nessa época a Casa Paroquial era de
taipa e muito acanhada. Esse bispo agradou e desagradou, pois era abolicionista
e sua fala destacava essa necessidade. Era uma figura adorável. Muito simples e
voltado para os pobres. Em São José de Mipibu visitou e abençoou os presos na
Cadeia Pública. Deu muita esmola e parava para conversar com vendedores de
caranguejo. Quando deixou Papari, uma multidão o acompanhou até a estação.
Muitos choravam alto ao despedir-se daquela figura que a todos impressionou.
Padre
José Hermínio da Silveira Borges – 1882 a 1897 – Foi durante
o exercício desse sacerdote que Nísia Floresta faleceu em Rouen, França, aos 24
de abril de 1885. Mas como aconteceu em quase todo o Rio Grande do Norte, o
povo de Papari tomou conhecimento muito tempo depois. A lei nº 920, de 13 de
março de 1884 criou uma cadeira de instrução primária para o sexo masculino em
Campo de Santana. A lei nº 981, de 31 de março de 1886 criou uma cadeira de
ensino primário para o sexo masculino na povoação de Alcançuz. O decreto nº 9
de 18 de janeiro dissolveu a Câmara Municipal e determinou que, até a
constituição do Estado, o poder municipal de cada localidade fosse exercido por
um conselho de Intendência Municipal, composto, nas cidades, de cinco membros e
nas vilas, de três, sob a presidência de um deles, de nomeação do Governo.
Nessa época o Presidente da Intendência de Papari era o Coronel José de Araújo.
O decreto nº 12, de 1º de fevereiro, mudou o nome de “Villa Imperial de Papari”
para “Villa de Papari”. O decreto nº 14, de 18 de fevereiro de 1890 elevou a
cinco o número de intendentes do município de Papari. O decreto nº 72, de 6 de
novembro extinguiu a cadeira de instrução primária para o sexo feminino de
Campo de Santana.
Padre
Irineu Otávio Sales e Silva, de 1898 a 1900 – de 1908 a
1911
Padre
Aderbal Gomes de Castro, em 1901
Padre José Paulino de Andrade, de
1901 a 1902
Padre
Paulino Duarte da Silva?, em 1905
O
PADRE QUE TIROU A PRÓPRIA VIDA
Padre
Manoel Maria de Vasconcelos Gadêlha – 1912 a 1913 – Esse padre
estava à frente de seu tempo. Era um homem de certo modo excêntrico comparado
ao perfil dos padres de sua época. Uma espécie de médico; fazia remédio com
compostos naturais e químicos. Era muito amado pela população, pois, num tempo
de muita ignorância, onde médico era sinônimo de realeza, todo tipo de doença
assolava, ele estava sempre medicando e orientando os fiéis a terem hábitos
saudáveis. Também foi padre em
Canguaretama, tendo conduzido a paróquia a partir de janeiro de 1912 a maio de
1915. Foi um sacerdote que podemos alegar, sem dúvida, que possuía um
diferencial. Na realidade ele tinha aquela característica que Jesus ensina,
pois acolhia a todos, inclusive as prostitutas e pessoas renegadas pela
sociedade. Não era muito ligado aos ricos – só em caso de necessidade extrema
os procurava. Tinha uma relação forte com os pobres e miseráveis. Em meio aos
atendimentos médicos, aconselhava, fazia a pessoa abrandar o coração e nesse
contexto evangelizava. Se a pessoa fosse do tipo inflexível ou mesmo sem temor
às coisas de Deus, ele não a abandonava. Não dizem que remédio é para quem está
doente? Assim ele conseguia encher a igreja com muita honestidade e verdade. A
igreja de Santa Cruz, em sua época, vivia cheia de prostitutas, pois ele as
buscava em seu ambiente de trabalho. O mesmo hábito ele trouxe para Papari e
Canguaretama, onde foram tolerantes com ele, mas na Paróquia de Santa Cruz, a
qual assumiu em 1924, ele comprou briga. As mulheres da alta sociedade se
retiravam da missa quando uma meretriz adentrava a igreja, atraídas pelo aval
desse sacerdote. Representantes de vários segmentos, abominados com a
condescendência do sacerdote, sem a capacidade de entendê-lo, chamaram-no para
conversar, mas ele disse: “para mim e para Deus elas são iguais a vocês; se
vocês viessem à igreja comprometidas com Jesus enxergariam apenas Jesus. Não
enxergariam nada mais. Tentem também enxergar Jesus”. O resultado não foi bom.
Nunca um padre foi tão perseguido e apedrejado. Alguns fiéis, se assim podemos
classificá-los, fizeram um abaixo-assinado e o enviaram ao bispo. Descontentes,
fizeram outro. Só pisaram na igreja depois que o sacerdote saiu, mas, por
ironia, morto. No dia 9 de outubro de 1926 ele ingeriu uma dose de estiquilina
(uma espécie de arsênico), preparada por ele e se suicidou. A cidade ficou
chocada. Nunca imaginaram que um padre fosse tão humano.
Padre
Fortunato de Areia Leão – 1913 - No período de 1929 a 1930
atuou em Apodi. Em 27 de fevereiro de 1921 tomou posse na Paróquia de Santana,
em Luís Gomes. Foi o primeiro pároco oficial dali, onde exerceu suas atividades
até 1926. 1920-1929, com uma breve substituição em 1926. Em vários documentos
encontrei um de seus sobrenomes escrito "Arêa", e não Areia.
O
PRIMEIRO PADRE A MORRER EM DECORRÊNCIA DE IDADE AVANÇADA EM PAPARI
Padre
Misael Justiniano de Carvalho – 1919 a 1930 – de 1931 a
1933. No período de 1908 a 1909 esteve adiante da igreja de Canguaretama. Atuou
em Goianinha, de dezembro de 1923 a março de 1924. De 4 de outubro de 1934 a 9
de agosto de 1936 atuou em João Câmara. Faleceu em Nísia Floresta aos 28 de
janeiro de 1943. Em 1920 Papari possuía 6.544 habitantes. Durante a
administração desse sacerdote o Dr. Antonio de Sousa, que atualmente é nome de
rua em Nísia Floresta, e cuja rua passa defronte a Matriz de Nossa Senhora do
Ó, assumiu o cargo de Governador do Estado. Foi eleito a 24 de abril de 1920,
repassando em seguida para Ferreira Chaves. Dr. Antonio de Sousa, nascido em
Papari, também era exímio escritor. Leia sobre ele nesse mesmo blog: http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2016/11/a-cunhada-do-dr-antonio-de-sousa.html.
http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2014/03/gizinha-obra-comentada.html
Monsenhor Celso Cicco – em 1930 (Cônego em São José de Mipibu)
Padre Antonio Brilhante de
Alencar – 1931 – Também foi pároco oficial em São José de Mipibu.Geriu a
paróquias de Lajes no período de 9 de abril a 7 de junho de 1928, bem como de
27 de janeiro de 1929 a 20 de janeiro de 1931 Esteve em Goianinha entre 8 a 12
de 1931 e 3 a 6 de 1943. Vigário encarregado. Faleceu em natal aos 2 de janeiro
de 1942.
Padre
Antonio Avelino da Silva – 1934 a 1935 (Foi padre oficial
em Canguaretama de 1933 a 1934).
Monsenhor
Ulisses Maranhão – 1935 a 1937 (também foi padre oficial em
São José de Mipibu). Embora pareça algo insignificante, um dos grandes projetos
ocorridos no município nessa época foi a construção de uma estrada carroçável,
ligando Oitizeiro a Campo de Santana. A propósito esse povoado foi contemplado
com uma cacimba (espécie de fonte de água). Funcionava no Porto uma Colônia de
Pescadores, a Z-10.
Padre
Esmerino Gomes da Silva, em 1937 - Foi pároco em Canguaretama,
de maio de 1915 a outubro de 1915, em Lages, no período de 6 de março de 1936 a
15 de agosto de 1936.. Foi na estadia desse sacerdote que o município, chamado
Vila, recebeu foros de “cidade”, conforme o Decreto 457, de 29 de março de
1938.
Cônego
Luiz Adolfo de Paula, em 1937 – de 1943 a 1945. Durante a
administração desse padre foi fundada em Papari, no dia 17 de julho de 1938,
uma Cooperativa Agropecuária de Crédito Rural. Oficialmente eram tidos como
“povoados” os seguintes lugares: Alcaçuz, Barra de Tabatinga, Campo de Santana,
Currais, Morrinhos, Pirangi do Sul, Porto e Tororomba. Papari possuía nessa
época uma “Agência Fiscal”, subordinada à Mesa de Rendas Estaduais de
Canguaretama. O município era constituído de um dos termos da Comarca de São José
de Mipibu, e tinha um único distrito
judiciário, que era o distrito administrativo. Costava de um juiz municipal,
três juízes de paz, um adjunto de promotor e um cartório público com todos os
ofícios de justiça, com exceção ao de registros de imóveis. Nessa ocasião
Papari estava dividida em três distritos policiais, sendo: o de Papari, o de
Pirangi do Sul e o de Campo de Santana, todos com suas respectivas sedes. Havia
um delegado de polícia que por lei residia no município e três subdelegados nas
sedes dos distritos, e suplentes de delegado e subdelegados em número de três
para cada distrito. Em Goianinha, de janeiro a fevereiro foi vigário, de março
a agosto foi vigário substituto; de setembro a dezembro de 1943. Faleceu aos 17
de setembro de 1949, em Recife.
Padre
João Verbeck (MSF), de 1937 a 1942 Em 1937 foi feito o
levantamento do mapa geral do município e a planta da cidade. Papari foi
elevada à categoria de “cidade” pelo Decreto 457, de 29 de março de 1938. Em
1941 batizaram-se 216 crianças, sendo que nasceram nesse ano, sendo 74 do sexo
masculino e 63 do sexo feminino, e 79 de anos anteriores (40 homens e 39
mulheres). Celebraram-se 20 casamentos. Consta que nessa época a Paróquia
possuía sete templos: uma igreja Matriz, na cidade, e seis capelas curadas.
Celebravam as seguintes festas de padroeiros: Nossa Senhora do Ó, na Matriz;
São Sebastião, em Campo de Santana e Currais; São João, no Porto, Nossa senhora
das Dores, em Pirangi do Sul; Nossa Senhora das Mercês, em Alcaçuz; e Santa
Luzia, em Tororomba. Nesse mesmo ano ocorreram 21 contravenções, sendo oito
lesões corporais, um envenenamento e um infanticídio. Em 1942 a Cooperativa
Agropecuária possuía 81 sócios. Nessa época havia em Papari apenas o ensino
primário. Eram sete escolas ao todo. Todos mantidas pelo Governo do estado.
Escolas Reunidas Nisia Floresta, no centro; seis outras isoladas nos povoados
de Alcaçuz, Campo de Santana, Currais, Porto, Morrinhos e Tororomba. O total de
alunos era de 343. Em 1942 os agricultores mais prósperos em Papari eram Maria
Aparecida Ferreira, Josina Galvão Duarte, Joaquim Felicino de Paiva, Roque de
Albuquerque Maranhão e Francisco Anísio. A indústria no município se reduziaa
ao fabrico de farinha de mandioca, para que existem diversos aviamentos, todos
manuais; de açúcar bruto, que se faz em sete engenhos, e aguardente, em quatro
outros (seria um de Vicente Elísio). Funcionam ainda nesse município duas
caieiras e uma olaria. Há também uma interessante indústria de redes de dormir,
feitas à mão, de fio muito bem tecido, especialmente no povoado de Campo de
Santana (veja que ele não diz Cururu – era só o rio). O município era permeado
por pau-ferro, massaranduba, sucupira, peroba, pau-mulato e pau-louro,
oiticica. Em 1942 Papari era menor que muitas vilas do RN em termos de
população. Não haviam ruas nem praças nem passeios calçados. Nâo era arborizada
nem ajardinada. A luz elétrica foi inaugurada em 3 de maio de 1932. Vinha de
São José de Mipibu. De propriedade da empresa Júlion Ramalho Cavalcanti. O
gestor anterior a 1942 atrasou diversos pagamentos e por muitas vezes houve o
desabastecimento, causando problemas. Quem visitava Papari nessa época era como
se ela tivesse sido congelada há quarenta anos passados. Havia cadeia, mercado
público e banheiro público. Em 1942 Papari possuía 6.544 habitantes.
Cônego
Pedro Paulino Duarte, de 1942 a 1943 – de 1945 a 1949.
Nasceu em 29 de junho de 1877, de tradicional família de São José de Mipibu.
Não há registros sobre onde realizou os seus primeiros estudos, mas consta que
se ordenou sacerdote na Paraíba, em 22 de fevereiro de 1901. Atuou como
professor em educandários e escolas católicas como o Colégio Pio X, na Paraíba;
foi diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, de Mossoró, e professor no
Colégio Santo Antonio, em Natal. Considerado um intelectual, publicou vários
poemas em jornais locais e um livro “Discursos e Conferências”. É famosa a sua
poesia "Anjo Triste". Foi nomeado vigário Paroquial em 1938, para a
Paróquia de Santana e São Joaquim, em São José de Mipibu, onde atuou até 1954 e
está sepultado no cemitério de São José de Mipibu. Costumava brincar, dizendo:
"as velhas igrejas cheias de túmulos residenciais de almas do outro
mundo". Era padrinho de crisma de Dom Adelino Dantas. Foi responsável pela
construção das duas torres da igreja matriz de Santana dos Matos, entre 1929 a
1930, complementando sua ornamentação. Foi padre em Goianinha, atuou de julho a
outubro de 1938) como vigário encarregado e 8 de setembro de 1952, vigário
substituto. Faleceu em São José de Mipibu no dia 12 de março de 1954.
"Anjo Triste" (Cônego Pedro Paulino Duarte)
Mundo! — Vale de lágrimas e agruras!...
Se o anjo tem vislumbres de saudade,
a alma ingênua também sente amarguras,
entre os brinquedos da risonha idade...
Zaíra, tão jovial, tão sem maldade,
pilhara um passarinho nas alturas...
Prendera-o cheia de felicidade,
sem divulgar do preso as amarguras.
Certo dia — entristeço ao recordar!
Célere a aflita, veio a mim contar
como era fundo o sofrimento seu.
Ouvi (que acerba dor, mágoa cruciante!):
— "Padre, me escuta; ouve-me padre, um instante:
meu passarinho, de cantar, morreu!...”
O
PADRE QUE FUNDOU O ABRIGO DE IDOSOS ANÍSIA PESSOA
Em 1944 ele recebeu nomeação
para São José de Mipibu, desempenhando muitas atividades apostólicas com
eficiência e dedicação, dentre elas um congresso eucarístico e a fundação do
Abrigo de Idosos Anísia Pessoa. Grande parte do seu sacerdócio deu-se em terras
mipibuenses, onde foi comemorado a sua Boda de Ouro como vigário. Faleceu
naquele município na década de 2000 e está sepultado na própria Matriz de
Santana e São Joaquim). Em 1985, respondia interinamente em Canguaretama,
juntamente com o Pe. Matias Patrício de Macedo. Durante essa primeira
administração do Monsenhor Antonio Barros, Café Filho foi eleito Deputado
Estadual. Como foi exposto, também foi padre “domingueiro”, antes do padre João
Batista vinha muito a Nísia Floresta com o propósito de celebrar missas.
O
PADRE POLÊMICO
Cônego
Rui Miranda, de 1953 a 1956 Fez várias reformas na
Igreja Matriz de Nísia Floresta. Como em sua época as leis referentes à
preservação do Patrimônio Histórico não eram tão conhecidas em Papari, nem eram
tão rigorosas, infelizmente ele fez algumas mudanças, descaracterizando a
arquitetura original interna. É possível ver marcas até hoje dessa reforma,
olhando atentamente o seu interior (para quem está no soalho de entrada da
escadaria de acesso ao sino). Em 1954 o Presidente da República Getúlio Vargas
se suicidou. Café Filho era Vice-Presidente da República e assumiu por direito
o posto de Presidente. Por essa feliz coincidência, foi ele quem facilitou tudo
para que os despojos de Nísia Floresta chegassem ao Brasil superando uma
burocracia sem fim. Foi o Cônego Rui
Miranda quem acolheu – se assim podemos dizer – os restos mortais de Nísia
Floresta, em 1954, quando houve uma grande solenidade, tendo em vista a chegada
de seus despojos da França. Nesse dia Nísia Floresta parou. Nunca a cidade viu
tanta gente. Haviam autoridades de diversos estados do país, além de
representantes de diversos órgãos municipal, estaduais e federais. Eu o
entrevistei em 2006. O material está nesse mesmo blog. A maior parte da sua
atuação sacerdotal deu-se em Ceará Mirim. Era um padre polêmico e envolveu-se
em muita confusão em Ceará-Mirim. Alguns exemplos:
Trecho
retirado de uma monografia da UFRN
Padre
Armando Paiva, de 1956 a 1958 Deixou NF para ir para
Goianinha. Vigário em Goianinha desde 5.9.1958. Encontra-se com 89 anos de
idade.
Monsenhor
Antonio Barros, de 1958 a 1966 (Já comentado acima).
Padre
Otto Eufrásio de Oliveira, de 1967 a 1977
(organizando informações)
O
PADRE PIONEIRO NAS OFICINAS DE ORAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE
Padre
Alfredo de Oliveira Costa Filho, em 1978 - Padre Alfredo de
Oliveira Costa Filho foi ordenado Sacerdote, pelo então Arcebispo de Natal Dom Nivaldo
Monte, no dia 03 de julho de 1977, no Ginásio de Esportes do Colégio Marista,
em Natal. Em seguida foi designado para exercer a função de Diretor de Formação
dos seminaristas, em uma nova experiência vocacional mantida pela Arquidiocese
de Natal. Ao mesmo tempo foi nomeado pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Ó,
em Nísia Floresta.
No início do ano de 1979,
foi estudar no Rio de Janeiro para aprofundar o conhecimento das Sagradas
Escrituras, na Escola Teológica do Mosteiro de São Bento e ali foi designado
Vigário Paroquial da Paróquia da Ressurreição, no bairro de Copacabana.
Em 1981, retornando à
Arquidiocese de Natal, foi destinado para ser Vigário na Paróquia de Touros,
missão que exerceu até o ano de 1984. De 1985 a 1988 foi Pároco na cidade de Pedro
Avelino, e em novembro deste mesmo ano, foi nomeado o primeiro Pároco da
Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis, da qual fazia parte a
Comunidade de Pirangi. Em 1991 foi criada a Paróquia de Cristo Rei e o Padre
Alfredo foi nomeado o seu Primeiro Pároco, missão que exerce até hoje.
Portanto, destes 33 anos de Ministério Sacerdotal, 19foram vividos nesta
Comunidade. O Padre Alfredo também realizou outras missões durante estes anos.
Foi Capelão do Colégio Marista de 1977 a 1978; Capelão do Colégio das Neves de
1981 a 1994 e Dirigente Espiritual do Colégio Maria Auxiliadora nos anos 1984 a
1998.
Em abril de 1989 trouxe para
a Arquidiocese de Natal o Movimento Oficinas de Oração e Vida e em maio de 1991
o Movimento de Espiritualidade Conjugal Equipes de Nossa Senhora. Em fevereiro
de 1997, ele, a pedido de Dom Heitor de Araújo Sales, então Arcebispo de Natal,
foi nomeado Diretor da Escola Diaconal Santo Estevão, cargo que exerceu durante
seis anos. Ele foi também diretor da Escola de Formação do Magistério, o
Instituto Presidente Kennedy durante três anos colaborando na formação de novos
professores. Foi ainda Orientador do Ensino Religioso na Secretaria Estadual de
Educação durante oito anos. Graduado em Psicologia, faz atendimento espiritual
e psicológico ao longo dos seus 35 anos de Ministério Sacerdotal.
O
PADRE ABNEGADO EM PROL DA CAUSA DOS MÁRTIRES DE CUNHAÚ E URUAÇÚ
Monsenhor
Francisco de Assis Pereira (data não encontrada) -
Monsenhor Francisco de Assis Pereira, da Arquidiocese de Natal, faleceu na
manhã desta terça-feira, 13 de dezembro, na Casa de Saúde São Lucas, onde
estava internado desde ontem. Ele nasceu em 12 de abril de 1935 e foi ordenado
sacerdote em 13 de abril de 1958. Desempenhou funções importantes na
Arquidiocese de Natal, como Vigário Geral, no governo de Dom Heitor de Araújo
Sales; postulador da causa dos Mártires do Cunhaú e Uruaçu; e responsável pelo
arquivo.
Monsenhor
Francisco de Assis - Fonte: Arquidiocese de Natal
Frei
José Soares da Silva, de 1981 a 1982
Monsenhor
Francisco Canindé Palhano, 1982
O
PADRE PERNAMBUCANO
Dom
Luís Gonzaga da Silva Pepeu. Nomeado pelo papa Bento
XVI Arcebispo da Arquidiocese de Vitória da Conquista (BA), Frei Luís Gonzaga
Pepeu, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), de 51 anos, estava na
diocese de Afogados da Ingazeira desde outubro de 2001.
Tem como lema episcopal o
texto do profeta Jeremias “Não temas, estou contigo” (Jr 1,8). Ele é membro
efetivo da Comissão Episcopal dos Tribunais Eclesiásticos de Segunda Instância
da CNBB e do Conselho Econômico no Regional Nordeste 2 (Alagoas, Paraíba,
Pernambuco e Rio Grande do Norte).
Conheça um pouco da vida do
Arcebispo:
- Terceiro bispo de Afogados
da Ingazeira, Dom Luís Pepeu, nasceu em Caruaru no dia 18/02/1957. É o segundo
dos oito filhos de Pedro de Souza e Izabel S. Pepeu. Ingressou no convento dos
capuchinhos em Caruaru, no ano de 1968. Continuou seus estudos na Escola Dom
Vital. Cursou o ginasial no Colégio Diocesano de Caruaru e o científico no
Colégio Moreira e Silva em Maceió, AL. Já no ano de 1977 fez o noviciado em
Vitória da Conquista, BA. Freqüentou o curso de teologia no seminário São
Francisco, província dos capuchinhos em Nova Veneza, SP;
No ano de 1982 concluiu o
curso de teologia no Instituto de Teologia do Recife. Foi ordenado Presbítero
no dia 8 de dezembro de 1982; obteve a Licenciatura em Direito Canônico pela
Universidade Católica da América, em Washington, e o doutorado pela Universidade
São Tomáz de Aquino, em Roma. Homem de muitos ofícios e ministérios, Dom Pepeu
exerceu ao longo de sua trajetória os seguintes trabalhos:
* Na ordem: Mestre de
Noviços, Superior (guardião dos conventos da província e cúria geral), Diretor
dos Estudantes, Conselheiro Ecônomo, Vigário Provincial, Ministro Provincial,
Presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil e Assessor Jurídico da
Procuradoria Geral dos Capuchinhos,
* Na pastoral: Vigário
Paroquial, Administrador Paroquial e Pároco. Foi nomeado pelo Papa João Paulo
II, bispo da diocese de Afogados da Ingazeira, no dia 13.06.2001. Lema:
"Ne timeas tecum ego sum" (Jr 1,8) "Não temas, estou
contigo". Profissão religiosa: 17/01/1978. Ordenação episcopal:
06/10/2001, em Caruaru. Está na função desde 27/10/2001.
Frei
Gabriel Távora, 1985
Monsenhor
Antonio Barros, de 1986 a 1989 (Já comentado acima)
O
PADRE QUE PEITAVA OS POLÍTICOS E REALIZOU A MAIS PERFEITA RESTAURAÇÃO NA MATRIZ
Padre
João Batista Chaves da Rocha De 1990 a 2003
Frei
Joacyr Borges – OSM. De 2009 a 2011
Frei
Joacyr Borges
Padre
Jose Lenilson de Morais .
De 2010 a ....
Padre
Fabio Pinheiro Bezerra. De 2010 a ....
NOTA
Como
escrevi acima, o fato de eu ter vasculhado muita documentação antiga em vários
locais em Natal, foi mais fácil encontrar informações muito arcaicas. Há poucos
meses entrei em contato com o padre João Batista Chaves da Rocha e pedi que ele
me enviasse dados sobre o trabalho feito por ele para que eu o adapte aqui. Já
entrei em contato com alguns padres e parentes de alguns padres acima e estou
aguardando as informações para poder anexá-las neste estudo.
Na oportunidade
peço a você, leitor, que me envie, por e-mail. É só acessá-lo do lado direito
deste blog que o texto vem. Se você possuir informações sobre esses padres ou
conhecer histórias sobre deles, contadas por familiares antigos seus, ou tiver
conhecido alguém, envie que as organizarei e o colocarei como referência.
Se
você quiser somar ao corpo desse texto alguma novidade, observação, sugestão,
fique à vontade. Só para reforçar uma importante informação: este estudo não
está pronto. Ao longo dos meses vou somando outras informações que as tenho
anotadas para que o leitor possa conhecer algo que ainda não tenha encontrado
em lugar algum e pode ler aqui. Luís Carlos Freire (1993 a 2018)
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