Como dizem os
nisiaflorestenses, “pense numa coisa louca”; tem diversão para todos os gostos,
mas nada lembra o bucolismo e a tônica singela d’outrora. As florestas de
coqueirais gigantescos perderam lugar para as casas e ruelas desconexas, as
quais forraram as dunas como um lençol eterno de metralhas e cimento. Camurupim
vira cidade durante o carnaval.
Há casos de casas minúsculas
que abrigam até 100 foliões. Na hora da dormida o terraço se transforma um
tapete humano. A madrugada é hora dos gatunos que, tais quais os “pés-de-lã”,
passeiam mansos, silenciosos, recolhendo roupas de marca, carteiras e
celulares. Alguns fazem do varal alheio o seu Midway.
O trânsito de carros, motos,
bicicletas e pedestres divide espaço com vendedores ambulantes, carrinhos de
sorvete, cachorros... é a Índia do Brasil.
A “Rua dos crentes” quase
não tem mais crente, mas eles adoram estar ali. Nem tanto para orar, e sim,
para curtir a fuzarca. São os primeiros a se sentarem nas muretas das varandas,
assistindo a tudo o que por ali aparece. Morrem de rir. Ninguém sabe quem é
crente, quem é macumbeiro, quem é ateu, quem é católico... todos ficam iguais
ou parecidos no Carnaval.
Quem buscar sossego ou tiver
um grau maior de pudor e recato, não apareça ali, pois a “Rua dos crentes”
treme. A Harpa Cristã deu lugar ao terremoto dos carros de som. As aparelhagens
nas casas ou os paredões nos carros fazem uma orquestra louca, que atiça até os
velhinhos.
As músicas típicas de
carnaval quase desapareceram. Soam acanhadas, engolidas pelas “swingueiras” com
letras de cunho sexual, normalmente apelativa. A marchinha perdeu espaço para
coreografias eróticas, por vezes mais lembram uma cópula que uma dança. Cada um
expõe o seu gosto musical, numa palreira louca.
Ali passa o desfile do “Barreta
Gay”, cujas fantasias e apetrechos vão desde uma simples e ingênua máscara a
vestidinhos ousados, que aventam os dotes masculinos numa tônica de malícias,
insinuações ditos picantes e muita zombaria.
Não apareça com ares de
remoque que poderá ser “linchado”, pois, naquele momento o “diabo” está solto. Carros,
pessoas, muros e até os postes ficam tingidos de araruta, trigo, espuma de
spray, tinta e água. As “caras e bocas” de homens vestidos de mulher provocam
uma “risadagem” sem fim.
Mas nem tudo é
“modernidade”. Sobrevive, intacto, os encantadores “papangus”; normalmente
meninos em busca de trocados ou refrigerante, conforme reza a tradição. Eles
percorrem Camurupim, Barreta e Barra de Tabatinga, despercebidos da sua
conotação de carnaval genuíno.
Camurupim vira a metrópole
de Momo, com direito à coleta de lixo que quase não acaba. Aparecem padarias,
bares, restaurantes, pousadas com freguesias intermináveis. Entregadores de
água requebram lá e cá, sem parar, a dança do dinheiro. Dizem até que alguns
ficam ricos nessa época. A novidade deste ano – dizem – é uma campanha contra o
“zica vírus”. É a modernidade.
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