Hoje, temos o moderno e confortável “Veículo Leve Sobre Trilhos”, que deveria ser VLST, mas resumiram para VLT. Entendo que o descarte dos velhos vagões não pode acontecer dessa forma. Mas que tivessem um destino tão nobre quanto foi a sua missão original de levar e trazer pessoas. São peças velhas, de fato, porém intactas, carecendo apenas de um tratamento e pintura.
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Teatro Municipal Paulo Barbosa da Silva |
Foi exatamente por assistir diariamente a esse abandono que, certo dia, tive um insight e cheguei a conversar com Henrille, amigo da minha família, da equipe de gestão da CBTU. Perguntei-lhe se seria possível a doação de algumas daquelas composições, pois pensei em conversar com autoridades e amigos de Parnamirim com o objetivo de propor um projeto que transformasse esses vagões num ambiente que abrigasse literatura, história e memória. Nele seriam acomodados uma biblioteca infanto-juvenil e um mini-museu sobre a memória ferroviária de Parnamirim, tendo em vista que o município ignora – ou ainda não se apercebeu – dessa página tão importante de sua história.
A proposta que apresento é que esses vagões sejam reformados e adaptados em trilhos instalados na lateral do Parque Municipal Aluísio Alves, onde se encontram o Teatro Municipal de Parnamirim e o Planetário. A anexação do novo equipamento ampliaria a relevância desse complexo cultural.
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Antiga estação ferroviária de Parnamirim. Embora não seja a primeira, remonta a década de 80, época em que foi demolida. |
A
Fundação Parnamirim de Cultura conta com mais de quinhentos alunos matriculados
nas oficinas de Dança. Noventa por cento são crianças. A Escola de Música
Epitácio Leopoldino conta com quase mil alunos, e um percentual considerável é
de crianças, somando um público infanto-juvenil grandioso para se servir dessa
biblioteca, cujo acervo, além de Literatura Infanto-juvenil, abrangeria obras voltadas
para Dança e Música. Vale ressaltar que o vagão de História e Memória seria um espaço voltado para o povo em geral, independente de idade, afinal viajar no tempo é para todos.
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Imagem ilustrativa do interior de uma biblioteca infanto-juvenil em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. |
Sabemos que no século XIX, muito antes de essa área geográfica se configurar como município de Parnamirim, quando era um povoado pincelado por meia dúzia de barracos de palha e taipa, onde se espraiavam areias alvas e um tabuleiro de alecrins, matas e arbustos quando foi inaugurada a estrada de ferro unindo Natal a Nova Cruz –, essa região foi cortada pelos trilhos da “The Great Western Of Brazil Railway Company Limited”, inaugurada em 1881, e contava com duas estações.
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Antiga estação ferroviária de Parnamirim. Embora não seja a primeira, remonta a década de 80, época em que foi demolida. |
Esse
equipamento singular é de grande relevância para o município de Parnamirim,
consistindo num bem turístico de grande projeção. Além da nobreza de sua
significação, soma-se a sua beleza visual, pois o projeto paisagístico contemplaria postes e luminárias de época dentre outros elementos que nos transportasse no tempo.
A locomoção dos vagões se daria mediante uma parceria da Prefeitura de Parnamirim com o Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército de Natal, ou a Marinha, considerando que esses órgãos possuem veículos grandes e guindastes. Inicialmente os vagões seriam removidos para um espaço onde se daria a sua restauração, e depois seria afixado sob trilhos no seu local definitivo.
E nada mais justo que, como gratidão à CBTU, e como marco do registro dessa preciosa doação, no ato de sua inauguração instalaria-se no local uma placa de bronze com as informações pertinentes relacionadas a CBTU.
Creio que tal iniciativa impactaria muito no cenário parnamirinense, servindo de referência para outros municípios com memória ferroviária, como Nísia Floresta (antiga Papary), São José de Mipibu, Canguaretama e outros.
Fica a ideia. O nome do equipamento, acima, é só uma sugestão, como também "Ferrovia Histórico-Literária", "Trem da Memória e Literatura", enfim... mas o mais valioso hoje é torcer para que homens e mulheres do poder também enxerguem essa ideia com olhos visionários. (Luís Carlos Freire, 28 de dezembro de 2018)
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