A praia de Camurupim é uma
extensão de Papari. A história é testemunha que nenhuma outra praia se fez mais
presente na vida dos nativos desse pedacinho do litoral potiguar,
principalmente no carnaval. É amor antigo, desde a época em que se iam ao lombo
dos jumentos, rasgando veredas, desafiando as garrancheiras.
Famílias inteiras
empreendiam essas viagens épicas, levando nos cestos toda sorte de alimentos:
farinha, rapadura, macaxeira, café, batata doce, fruta-pão, inhame, banana, laranja,
carne-de sol, miúnça de feira. As garrafas de Pitú ou a famosa “cabumba” do
Timbó iam escondidas das crianças; coisa de adulto.
Cada um levava a feira da
temporada. Quem fazia o controle rigoroso dos almoços e jantares era a matrona,
sempre sábia na partilha. Pobre a rico se juntavam nesse vavavu que fazia a
alegria da meninada. Era época de se fartar de peixe, pegos quase nas mãos pela
abundância. Boldo não faltava, em caso de empanzinamento, aliás, ninguém se
esquecia das meizinhas.
As casinhas de taipa ou
palha emolduravam a língua de areia branca, distando poucos metros umas das
outras. Às fogueiras alumiavam as noites escuras e estreladas, ardendo até
altas horas, circundadas pelas famílias que eram felizes e não sabiam. Outrora,
os “luais” inesquecíveis se encarregavam de trazer uma luz cheia de feitiços.
Os mais velhos embalavam
essas noites mágicas com incontáveis histórias de “trancoso”, levando muito
menino a dormir cheio de fantasias e medos. O silêncio da noite era quebrado
quando em vez pelos evangélicos que – na famosa “Rua dos Crentes”, entoavam as
canções da Harpa Cristã. Os coqueirais sem fim se encarregavam de dar a
paisagem um tom de cartão postal. Imagens e histórias de rara beleza, engolidas
pela urbanidade.
Era assim o “carnaval”
antigo da Praia de Camurupim. Assim me contou dona Leonísia (in memorian), aos
90 anos, avó de Lurdinha Lemos.
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