Recebemos uma montanha de pacotes contendo o material enviado pelos
municípios inscritos. Dentro de cada um deveria estar: projeto escrito: (contendo a realidade do município em todos
os aspectos, com gráficos, índices, etc), mídias
(atividades culturais desenvolvidas pelos órgão públicos: danças folclóricas,
quadrilhas junina, exposições diversas etc), mapa cultural (assinalando as convenções geográficas
culturais de cada bairro ou área rural: engenho de rapadura, locais de
sociabilidade, marcos etc), fotografias
(eventos promovidos pelos órgãos públicos nos últimos dez anos, em conformidade
ao projeto escrito), documentos
(coletânea de reportagens ou matérias jornalísticas, feitas acerca do município,
livros, livretos de autores do munípio etc), acervo: réplicas de fotografias ou documentos históricos
pertinentes à História do Município e materiais
avulsos: (camisetas de eventos, adesivos, souveniers etc). Houve cidade que enviou até rede de dormir fabricada ali.
Devíamos analisar todo o material recebido e contextualizá-lo com os
resultados apresentados no projeto escrito, conforme os índices, gráficos e
alegações. O objetivo era sentir a veracidade do município.
Lembro-me que eram muitos envelopes. Alguns, imensos. Mossoró mandou
tudo numa caixa de madeira feita artesanalmente, inclusive a bandeira do
município. Parnamirim enviou um CD com o hino do município.
Diversas cidades, como Bodó e Ipanguaçu, municípios simples, mandaram um
material excepcional.
Algum tempo depois fui ministrar uma formação para professores nesses dois
lugares - durante a semana pedagógica - e constatei a veracidade de tudo. Havia
muitas políticas públicas ali, inclusive o Selo Unicef estava publicado e
estampado em diversos materiais, como os veículos da Prefeitura e na entrada
dos órgãos públicos. A coisa funcionava. Foi emocionante saber que participei
dessa avaliação e, juntamente com os outros membros da equipe, ter sido
instrumento que pontuou positivo em favor desses lugares longínquos, sem
conhecê-los àquela época, mas que preencheram os pré-requisitos. Pude
constatar, depois, que eles foram honestamente merecedores do Selo UNICEF.
Digo isso porque não se tratava de maquiagem. É desagradável dizer, mas me deparei com isso com relação a alguns municípios. O fato de conhecer certas cidades in loco, locais onde a administração pública era um descaso, onde permeava a injustiça, a falta de políticas
públicas cidadãs, mas ver nos envelopes várias informações maquiadas, era revoltante. Para o Selo UNICEF a fotografia tem que bater com a realidade. Não adianta o jornal divulgar fotografias do posto de saúde impecável, bem pintado, limpo, com cenas bonitas, se no dia-a-dia a população não tem gaze para um curativo. O Selo UNICEF avalia o todo e não uma parte.
Pois bem, além de estar informando neste blog, registro essa experiência para servir de esclarecimento aos municípios que não se inscreveram, e mesmo para outras gestões, pois nem sempre as equipes de governo continuam as mesmas. Luís Carlos Freire, 2009.
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