PIONEIRISMO: QUAL A RELAÇÃO DE ARTHUR MOREIRA LIMA, ORIANO DE ALMEIDA E LUIZ GONZAGA? (QUANDO VOCÊ VINHA COM OS CAJUS EU JÁ ESTAVA VOLTANDO DAS CASTANHAS)...
O Rio Grande do Norte tem
passagens históricas que marcaram época. Algumas são tão visionárias que, quando contadas, alguns não acreditam, pois o tempo sufocou-as na poeira
da falta de divulgação. Elas permanecem desconhecidas por muitos, restando aos
trabalhadores da História direcionar os holofotes sobre as mesmas para que os
verdadeiros pioneiros sejam enxergados, reconhecidos e respeitados, dando a
César o que é de César.
Ser pioneiro não faz ninguém
melhor que ninguém, mas quem faz primeiro dividiu águas, marcou época,
enfrentou maiores dificuldades, portanto é importante lembrarmos sempre dos que
vieram na frente cortando capim a facão. E quando vermos as “novidades” do
presente, cabe dizer “lá atrás, alguém fez isso”.
Em 2007, a rede Globo,
através do Jornal Nacional, Programa do Faustão, até o Globo Repórter e outras
emissoras não falavam outro assunto que não fosse sobre o projeto “Um piano na
estrada”, assinado pelo renomado pianista Arthur Moreira Lima (1940), um músico muito
excepcional e que até hoje faz a diferença, inclusive segue tocando piano
apesar de ter desenvolvido um problema nas mãos (ironicamente). Arthur é um dos
maiores especialistas da obra do compositor polonês Frédéric Chopin e passou cinco
anos rodando o Brasil.
Ele chegava na cidade e, igual a um circo,
anunciava a sua arte que também era divulgada nas emissoras de rádio e
televisão, resultando num sucesso de plateia. Quem não queria se banhar naquela
fonte de arte?
Pois bem, o projeto de Arthur fez o maior sucesso, mas o que me intriga é que nunca vi alguém que tenha divulgado esse projeto fazer a menor referência ao norte-Rio-Grandense Oriano de Almeida (1921 - 2004), renomado músico que fez exatamente o mesmo 60 anos antes. Quando Artur começou, aos 67 anos de idade, Oriano de Almeida já havia começado aos 30 anos de idade.
Na verdade, Oriano nasceu em Belém (PA), mas chegou
a Natal com 9 anos de idade e aqui deslanchou no universo da música clássica
como exímio pianista. Como músico formado, ele se apresentou nos mais louvados
ambientes europeus onde reinava a música clássica.
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ORIANO DE ALMEIDA SE APRESENTANDO EM CAICÓ |
Como
compositor deixou canções, música de salão e uma coleção de peças para piano de
inspiração folclórica. Nesse aspecto ele nos lembra Brasílio Etiberê. Oriano é
referência para quem estuda música clássica, principalmente no Rio Grande do
Norte, inclusive há um pequeno memorial em sua homenagem no anexo do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, em Natal, ao lado da Praça João
Maria. Na década de 40 foi considerado um dos maiores intérpretes da obra de
Chopin do mundo.
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MEMORIAL EM HOMENAGEM A ORIANO DE ALMEIDA - ANEXO DO IHGRN. |
Mas o que eu quero chamar a atenção do leitor é
sobre um projeto de Oriano de Almeida que, inclusive – por incrível que pareça –,
não consta em sua biografia na Wikipédia. Também não vi em outros matérias sobre
ele, mas que é fato e existem registros fotográficos, como podem ser vistos
nessa postagem.
Na década de 40, Oriano de Almeida percorreu alguns
municípios do Rio Grande do Norte levando um piano e se apresentando para
diversos públicos. Vejam se isso não era visionário! Ele fez diferente!
E ainda dando a César o que é de César, na década
de 50 o famoso músico pernambucano Luiz Gonzaga (1912 - 1989) viajou pelo interior do Brasil com
um caminhão que, sem adaptação nenhuma, era usado como palco, encantando a
plateia de maneira diferente, pois o popular é mais comum, e Luiz Gonzaga era
um showman. O povão ficava louco.
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LUIZ GONZAGA EM TOUR PELO BRASIL |
Com este texto, provoco o leitor a ligar sempre o “modo dúvida” quando ver algo novo – ou “novo” –, pois muitas vezes podemos estar sendo injustos ao omitirmos quem construiu o asfalto para que outros passassem. Ou melhor, quem, percorreu a estrada de terra e teve a ideia de fazer o asfalto. Isso não acontece apenas na História do Rio Grande do Norte, mas em outros estados também. A História deve ser sempre reparada. (L.C. Freire).