O Dia do Folclore é, acima de tudo, um convite à reflexão sobre a preservação e promoção das tradições populares. É frequente ouvirmos expressões como: "no meu tempo, havia isso e aquilo" ou "hoje em dia, não existe mais isso", seguidas de críticas ao que se vê atualmente. Diante dessa insatisfação, o que fazemos para manter viva a essência do nosso folclore? Quando foi a última vez que participamos, organizamos ou mesmo ouvimos falar de um evento de natureza folclórica?
Há muita alienação e equívoco. As redes sociais tem o seu lado bom e mal, mas influenciam muito na diluição da cultura popular. Essa corrente contrária é grande, mas nada de recuar. Precisamos enfrentá-la serena e continuamente, trabalhando as mentes, levando as pessoas ao pensar, construindo raciocínios de maneira que a sociedade perceba o quanto é valioso o Folclore Brasileiro a partir do bairro onde moramos.
Nós, que atuamos no campo da Arte e da Cultura, em especial, temos uma responsabilidade maior em relação a preservar o folclore. Estamos na vanguarda desse movimento, educando e influenciando as massas de diferentes formas. Se almejamos mudanças ou melhorias, devemos utilizar os instrumentos à nossa disposição, como a palavra escrita, a fala, a ideia, a sugestão, a organização de festas, palestras, cursos, ou o apoio a iniciativas culturais. É através dessas ações concretas que podemos fazer a diferença.
Professores podem sugerir aos diretores; cidadãos podem propor ideias aos vereadores; funcionários públicos podem levar sugestões aos gestores culturais, sejam eles parte de secretarias, fundações, museus, galerias ou organizações não governamentais. A revitalização, perpetuação e resgate da cultura popular devem ser incentivadas nas escolas, nas comunidades, nos quilombos, aldeias, bairros e praças. Não se trata de fossilizar o passado, mas sim de preservar sua essência. A identidade cultural de um povo é fundamental para a manutenção de sua brasilidade. Quando expressões folclóricas desaparecem, perdemos parte da nossa essência, e com isso, abre-se espaço para a alienação e a futilidade.
Como brasileiro e defensor das tradições populares, acredito que o fomento à cultura popular deve ser uma prioridade. O descuido com o folclore, especialmente no Nordeste, tem levado à diluição da própria identidade nordestina em alguns aspectos, o que é profundamente preocupante. As manifestações folclóricas não devem ser vistas como meras curiosidades exóticas, restritas a um local ou período específico, mas sim como parte integrante do nosso cotidiano.
Imagine se houvesse uma lei que obrigasse todas as instituições civis a iniciarem seus eventos (seminários, conferências, simpósios, festivais, campeonatos, encontros) com uma apresentação folclórica. E se essa lei fosse acompanhada de outra que obrigasse os órgãos públicos a apoiar e revitalizar todas as manifestações folclóricas de seus municípios? Com certeza, todas as cidades teriam algo lindo para mostrar.
É uma grande injustiça que o Estado, enquanto instrumento de viabilização, se omita ou negue às nossas crianças o direito de conhecerem sua própria cultura. Infelizmente, isso está acontecendo. Culturas regionais estão sendo substituídas por culturas estrangeiras, muitas vezes com o aval do próprio Estado, seja por ignorância ou por influência da alienação promovida pelas redes sociais. O Estado, nas esferas municipal, estadual e federal, tem o dever de salvaguardar, manter e fomentar a cultura popular. Essa é sua identidade e responsabilidade. A omissão do Estado explica o atual quadro crítico: há crianças que não conhecem figuras emblemáticas como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, ou mesmo manifestações culturais como o Boi de Reis e o Coco de Roda.
É importante lembrar que o folclore vai muito além dos artistas e festividades. Ele está presente na linguagem, na gastronomia, nos modos de confeccionar artesanatos, nos costumes familiares, nas crenças e nos cantares. A riqueza do folclore é vastíssima e impossível de ser resumida em uma única folha. O que nos cabe é construir raciocínios de preservação e enaltecimento.
Para encerrar, vale a pena citar o renomado folclorista Luís da Câmara Cascudo, que afirmou: "O folclore é a continuidade da cultura através do povo, transmitida de geração em geração, com suas inovações e resistências". Assim, o Folclore seguirá existindo, mas cabe a nós, enquanto sociedade, garantir sua preservação e valorização.
20 de agosto de 2021. Luís C. Peixoto –Natal/RN
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