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CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os sacerdotes - De Papari a Nísia Floresta, um contexto histórico

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, Rio Grande do Norte.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó pertence à Arquidiocese de Natal e está erguida em Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, no mesmo local que existiu a capela de taipa e palha que abrigava a imagem de “Nossa Senhora Pequena”, quando teve início os seu arruado, nos idos de 1703. A Matriz atual teve sua construção iniciada em 1735, e concluída em 1755. A paróquia foi criada em 29 de agosto de 1833.

 Na década de 1993 o padre João Batista Chaves da Rocha localizou um manuscrito, original, datado do início do século XIX, informando exatamente que a sua construção teve início em 1735, e conclusão em 1755.

 Sabe-se que, de fato, a conclusão desse belo templo ocorreu lentamente, levando em conta as condições socioeconômicas dos habitantes da vilas, principalmente por tratar-se de uma obra desafiadora, levaria em boa parte de suas paredes e ornamentos, e em muitas de suas imagens, folheamento em ouro original. Na realidade, a complementação de seu conjunto permaneceu ocorrendo até muito tempo depois.

Na administração do Cônego Rui Miranda houve uma grande reforma, mas a maior delas ocorreu sob os cuidados do Padre João Batista Chaves da Rocha, a partir de 1993, cujo templo ameaçava desabar. Nessa reforma houve um trabalho minucioso de restauração das características originais. Foram evidenciados detalhes, em ouro, cobertos por sucessivas demãos de tintas, ocorridos ao longo de séculos, tanto nos entalhes ornamentais quanto nas peças sacras em madeira.

Durante tal reforma houve uma descoberta que surpreendeu a todos, principalmente os mais antigos. Os pilares que sustentam a estrutura em madeira, na qual ficam os equipamentos musicais, tidos, durante séculos como sendo de alvenaria, mas eram de madeira. Cada um é uma peça inteiriça de uma árvore, totalmente trabalhada a mão. A propósito dessa referência, o mesmo ocorre com a estrutura do forro, sustentada por gigantescos troncos de madeira trabalhados à mão, somando mais de quinhentos anos de idade, tendo em vista que, para uma árvore adquirir tal diâmetro, deve ter mais de trezentos anos quando foi arrancada das matas. Essa datação soma a idade que a árvore tinha (quando derrubada) com a idade atual da igreja. Ou seja, o templo é uma aula de História.

            A referida Matriz, em estilo barroco moderno, abriga diversas imagens de madeira, dos séculos XVIII e XIX, folheadas a ouro, além de outras de menor valor artístico, inclusive algumas em gesso, mas nem por isso sem importância histórica.

            Trata-se de uma das únicas - se não for a única - com maior acervo de indumentárias e acessórios clericais. São peças raras, de grande beleza, guardadas numa imensa cômoda do século XVIII, aliás na sacristia há um mobiliário em madeira de lei que por si é um museu, piso de azulejo hidráulico, escultura em pedra-sabão feita pelo pai de Nísia Floresta, sob um lavabo atualmente em desuso. Vale ressaltar algumas flâmulas e bandeiras com o topônimo original do município “Papary” e uma obra de arte de autoria anônima, pintada em tecido, em tamanho natural de um homem, onde está pintado Jesus Cristo.

            O templo possui sótãos com acesso às torres, sendo uma delas com um imenso sino do século XIX, de procedência pernambucana. Na realidade eram três, mas os demais, (menores) se despedaçaram ao longo do tempo, restando apenas fragmentos. Trata-se de uma construção erigida inteiramente de pedras, barro, fragmentos de conchas do mar, sangue de baleia e cinza.

Dentre as peças de madeira, destaca-se um grande sacrário entalhado em cedro com belíssimos ornamentos, destacando a imagem de uma custódia. Todos os ornamentos dessa rara peça são folheados a ouro verdadeiro, destacando por dentro uma única folha verdadeira em ouro puro. Tão singular que parece artificial.

Esse sacrário foi restaurado em Recife, no início da década de 90, sob os cuidados do padre João Batista Chaves da Rocha, ocasião em que a Matriz passou por sua maior restauração.  A referida peça é acompanhada de uma chave de prata, original, que também foi restaurada, pois à época apresentava problemas em sua fechadura. A peça foi fabricada artesanalmente, assim como todo o conjunto que compõe o altar-mor, consistindo em nichos e uma série de ornamentos em cedro folheados a ouro verdadeiro.

No altar-mor, situado na nave central, está construída a maior estrutura em madeira entalhada de todo o templo. Sobressai a imagem de Nossa Senhora do Ó e São José, ladeados por três castiçais. No centro fica o sacrário, e acima dele está disposto um crucifixo grande. São seis imensos nichos que abrigam belíssimas imagens banhadas a ouro sendo do lado direito: São Roque (abaixo), e Santo Estevão (acima). E do lado esquerdo: Nossa Senhora das Dores (abaixo) e São Benedito (acima). Tudo do século XVIII.

Originalmente, tudo o que reluz na Matriz é de ouro verdadeiro. Defronte ao altar-mor, num degrau abaixo, estão instalados dois imensos altares de madeira cedro, em ambos os lados, na mesma nave central, curvados para o altar-mor, dando significado à centralidade da igreja. Esses altares emolduram o altar-mor.  Nele estão dispostos, no lado direito, a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, também chamada de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, considerando a devoção dos antigos escravos que tinham uma das laterais da matriz reservada para eles. E do lado esquerdo tem-se o Bom Jesus dos Martírios, com vários elementos que compõem o martírio de Jesus: escada, galo, coroa, báculo e outros acessórios.

A Matriz também conta com outras imagens do século XVIII, e que ficam em outras dependências, como por exemplo, “Nossa Senhora do Ó Pequena”, peça brasileira, existente desde a época que antecedeu a construção da Matriz, quando era uma capela. A tradição oral conta que ela foi feita pelos indígenas, cujo recorte mongol dos olhos e o cabelo revelam características dos povos originários, “Bom Jesus dos Passos”, uma imagem em que Jesus carrega uma cruz sobre as costas. Essa obra de Arte sai em procissão ao lado de “Nossa Senhora das Dores”. Outra peça significativa, de época, é o Senhor Morto, que fica guardado num dos altares laterais da Matriz, dentro de uma urna. DESTACO QUE A MATRIZ CONTA COM UM RELICÁRIO EM OURO E PRATA MACIÇOS, PERMEADA DE ORNAMENTOS EM ALTO E BAIXO RELEVOS. PEÇA DE INCALCULÁVEL VALOR. UMA DAS MAIS BELAS DA MATRIZ.

Outro elemento de grande destaque na Matriz é o “lampadário em prata maciça”, com quase 10 quilos, suspenso por correntes de prata que são conectadas à peça maior e pode ser desconectada para o polimento.

            A localidade onde se formou a cidade de Nísia Floresta fazia parte da doação de terra feita pelo 2º capitão-mor do Rio Grande do Norte, Jerônimo de Albuquerque, no dia 8 de março de 1610, e cujos beneficiários foram João Pereira e Miguel Pereira. A doação, no rio Capió, tomou o nº 144 (FILHO, 1989). O brabantino Adriano Verdonck, espião a serviço dos holandeses, em 1630, fazia menção à aldeia do Mopobu, muito refereida pelos cronistas que descreveram o período do domínio holandês (1630-1654) e a Guerra dos Bárbaros, ou o levante do gentio tapuia (1683-1720).

            Desde o ano de 1689 já existia uma capela em Papary, local da primeira aldeia de Mipibu. Em 1703, o desembargador Cristóvão Soares Reymão providenciou a demarcação das terras dos índios da aldeia de Mipibu, onde já se encontrava a Capela de Nossa Senhora do Ó da Missão de Mipibu (do Papary, ou da Ribeira de Mipibu), mas obviamente que era uma capela de material frágil, como taipa e palha. Padres pertencentes ao clero secular cuidavam dos indígenas ali aldeados.

            Em 1740, a Aldeia de Mipibu foi transferida para local distanciado de Papary, onde hoje encontra-se a cidade de São José de Mipibu. Papary, onde funcionava a velha Aldeia Mipibu, passou a receber a denominação de Povoação de Papary.

            A primeira Capela de Nossa Senhora do Ó de Papary, evoluiu para a atual Matriz de Nísia Floresta, que ainda mantém o mesmo orago principal. O historiador Câmara Cascudo, também afirma que o templo de Nísia Floresta foi concluído em 1755 com a ajuda dos Capuchinhos residentes em São José de Mipibu. Essa informação de Cascudo bate com um manuscrito encontrado pelo padre João Batista Chaves da Rocha, na década de 90. Refiro-me ao detalhe acima mencionado, quando foi localizado um manuscrito em que um sacerdote escreveu a informação dando conta que a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó se deu no período entre 1735 a 1755.  A freguesia de Nossa Senhora do Ó data de 1833.

            A igreja é um prédio de grandes proporções, desenvolvido em dois pavimentos e constituído de capela-mor, naves central e laterais, galerias superiores, coro, nave torres, sacristia, pia batismal, além de uma gruta onde encontra-se a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. A gruta foi elaborada defronte ao batistério, onde primitivamente existia uma máquina movida a carbureto, que fornecia energia ao templo.

            Desde a conclusão das obras, a Igreja de Nossa Senhora do Ó não sofreu modificações significativas, sendo beneficiada apenas com obras de conservação. O sino principal da igreja veio de Pernambuco, no ano de 1831 e foi instalado na torre direita, exatamente na envasadura frontal do prédio, batizado como “Sino de São Joaquim”. A torre possui mais duas envazaduras: na primeira, do lado direito, encontra-se instalado o “sino Joaquim” e na segunda, na parte detrás está instalado o “sino Maria”  e no centro, o sino maior, batizado de “Emanoel”.

            Em 1858, a Assembléia Provincial autorizou a doação, por parte do governo, de 500$000 (quinhentos mil réis) para melhoramentos do templo. Ao longo dos anos, a igreja sofreu duas grandes restaurações. Na primeira foi recuperada a torre esquerda que ameaçava ruir. A outra, na administração do Cônego Rui Miranda (1953-1956), quando foi restaurada a capela-mor e abertas quatro arcadas onde existiam apenas duas portas. Na época dessa reforma foram encontradas muitas ossadas humanas nas paredes demolidas.

            Em 1960, com renda arrecadada na festa da padroeira (14 a 17 de janeiro), o templo recebeu um vitral que encontra-se no Altar do Senhor Morto. Em 1977 o poder público municipal bancou uma pequena reforma substituindo o forro das naves por tabuados de ipê. O templo não conserva mais o piso e o forro original. O forro da capela-mor, que originalmente era ornamentado por belíssimas pinturas sacras em estilo barroco, recebeu uma espessa camada de tinta a óleo, cobrindo todo o trabalho original. Nele está instalado um imenso lustre de vidro. O piso era de tijolinhos brancos e recebeu ladrilho hidráulico há quase 100 anos.

            A fachada da igreja exibe um frontispício triangular com um pequeno óculo, ladeada por duas torres e arrematado por cornija. Possui três portas de acesso, em corpo central, superpostas por igual número de janelas rasgadas por duas portas e duas janelas. Verifica-se a presença de envasaduras nas torres, que possuem cobertura arrematada por cornija e coroada por pináculos. Apesar das modificações sofridas no templo, mantém-se fiel em seu aspecto original, exibindo exuberantes altares, caprichosamente trabalhados em estilo barroco.

            O templo possui um valioso acervo de arte sacra entre altares e arcadas trabalhadas em madeira e ouro. A pia batismal em pedra sabão maciça – onde a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta foi batizada – veio de Portugal. Na sacristia está instalado um lavabo feito de argamassa e sangue de baleia, cujo pé de sustentação tem o formato de um indiozinho, esculpido em pedra-sabão por Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa, o pai de Nísia Floresta. A peça é adornada por duas colunas em alto e baixo relevo. Essa informação foi prestada à História pela educadora Isabel Urbana de Albuquerque Gondim.

            Em 1991 técnicos da Fundação José Augusto diagnosticaram apodrecimento do teto da igreja que poderia desabar a qualquer momento, comprometendo toda a estrutura interna da monumental construção do século XVIII. A estrutura não suportava o peso das telhas imensas e feitas à mão. O que pode ser mantido ficou como estava, referindo-se às telhas que recobrem a nave principal e o forro da capela-mor, feito em taipa e tela de arame. Os três sinos passaram por uma reforma em Recife. O maior estava rachado e foi recuperado pela Marinha do Brasil.

            O que se percebeu na reforma ocorrida em 1991 é que esse rico patrimônio foi restaurado graças ao povo, o qual, motivado pelo administrador da Matriz à época, o diácono João Batista Chaves da Rocha, empreenderam o chamado “Mutirão Reconstruir”, no qual a comunidade angariou fundos para a obra que durou cerca de um ano e meio. Houve doação de materiais de construção por parte da iniciativa privada.

            Dentre o rico acervo destacam-se vasos de limorges, lâmpadas do Santíssimo em prata portuguesa, lustres em cristal puro, turíbulos em prata, castiçais e nichos em cedro puro e uma das mais curiosas peças da igreja, a imagem original da padroeira Nossa Senhora do Ó, esculpida em uma única peça de madeira maciça.

            Outro elemento que chama a atenção trata-se de duas colunas em madeira maciça, as quais sustentam o andar superior do hall. Essas peças medem mais de três metros de altura e foram talhadas por escravos. Ambas passaram despercebidas durante séculos, pensava-se serem de alvenaria. Somente com a reforma descobriu-se tratar-se de madeira. A igreja ainda guarda instrumentos musicais quase centenários, que tem relevância apenas museológica, além de muitos pedaços de madeira entalhada, fruto de obras anteriores, mas que conservam banhamento de ouro legítimo. Nísia Floresta, 3 de fevereiro de 1998. Professor Luís Carlos Freire

SOBRE ESTE TEXTO

Antes de ler este estudo, é importante considerar que ele está em construção. Decidi fazê-lo dessa forma para não perder diversas informações que guardei em anotações avulsas que reuni ao longo dos anos, as quais, poderiam se perder facilmente. Por outro aspecto, é uma oportunidade de o leitor colaborar com informações. Meu propósito é concluir a primeira versão até dezembro de 2018. Como sempre informo ao leitor, ao longo dos meus longos estudos sobre a intelectual Nísia Floresta, iniciados em 1992,  encontrei muito material inédito e de interesse do povo, principalmente nisiaflorestense. Desse modo estou digitalizando tudo o que escrevi a mão, as 'xeroquei' e, ultimamente, o que 'escaneei'. Sobre a sua colaboração é só mandar algo que você queira acrescentar, sugerir ou corrigir, e que obviamente tenha relação com o assunto. A propósito, se você quiser mandar informações sobre algum padre (principalmente os mais atuais) para que eu o adapte aqui será muito bem vindo e seu nome será inserido como colaborador.


Telha original dos primórdios da construção da então capela, pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, fabricada nas Olarias do "Pavilhão". A expressão "feito nas coxas" originou-se no fabrico artesanal das telhas d'outrora, as quais eram de fato, moldadas nas coxas, ou seja, nas pernas.

A história dos sacerdotes que estiveram adiante dos prenúncios do que se tornou a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó – quando era uma acanhada capelinha de palha, taipa e barro, cuja maioria de seus moradores eram índios, cujo lugar se chamava “Papari” – é praticamente desconhecida. O que sabemos compreende o período a partir da criação da freguesia, em 1833 – até o presente. Oficialmente o primeiro padre chamava-se Antonio Gomes de Leiros, cuja administração deu-se no período de 1833 a 1835. Ele foi assassinado na rua da vila. Mas muitíssimo antes dele existiam os índios aldeados, que tinham como pastor uma infinidade de religiosos estrangeiros que os evangelizaram séculos antes. 

Antes de nos alongarmos é importante atentarmos para a palavra “Freguesia”, pois essa denominação - embora até se pareça - não tem relação alguma com distrito, como é o caso de Portugal. Durante o período do Império do Brasil a Igreja Católica foi mantida como religião oficial do Estado, que tinha o dever de pagar salários para padres e bispos, conforme registra a História. Deste modo, era adequado que a estrutura administrativa civil não fosse distinta da estrutura eclesiástica. As províncias eram divididas em municípios que por sua vez eram divididos em freguesias. Havia uma confusa relação entre religiosos e autoridades civis.


Chave centenária pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó; permitia o acesso ao "Sepulcro do senhor-Morto".

As freguesias correspondiam às paróquias, mas também havia curatos para serviços religiosos em povoações pequenas e sem autonomia política. Por sua vez, os bispos comandavam as dioceses, típica organização administrativa religiosa, que abrangiam geralmente diversos municípios, ou seja, diversas freguesias. Desse modo Nísia Floresta, ou melhor, Papari, como era chamada originalmente, era conhecida como Freguesia de Nossa Senhora do Ó.

No dia 5 de julho de 1765 o Bispo de Olinda nomeou o padre Alexandre Dantas Correia para coadjutor da Freguesia de Nossa Senhora do Ó e Santana de Mipibu. A aldeia, desde a sua origem, possuía Nossa Senhora do Ó como padroeira. É importante reconhecermos que é impossível falar de Papari dissociada de São José de Mipibu, pois assim como alguns estados são divididos, São José de Mipibu foi dividida inúmeras vezes, pois era um dos municípios mais extensos desde a época da província.

Assim como São José de Mipibu, outros municípios também foram divididos. Essa divisão sempre foi muito comum, pois originalmente as capitais elegiam extensas áreas meramente para compreendê-la melhor (geograficamente falando). Mas como era impossível gerir gigantescos municípios, urgia dividi-los para facilitar a administração. Essas divisões foram ocorrendo de acordo com a evolução econômica de cada região; outras, obviamente, de acordo com conveniências políticas.

Em 1993 o padre João Batista Chaves da Rocha trouxe a público, pela primeira vez, uma lista com os nomes dos sacerdotes que administraram a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó entre 1833 até a época em que ele se encontrava atuando. Listou também nomes de sacerdotes que tiveram curta passagem por ali. Nesse rol inclui-se padres “domingueiros”, como foi o caso do Monsenhor Antonio Barros, que além de ter sido realmente administrador oficial da Matriz de Nossa Senhora do Ó, vinha celebrar missas aos domingos em tempos mais recentes, quando era administrador oficial da Matriz de Santana e São Joaquim.


Raríssimo vaso decorativo pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, fabricado em Limoges - França no início do século XIX

Antes de nos atermos a essa lista vamos refletir um pouco sobre os religiosos que evangelizaram essas plagas muitíssimos anos antes, quando tudo isso era uma densa floresta. Ocasião em que seus verdadeiros donos eram, de fato, mulheres e homens nativos, apelidados “índios”, e que precisamos lembrar que eram – e continuam sendo – gente como nós e possuidores de uma das mais lindas culturas que a humanidade conhece.

Graças ao esmero de alguns padres cuidadosos que exerceram sacerdócio na Matriz do Ó no século XIX e tiveram o zelo de registrar os nomes dos sacerdotes que vieram antes, conhecemos pelo menos os nomes dos antigos padres e o período de exercício de alguns. Como já foi visto em termos de registro palpável, conhecemos apenas um folder, organizado pelo padre João Batista Chaves da Rocha em 1993.

Mas ficam perguntam obvias e inquietantes, pelo menos para quem se preocupa com a História e a memória. Ei-las:

1)    um lugarejo que teve suas raízes documentais em 1607, conforme os anais da História, onde existia uma capela de palha antes de ser de taipa e, depois, a de alvenaria, iniciada em 1727, quem eram os religiosos que andaram por aqui naquela época – e mesmo antes do seu primeiro registro, fossem padres oficiais ou não?

2)    Quem eram os padres que se deslocavam de seus países ou mesmo brasileiros que deixavam outras paróquias e capelas para pastorar as ovelhas de Papari?

3)   Sabemos sobre os aldeamentos, os quais agrupavam os índios (que é outra história), mas quanto aos nativos não-índios – os chamados “brancos” – quem os reunia para pregar o evangelho?

Às vezes as pessoas me perguntam a razão de a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó não possuir documentos antigos, como certidões de batismo, livros-atas, enfim algum acervo desde os seus primórdios. Não é difícil a resposta. O prédio já esteve por várias vezes em petição de miséria, em termos de conservação. Encontro essas informações nas velhas pesquisas que fiz em muitos documentos e em várias instituições. Inclusive desde a época da província o governo enviava verbas para reparos na Matriz de Nossa Senhora do Ò. Naquela época esse procedimento era permitido, haja vista que Estado e Igreja eram praticamente um só corpo.

Com certeza muita coisa se desfez na umidade e mofo. Junte-se a isso a inoperância de sacerdotes e da própria população, a qual nunca teve o interesse de pelo menos guardar para a posteridade tudo o que era velho, independente do estado em que se encontrava. Hoje em dia há especialistas em restauração que fazem ‘milagre’ com materiais que muitos julgam condenado. Mas esse milagre só acontece se se tiver em mãos o acervo.


Óculo com decoração em alto e baixo relevo no frontão da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta/RN

Em 1992 vasculhei as igrejas de São José de Mipibu e de Nísia Floresta, justamente para procurar resquícios de parentes antigos meus, assim como a própria personagem Nísia Floresta, a qual pertence ao mesmo tronco genealógico da família da minha mãe. Mas nada encontrei, exceto nomes de familiares mais recentes. Ambas as igrejas não possuem documentos anteriores a 1860. Pelo menos à época em que fiz uma demorada pesquisa. Não sei atualmente em que estado se encontram tais documentos, principalmente de São José de Mipibu, os quais eram incomparavelmente abundantes, nem por isso conservados adequadamente.

Nessa mesma época estive na Arquidiocese de Natal, onde há um arquivo de documentos raros, mas nada substancial em termos da velha Papari. Nessa época alguém me disse que uma pesquisadora da vida e da obra de Nísia Floresta havia encontrado na referida Matriz a certidão de batismo da citada intelectual, mas tenho certeza que é equívoco, pois vasculhei minuciosamente e nunca vi nada do tipo. Um documento dessa representatividade, se de fato encontrado, já estaria reproduzido em livros, museus etc (e o original estaria num museu). Inclusive poderia estar servindo ao Museu local, tendo em vista que Raimundo Melo, seu idealizador ser um profissional de visão.

Após o descobrimento do Brasil, o primeiro documento que menciona o acanhado lugarejo de Papari e tece comentários sobre ele foi escrito coincidentemente por um padre. O famoso mapa de Marcgrave nem sonhava ser traçado quando o padre Gaspar de Samperes andou pelas terras de Papari e o descreveu.

Ao longo do tempo, li muitos autores que escreveram sobre Papari e transcreveram informações escritas por antigos viajantes e pesquisadores remotos, inclusive estrangeiros. Curiosamente a maioria é unânime em afirmar o quanto Papari era acanhada em termos de progresso. Houve quem passasse por Papari cinquenta anos depois – no século passado – e afirmasse não ter visto uma única diferença com relação a primeira visita.


Antigas peças de adorno, em madeira de lei, pertencente a Matriz de Nossa Senhora do Ó, as quais integravam as naves laterais da Igreja Matriz, dentre outras peças. Tratam-se de elementos de valor incalculável, inclusive trazem sucessivas camadas de ouro puro e supostamente aguardam espaço num futuro Museu sacro da Matriz

Para entendermos melhor o universo dos padres que realizaram trabalhos de evangelização desde os primórdios até a atualidade é importante entendermos o contexto religioso do passado, até porque Papari não era uma ilha. Pelo contrário, era cercada por capelas e igrejas de outros municípios e vilas. Desse modo, vamos retroceder no tempo e mergulhar um pouco na História do Rio Grande do Norte para entender todo esse universo clerical.

Na conquista do Rio Grande do Norte sabemos que os serviços de assistência religiosos estavam confiados aos jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco de Lemos e aos franciscanos freires Bernardino das Neves e João de S. Miguel.

Em junho de 1598, terminada a Fortaleza dos Reis Magos, voltaram chefes e soldados e ficaram os Jesuítas Gaspar de Samperes, arquiteto e autor da planta da citada edificação, e Lemos na luta da catequese, reunindo-lhes o padre Francisco Pinto, jesuíta que se popularizou entre os indígenas que o chamavam Pai Pinto e o apelidaram “Amanaiara”, senhor da chuva, porque o supunham dispor dos elementos naturais. Seria supliciado pelos Tocajurus na Serra de Ibiapaba. Batizou o potiguar Antonio Felipe Camarão, no aldeamento de Igapó, ou melhormente, Aldeia Velha, na margem esquerda do Potengi, olhando a cidade do Natal. O jesuíta Gaspar de Samperes faleceu em 1635, exilado pelos holandeses, em Cartagena de Índias, Colômbia.

A Fortaleza dos Reis Magos foi concluída em 1598, ou seja, oito anos após os portugueses terem construído a Casa Forte do Pium, em Papari. Isso nos ajuda a entender que, mal o Brasil havia sido descoberto, Papari já era conhecida e movimentada por toda espécie de europeus. E fica a pergunta: a “Casa Forte” de Papari teria sido construída pelos portugueses que fizeram a Fortaleza dos Reis Magos? Mas vamos lá.

O “Auto de repartição de terras”, lavrado na cidade do Natal, no Rio Grande em 21.2.1614, registra uma “data” de duas mil braças de terra pertencente ao padre Vigário Gaspar Gonçalves da Rocha em 24 de abril de 1601. É a mais antiga menção do primeiro vigário, dois anos após a fundação da cidade.

Ao longo desse texto perceberemos que não apenas pessoas de posses, como presidentes de capitanias, seus filhos e apadrinhados eram presenteados com grandes extensões de terras, mas muitos padres receberam verdadeiros latifúndios. Às vezes a terra de interesse era tão grande que Portugal indagava o motivo de uma única pessoa receber uma área maior que muitas vilas portuguesas. Isso aconteceu até pouco tempo, inclusive no período de D. Pedro II. Portugal queria ter a certeza de que todo aquele universo de terras realmente seria usado ou não. E claro que não!

O Pe. Serafim Leite S.J. mostrou que os Jesuítas pastoreavam o rebanho antes e depois da criação da freguesia, em data ignorada até hoje. Padre Gaspar de Samperes esteve quase sempre em Natal, e temos a sua presença nos anos de 1606 e 1616. Ele e o padre Diogo Nunes tinham batizado o velho Potiguaçu, o Camarão-Grande, chefe dos potiguares na época da colonização. Depois do Pe. Gonçalves Gaspar da Rocha, só aparece nome de padre em 1645, com o Pe. Ambrósio Francisco Ferro, trucidado pelos Cariris Janduís, a mando dos holandeses, no massacre de Tinguijada, em Uruaçu, em 3.10.1645.

De 1610 a 1645, nada sabemos. Outros nomes de sacerdotes surgem no mesmo “Auto de repartição”, como André de Soveral, paulista, mártir em Cunhaú, quando celebrava a missa no domingo 26 de julho 1645. É fundamental que saibamos que Papari faz parte desse aterrorizante Massacre, pois, conforme já escrevi no texto intitulado https://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2016/11/o-massacre-de-barra-de-tabatinga-no.html o Engenho de João Lostão Navarro, em Barra de Tabatinga também foi cenário desse episódio, onde morreram 17 católicos. Depois desse morticínio seguiu-se o massacre de Uruaçu, diga-se de passagem.

O superior eclesiástico seria o administrador da Prelazia de Pernambuco, criada em 15.7.1614 pelo Papa Paulo V, separada do Bispado da Bahia, sede do nosso Ordinário até essa data. O Prelado, Padre Antonio Teixeira Cabral, residia na Paraíba, superintendendo de Itamaracá ao Rio Grande do Norte.

Em 1618, ainda o Brandônio dos “Diálogos das Riquezas do Brasil” informava: “no espiritual é essa capitania da Paraíba cabeça das demais, da parte do Norte, de Pernambuco adiante. “D. Marcos Teixeira, quando assumiu o bispado da Bahia estava autorizado a jurisdicionar religiosamente Pernambuco, endossando depois pela carta régia de 8.2.1623. Voltamos então a pertencer ao antístete baiano.

Pela bula Ad sacram Beati Petri, de 16.11.1676, o Papa Inocêncio IX criou a Diocese de Olinda. O primeiro bispo D. Estevão Brioso de Figueiredo visitou o Rio Grande entre 1678, quando assumira em abril, em 1679, mais provavelmente. Até o século XIX o Rio Grande do Norte foi redil pernambucano.

O Papa Leão XII, pela bula Ad Universas Orbis Ecclesias, de 27 de abril de 1892, deu nova organização à hierarquia católica, criando quatro novas dioceses, entre essas a da Paraíba, desmembrada do Bispado de Pernambuco, dividindo o Brasil em duas províncias eclesiásticas; a meridional, com sede metropolitana no Rio de Janeiro, e a setentrional, sendo metropolita o prelado da Bahia. 

O Rio Grande do Norte se encontrou incluído na Diocese da Paraíba Ad efformandam autem aliam novam Parahyben Diocesen territoriam status cognominis et Fluminis Magni nordici, quae Pernambucensis Diocesis partem in praesens constituunt, item perpetuo distrahimus, illique attribuimus, explicava a Bula. O Bispado da Paraíba passou a Arcebispado a 6.2.1914 por ato do Papa Pio X. Foi nossa metrópole eclesiástica até a Bula de 1.3.1952, do Papa Pio XII, elevando a Diocese de natal a Arquidiocese.

O Papa Pio X pelas letras apostólicas Apostolicam in Singulis, de 28.12.1909, cumpridas pelo decreto executivo de 9.10.1910, do núncio apostólico Alexandre Bavona, criou a Diocese de Natal, nomeando-se bispo da Paraíba administrador apostólico.

Dom Joaquim Antonio de Almeida, norte-riograndense de Goianinha, então Bispo do Piauí, foi transferido para a nova diocese, tomando posse a 15.6.1911. Resignou a 15.6.1915. Dom Antonio dos Santos Cabral, sergipano de Propiá, foi o segundo Bispo, posse a 30.5.1918, sendo transferido em 21.11.1921 para a recém-criada Diocese de Belo Horizonte. Tomou posse em 17.3.1923 o 3º Bispo dom José Pereira Alves, pernambucano de Palmares, transferido para a Diocese de Niteroy a 27.1.1928. D. Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, 4º Bispo de Natal, e 1º Arcebispo tomou posse em 29.6.1929. Esse ilustre prelado, bahiano de Itanhambupe, deve ser credor da gratidão católica do Estado pela excelência de suas virtudes.

O Papa Pio XI pela Bula Pro Ecclesiarum Omnium, de 28.6.1934, criou o Bispado de Mossoró, sendo seu 1º Bispo dom Jaime de Barros Câmara, assumindo a 26.4.1936, transferido para a Arquidiocese de Belém do Pará em 1941 e desta para o do Rio de Janeiro. É o 3º Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.

O 2º Bispo de Mossoró, dom João Batista Pôrto Carreiro Costa, tomou posse a 8.12.1943. renunciou em 1953. O 3º Bispo dom Eliseu Simões Mendes, tomou posse em 20.2.1954. A Bula E Diocesibus, de 25.11.1939, criou o bispado do Caicó.

O 1º bispo foi d. José de Medeiros Delgado, posse a 26.7.1941 até 1951, quando foi eleito Arcebispo do Maranhão. Substituiu-o d. José Adelino Dantas, norte-riograndense, eleito em junho de 1952, então Reitor do Seminário de Natal, poeta latino eminentíssimo e de alta dignidade sacerdotal, jornalista e acadêmico. Sagrado em Natal a 14.9.1912, na praça onde se fundara a Cidade. Tomou posse em Caicó em 20.9.1952.

O mais antigo documento sobre a economia norte-riograndense na manhã de sua organização é a “Relação das cousas do Rio Grande, do sítio e disposição da terra”, referente a 1607, divulgado pelo Pe. Serafim Leite S.J. (História da Companhia de Jesus no Brasil). “A mor parte da capitania do Rio Grande, é terra plaina e sem montes, toda campina retalhada de muitos rios e lagoas, tôdas elas mui a propósito para a criação de gados. Tem também algumas várzeas capazes de alguns ingênios, das quaes a primeira, à bando do sul, quando sái da capitania da Paraíba e entra na do Rio Grande, é a que chamam de Camaratiba, na qual se está já fazendo um ingénio e tem terras para alguns outros. A segunda é a de Corimataí, na qual também se faz outro ingénio e tem terras, águas, lenhas e tudo necessário para oito ingénios. A terceira se chama de Iaqui. Nessas fazem os índios grandes milharadas e lavouras e tem muita cana de açúcar e tem também terras para alguns ingénios. Nesta paragens caem as lagoas, tão grandes e nomeadas por sua abundância de peixe, entre o gentio da terra, de Guirarira, de Upapeva e de Upapari que tem muitas leguas assim de largo como de comprido. A quarta varzea se chama Taraini;esta tem excelentes terras para ingénios e estão lá duas aldeias de índios. A quinta se chama Nhumdiaí tem terras e águas para dous ingénios, e tudo o necessário; esta várzea e Rio é da Companhia e nela tem já situadas casas e roças e um curral de gado. A sexta é a Várzea do mesmo Rio Grande , do qual toma nome toda capitania; esta várzea tem terras e tudo o necessário para três ou quatro ingénios. Estão nelas já plantadas muitas laranjeiras e muitas arvores de espinho, romeiras e muita cana de açúcar. A sétima é a grande várzea de Siara. Tem de comprido cinco ou seis léguas e de largo quase uma légua. Toda ela terra para ingénios tem cana de açúcar mui fermosa, e nela os Índios fazem grandes lavouras no verão. Grã parte dessa várzea é da Companhia de Jesus”.

Pela exposição anônima o Rio Grande possuía um engenho em construção na várzea de Camaratiba (depois de 1611 pertencente à Paraíba), outro incompleto na do Curimataú, que era o de Cunhaú, o vale do Jacú, com milharais, roçarias, canavial, a pesca na lagoa de Guaraíras, Papeba e Papari, casas, roças e um curral de gado na várzea do Potengi Rio Grande, havendo laranjas, romãs, limões frutificando e no vale do Siara (Ceará Mirim), “cana de açúcar mui fermosa”. Era tudo em 1607. Bem pouco, mas existiam as características econômicas de nossa vida social, o gado, num curral único, os canaviais, e um engenho, que pertencia aos dois filhos de Jerônimo d’Albuquerque. A pecuária e o açúcar responderiam pela vitalidade do Rio Grande do Norte até o séc. XIX. Já se pediam notas em 1607.

Nos registros de “Auto de repartições de terras”, em 1614 com 185 datas, vemos esse pequenino começo. As terras cultivadas eram de lavoura de mantimentos, milho, mandioca, feijão, as raízes feculentas para degustação diária, algum gado e três ou quatro portos de pescarias, em Pirangi, Redinha e Barra do Trairi. O gado viria de Pernambuco assim como a cana de açúcar. O ecúmeno alcançava Taipu, a noroeste, litoral para o sul, e para o norte, vagamente, sabia-se até proximidade com o futuro Macau ou Guamaré, melhormente.

Em princípio de 1630, o brabantino Adriano Verdonck espiona o Rio Grande. O núcleo colonial era Cunhaú, já corrente e moente em 1614, quando da “Repartição das terras”, graças às águas do Piquiri. Safrejava seis a sete mil arrobas de açúcar, em cem e cento e deis caixas que eram enviadas para Pernambuco, assim como farinha e milho. Não há lembrança documental de outro engenho funcionando.

Até 1643 a lagoa conhecida atualmente como Bonfim, tinha o nome de “Puxi”, sendo mudada pelos Capuchinhos, os quais não gostavam da tradução em português.

A Paróquia de São José de Mipibu, dedicada à Santana e São Joaquim, é uma das mais antigas da Arquidiocese, e data do século XVIII e sua criação de 22 de fevereiro de 1762 e compreendia o atual território de Nísia Floresta. Seu primeiro vigário foi o padre Teodósio da Rocha Vieira, serviu de 1764 a 1770. O bispo de Olinda, a 5 de julho de 1765 nomeava o padre Alexandre Dantas Correia para coadjutor da freguesia de Nossa Senhora do Ó e Santana e Mipibu. A aldeia possuía Nossa Senhora do Ó como padroeira. Oragos, Santana e São Joaquim. Foi terra de missões sob a direção dos Capuchinhos em 1703.

O patrimônio da paróquia é de 1746, quando foi doado pelo capitão Diogo Malheiros, 1100 braças de terra, sendo 600 de tabuleiro e 500 de plantações, entregue ao superior dos padres da aldeia, Capuchinhos, e a medição foi feita em 1762. A Igreja que serve de matriz deve ser muito antiga; deve ter seu início nos anos de 1726 a 27 pelo Frei Mauro de Leçano, continuada por Frei Cristovão de Gênova e terminada pelos anos de 1733 a 34 por frei Juvenal de Santo Albano, superior dos capuchos da aldeia.

Em 1749 o Rio Grande do Norte possuía cinco aldeias indígenas sob a direção de sacerdotes. Os Jesuítas tinham São Miguel de Guagiru (hoje Extremoz), e São Joáo Batista de Goaraíras, (hoje, Arês). Os Capuchinhos estavam na Aldeia de Mopobu (hoje São José de Mipibu). A aldeia de Apodi estava confiada aos missionários de Santa Tereza, Carmelita Descalços. A aldeia de Gramació a um missionário do Carmo da reforma, isto é, das Carmelitas da reforma Turônica ou Turonense. Além de evangelizar, os sacerdotes ensinavam a tecer, fiar e coser. Os padres que para cá vieram cuidar dos índios não tinham a mesma dedicação e abnegação dos Beneditinos que foram para a Paraíba. Em 1689 Extremoz (São Miguel do Guagiru) estava sob o comando do Padre Gaspar da Silva.  Não havia homogeneidade de raízes entre os índios da aldeia de Mipibu, inclusive os religiosos de outras regiões enviaram muitos cariris para ali.

Em 1689 o Senado da Câmara de Natal pedia ao Bispo de Pernambuco um padre, informando que havia na capitania uma paragem chamada Mopebi, a qual possuía uma capela. Em 1703 ele informava já existir ali a aldeia de Mopebu. O aldeamento tinha meia légua e 168 braças de largura por uma légua de longo, com 57 casais indígenas. A demarcação principiou á margem leste da Lagoa do Puxi, onde se fincou um marco de pedra lavrada em quina viva com as seguintes letras escritas com as quatro regras: “Índios de N. S. do Ó de Mopebu A M DCC III, que querem dizer: Índios de Nossa senhora do Ó de Mopebu ano de 1703.

Essa demarcação foi feita pelo juiz sesmeiro Dr. Cristóvão Soares Reimão, em presença do Governador da Aldeia, Francisco da Silva. Em setembro de 1736 o Capuchinho Frei Próspero de Milão, missionário local, solicitava 860 braças de terra que faltavam para a légua quadrada prometida pelo rei aos aldeamentos indígenas, o que lhe foi deferido e o terreno demarcado.

Em 1757 informava o ouvidor Domingos Monteiro da Rocha que Papari era uma povoação com “bastantes moradores”. Em 1762 o juiz Miguel Carlos Caldeira de Pina Castelo Branco (que ficou hospedado no Engenho Morgado), da família Peixoto, assegurava cinquenta braças em círculo as residências construídas ao redor da Igreja de Nossa senhora do Ó, edifício erguido com esforço local, auxiliado pelos Capuchinhos italianos instalados em São José de Mipibu, terminado em 1755 e ostentando freguesia 98 anos depois, no dia 30 de agosto de 1833. Um dos fundadores de Papari foi o Capitão Estevão Ribeiro, inclusive há no município uma povoação conhecida como “Barra de Estevão Ribeiro”, também chamada “Barra Velha”. Era assim a "Vila do Reino de Portugal", com direito a pelourinho, Senado da Câmara, administração eleita e vida administrativa independentes.

Até essa época nada se sabia de mais substancial no Rio Grande do Norte, sobre outras religiões. Apenas sabia-se que os holandeses do passado não praticavam o catolicismo. As próprias leis pertinentes à educação eram claras nesse aspecto. O artigo 6, (citar livro) diz: “Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções de geometria prática, a gramática da língua nacional e da doutrina Religião Católica Apostólica Romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil”. Observe que o ensino da doutrina católica era uma obrigação do Estado. Até aí o Estado não era laico como hoje.

ACERVO MAIS SIGNIFICATIVO DA IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó

1) 1 Lampadário de prata (P Coroa) contrastada;

2)  Ostensórios de prata portuguesa e francesa (contratados);

3)  Naveta de prata contrastada “Águia Portruguesa”;

4)  Turíbulo (também chamado incensário) de prata “P Coroa” contrastado;

5)  Cálice de prata com martírios (símbolos), “P Coroa”,  contrastado;

6)  Cálice de prata “Javali”, francês;

7)  Concha batismal de prata “Javali” (francês);

8)  Resplendor de prata “Águia”, português, contrastado (imagem de São José);

9) Grande resplendor de prata “P Coroa”  (imagem de Bom Jesus dos Martírios);

10) Resplendor de prata dourada (muito rara), portuguesa (imagem de São Benedito);

11)   Resplendor de prata portuguesa (Imagem de São Roque);

12) Resplendor de prata portuguesa com pedras portuguesas (imagem de Santo Estevão);

IMAGENS BARROCAS BICENTENÁRIAS

1) Nossa Senhora do Ó (há dúvida se portuguesa ou espanhola) FOI DANIFICADA  NA REFORMA ATUAL

2)   São Cristovão (possivelmente das origens da da Vila Imperial de Papari);

3)   Nossa Senhora das Dores (há dúvida se portuguesa ou espanhola);

4)   Santo Estevão (há dúvida se portuguesa ou espanhola);

5)  Nossa Senhora do Rosário - da antiga Capela dos Pretos (lateral);

6)  Santo Antônio (possivelmente pernambucana);

IMAGENS CLÁSSICAS

1)  São José (imagem clássica, possivelmente pernambucana), atualmente restaurada pelo artista plástico Genival, de Recife;

IMAGENS DE ROCAS (VIERAM DA ITÁLIA E ERAM MONTADAS NO BRASIL)

1)   Bom Jesus dos Martírios;

2)   Nossa Senhora da Soledade (seus cabelos são naturais);

ACERVO DE PEÇAS AVULSAS

1) 1 par de floreiras “Velho Paris”, pintados a ouro (remontam as origens da igreja);

2)  1 sacrário de madeira (barroco);

3) Castiçais em madeira pintados a ouro (restaurados pelo artista plástico Genival);

4) 1 arcais (grande) “Dona Maria”, em carvalho, espécie de cômoda, da origem da igreja. Só existem duas peças deste design. Uma está em Minas Gerais;

5) 1 arcais (pequeno) “Dona Maria”, em carvalho,  possivelmente das origens da igreja.

6)  1 crucifixo de madeira (do antigo altar-mor);

7) 1 imagem do Senhor Morto (tamanho natural), em madeira (possivelmente das origens da igreja);

8)  24 castiçais em bronze, possivelmente das origens da igreja;

OBS. Há várias imagens centenárias, em gesso, de grande qualidade e beleza. A MAIOR PARTE DAS PEÇAS ACIMA É FOLHEADA A OURO E PRATA MACIÇA.

Retornemos ao cerne desse estudo. Devo explicar ao leitor que, além de reflexões sobre fatos históricos relacionados aos clérigos do passado, explorei a lista publicada pelo padre João Batista Chaves da Rocha, anexando todas as informações que reuni ao longo de vinte e seis anos de pesquisa. Muita informação é inédita, mas infelizmente não tenho novidades sobre todos os sacerdotes. Nesse caso, optei por escrever fatos ocorridos no período em que eles atuaram em Papari. Não necessariamente o que fizeram. No momento estou apenas publicando para que os velhos papéis não se percam. Alguns já até esfarelam. Por se tratar de informações inéditas, serão de grande utilidade para pesquisadores e principalmente estudantes de Nísia Floresta. Daí a razão principal.

Devo esclarecer, obviamente, que não se trata de um material pronto, inclusive muito ainda pode e deve ser descoberto para enriquecê-lo. E por incrível que pareça, trago mais informações sobre os padres dos primórdios de Papari, que andaram por aqui há mais de um século, que os padres atuais. Isso se explica pelo fato de meus estudos terem abarcado o período da capitania hereditária até meados do século XIX.

A lista do padre Batista enumera a partir do primeiro padre oficial, designado pelo bispo de Olinda, mas antes dele existiram sacerdotes que trabalhavam em São José de Mipibu e davam assistência em Papari. São esses:

•         Padre Francisco Bezerra de Góis – 1727 Nesse mesmo tempo era sacerdote na capela de Nossa Senhora dos Remédios, em Cajupiranga. Esse sacerdote assumiu o seu posto seis anos após a mudança de nomenclatura das terras do Rio Grande, de “Capitania” para “Província”, sendo que a mudança se deu em 1821. Convém destacar que nessa época o povoado de Cajupiranga (caju vermelho) pertencia, geograficamente, a Papari (atualmente pertence a Parnamirim).

•         Padre Bernardo de Paiva Freire, coadjutor do Rio Grande (1727-1740),

•         O licenciado padre José Freire de Amorim (1733-1741)

•         Padre João Gomes Freire (1740).

•         Padre Francisco Xavier de Barros – 1730

•         Padre Antonio Araújo de Souza – 1731 a 1749

•         Padre Domingos de Rezende – 1741

•         Padre João Gomes Freire (licenciado) – 1745

•         Padre João Damasceno Carneiro – 1786 ao começo do século XIX (era padre de São José de Mipibu e dava assistência em Papari).

A partir de agora eis a lista oficial, mas com informações sobre alguns sacerdotes. Por vezes foi possível encontrar local, data de nascimento e morte, nome dos pais e uma breve biografia de alguns. Achei interessante contextualizar alguns fatos, por exemplo, o que estava acontecendo no Brasil, em Natal e em Papari naquela época. Infelizmente o leitor encontrará alguns nomes sem qualquer informação. É que ainda não encontrei nada sobre tal padre, mas se você as possui, envie por e-mail que anexarei com crédito para o seu nome. Sobre isso é interessante contextualizarmos um fato bastante importante nessa época. Seis anos antes de o primeiro padre oficial de Papari tomar posse, ou seja, aos 15 de outubro de 1827, o imperador ordenou que em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do império fossem criadas escolas de primeiras letras, e Papari foi um dos lugares contemplados.

É importante entendermos que apesar de a lista obedecer uma ordem cronológica, nota-se algumas lacunas. Dá-se a impressão que Papari ficava eventualmente sem padres oficiais por razões que desconheço e que no futuro poderão ser estudadas e explicadas ao leitor. É possível perceber que algumas vezes ocorre “choque” de datas, ou seja, dois padres aparentam exercer funções na mesma época, ou num mesmo ano. Isso é muito comum em algumas igrejas atuais, mas não sei se é o caso ou se são informações equivocadas. Seja como for, respeitei a lista que já estava pronta e apenas trouxe informações sobre a época que cada sacerdote administrou a paróquia. Se porventura há equívocos sobre períodos de um ou outro, creio que não sejam tantos, nem foram feitos por mim. Mas vamos aos fatos:

O PADRE ASSASSINADO POR TENTAR SE APOSSAR DE TERRAS ALHEIAS

Padre Antonio Gomes de Leiros, de 1833 a 1835 (primeiro sacerdote oficial de Nísia Floresta). A Paróquia de Nossa Senhora do Ó foi criada pela Resolução da Assembleia Geral nº 44, de 30 de agosto de 1833. Padre Leiros foi o primeiro sacerdote a conduzi-la nesses conformes de paróquia. Podemos afirmar que ele foi o primeiro padre oficial, mas seria injusto dizer que fora o primeiro padre que surgiu em Papari. Exemplo disso é a lista de padres acima, a começar pelos Capuchinhos, destacando-se Frei Mauro de Leçano, que esteve adiante das igrejas/capelas de São José e de Nísia Floresta em 1726 e logo em seguida, Frei Cristovão de Gênova, Frei Juvenal de Santo Albano, então superior dos Capuchos da aldeia. Esses religiosos se doaram de forma incomum, inclusive participando da própria construção da Matriz. A matriz de Nossa senhora do Ó foi erguida graças aos espólios de famílias ricas, fundadoras de Papari, destacando-se os Marinho, os Peres e os Gusmão e os Ribeiros, inclusive há um topônimo nisiaflorestense por nome “Barra de Estevão Ribeiro”, justa homenagem a esse pioneiro. O Padre Leiros era muito querido, mas infelizmente se deixou valer pela vaidade e foi assassinado. Nos arredores da Matriz haviam terras muito férteis, mas não eram cuidadas. Um nativo, por nome de Tomaz Marinho adquiriu o terreno e em pouco tempo a transformou num verdadeiro oásis. Organizou as nascentes, fez guias para escoamento de água, plantou toda espécie de frutas e legumes os quais prosperaram a olhos vistos. O padre Leiros, vendo a prosperidade do sítio, cresceu os olhos, inventou que a área pertencia à Nossa Senhora do Ó e entrou com um advogado para tomá-la. Não convencido, passou a provocar o sitiante que, infelizmente, numa desses insultos, o matou em pleno centro de Papari. A cidade, como não podia ser diferente, ficou chocada. Esse assassino se escondeu em Assu. Por curiosidade morreu poucos dias depois de a Milícia haver descoberto o seu esconderijo e estava preparada para prendê-lo. Na época de sua morte não existiam cemitérios. As pessoas eram enterradas nas paredes das igrejas e assim ele também foi. Por mais uma coincidência o Bispo de Olinda visitava as paróquias do Rio Grande do Norte e percebeu ter havido um enterro recente. Perguntou de quem se tratava e tomou conhecimento de que era o assassino do padre de Papari, mas que até o seu sepultamento, o padre local desconhecia a sua autoria. O bispo mandou arrancar os restos mortais e enterrá-lo em local não sagrado sem cruz nem informação alguma por escrito.  Os restos mortais do padre Leiros jazem na própria matriz.  Maiores informações sobre o assassino estão neste blog.

Padre José Alexandre Gomes de Melo, em 1835 – Colado de 1855 a 1866 (1834 a 1835)

O PADRE QUE RECEBEU O FAMOSO BISPO DOM FREI JOÃO DA PURIFICAÇÃO MARQUES PERDIGÃO.

Padre Francisco Manoel Maciel, de 1836 a 1840. O grande acontecimento na Papari da época desse sacerdote foi a visita do Bispo Dom Frei João da Purificação Marques Perdigão. Foi um grande acontecimento. O religioso veio da Diocese de Olinda, a qual jurisdicionava as igrejas de quase todo o Nordeste. O Rio Grande do Norte não tinha diocese própria. Sobre esse assunto o leitor pode ler maiores detalhes na história do padre Padre João Maria Cavalcante de Brito (abaixo). Dom Perdigão visitou Papari entre 3 a 5 de novembro de 1839. A cidade parou. Até então nunca explodiram tantas girândolas nem tantos enfeites foram exibidos nos postes. Dom Perdigão adentrou no Rio Grande do Norte pelo Ceará. Penetrou Apodi, descansando em “Sabe Muito”, nos arredores de Caraúbas, dormindo no então povoado; almoçou em Coroas, perto da Vila de Campo Grande (Augusto Severo),alcançando Açu. Atravessou Santa Quitéria, depois Patachoca, vila dos Angicos e pelo seu itinerário sabemos que o prelado veio por São Romão (Fernando Pedroza), Santa Cruz, Riacho Fechado, Várzea dos Bois, Umari, Boa Agua, Ladeira Grande, Taipu do Meio (sede municipal), Capela, no vale do Ceará Mirim e Extremoz. É a travessia do poente ao nascente, oeste-leste. De Natal, D. Perdigão partiu para a Paraíba repetindo quase o trajeto de Mascarenhas Homem no percurso de regresso em 1598. Natal, São Gonçalo, São José de Mipibu, Papari, Arez, Goianinha, Vila Flor, Tamanduba, Camaranduba (Paraíba), Mamanguape. É a descida norte-sul. A resolução provincial nº 7 de outubro de 1836 determinou que os eleitores da freguesia de Papari se reunissem em colégio na “villa de São José, da comarca de Natal”. A resolução nº 17, de 19 do mesmo mês determinou que as terras do patrimônio de Nossa Senhora do Ó da Matriz de Papari fossem aforadas a foro perpétuo.

Padre José de Melo Muniz, em 1840 (também era pároco em São José de Mipibu nessa época)

O PADRE POBRE

Padre João Soares da Veiga Albuquerque e Almeida, de 1840 a 1842 Era potiguar. Foi o primeiro vigário de Santa Cruz: 1836 a 1840. Quando se instalou em Papari veio justamente de Santa Cruz.  Foi o nono vigário de Extremoz, em 1832, exercendo-o durante um ano. Recebeu ordenação em Olinda. Em 1833 foi para São Gonçalo como capelão, de 1834 a 1839. Nomeado bispo diocesano como padre de Santa Cruz até 1840. Na visita pastoral que fez a São Gonçalo, o bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão teve uma conferência privada com o padre João Soares a respeito de uma denúncia recebida. O padre não a negou, causando estranheza no bispo, que o censurou. No entanto, não foi coisa gravíssima porque teria sido punido com pena de suspensão de ordens.  Dom João aconselhou o padre para que ele se preparasse para um futuro concurso para uma igreja paroquial, de cujo ministério já tinha prática. O padre manifestou ao diocesano algumas dificuldades, alegando grande pobreza. O bispo prometeu a sua ajuda pecuniária para que o padre conseguisse enfrentar o concurso para vigário colado de São Gonçalo. O referido padre foi vigário encomendado em Papari, de 8 de dezembro de 1841 a maio de 1842. Também se encarregou de São José de Mipibu no mesmo tempo de Papari. Quando vigário em Santa Cruz, o padre João Soares não deixou de ser capelão em São Gonçalo. De São José e Papari, depois de 1842, não se sabe o rumo que tomou, nem onde morreu.

Padre Gregório Ferreira de Lustoza, de 1842 a 1843 e 1847 a 1849 Foi nomeado vigário de São José de Mipibu em 24 de janeiro de 1842, por D. João da Purificação Marques Perdigão, e serviu até 1 de agosto de 1894. Foi um sacerdote muito competente e com destacada capacidade de gerenciamento. A resolução nº 85, de 18 de outubro aprovou o compromisso da irmandade do SS. Sacramento da Matriz de Papari, do município da vila de São José de Mipibu.

O PADRE DEPUTADO PROVINCIAL

Padre José Manuel dos Santos Brígido, de 1843 a 1855 – Esse padre também foi Deputado Provincial na sessão de 21 de outubro de 1847. Reside em sua biografia um dado que o faz sobressair dentre todos, no aspecto de pertencimento à história do município. Em seu período ocorreram fatos significativos na história de Papari. Embora quase ninguém saiba ele é autor do projeto que criou o novo município, ou seja, é o patrono - ou padrinho - da Vila Imperial de Papari. Criada em dezembro de 1852. Na realidade a resolução nº 242, de 18 de fevereiro de 1852, desmembrou do município da cidade de São José de Mipibu e elevou à categoria de Villa a povoação de Papari, com a denominação de “Villa Imperial de Papari.” A nova Villa foi instalada no dia 7 de janeiro de 1853. Os vereadores eleitos organizaram a solenidade na "Rua do Fogo" para recepcionar o Tenente Coronel Antonio Basílio Ribeiro Dantas, Presidente da Câmara Municipal de São José de Mipibu. A cidade parou para comemorar. Houve fogos, girândolas. A festa foi grande. Após a abertura da sessão, houve a chamada e cada vereador fez o seu juramento, seguindo-se a instalação da Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari. A lavratura da ata ficou a cargo do escrivão Alexandre Francisco de Sales e Silva, de São José de Mipibu, que foi assinada por todos os vereadores e autoridades presentes. Os primeiros dirigentes da Vila Imperial de Papari foram: Tenente Coronel Urbano Égide da Silva Costa Gondim Carneiro de Albuquerque, Luís Bezerra Augusto da Trindade, Francisco de Araújo Correia, Francisco Fernandes Lima, Francisco Lopes Galvão, Lourenço Joaquim de Barros e Antonio Maximiano Cruz. O município da nova vila passa a compreender todo o terreno pertencente à freguesia de Nossa Senhora do Ó de Papari. A resolução nº 272, de 14 de abril de 1853, declarou que o patrimônio da Câmara Municipal da cidade de São José de Mipibu, que, em virtude da criação da Vila Imperial de Papari, ficou dentro do novo município, serviria de patrimônio à Câmara desse novo município. Em 1854, conforme a lei nº 288, de 11 de agosto, o governo liberou um conto de réis para a “abertura da Barra de Camoropim”. Em 1855, conforme resolução nº 234, de 10 de setembro, dispôs o patrimônio da Câmara Municipal da cidade de São José de Mipibu, que pela resolução provincial nº 272, de 14 de abril de 1853, foi concedido à Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari, ficasse pertencendo em partes iguais às duas sobreditas municipalidades. Podemos dizer que graças a ele Papari foi emancipada. Até pouco tempo dividir um município era tão comum como banana na feira. O único interesse era politico. Não se pensavam no povo. E como o câncer da corrupção parece endêmica, tal prática era como se deparar com um baúde ouro enterrado no quintal. Bastava juntar dez pessoinhas e estava dividido o município. O que difere na atitude desse padre, embora ele tenha sido político numa época diferente, é o fato de a ideia não ter partido dos coroneis e senhores de engenho mipibuenses e paparienses, os quais queriam ser os donos da cidade, donos do povo, como era comum. Ou ainda o é, embora com outras roupagens. O que pesava então a favor desse padre? Ora, o próprio fato de ele ser Deputado Provincial e estar com a faca e o queijo na mão (no bom sentido) e, talvez mais, o fato de ser padre. Na época toda família tinha que parir um padre para estar na moda e nas entranhas do poder. O padre era a pessoa mais respeitada que os intendentes da cidade/vila. Houve uma soma de força e poder. Curioso é que ele poderia ter escolhido o novo e primeiro dirigente de Papari (prefeito), mas não o fez. Ele próprio poderia sê-lo. Mas não o quis. A atitude nobre desse sacerdote nos mostra que ele apenas enxergou a realidade da região, percebeu que era impossível a um só dirigente governar um município gigantesco como São José, elaborou a lei, levou-a para a Assembleia Provincial e conseguiu a aprovação. E fez bem, pois para a própia Igreja Matriz de Santana e São Joaquim era um desafio pastorar as ovelhas num município de proporções colossais como o foi Mipibu. Até hoje os sacerdotes alegam dificuldades em Nísia Floresta, imagine quando foi essa imensidão geográfica.

O FILHO, PADRE; O PAI, ASSASSINO

Padre João Leite de Pinho, de 1846 Natural de Natal (1801), filho do português Tenente Coronel Antonio José Leite do Pinho e Benedita Bernarda Antonia Rodrigues de Pinho. Eram pessoas muito ricas e relacionadas, moravam num casarão na rua da Conceição. A casa foi demolida para abrigar a Praça 7 de Setembro. O Padre João Leite de Pinho fez seus primeiros estudos no seminário em Natal Foi ordenado sacerdote pelo bispo diocesano João da Purificação Marques Perdigão, provavelmente em 1839, porque a sua primeira nomeação foi para coadjutor de Extremoz, antiga sede paroquial. Administrou duas vezes a Igreja de Extremoz: maio a dezembro de 1840 e 1857 a 1859. Em 1840 deixou Extremoz e se tornou coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, nos anos de 1841 a 1842 no paroquiato do vigário colado padre Bartolomeu da Rocha Fagundes. Antes de se tornar coadjutor em Extremoz, pela segunda vez, foi para São José de Mipibu no ano de 1843, onde foi pró-pároco por um mês. Padre João Leite esteve presente na paróquia de Papari de setembro a novembro de 1846 como pró-pároco, substituindo o vigário José Manoel dos Santos Brígido, quando este exercia a função Deputado Provincial. Sobre o referido padre, pouco foi deixado escrito, exceto informações colhidas aqui e ali. Foi mais fácil encontrar informações sobre a família dele que sobre ele. Mas um episódio curioso, que vale a pena ser retirado da poeira do tempo conto abaixo. Seu pai, o Coronel Antonio José Leite do Pinho assassinou o famoso revolucionário André de Albuquerque Maranhão (Chefe do Governo Republicano de 1817. Faleceu a 26 de abril de 1817, na Fortaleza dos Reis Magos, em consequência de ferimentos recebidos no dia anterior, quando fora deposto e preso, por ‘representantes’ da Coroa Portuguesa, ou seja, representantes da monarquia e contrário a independência do Brasil). O Coronel Antonio José Leite do Pinho veio de Portugal, Ilha do Porto, Freguesia de São José da Madeira. Pertencia à milícia (não se trata de milícia no sentido moderno, mas guarda/polícia). Ele foi assassinado em sua casa, Natal, na noite de 15 de março de 1834. Após ter assassinado André de Albuquerque, percorreu vários lugares se gabando pelo crime. Por onde andava exibia a faca suja de sangue, dando-a como do chefe revolucionário. Achando pouco, moveu uma justificativa na Justiça alegando ter matado o revolucionário em nome do tão proclamado patriotismo. A Coroa Portuguesa, que adorava essas notícias, ofereceu-lhe os galões de tenente-coronel e a Ordem de Cristo. Mas, numa época em que vingança era algo muito comum, André de Albuquerque Maranhão Arcoverde, sobrinho do André revolucionário, retornou da Europa e soube dos fatos. Cheio de ódio, estudou minuciosamente os passos do Coronel Antonio e planejou um crime digno de um filme de psicopata. Ele trouxe para Natal dois escravos do Engenho Cunhaú e disse que iria mandá-los fazer uma coisa que, se bem feita, “eles não precisariam de mais nada nesse mundo”. Isso significa que estava prometido aos infelizes escravos liberdade e muito dinheiro. Desse modo, incumbiu-lhes de matar o pai do padre Pinho. Naquele mesmo dia levou os negros até as proximidades da casa do coronel para que eles reconhecessem a fisionomia da vítima. Na tarde de 15 de março de 1834, o coronel brincava com um netinho na calçada da varanda de sua casa (O netinho referido se formaria em medicina na Bahia e tornaria-se presidente da província em 1879). Assim que a criança entrou os dois negros o abordaram. Ele lutou bravamente, mas, pego de tocaia, não obteve êxito. Os assassinos o crivaram de punhaladas. Ele sangrou até o dia amanhecer, morrendo de maneira sofrida igualmente o que fez a André de Albuquerque Maranhão. Os assassinos retornaram para dar a notícia ao mandante, o qual ficou muito feliz. No outro dia, bem cedo partiram para o Engenho Cunhaú, onde Arcoverde cumpriria o trato. Mas qual foi a surpresa. Assim que chegaram ele pediu que um deles fosse a uma fazenda vizinha dar um recado. Era o plano para ficar sozinho com o outro, o qual incumbiu-lhe de cavar um buraco para plantar um coqueiro. O negro, ávido por sua liberdade, e certo de que fazia a sua última missão como escravo, não mediu esforços. Estava o infeliz cavando o buraco quando Arcoverde o golpeou com uma barra de ferro. Nem precisou jogá-lo na cova. Sobre o “túmulo” plantou um coqueiro. Assim que o outro retornou do mandado, Arcoverde inventou uma desculpa e o empalou numa na mata das almas, em Tamatanduba. Realmente os infelizes pretos “não precisaram de mais nada desse mundo”.

O PRIMEIRO PADRE NASCIDO EM NÍSIA FLORESTA

Padre Basílio Alustau Navarro, de 1849 e de 1865 a 1870 Padre Basílio José Freire de Alustau Navarro, nascido em Papari, foi ordenado sacerdote, em Olinda, a 20 de novembro de 1849, passando a servir as paróquias de Papari e Arês. Era descendente do francês João Lostão de Alustau Navarro. Este, oriundo do Reino de Navarra, morador de Barra de Tabatinga, época em que ali ocorreu um massacre de 20 portugueses, em setembro de 1645, logo após o massacre de Cunhaú. Feita a barbaridade eles sem embrenharam com destino a Uruaçu, onde realizaram outro massacre. Na época do padre Basílio Alustau e na época de gerência do Padre Targino Paulino de Carvalho (abaixo), o Presidente da Província do Rio Grande do Norte (Governador) era D. Manoel de Assis Mascarenhas. Representou na Câmara temporária primeiramente a provincia do Rio Grande do Norte, depois a de Goyaz e finalmente a do Rio de Janeiro, sendo a 12 de Junho de 1850 escolhido senador pelo Rio Grande do Norte. Em 1845 a 1848 foi na Câmara dos Deputados um dos luzeiros da oposicão, em cujas fileiras militou quase sem tréguas durante toda a sua vida parlamentar. Era comendador da ordem de Cristo, oficial da Rosa e gentil-homem da Imperial Câmara. Papari teve uma grande conquista nesse ano (colocar o ano exato) com a instalação de duas escolas públicas. A lei nº 559, de 16 de dezembro de 1865, suprimiu a freguesia de São João Batista da povoação de Arez, ficando a pertencer o seu território ao de Nossa Senhora do Ó, da Villa Imperial de Papari, e ao seu município.

Padre Targino Paulino de Carvalho, 1850 – Nessa época morreram muitas pessoas de febre amarela em Papari. A epidemia começou em 1850 e terminou em 1851. A lei nº 272, de 14 de abril de 1853, determinou que o patrimônio da Câmara Municipal, que em virtude da criação da Vila Imperial de Papari ficou dentro do novo município, fique a este pertencendo. A resolução nº 334, de 10 de setembro determinou que o patrimônio da Câmara Municipal da cidade de São José de Mipibu, que pela resolução presidencial nº 272, de 14 de abril de 1853, fora concedido à Câmara Municipal da Vila Imperial de Papari, ficasse pertencendo em partes iguais às sobreditas municipalidades. Estabeleceu o modo de executar a mesma resolução. Em 1856 Papari também foi tomada por uma peste chamada “Cólera Morbo”, cujos mortos foram enterrados em covas afastadas do centro para evitar contaminação. Desse cemitério resta um cruzeiro na mata entre o Porto e a Moita. Nessa época Natal possuía um médico e uma botica. A província perdeu 2.563 pessoas, sendo 36 mortos em Papari e 153 de São José de Mipibu. Lei nº 382, de 16 de agosto de 1858, autorizou o Presidente da Província a despender 500$000 com a conclusão da obra da Igreja Matriz e mandou abrir uma estrada da vila à lagoa Puxi (Bonfim). A lei nº 460, de 16 de maio de 1859 concedeu mais cinco anos para a edificação da Casa de Câmara e Cadeia da Vila de Papari. Essa informação é muito curiosa, pois essas edificações eram muito peculiares e não se sabe onde foram erigidas, pois não existe resquício algum. A lei nº 478, de 13 de abril de 1860 criou uma cadeira de primeiras letras para o sexo feminino na vila.

O PADRE ABOLICIONISTA

Padre Manoel Fernandes Lustoza Lima – de 1870 a 1878. Esse sacerdote era abolicionista e encobria fugas de cativos, escondendo-os onde podia. E tal prática não era algo inusitado aos padres, pois muitos agiam da mesma forma. Seu discurso era pautado por ideias de libertação dos negros cativos. Em 1873 toda a província do Rio Grande possuía 10.892 escravos. Na época desse padre Papari, possuidora de 5.176 habitantes, foi sacudida por um levante de escravos, liderados pelo cativo “Manuel rei”, mas um escravo de Manuel Laurentino Freire Alustau Navarro deletou a insurreição e todos foram presos. Nessa época as duas escolas públicas possuíam 55 alunos, sendo 29 alunos e 26 alunas. Papari possuía apenas 13 eleitores, pois só podiam votar os homens ricos e influentes. Nessa época, conforme portaria de 11 de agosto de 1876 as dependências superiores da Igreja Matriz serviam para reunião do Colégio Eleitoral Municipal, formado com o município de Arês. Os Correios surgiram em Papari na época desse sacerdote, criado em 18 de dezembro de 1875. Durante a administração desse padre o estado do Rio Grande do Norte possuía o seu 36º Presidente, sendo Antonio Passos de Miranda (1876 a 1877). Nessa ocasião surgiu uma lei de alistamento militar para homens de boa saúde e com idades entre 19 a 30 anos. Essa lei substituía a lei de recrutamento vigorado na recente Guerra do Paraguai. O Governo determinou sedições locais em Canguaretama, São José de Mipibu, Goianinha e Papari. Como era comum nessa época, o alistamento ocorria nas igrejas, feitos por uma Junta composta por um juiz, um delegado e um padre. Mas, revoltados com essa lei, homens e mulheres invadiram as igrejas, dentre elas a de Nossa Senhora do Ó, rasgaram livros e agrediram os funcionários do governo. Em Mossoró chamaram esse movimento de motim das mulheres por ter sido dirigido por Ana Floriano, comandando trezentas mulheres decididas, arrancando os editais e despedaçando as listas. Em Goianinha houve três mortes. Os líderes desse movimento foram processados e a lei continuou em vigor até hoje. O presidente seguinte, José Nicolau Tolentino de Carvalho (1877-1878), governou na calamidade da seca. Sem ter muito o que fazer, afluiu os flagelados para o litoral, inchando cidades como Natal, Papari e São José de Mipibu. A lei nº 721, de 9 de setembro de 1871 criou uma cadeira de 3º grau para o ensino primário do sexo feminino na povoação de Arez, termo de Papari. A lei nº 642, de 14 de dezembro restabeleceu a freguesia de São João Batista, da povoação de Arez, tendo por limites os mesmos de antes da sua extinção. O território da freguesia continua incorporado ao município de Papari. Nessa época São José de Mipibu possuía uma grande biblioteca, a qual servia os habitantes de toda essa região.

O PADRE PREFEITO

Padre Antonio Xavier de Paiva – 1878, 1893 a 1898 – 1900 a 1907 - 1911 a 1912 – 1913 a 1918. Nasceu em 26 de maio de 1850, no povoado de Vera Cruz, na época pertencente ao município de São José de Mipibu. Terminou seus estudos eclesiásticos

O PADRE PREFEITO

Padre Antonio Xavier de Paiva – 1878, 1893 a 1898 – 1900 a 1907 - 1911 a 1912 – 1913 a 1918. Nasceu em 26 de maio de 1850, no povoado de Vera Cruz, na época pertencente ao município de São José de Mipibu. Terminou seus estudos eclesiásticos em Roma e ao regressar ao Brasil foi lecionar no Seminário de Olinda, em Pernambuco. Em São José de Mipibu, foi coadjutor do Cônego Lustoza, na Paróquia de Santana e São Joaquim. Monsenhor, de 1º de janeiro de 1923 a 1º de janeiro de 1926, foi Chefe da Intendência (Prefeito) de São José de Mipibu. Era irmão de Inácio Henrique de Paiva, também Intendente, eleito em 1899 até 1922. Este fez a mais longa administração em São José de Mipibu. Pouco fez pelo município. É de sua época o Cruzeiro do Século, cuja cruz original resiste até os dias atuais na Mazapa. Entregou o cargo sem explicações. Em 10 de agosto de 1923 elegeram para completar o triênio Pedro Juvenal Teixeira de Carvalho (morava em Cajupiranga). Em sua época, São José de Mipibu tinha 17.837 habitantes, sendo 8763 homens e 9111 mulheres. Foi admirado por seus trabalhos junto aos pobres, criando uma colônia para abrigar cerca de seis mil pessoas vítimas da seca de 1877 na região de Vera Cruz (Periperi), que à época pertencia a São Hosé de Mipibu. Foi nomeade São José de Mipibu em 1895, onde ficou até 1930, quando faleceu no dia 6 de junho. Em 1909, ainda na administração do padre Antonio Xavier de Paiva. O papariense Dr. Antonio de Sousa assumiu o cargo de deputado estadual, atuando durante seis anos e depois, entre 1912 a 1914, entre 1915 a 1917, e novamente em 1918.

O PADRE SANTO


Padre João Maria

Padre João Maria Cavalcante de Brito – de 1878 a 1882 – Mais conhecido como Padre João Maria, nasceu no “Arraial Logradouro do Barro”, em Caicó, aos 23 de junho de 1848, filho de Amaro Soares Cavalcanti de Brito e d. Ana de Barros Cavalcanti. Era irmão do eminente jurista Amaro Cavalcanti, que tem nome de avenida em Natal. Aos 13 anos ingressou no Seminário de Olinda, posteriormente transferindo-se para o de Fortaleza, onde ordenou-se dez anos depois, em 1871. Padre João Maria foi vigário em Caicó, Jardim de Piranhas, Flores (atual Florânia), Santa Luzia (Paraíba), Acari e Natal, onde fundou a imprensa católica, fundou o jornal “8 de setembro”, participou do movimento abolicionista e criou a Escola São Vicente de Paula. Pretendia construir a catedral de Natal, chegando a tomar algumas providências, mas infelizmente faleceu, e no lugar onde atualmente se encontra a moderna catedral, construíram a Praça Pio XII. Foi sacerdote de intensa participação na vida da comunidade, especialmente junto aos pobres e desvalidos. Era dinâmico e incansável nesse sentido, percorrendo as choupanas humildes, distribuindo tudo o que lhe chegava através de doação dos mais ricos. Henrique Castriciano, criador da Escola Doméstica e uma das primeiras pessoas a se preocupar em pesquisar sobre a escritora Nísia Floresta, disse o seguinte sobre o Padre João Maria “o seu coração foi como uma hóstia que se repartiu com todos”. Para Câmara Cascudo “foi a mais impressionante e sedutora figura de sacerdote que tenha paroquiado os natalenses. Em vida, cercava-o uma auréola de santidade”. A Praça Padre João Maria, no centro de Natal, é visitada por dezenas, às vezes centenas de pessoas que vão rezar, acender velas em agradecimento por graças alcançadas, depositando ex-votos no busto de bronze ali erguido ou apenas cultuá-lo exatamente por seu testemunho de intensa bondade e humanismo. Pagadores de promessas também afluem ao seu túmulo, no cemitério do Alecrim, particularmente no dia de finados. Ele faleceu aos 16 de outubro de 1905, desde então é venerado como santo. Consta que em seu enterro, o maior em Natal até então, compareceram cinco mil pessoas, para uma população estimada em quinze mil habitantes.  Em sua época, o Rio Grande do Norte não tinha Diocese própria. Os bispos vinham da Diocese de Olinda, a qual geria vários estados do Nordeste. A Diocese de Olinda, criada pelo Papa Inocêncio XI, a 16 de novembro de 1676, desmembrou-se da Diocese de São Salvador, na Bahia, a qual compreendia todo o Nordeste brasileiro, tornando difícil os trabalhos bispais. O padre João Maria foi quem acolheu o último bispo a visitar o estado nessas condições jurisdicionais - Dom José Pereira da Silva -, pois a partir de maio de 1892 o estado passou a contar com uma Diocese própria. Esse padre sempre foi considerado santo. Sua história é marcada de amor e bondade para com os pobres. Passava o dia inteiro fazendo o bem, sem descanso. Contam que ele peregrinava Natal e cidades vizinhas no lombo de um jumento evangelizando, dando extrema unção, enfim fazendo o seu papel de pastor sob chuva e sol. Levava apenas água, farinha e rapadura. Os fiéis o recebiam como quem recebe um deus, ofereciam do bom e do melhor, mas ele, diferente da maioria de seus iguais, se recusava, priorizando o que levava. Sua história é muito rica. Pe João Maria foi abolicionista. Em 1879 houve uma seca causticante que devastou tudo o que era verde. A miséria se ampliou de forma assustadora. O Presidente da Província Rodrigo Lobato Marcondes Machado fundou nas terras frescas de Pitimbu e Cajupiranga a Colônia “Bom Jesus dos Navegantes”, com três mil e seiscentas pessoas divididas em núcleos. A colônia plantou meio milhão de covas de mandioca e legumes. Em Vera Cruz (à época pertencente a São José de Mipibu, o padre Antonio Xavier de Paiva fundou outra colônia com seiscentos “retirantes”. Aproveitando a facilidade a abundância do braço humano, o presidente fez abrir estradas, cavar barreiros, construir açudes e desobstruir os veios de rios em Pitimbu e Cajupiranga. O contexto de miserabilidade arrastou muita gente do sertão bravo para Papari, atraídos pela abundância de águas, peixes, crustáceos e terras aptas para plantio. Embora a lista tradicional contendo os nomes dos padres não diz assim, encontrei fontes informando que o padre João Maria foi substituído pelo padre José Hermínio da Silveira Borges e não José Paulino Duarte, como segue abaixo. Preferi respeitar a lista e destacar as novidades. Verídico ou não, são as coisas da História, as quais são elucidadas aos poucos. Quem sabe por você?!

O PADRE QUE RECUSOU A "CADEIRINHA DE ARRUAR"


Ilustração de domínio público mostrando como eram transportados os papas e, no Brasil, em algumas paróquias, até meados do século XIX, os padres.

Padre José Paulino Duarte – 1881 a 1882 – O grande acontecimento da época desse sacerdote foi a visita do Bispo Dom José Pereira da Silva Barros. Ele chegou em 1882, inicialmente a Natal a bordo do navio Pirapama. Percorreu inúmeras cidades e retornou a Natal. Em setembro embarcou no trem rumo a Papari, tendo chegado quase noitinha. Uma multidão foi buscá-lo na recém-inaugurada Estação “Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company Limited”, onde autoridades de Natal e cidades vizinhas se acotovelavam. Providenciaram uma "cadeira de arruar" para o transporte do bispo, mas ele a recusou peremptoriamente. Essa peça era literalmente uma cadeira presa a uma estrutura de madeira que dois escravos colocavam sobre os ombros, permitindo suspender suspendê-la com a pessoa sentada, ficando protegida do cansaço das caminhadas, do sol e da chuva. Era resguardada por cortinas. As famílias dos senhores de engenho assim percorriam as ruas das velhas cidades brasileiras. Mas o bispo preferiu ir andando junto ao povo, pisando na velha estrada de barro. Naquela época o Papa Leão XII era transportado nesses conformes. Certamente as autoridades de Papari, ainda fortemente mantenedoras dos deploráveis hábitos imperiais, entenderam se tratar de uma espécie de padrão para religiosos de tamanho posto.


A ilustração acima, de domínio público, traz um modelo de "cadeirinha de arruar". Os escravos - que não eram considerados gente - faziam o papel de animais


Imagem de domínio público

Essa visita novamente parou a Vila Imperial de Papari. Perfilaram dezenas de fogueiras nos dois lados da rua, de modo que iniciava próximo ao atual comércio do Sr. Pedro Leandro e terminava próximo da Matriz.  Como reza a tradição, acionaram incontáveis girândolas. Os postes desapareceram em meio aos enfeites expostos nas ruas. A família do padre José Paulino residia no Engenho Descanso, portanto o bispo Dom José da Silva Barros foi ali hospedado. Nessa época a Casa Paroquial era de taipa e muito acanhada. Esse bispo agradou e desagradou, pois era abolicionista e sua fala destacava essa necessidade. Era uma figura adorável. Muito simples e voltado para os pobres. Em São José de Mipibu visitou e abençoou os presos na Cadeia Pública. Deu muita esmola e parava para conversar com vendedores de caranguejo. Quando deixou Papari, uma multidão o acompanhou até a estação. Muitos choravam alto ao despedir-se daquela figura que a todos impressionou.

Padre José Hermínio da Silveira Borges – 1882 a 1897 – Foi durante o exercício desse sacerdote que Nísia Floresta faleceu em Rouen, França, aos 24 de abril de 1885. Mas como aconteceu em quase todo o Rio Grande do Norte, o povo de Papari tomou conhecimento muito tempo depois. A lei nº 920, de 13 de março de 1884 criou uma cadeira de instrução primária para o sexo masculino em Campo de Santana. A lei nº 981, de 31 de março de 1886 criou uma cadeira de ensino primário para o sexo masculino na povoação de Alcançuz. O decreto nº 9 de 18 de janeiro dissolveu a Câmara Municipal e determinou que, até a constituição do Estado, o poder municipal de cada localidade fosse exercido por um conselho de Intendência Municipal, composto, nas cidades, de cinco membros e nas vilas, de três, sob a presidência de um deles, de nomeação do Governo. Nessa época o Presidente da Intendência de Papari era o Coronel José de Araújo. O decreto nº 12, de 1º de fevereiro, mudou o nome de “Villa Imperial de Papari” para “Villa de Papari”. O decreto nº 14, de 18 de fevereiro de 1890 elevou a cinco o número de intendentes do município de Papari. O decreto nº 72, de 6 de novembro extinguiu a cadeira de instrução primária para o sexo feminino de Campo de Santana.

Padre Irineu Otávio Sales e Silva, de 1898 a 1900 – de 1908 a 1911

Padre Aderbal Gomes de Castro, em 1901

 Padre José Paulino de Andrade, de 1901 a 1902

Padre Paulino Duarte da Silva?, em 1905

O PADRE QUE TIROU A PRÓPRIA VIDA

Padre Manoel Maria de Vasconcelos Gadêlha – 1912 a 1913 – Esse padre estava à frente de seu tempo. Era um homem de certo modo excêntrico comparado ao perfil dos padres de sua época. Uma espécie de médico; fazia remédio com compostos naturais e químicos. Era muito amado pela população, pois, num tempo de muita ignorância, onde médico era sinônimo de realeza, todo tipo de doença assolava, ele estava sempre medicando e orientando os fiéis a terem hábitos saudáveis.  Também foi padre em Canguaretama, tendo conduzido a paróquia a partir de janeiro de 1912 a maio de 1915. Foi um sacerdote que podemos alegar, sem dúvida, que possuía um diferencial. Na realidade ele tinha aquela característica que Jesus ensina, pois acolhia a todos, inclusive as prostitutas e pessoas renegadas pela sociedade. Não era muito ligado aos ricos – só em caso de necessidade extrema os procurava. Tinha uma relação forte com os pobres e miseráveis. Em meio aos atendimentos médicos, aconselhava, fazia a pessoa abrandar o coração e nesse contexto evangelizava. Se a pessoa fosse do tipo inflexível ou mesmo sem temor às coisas de Deus, ele não a abandonava. Não dizem que remédio é para quem está doente? Assim ele conseguia encher a igreja com muita honestidade e verdade. A igreja de Santa Cruz, em sua época, vivia cheia de prostitutas, pois ele as buscava em seu ambiente de trabalho. O mesmo hábito ele trouxe para Papari e Canguaretama, onde foram tolerantes com ele, mas na Paróquia de Santa Cruz, a qual assumiu em 1924, ele comprou briga. As mulheres da alta sociedade se retiravam da missa quando uma meretriz adentrava a igreja, atraídas pelo aval desse sacerdote. Representantes de vários segmentos, abominados com a condescendência do sacerdote, sem a capacidade de entendê-lo, chamaram-no para conversar, mas ele disse: “para mim e para Deus elas são iguais a vocês; se vocês viessem à igreja comprometidas com Jesus enxergariam apenas Jesus. Não enxergariam nada mais. Tentem também enxergar Jesus”. O resultado não foi bom. Nunca um padre foi tão perseguido e apedrejado. Alguns fiéis, se assim podemos classificá-los, fizeram um abaixo-assinado e o enviaram ao bispo. Descontentes, fizeram outro. Só pisaram na igreja depois que o sacerdote saiu, mas, por ironia, morto. No dia 9 de outubro de 1926 ele ingeriu uma dose de estiquilina (uma espécie de arsênico), preparada por ele e se suicidou. A cidade ficou chocada. Nunca imaginaram que um padre fosse tão humano.

Padre Fortunato de Areia Leão – 1913 - No período de 1929 a 1930 atuou em Apodi. Em 27 de fevereiro de 1921 tomou posse na Paróquia de Santana, em Luís Gomes. Foi o primeiro pároco oficial dali, onde exerceu suas atividades até 1926. 1920-1929, com uma breve substituição em 1926. Em vários documentos encontrei um de seus sobrenomes escrito "Arêa", e não Areia.

O PRIMEIRO PADRE A MORRER EM DECORRÊNCIA DE IDADE AVANÇADA EM PAPARI

Padre Misael Justiniano de Carvalho – 1919 a 1930 – de 1931 a 1933. No período de 1908 a 1909 esteve adiante da igreja de Canguaretama. Atuou em Goianinha, de dezembro de 1923 a março de 1924. De 4 de outubro de 1934 a 9 de agosto de 1936 atuou em João Câmara. Faleceu em Nísia Floresta aos 28 de janeiro de 1943. Em 1920 Papari possuía 6.544 habitantes. Durante a administração desse sacerdote o Dr. Antonio de Sousa, que atualmente é nome de rua em Nísia Floresta, e cuja rua passa defronte a Matriz de Nossa Senhora do Ó, assumiu o cargo de Governador do Estado. Foi eleito a 24 de abril de 1920, repassando em seguida para Ferreira Chaves. Dr. Antonio de Sousa, nascido em Papari, também era exímio escritor. Leia sobre ele nesse mesmo blog: http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2016/11/a-cunhada-do-dr-antonio-de-sousa.html.

http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2014/03/gizinha-obra-comentada.html


Monsenhor Celso Cicco – Acervo: Gerinaldo Moura

 Monsenhor Celso Cicco – em 1930 (Cônego em São José de Mipibu)

Padre Antonio Brilhante de Alencar – 1931 – Também foi pároco oficial em São José de Mipibu.Geriu a paróquias de Lajes no período de 9 de abril a 7 de junho de 1928, bem como de 27 de janeiro de 1929 a 20 de janeiro de 1931 Esteve em Goianinha entre 8 a 12 de 1931 e 3 a 6 de 1943. Vigário encarregado. Faleceu em natal aos 2 de janeiro de 1942.

Padre Antonio Avelino da Silva – 1934 a 1935 (Foi padre oficial em Canguaretama de 1933 a 1934).

Monsenhor Ulisses Maranhão – 1935 a 1937 (também foi padre oficial em São José de Mipibu). Embora pareça algo insignificante, um dos grandes projetos ocorridos no município nessa época foi a construção de uma estrada carroçável, ligando Oitizeiro a Campo de Santana. A propósito esse povoado foi contemplado com uma cacimba (espécie de fonte de água). Funcionava no Porto uma Colônia de Pescadores, a Z-10.

Padre Esmerino Gomes da Silva, em 1937 - Foi pároco em Canguaretama, de maio de 1915 a outubro de 1915, em Lages, no período de 6 de março de 1936 a 15 de agosto de 1936.. Foi na estadia desse sacerdote que o município, chamado Vila, recebeu foros de “cidade”, conforme o Decreto 457, de 29 de março de 1938.


Padre Esmerino, ao centro, sentado.

Cônego Luiz Adolfo de Paula, em 1937 – de 1943 a 1945. Durante a administração desse padre foi fundada em Papari, no dia 17 de julho de 1938, uma Cooperativa Agropecuária de Crédito Rural. Oficialmente eram tidos como “povoados” os seguintes lugares: Alcaçuz, Barra de Tabatinga, Campo de Santana, Currais, Morrinhos, Pirangi do Sul, Porto e Tororomba. Papari possuía nessa época uma “Agência Fiscal”, subordinada à Mesa de Rendas Estaduais de Canguaretama. O município era constituído de um dos termos da Comarca de São José de Mipibu,  e tinha um único distrito judiciário, que era o distrito administrativo. Costava de um juiz municipal, três juízes de paz, um adjunto de promotor e um cartório público com todos os ofícios de justiça, com exceção ao de registros de imóveis. Nessa ocasião Papari estava dividida em três distritos policiais, sendo: o de Papari, o de Pirangi do Sul e o de Campo de Santana, todos com suas respectivas sedes. Havia um delegado de polícia que por lei residia no município e três subdelegados nas sedes dos distritos, e suplentes de delegado e subdelegados em número de três para cada distrito. Em Goianinha, de janeiro a fevereiro foi vigário, de março a agosto foi vigário substituto; de setembro a dezembro de 1943. Faleceu aos 17 de setembro de 1949, em Recife.

Padre João Verbeck (MSF), de 1937 a 1942 Em 1937 foi feito o levantamento do mapa geral do município e a planta da cidade. Papari foi elevada à categoria de “cidade” pelo Decreto 457, de 29 de março de 1938. Em 1941 batizaram-se 216 crianças, sendo que nasceram nesse ano, sendo 74 do sexo masculino e 63 do sexo feminino, e 79 de anos anteriores (40 homens e 39 mulheres). Celebraram-se 20 casamentos. Consta que nessa época a Paróquia possuía sete templos: uma igreja Matriz, na cidade, e seis capelas curadas. Celebravam as seguintes festas de padroeiros: Nossa Senhora do Ó, na Matriz; São Sebastião, em Campo de Santana e Currais; São João, no Porto, Nossa senhora das Dores, em Pirangi do Sul; Nossa Senhora das Mercês, em Alcaçuz; e Santa Luzia, em Tororomba. Nesse mesmo ano ocorreram 21 contravenções, sendo oito lesões corporais, um envenenamento e um infanticídio. Em 1942 a Cooperativa Agropecuária possuía 81 sócios. Nessa época havia em Papari apenas o ensino primário. Eram sete escolas ao todo. Todos mantidas pelo Governo do estado. Escolas Reunidas Nisia Floresta, no centro; seis outras isoladas nos povoados de Alcaçuz, Campo de Santana, Currais, Porto, Morrinhos e Tororomba. O total de alunos era de 343. Em 1942 os agricultores mais prósperos em Papari eram Maria Aparecida Ferreira, Josina Galvão Duarte, Joaquim Felicino de Paiva, Roque de Albuquerque Maranhão e Francisco Anísio. A indústria no município se reduziaa ao fabrico de farinha de mandioca, para que existem diversos aviamentos, todos manuais; de açúcar bruto, que se faz em sete engenhos, e aguardente, em quatro outros (seria um de Vicente Elísio). Funcionam ainda nesse município duas caieiras e uma olaria. Há também uma interessante indústria de redes de dormir, feitas à mão, de fio muito bem tecido, especialmente no povoado de Campo de Santana (veja que ele não diz Cururu – era só o rio). O município era permeado por pau-ferro, massaranduba, sucupira, peroba, pau-mulato e pau-louro, oiticica. Em 1942 Papari era menor que muitas vilas do RN em termos de população. Não haviam ruas nem praças nem passeios calçados. Nâo era arborizada nem ajardinada. A luz elétrica foi inaugurada em 3 de maio de 1932. Vinha de São José de Mipibu. De propriedade da empresa Júlion Ramalho Cavalcanti. O gestor anterior a 1942 atrasou diversos pagamentos e por muitas vezes houve o desabastecimento, causando problemas. Quem visitava Papari nessa época era como se ela tivesse sido congelada há quarenta anos passados. Havia cadeia, mercado público e banheiro público. Em 1942 Papari possuía 6.544 habitantes.

Cônego Pedro Paulino Duarte, de 1942 a 1943 – de 1945 a 1949. Nasceu em 29 de junho de 1877, de tradicional família de São José de Mipibu. Não há registros sobre onde realizou os seus primeiros estudos, mas consta que se ordenou sacerdote na Paraíba, em 22 de fevereiro de 1901. Atuou como professor em educandários e escolas católicas como o Colégio Pio X, na Paraíba; foi diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, de Mossoró, e professor no Colégio Santo Antonio, em Natal. Considerado um intelectual, publicou vários poemas em jornais locais e um livro “Discursos e Conferências”. É famosa a sua poesia "Anjo Triste". Foi nomeado vigário Paroquial em 1938, para a Paróquia de Santana e São Joaquim, em São José de Mipibu, onde atuou até 1954 e está sepultado no cemitério de São José de Mipibu. Costumava brincar, dizendo: "as velhas igrejas cheias de túmulos residenciais de almas do outro mundo". Era padrinho de crisma de Dom Adelino Dantas. Foi responsável pela construção das duas torres da igreja matriz de Santana dos Matos, entre 1929 a 1930, complementando sua ornamentação. Foi padre em Goianinha, atuou de julho a outubro de 1938) como vigário encarregado e 8 de setembro de 1952, vigário substituto. Faleceu em São José de Mipibu no dia 12 de março de 1954.

"Anjo Triste" (Cônego Pedro Paulino Duarte)

Mundo! — Vale de lágrimas e agruras!...

Se o anjo tem vislumbres de saudade,

a alma ingênua também sente amarguras,

entre os brinquedos da risonha idade...

Zaíra, tão jovial, tão sem maldade,

pilhara um passarinho nas alturas...

Prendera-o cheia de felicidade,

sem divulgar do preso as amarguras.

Certo dia — entristeço ao recordar!

Célere a aflita, veio a mim contar

como era fundo o sofrimento seu.

Ouvi (que acerba dor, mágoa cruciante!):

— "Padre, me escuta; ouve-me padre, um instante:

meu passarinho, de cantar, morreu!...”

 

O PADRE QUE FUNDOU O ABRIGO DE IDOSOS ANÍSIA PESSOA


Monsenhor Antonio Barros, de 1949 a 1953. Nasceu em Tibau do Sul, Paróquia de Goianinha, aos 8 de novembro de 1914. Filho de Antonio Ernesto Barros e Alcina Elisa Torres Barros. Estudou no Seminário de São Pedro, em Natal. Fez Filosofia e Teologia em Fortaleza. Recebeu a ordenação sacerdotal conferida por Dom Marcolino Dantas, aos 26 de outubro de 1941, na Catedral de Natal. Sua primeira nomeação foi para coadjutor de Nova Cruz. Depois foi ser vigário de Canguaretama e Pedro Velho. Por ocasião do tricentenário do morticínio dos mártires de Cunhaú e Uruaçú, o então padre Barros promoveu o 1º Congresso Eucarístico de Canguaretama. Foi transferido para São Rafael, onde passou pouco tempo.


Cortejo com o corpo do padre Monsenhor Barros

Em 1944 ele recebeu nomeação para São José de Mipibu, desempenhando muitas atividades apostólicas com eficiência e dedicação, dentre elas um congresso eucarístico e a fundação do Abrigo de Idosos Anísia Pessoa. Grande parte do seu sacerdócio deu-se em terras mipibuenses, onde foi comemorado a sua Boda de Ouro como vigário. Faleceu naquele município na década de 2000 e está sepultado na própria Matriz de Santana e São Joaquim). Em 1985, respondia interinamente em Canguaretama, juntamente com o Pe. Matias Patrício de Macedo. Durante essa primeira administração do Monsenhor Antonio Barros, Café Filho foi eleito Deputado Estadual. Como foi exposto, também foi padre “domingueiro”, antes do padre João Batista vinha muito a Nísia Floresta com o propósito de celebrar missas.

O PADRE POLÊMICO


Cônego Rui Miranda

Cônego Rui Miranda, de 1953 a 1956 Fez várias reformas na Igreja Matriz de Nísia Floresta. Como em sua época as leis referentes à preservação do Patrimônio Histórico não eram tão conhecidas em Papari, nem eram tão rigorosas, infelizmente ele fez algumas mudanças, descaracterizando a arquitetura original interna. É possível ver marcas até hoje dessa reforma, olhando atentamente o seu interior (para quem está no soalho de entrada da escadaria de acesso ao sino). Em 1954 o Presidente da República Getúlio Vargas se suicidou. Café Filho era Vice-Presidente da República e assumiu por direito o posto de Presidente. Por essa feliz coincidência, foi ele quem facilitou tudo para que os despojos de Nísia Floresta chegassem ao Brasil superando uma burocracia sem fim.  Foi o Cônego Rui Miranda quem acolheu – se assim podemos dizer – os restos mortais de Nísia Floresta, em 1954, quando houve uma grande solenidade, tendo em vista a chegada de seus despojos da França. Nesse dia Nísia Floresta parou. Nunca a cidade viu tanta gente. Haviam autoridades de diversos estados do país, além de representantes de diversos órgãos municipal, estaduais e federais. Eu o entrevistei em 2006. O material está nesse mesmo blog. A maior parte da sua atuação sacerdotal deu-se em Ceará Mirim. Era um padre polêmico e envolveu-se em muita confusão em Ceará-Mirim. Alguns exemplos:


Opinião de um sacerdote de Ceará-Mirim:Trecho retirado de uma monografia da UFRN



Trecho retirado de uma monografia da UFRN


Trecho retirado de uma monografia da UFRN

Padre Armando Paiva, de 1956 a 1958 Deixou NF para ir para Goianinha. Vigário em Goianinha desde 5.9.1958. Encontra-se com 89 anos de idade.


Padre Armando de Paiva


Padre Armando de Paiva

Monsenhor Antonio Barros, de 1958 a 1966 (Já comentado acima).

Padre Otto Eufrásio de Oliveira, de 1967 a 1977 (organizando informações)

O PADRE PIONEIRO NAS OFICINAS DE ORAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE


Padre Alfredo de Oliveira Costa Filho

Padre Alfredo de Oliveira Costa Filho, em 1978 - Padre Alfredo de Oliveira Costa Filho foi ordenado Sacerdote, pelo então Arcebispo de Natal Dom Nivaldo Monte, no dia 03 de julho de 1977, no Ginásio de Esportes do Colégio Marista, em Natal. Em seguida foi designado para exercer a função de Diretor de Formação dos seminaristas, em uma nova experiência vocacional mantida pela Arquidiocese de Natal. Ao mesmo tempo foi nomeado pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta.

No início do ano de 1979, foi estudar no Rio de Janeiro para aprofundar o conhecimento das Sagradas Escrituras, na Escola Teológica do Mosteiro de São Bento e ali foi designado Vigário Paroquial da Paróquia da Ressurreição, no bairro de Copacabana.

Em 1981, retornando à Arquidiocese de Natal, foi destinado para ser Vigário na Paróquia de Touros, missão que exerceu até o ano de 1984. De 1985 a 1988 foi Pároco na cidade de Pedro Avelino, e em novembro deste mesmo ano, foi nomeado o primeiro Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis, da qual fazia parte a Comunidade de Pirangi. Em 1991 foi criada a Paróquia de Cristo Rei e o Padre Alfredo foi nomeado o seu Primeiro Pároco, missão que exerce até hoje. Portanto, destes 33 anos de Ministério Sacerdotal, 19foram vividos nesta Comunidade. O Padre Alfredo também realizou outras missões durante estes anos. Foi Capelão do Colégio Marista de 1977 a 1978; Capelão do Colégio das Neves de 1981 a 1994 e Dirigente Espiritual do Colégio Maria Auxiliadora nos anos 1984 a 1998.

Em abril de 1989 trouxe para a Arquidiocese de Natal o Movimento Oficinas de Oração e Vida e em maio de 1991 o Movimento de Espiritualidade Conjugal Equipes de Nossa Senhora. Em fevereiro de 1997, ele, a pedido de Dom Heitor de Araújo Sales, então Arcebispo de Natal, foi nomeado Diretor da Escola Diaconal Santo Estevão, cargo que exerceu durante seis anos. Ele foi também diretor da Escola de Formação do Magistério, o Instituto Presidente Kennedy durante três anos colaborando na formação de novos professores. Foi ainda Orientador do Ensino Religioso na Secretaria Estadual de Educação durante oito anos. Graduado em Psicologia, faz atendimento espiritual e psicológico ao longo dos seus 35 anos de Ministério Sacerdotal.

O PADRE ABNEGADO EM PROL DA CAUSA DOS MÁRTIRES DE CUNHAÚ E URUAÇÚ

Monsenhor Francisco de Assis Pereira (data não encontrada) - Monsenhor Francisco de Assis Pereira, da Arquidiocese de Natal, faleceu na manhã desta terça-feira, 13 de dezembro, na Casa de Saúde São Lucas, onde estava internado desde ontem. Ele nasceu em 12 de abril de 1935 e foi ordenado sacerdote em 13 de abril de 1958. Desempenhou funções importantes na Arquidiocese de Natal, como Vigário Geral, no governo de Dom Heitor de Araújo Sales; postulador da causa dos Mártires do Cunhaú e Uruaçu; e responsável pelo arquivo.

Monsenhor Francisco de Assis - Fonte: Arquidiocese de Natal


Velório do Monsenhor Francisco de Assis - Fonte: Arquidiocese de Natal

Frei José Soares da Silva, de 1981 a 1982

Monsenhor Francisco Canindé Palhano, 1982


Monsenhor Francisco Canindé Palhano

O PADRE PERNAMBUCANO


Dom Luís Gonzaga da Silva Pepeu. Nomeado pelo papa Bento XVI Arcebispo da Arquidiocese de Vitória da Conquista (BA), Frei Luís Gonzaga Pepeu, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), de 51 anos, estava na diocese de Afogados da Ingazeira desde outubro de 2001.

Tem como lema episcopal o texto do profeta Jeremias “Não temas, estou contigo” (Jr 1,8). Ele é membro efetivo da Comissão Episcopal dos Tribunais Eclesiásticos de Segunda Instância da CNBB e do Conselho Econômico no Regional Nordeste 2 (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte).

Conheça um pouco da vida do Arcebispo:

- Terceiro bispo de Afogados da Ingazeira, Dom Luís Pepeu, nasceu em Caruaru no dia 18/02/1957. É o segundo dos oito filhos de Pedro de Souza e Izabel S. Pepeu. Ingressou no convento dos capuchinhos em Caruaru, no ano de 1968. Continuou seus estudos na Escola Dom Vital. Cursou o ginasial no Colégio Diocesano de Caruaru e o científico no Colégio Moreira e Silva em Maceió, AL. Já no ano de 1977 fez o noviciado em Vitória da Conquista, BA. Freqüentou o curso de teologia no seminário São Francisco, província dos capuchinhos em Nova Veneza, SP;

No ano de 1982 concluiu o curso de teologia no Instituto de Teologia do Recife. Foi ordenado Presbítero no dia 8 de dezembro de 1982; obteve a Licenciatura em Direito Canônico pela Universidade Católica da América, em Washington, e o doutorado pela Universidade São Tomáz de Aquino, em Roma. Homem de muitos ofícios e ministérios, Dom Pepeu exerceu ao longo de sua trajetória os seguintes trabalhos:

* Na ordem: Mestre de Noviços, Superior (guardião dos conventos da província e cúria geral), Diretor dos Estudantes, Conselheiro Ecônomo, Vigário Provincial, Ministro Provincial, Presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil e Assessor Jurídico da Procuradoria Geral dos Capuchinhos,

* Na pastoral: Vigário Paroquial, Administrador Paroquial e Pároco. Foi nomeado pelo Papa João Paulo II, bispo da diocese de Afogados da Ingazeira, no dia 13.06.2001. Lema: "Ne timeas tecum ego sum" (Jr 1,8) "Não temas, estou contigo". Profissão religiosa: 17/01/1978. Ordenação episcopal: 06/10/2001, em Caruaru. Está na função desde 27/10/2001.

Frei Gabriel Távora, 1985

Monsenhor Antonio Barros, de 1986 a 1989 (Já comentado acima)

O PADRE QUE PEITAVA OS POLÍTICOS E REALIZOU A MAIS PERFEITA RESTAURAÇÃO NA MATRIZ

Padre João Batista Chaves da Rocha De 1990 a 2003


Padre João Batista Chaves da Rocha

Padre Inácio Henrique. De 2003 a 2010


Frei Joacyr Borges – OSM. De 2009 a 2011


Frei Joacyr Borges

Padre Jose Lenilson de Morais            . De 2010 a ....


Padre José Lenilson de Morais

Padre Fabio Pinheiro Bezerra. De 2010 a ....


Padre Fabio Pinheiro Bezerra


Padre Ajosenildo

NOTA

Como escrevi acima, o fato de eu ter vasculhado muita documentação antiga em vários locais em Natal, foi mais fácil encontrar informações muito arcaicas. Há poucos meses entrei em contato com o padre João Batista Chaves da Rocha e pedi que ele me enviasse dados sobre o trabalho feito por ele para que eu o adapte aqui. Já entrei em contato com alguns padres e parentes de alguns padres acima e estou aguardando as informações para poder anexá-las neste estudo.

Na oportunidade peço a você, leitor, que me envie, por e-mail. É só acessá-lo do lado direito deste blog que o texto vem. Se você possuir informações sobre esses padres ou conhecer histórias sobre deles, contadas por familiares antigos seus, ou tiver conhecido alguém, envie que as organizarei e o colocarei como referência. 

Se você quiser somar ao corpo desse texto alguma novidade, observação, sugestão, fique à vontade. Só para reforçar uma importante informação: este estudo não está pronto. Ao longo dos meses vou somando outras informações que as tenho anotadas para que o leitor possa conhecer algo que ainda não tenha encontrado em lugar algum e pode ler aqui. Luís Carlos Freire (1993 a 2018)

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