ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

ROTEIRO DO ESPETÁCULO "MANOEL DE BARROS, ALQUIMISTA DA PALAVRA"...

 

ESPETÁCULO MANOEL DE BARROS – O ALQUIMISTA DA PALAVRA – TEXTO EXPLICATIVO PARA “LEITURA BRANCA”



 


Observação: o conteúdo que se segue está provisoriamente escrito de maneira explicativa, para facilitar a compreensão também dos bastidores e o próprio espetáculo, já que faremos “leitura branca” com os alunos (adultos e crianças) na expectativa de darmos um mergulho na poética de Manoel de Barros, conhecendo também um pouco da sua biografia e a cultura do seu estado de origem. A história do personagem principal, dessa vez, não será contada no corpo do texto, mas uma única parte no início e a última parte ao encerrar. O texto é interligado por inferências à sua poesia e a elementos da cultura do MS.


 


ELEMENTOS CÊNICOS A PARTIR DO HALL DE ENTRADA: Nos dias do espetáculo o público será envolvido no espetáculo a partir do hall de entrada do Teatro. Alguns elementos cênicos estarão dispostos a partir da recepção, bem como performances artísticas retratando trechos de poemas manoelinos. Teremos sucuris enroscadas dos pilares do hall, folhas secas a partir do corredor de acesso à plateia “A”, o qual será transformado em Floresta com vários animais (passarinhos/borboletas). Um aparelho de CD estará ligado emitindo sons de passarinhos. 


 


OBSERVAÇÃO: TODA VEZ QUE LER “DANÇA”, SIGNIFICA A APRESENTAÇÃO DO BALÉ/CONTEMPORÂNEO, CAPOEIRA ETC (DEPENDE O CONTEXTO) E AS DEMAIS COREOGRAFIAS ASSINADAS POR NOSSOS MONITORES.


OBSERVAÇÃO II: TODAS AS COREOGRAFIAS DEVEM CONTEXTUALIZAR ANIMAIS COMO ANTAS, PACAS, TUIUIÚS, JACARÉS, ARIRANHAS, CAPIVARAS, ONÇAS, TAMANDUÁS, SERIEMAS, (ARAQUÃS, GAVIÃO BOMBACHINHA, CURICACA, PASSARINHOS DIVERSOS), SUCURIS, ARARA, GARÇA, LOBO-GUARÁ, TUCANO, TATU, PREGUIÇA, COATIS, IGUANA, TIJUAÇU etc, independente de estar ou não no texto naquele momento, pois a poética manoelina é um louvor à natureza.


 


NARRAÇÃO INTRODUTÓRIA DO ESPETÁCULO – CORTINAS FECHADAS  (BADU?): Manoel de Barros: um dos maiores poetas brasileiros! Ícone da Poesia Moderna contemporânea. Era sul-mato-grossense. Sua obra é um canto de louvor à natureza. Muitos o chamam de “poeta dos passarinhos”, mas na realidade ele foi o poeta dos caramujos, das folhas secas do chão, das lagartas, das lesmas, das formigas, das capivaras, dos tuiuiús e dos pedaços podres de galhos de árvores. Sua obra diviniza as águas, os homens e as mulheres simples. Ele lançou luz ao “insignificante”. Assim como Charlies Chaplim contemplou o vagabundo, o cachorro e o circo, Manoel de Barros contemplou o que é considerado invisível ou insignificante para algumas pessoas. Aos olhos da literatura e da filosofia, há uma profunda mensagem em sua poética. O que é ser insignificante? Será que de fato há insignificâncias? Vamos desvendar? (Durante essa narração tem pano de fundo: sons de esturros de onça e canto de pássaros).


 


CENA: DRAMATIZAÇÃO AO VIVO – NA BOCA DO PALCO - COM ATORES E ATRIZES NOSSOS (CORTINAS FECHADAS). Entram em cena aos poucos, aparecendo por pontos diferentes da cortina: um no meio, outro por debaixo, outro por um dos lados... olhares intensos/olhos dançando/ouvidos atentos/caras e bocas/movimentos contextualizados de braços e mãos.


 


DECLAMAM O POEMA


 


“O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS”


 


Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.


 


CENA: OS ATORES SAEM – AS CORTINAS SE ABREM, APARECENDO LENTAMENTE UMA FLORESTA – NO CENTRO HÁ UMA CASCATA E FONTE D’ÁGUA. PILÃO, FEIXES DE LENHA, TODOS, ÁRVORES VIVAS E SECAS. O PAINEL CENTRAL – DE GARRAFAS PET – REPORTA O PÚBLICO A UMA FLORESTA, DANDO NOÇÃO DE PROFUNDIDADE. SONS INTENSOS E ALTERNADOS: ESTURRO DE ONÇA, ESGUINCHOS DE MACACO, SOM DE CACHOEIRA, VOZES DE PAPAGAIOS, ARARAS, ETC). MACACOS (ATORES CARACTERIZADOS) DESCEM ATRAVÉS DE CIPÓS E SE INSEREM NA PAISAGEM. UMA ÍNDIA SE BANHA VESTIDA NO RIO. ESTÁ VESTIDA COM ELEMENTOS NATURAIS. SEIOS COBERTOS COM QUENGA DE COCO E TANTA DE SACO DE ESTOPA APLICADO FOLHAS NATURAIS, DE MANEIRA QUE ESTEJA COMPOSTA. ELA ESTÁ CERCADA POR CURUMINS. NO CENTRO, UMA ÍNDIA IDOSA (AVÓ DE ALUNO) DESCASCA MACAXEIRA AO LADO DE ALGUMAS SENHORAS ÍNDIAS. NO CANTO À DIREITA UM PAJÉ CONVERSA COM ÍNDIOS ADOLESCENTES. ALGUNS, NO CHÃO, FABRICAM FLECHAS E ARCOS. A PAISAGEM É PERMEADA DE PÁSSAROS, CAPIVARAS, ANTAS E PACAS.


OBSERVAÇÃO: Nesse cenário entra o Grupo de Contemporâneo com coreografia.


HÁ UM CORTE NOS SONS DE BICHOS...


 


SONOPLASTIA: CD SUÍTE SINFÔNICA – MARCOS VIANA, FAIXA Nº 2 (ESSA MÚSICA LIGARÁ TODAS AS CENAS DO ESPETÁCULO)


 


CENA: MARTA BARROS: Olá! Eu sou Marta Barros, filha do poeta Manoel de Barros. Esse é o meu irmão João Wenceslau Leite de Barros. Também temos mais um irmão, o Pedro Barros, mas ele insistiu em permanecer lá no Pantanal.


 


JOÃO BARROS: Viemos contar a história do nosso pai. Ele passou grande parte da sua vida no Pantanal, por isso mergulharemos vocês nas águas límpidas e envolventes do estado do Mato Grosso do Sul. Para entendermos a obra do nosso pai é necessário conhecer um pouco sobre a cultura da região onde ele viveu. Vamos fazer uma viagem!


 


MARTA BARROS: O nosso pai Manoel de Barros tinha um modo especial de escrever. Ele detestava computador. Como vocês viram, ele dizia que “não era da informática, era da invencionática”. Essa frase singular fala por si. Inclusive nós ficamos sabendo que o Teatro de Parnamirim criou uma máquina chamada “Invencionática”. Estamos curiosos para conhecê-la! Alguns consideram indecifrável a sua poética, certamente pelo uso de neologismos como invencionática, desimportante e tantas outras formas particulares de sua escrita. Ele escrevia com graça verbal.


 


JOÃO BARROS: Na realidade, João, ele era um alquimista das palavras! Dizia que “poesia é graça verbal”. Falava que todos já disseram tudo, mas sempre aparecerá um poeta que dirá de maneira diferente”.  Essa alquimia de palavras empresta uma beleza tão especial aos seus poemas que o leitor novato passa a amar a sua poética. Para decifrá-lo pede-se coração. Ele era um criador de frases. Dizia que poesia não é inspiração, mas visão. “Precisamos ver para escrever!”. Vejam alguns exemplos de frases criadas por ele:


 


CENA: ENTRAM ATORES PLENOS EM EXPRESSIVIDADE E CARAS-E-BOCAS– ALGUNS INTERAGEM NO ESPAÇO DA PLATEIA – HÁ UM JOGO DE VOZES – UM DECLAMA NA PLATÉIA – OUTRO, NO PALCO E ASSIM SUCESSIVAMENTE. OS QUE ATUARÃO NA PLATEIA JÁ ENTRAM SE ENCAMINHANDO PARA ELE. UM OU DOIS PODE DESCER NO TECIDO PREVIAMENTE MONTADO NO PALCO – PODEM OU NÃO ESTAR CARACTERIZADOS - CADA FRASE ABAIXO É DECLAMADA POR UM ATOR:


 


“Eu penso renovar o homem usando borboletas”...


 


“Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens. Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens. Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens. Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas. Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de 

uma borboleta. Ali até o meu fascínio era azul”.


 


“Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito”...


 


Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe. Ele me coisa. Ele me rã. Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.


 


“Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes”...


 


“Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas)”.


 


“O verbo tem que pegar delírio”.


 


“Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia. Eu queria ser lido pelas pedras. As palavras me escondem sem cuidado. Aonde eu não estou as palavras me acham”.


 


OS ATORES SE RETIRAM – ENTRA A PRIMEIRA TURMA DE BALÉ:


 


DANÇA


 


OS ATORES SE RETIRAM – ENTRAM OS FILHOS DE MANOEL DE BARROS:


 


MARTA BARROS: (FALA BASTANTE CIRCENCE) - Povo querido do Rio Grande do Norte!!!!!!!!!!!!! Ops! (PERCEBE A EXALTAÇÃO EXAGERADA E SE REPRIME) Desculpem!!!!!!!! É minha empolgação! Eu e João estávamos lá atrás no Camarim. Rimos muito com uma divertida artista conterrânea de Manoel de Barros. O nome dela é... Tetê Espíndola. Vocês conhecem?


 


CENA: “TETÊ ESPÍNDOLA” ENTRANDO COM O MÁXIMO DE CARACTERÍSTICAS EXPRESSIVAS DELA, E INTERPRETA “ESCRITO NAS ESTRELAS” – INTÉRPRETE: TAÍSE GALVÃO?


                                             “Escrito nas estrelas”


 


Você pra mim foi o Sol

De uma noite sem fim

Que acendeu o que sou

E renasceu tudo em mim


Agora eu sei muito bem

Que eu nasci só pra ser

Sua parceira, seu bem

E só morrer de prazer


Caso do acaso

Bem marcado em cartas de tarô

Meu amor, esse amor

De cartas claras sobre a mesa, é assim


Signo do destino

Que surpresa ele nos preparou

Meu amor, nosso amor

Estava escrito nas estrelas

Tava, sim


Você me deu atenção

E tomou conta de mim

Por isso minha intenção

É prosseguir sempre assim


Pois sem você, meu tesão

Não sei o que eu vou ser

Agora preste atenção

Quero casar com você


Caso do acaso

Bem marcado em cartas de tarô

Meu amor, esse amor

De cartas claras sobre a mesa, é assim


Signo do…


 


APÓS A EXIBIÇÃO ATRIZ SE RETIRA POR UMA LADO DA COXIA E AO MESMO TEMPO ENTRA A SEGUNDA TURMA:


 


DANÇA


 


APÓS A DANÇA, SAEM POR UM LADO DA COXIA E SIMULTANEAMENTE ENTRA UM ATOR (ELE PODE PERPASSAR A TURMA, ENSAIADAMENTE, OLHANDO-A COM ADMIRALÇÃO) E DECLAMA:


 


 “Aquele homem falava com as árvores e com as águas

ao jeito que namorasse.

Todos os dias

ele arrumava as tardes para os lírios dormirem.

Usava um velho regador para molhar todas as

manhãs os rios e as árvores da beira.

Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos

pássaros”.


 


APÓS A EXIBIÇÃO ATRIZ SE RETIRA - ENTRA CRIATIVAMENTE A TERCEIRA TURMA:


 


DANÇA


 


CENA: ENTRAM ARTISTAS CARACTERIZADOS DE ÍNDIOS E INTERPRETAM UMA COREOGRAFIA TÍPICA DOS ÍNDIOS SUL-MATO-GROSSENSE (GRUPO XAXADO?)


 


APÓS A EXIBIÇÃO ELES SE RETIRAM - ENTRA A QUARTA TURMA:


 


DANÇA


 


CENA: ENTRAM OS FILHOS DE MANOEL DE BARROS, RINDO MUITO:


 


MARTA BARROS: Gente! Como é linda a cultura dos índios brasileiros! Estou emocionada! Respeite o índio!!!! Eles descobriram o Brasil! Sim, mas... e aqui no Rio Grande do Norte, onde estão os índios? Bem... é outra história! Mas vamos lá. Vocês não sabem quem está aqui na coxia! (faz rosto escondido com a mão). Um monstro na interpretação. Um dos artistas mais respeitados do seu meio. A nata artística do Brasil.


 


JOÃO DE BARROS: Nós adoramos esse artista sul-mato-grossense. Ele surgiu no grupo “Secos e Molhados”. Com vocês, Ney Matogrosso!!!


 


          CENA: “NEY MATOGROSSO” ENTRANDO COM O MÁXIMO DE CARACTERÍSTICAS EXPRESSIVAS SUAS – INTERPRETA: “O VIRA” – INTÉRPRETE: ...................................................... (DRAMATURGO ALUNO DE DANÇA CONTEMPORÂNEA)


“O Vira”


 


(Secos & Molhados)


O gato preto cruzou a estrada

Passou por debaixo da escada.

E lá no fundo azul

Na noite da floresta.

A lua iluminou

A dança, a roda, a festa.


Vira, vira, vira

Vira, vira, vira homem, vira, vira

Vira, vira, lobisomen

Vira, vira, vira

Vira, vira, vira homem, vira, vira


Bailam corujas e pirilampos

Entre os sacis e as fadas.

E lá no fundo azul

Na noite da floresta.

A lua iluminou

A dança, a roda, a festa.


Vira, vira, vira

Vira, vira, vira homem, vira, vira

Vira, vira, lobisomen

Vira, vira, vira

Vira, vira, vira homem, vira, vira


Bailam corujas...


 


APÓS A EXIBIÇÃO O ATOR SE RETIRA - ENTRA A QUINTA TURMA:


 


DANÇA


 


CENA: ENTRA UM ATOR E DECLAMA:


 


“1) É nos loucos que grassam luarais;

2) Eu queria crescer pra passarinho;

3) Sapo é um pedaço de chão que pula;

4) Poesia é a infância da língua. Sei que os

meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas

se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei.

Sobre o nada eu tenho profundidades”.


 


APÓS A EXIBIÇÃO O ARTISTA SE RETIRA - ENTRA A SEXTA TURMA:


 


DANÇA


 


CENA: ENTRAM OS FILHOS DE MANOEL DE BARROS – AMBOS TRAZEM NAS MÃOS GUAMPA E CUIA – E NO MEIO DA FALA SORVEM A BEBIDA – DESSA VEZ ESTÃO COM OUTRA AURA.


 


JOÃO DE BARROS: Estou emocionado, minha gente! Estávamos no Camarim com um dos artistas mais respeitados do país. Seus álbuns são verdadeiras obras de arte. Além de músico ele estimula o estudo de viola e a revitalização da “Viola de Coxo”, um instrumento musical típico do Pantanal, feito a partir da capemba do buriti.


 


MARTA BARROS: Já está bom de apresentações, João. Ele dispensa comentários. Com vocês, Almir Sater...


 


CENA: “Almir Sater” entrando com o máximo de características expressivas. Interpreta “Comitiva Esperança” – Intérprete: .......................................


 


CONTRA-REGRA: Dispõe um banquinho e o retira após a cena.


 


“Comitiva Esperança”


 


Nossa viagem não é ligeira, ninguém tem pressa de chegar

A nossa estrada, é boiadeira, não interessa onde vai dar

Onde a Comitiva Esperança, chega já começa a festança

Através do Rio Negro, Nhecolândia e Paiaguás

Vai descendo o Piqueri, o São Lourenço e o Paraguai


Tá de passagem, abre a porteira, conforme for pra pernoitar

Se a gente é boa, hospitaleira, a Comitiva vai tocar

Moda ligeira, que é uma doideira, assanha o povo e faz dançar

Oh moda lenta que faz sonhar

Onde a Comitiva Esperança chega já começa a festança

Através do Rio Negro, Nhecolândia e Paiaguás

Vai descendo o Piqueri, o São Lourênço e o Paraguai

Ê, tempo bom que tava por lá,

Nem vontade de regressar

Só vortemo eu vô confessar

É que as águas chegaram em Janeiro, descolamos um barco ligeiro

Fomos pra Corumbá



APÓS A EXIBIÇÃO O ARTISTA SE RETIRA - ENTRA A SÉTIMA TURMA:


 


DANÇA



CENA: ENTRA UM ATOR E DECLAMA:



Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.


CENA: ENTRAM OS FILHOS DE MANOEL DE BARROS – AMBOS TRAZEM NAS MÃOS GUAMPA E CUIA – E NO MEIO DA FALA SORVEM A BEBIDA – DESSA VEZ ESTÃO COM OUTRA AURA.


JOÃO DE BARROS: Vocês sabiam que o estado natal de Manoel de Barros tem forte influência do Paraguai, país vizinho? Pois é. A maior parte dos paraguaios são indígenas. Foram os verdadeiros desbravadores do Mato Grosso do Sul. Eram exímios na arte de colher erva-mate. As músicas sul-mato-grossenses originais têm ares paraguaios. Aqueles gritos, quando se canta Galopeira é o famoso “sapucaý”.


 


MARTA BARROS: E por falar em Galopeira, vocês conhecem a cantora Perla? Ela é paraguaia e se projetou em todo o Brasil começando em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Ela está ‘aquizinha’ do nosso lado. Perla, entre, esse palco é todo seu...


 


CENA: “PERLA” ENTRANDO COM O MÁXIMO DE CARACTERÍSTICAS EXPRESSIVAS DELA, E INTERPRETA “GALOPEIRA” – INTÉRPRETE: TAÍSE GALVÃO? ACASO FOR AO VIVO TEREMOS A PARTICIPAÇÃO DE ESCOLA LEOPOLDINO – DO CONTRÁRIO USA-SE PLAY BACK PARA DUBLAGEM.


 


                                                                 “Galopeira”


 


Foi num baile em Assunción


Capital do Paraguai


Onde eu vi as paraguaias


Sorridentes a bailar


E ao som de suas guitarras


Quatro guapos a cantar


Galopeira, galopeira


Eu também entrei a dançar


Foi num baile em Assunción


 Capital do Paraguai


Onde eu vi as paraguaias


Sorridentes a bailar


E ao som de suas guitarras


Quatro guapos a cantar


Galopeira, galopeira


Eu também entrei a dançar


Galopeira ....


Nunca mais te esquecerei


Galopeira ....


Pra matar minha saudade


Pra minha felicidade


Paraguai, em voltarei


Pra minha felicidade


Paraguai, eu voltarei


 


APÓS A EXIBIÇÃO ATRIZ SE RETIRA - ENTRA A OITAVA TURMA:


 


DANÇA


 


CENA: ENTRAM DOIS ATORES E INTERPRETAM O POEMA ABAIXO EM FORMA DE JOGRAL, OU JOGO DE PALAVRAS.


 


OBSERVAÇÃO: O espetáculo se segue na mesma dinâmica e o encerramento está abaixo:


 


ÚLTIMA CENA: ENTRAM OS FILHOS DE MANOEL DE BARROS. MARTA ESTÁ COM UM XALE. JOÃO TEM UM PONCHO PARAGUAIO NAS COSTAS - ENQUANTO ELES CONVERSAM COM A PLATEIA, PERSONAGENS DE BICHOS EXIBEM COREOGRAFIAS NO PALCO, INTERAGINDO COM A PLATEIA.


 


MARTA BARROS: A obra do nosso querido pai Manoel de Barros foi escrita para o mundo. Sua poética enxergou sapos, formigas, lesmas, passarinhos, lagartixas, gafanhotos, borboletas. Mas também enxergou a arte mundial. Enxergou o homem simples. Enxergou os problemas sociais. Leu todos os poetas clássicos. Era fascinado pela retórica do Padre Vieira. Conheceu vários países, conviveu com artistas e pintores renomados. Estudou Artes Plásticas nos Estados Unidos. Conviveu com Klee, Picasso, Klimt e outros. Adorava Van Gogh. Admirava Juan Miró, cuja pintura nos leva à infância que ele tanto buscou na escrita. Dizia: “precisamos desaprender vinte e quatro horas por dia”. No Cinema adquiriu gosto por Buñuel e Fellini. Admirava Charlies Chaplin. Leu os poetas americanos, como Eliot.  Na Biblioteca Nacional, no Rio, se aprofundou em Rimbaud, Baudelaire, Mallarmé, Flaubert, Fernando Pessoa. Entre os brasileiros, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira foram uma de suas maiores influências. O grande acontecimento da sua vida se chamou João Guimarães Rosa. Papai dizia que a escrita de Rosa foi o pulo do sapo para que ele engatasse a sua poética própria. A prosa de João Guimarães Rosa deu asas à sua poesia. Sentia paixão pelas palavras. Dizia: "Minha poesia é feita de palavras, não de paisagens". Ressalvava que não pode fugir às suas origens. Outra opinião de Guimarães Rosa que papai recordava é a de que papai era um poeta que reinventava imagens e ele, Rosa, inventava a sintaxe. Esse talento para imagens, como "a formiga ajoelhada na pedra" ou "quero passar a mão na bunda do vento", com um toque surreal de concretude, começou a se mostrar maduro depois de Guimarães Rosa. Um dia sua poesia despertou a admiração de Millôr Fernandes, que escreveu num importante jornal carioca: "Manoel de Barros O homem mais genial do Brasil – poesia é isso!". A partir de então papai explodiu. Um dia lhe perguntaram qual a palavra mais bonita do idioma. Papai disse: CRIANÇA. Com dúvida aberta para BORBOLETA.


Esse foi Manoel de Barros, nosso pai.


 


JOÃO DE BARROS: E, por falar nas coisas insignificantes que papai tanto escreveu, o que é insignificante para você? Quais as coisas invisíveis ou que você as torna invisível? Você pode não desejar ver um sapo agora, no seu pé... inclusive nós colocamos dois sapos na plateia! Eles estão em algum lugar nesse exato momento (aguarda cinco milésimos de segundos em silêncio). É brincadeira! Vocês não querem ver o sapo! O sapo, para vocês é invisível porque é indesejável. E quais são os sapos que você se recusa a ver no dia-a-dia? Somos um país de desigualdades. A essa hora exatamente há muitas crianças nas ruas. Muitos idosos choram a solidão. Uns, nos abrigos, outros jogados nas ruas. São invisíveis? Muitos pais possuem filhos invisíveis. Para alguns, a família inteira é invisível. São insignificantes? Tornamos invisível o amor, a caridade, a generosidade, a ética, o respeito ao próximo e tantas coisas. Está na hora de formarmos um grupo para doar sopão aos mendigos. Eu posso ensinar alguém a ler. Você (apontando para a plateia) pode dar a cama que não me serve mais. Ela (apontando para a plateia) pode dar uma cesta básica para o vizinho que passa fome em silêncio. Nós podemos comprar o remédio daquela vovozinha que todos abandonaram. Podemos dar um guaraná para o gari. Podemos pagar um sorvete para a criança que lambe com os olhos o carrinho do sorveteiro. Não volte para casa insignificante. Não seja invisível à dor dos outros. Dê cores ao invisível. Enxergue o escuro da fome, o vermelho da bondade, o azul da oração verdadeira que é o gesto concreto de amor. Enxergue o amarelo da maior riqueza: o amor aos seres humanos. Enxergue o verde da esperança num mundo melhor... Assim você encontrará o branco da paz! A melhor coisa do mundo é colocarmos a cabeça no travesseiro e dormirmos o sono da consciência tranquila.


 


OBSERVAÇÃO: Encerrada essa parte, há um estrugir de vozes de bichos, retratando o momento do pôr-do-sol no Pantanal. Crianças FANTASIADAS como animais pantaneiros entram pelas plataformas A e B e executam performances junto à plateia.


 TEXTO: LUÍS CARLOS FREIRE


AS CORTINAS SE FECHAM...


 


Fim

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