ANTES DE LER É BOM SABER...
CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.
quarta-feira, 30 de maio de 2018
Parnamirim: um rio que flui para o mar da leitura
Existem cenas que falam por si. Essas fotografias
registram o momento que a professora Araci coloca livros na casinha disposta ao
lado da BR 101 e outra no Parque Aristófanes Fernandes.
Qualquer pessoa pode pegar o livro que lhe atrair.
Se quiser devolver, devolve; se não, fica para si. Também pode deixar livros
com a mesma proposta. Se você tem livros que não lhe servem mais, desde que não sejam livros escolares (didáticos), doe. Deixe-os na Biblioteca "Rômulo Vanderley". Ali eles têm um destino mágico e transformador.
A casinha é regularmente visitada. Costumo abastecê-la e às
vezes pego algum.
Creio que incentivar a leitura é uma tarefa nobre. Parabéns a todos os que fazem o projeto “Um rio que
flui para o mar da leitura”.
Cenas iguais a essas não podem passar
despercebidas. Todos precisam saber que essas pessoas fazem esse
trabalho transformador e cheio de frutos. É um dos mais belos projetos da terra da aviação. Quisera que todas as pessoas, principalmente autoridades o conheçam e o apoiem.
Parabéns! Parabéns a todos!
sexta-feira, 11 de maio de 2018
A filologia nisiaflorestense
"Ciça" do pecado Maneiro, uma das pessoas mais especiais que conheci. O que aprendi com esse ser humano pleno não tem dinheiro que pague e não há academia que ensine.
Em 1997 uma professora de uma escola
estadual que tenho pouco contato, contou-me que uma colega, na sala
dos mestres, alertou os demais professores a não conversar alto perto de mim.
Disse que eu "mangava" do modo como eles falavam.
Eu gosto de contar essa história para
permitir uma importante reflexão. Eu sempre fui meio "Manoel de
Barros", um apaixonado pela palavra e os modos de se pronunciá-la. Isso me
encanta de maneira incomum. Por esse motivo, seja no Mato Grosso do Sul, no Rio
Grande do Sul, no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo, lugares onde passei e, por último, no Rio
Grande do Norte, sempre observei os modos de as pessoas falarem, a pronúncia,
as palavras "diferentes", ou melhor, os regionalismos e afins. Mas
sempre fiz isso com paixão e profundo respeito, pois acho muito linda a
linguagem regional.
É certo que algumas palavras - ou frases -
pelo menos para mim, que não sou potiguar, soavam estranhas ou engraçadas, como
por exemplo cu de burro, mulesta dos cachorros, diabo é, vou chegando (para dizer
que está saindo), peia, sostô, iapois, danado é, dentre tantas que permitem tais
sensações. Mas jamais "mangei", como alegou a professora. Inclusive a
própria palavra "mangar" me é curiosa e interessante também. O que
sempre fiz foi anotá-las, estudá-las e compilá-las para que jamais se
perdessem, pois, por incrível que pareça, muitos nativos sentem uma espécie de
vergonha de usar essa espécie de dialeto dos seus pais e avós.
O meu olhar sobre tais palavras é de
pesquisador, de educador. Jamais foi ou é um olhar imbecil, capaz de ver como
errado ou inferior o grande tesouro que é a linguagem popular. A propósito disso
sempre sensibilizei os nativos a entender que a linguagem é o seu maior
patrimônio, que não existe falar errado; o que existe são modos diferentes de
se falar, e que a linguagem erudita é outra coisa, e que também tem o seu
lugar. Foi apenas isso!
Mas equívocos à parte, vamos lá...
A filologia nisiaflorestense tem pontos
interessantes, cuja raiz perde-se no tempo. Não existe nada escrito sobre o
assunto. Acredito que a evolução semântica, como ocorreu em quase toda essa
região, deu-se sob o falar indígena, africano, holandês e português (refiro-me
ao português antigo – dos primeiros habitantes que vieram de Portugal, no qual
se inclui o linguajar mouro). Nós, brasileiros, falamos há 503 anos, um bom período
para que o jeito de falar fosse se lapidando aos poucos, de acordo com as
influências estrangeiras que cada região recebeu.
Por aqui a letra “v” torna-se “r” quando
usada em certas palavras. Normalmente o verbo vir costuma ser conjugado com um
“r” no lugar do “v”, por exemplo: “rou” (vou), “rai” (vai), “renha” (venha),
“reio” (veio), “ramo” (vamos),etc.
A maioria das pessoas omite o “s” ao final
das palavras, como o caso do ramo, ao invés de “ramos”. É muito comum ouvirmos
as pessoas dizendo “andá” (andar), “falá” (falar), “corrê” (correr), “cumê”
(comer), “pegá”(pegar). O “r” também é comumente omitido.
Palavras terminadas com “s”ou “z”
normalmente são pronunciadas (pelos mais idosos) com um “i” antes do referido
“s”, por exemplo: “meis” (mês), “nóis-moiscada” (nós-moscada), “trêis” (três),
“veiz” (vez), “cóis” (cós), apóis (após), “nóis” (nós), etc.
É muito comum o uso do “i” depois do “na”
seguido do “s”, por exemplo: “naiscer” (nascer) e “nais” (nas).
Os nativos mais antigos costumam pronunciar o “i” após as vogais “a”, “e” e “o”, por exemplo: “aico” (álcool), “aima” (alma), “biscaite” (biscate), “peico” (perco), “páitu” (pátio), “ceica” (cerca), “cóite” (corte), “bôin dia!” (bom dia!). No caso do “bôin dia”, a vogal “o” tem som nasal e um nítido “n” após o “i”.
Os nativos mais antigos costumam pronunciar o “i” após as vogais “a”, “e” e “o”, por exemplo: “aico” (álcool), “aima” (alma), “biscaite” (biscate), “peico” (perco), “páitu” (pátio), “ceica” (cerca), “cóite” (corte), “bôin dia!” (bom dia!). No caso do “bôin dia”, a vogal “o” tem som nasal e um nítido “n” após o “i”.
Normalmente as consoantes “l” e “s” não
são pronunciadas quando estão no final das palavras. Veja: “mé” (mel), “fé”
(fel), “ané” (anel), “Migué” (Miguel), “Samué” (Samuel), “nai” (nas), “nóis”
(nós), etc. Um interessante exemplo está na expressão “apoi” (“apois”).
Uma curiosa utilização do “i” ocorre
quando certas palavras têm um “l” ou um “r” no meio, por exemplo: “caiça cuita”
(calça curta), “cuito” (culto), “caivão” (calvão), “caita” (carta), “paico”
(palco), “poiquêra” (porqueira), “peico” (perco), “poico” (porco), “puiquê”
(porque), dentre outras.
Em alguns casos o “n” é omitido, por
exemplo: “evelope” (envelope) e “edereço” (endereço).
Constatei casos raros e até incríveis em
algumas famílias. Analise esses: “antonti” (antes de ontem), “dernantonti”
(desde antes de ontem), “tresantonti” (três dias antes). Podemos perceber que
“derna” é uma curruptela de desde.
Nas mesmas casas onde ouvi os raros palavreados acima, ouvi também: “côni” (quando) , “con’eu” (quando eu) e “disparecer” (esparecer).
Nas mesmas casas onde ouvi os raros palavreados acima, ouvi também: “côni” (quando) , “con’eu” (quando eu) e “disparecer” (esparecer).
A interjeição tchau é pronunciada por
muitos como “chau” sem o som do “t”. Outros falam “te-chau”.
Por ser a palavra tchau de origem italiana, cuja escrita original é “ciao”, o brasileiro aportuguesou-a apenas na escrita, pois ambos os países a pronunciam da mesma forma. A propósito a consoante “c” em italiano tem o som de “t”. A pronúncia deles é “tiao”.
Por ser a palavra tchau de origem italiana, cuja escrita original é “ciao”, o brasileiro aportuguesou-a apenas na escrita, pois ambos os países a pronunciam da mesma forma. A propósito a consoante “c” em italiano tem o som de “t”. A pronúncia deles é “tiao”.
Outro caso semelhante refere-se às
expressões “peitchu” (peito), “muintcho” (muito) e “gostcho”. No caso do
“peitchu”, se considerarmos apenas a questão etimológica, ignorando o
regionalismo, podemos afirmar que é uma forma errada de falar. Entretanto, por
ironia, há uma semelhança incrível com a raiz da palavra. Não me refiro à
semântica, mas à morfologia da palavra, a qual no seu original em latim escreve-se
pectus, cuja pronúncia assemelha-se muito ao “peitchu” de Nísia Floresta e de
grande parte do Nordeste.
Uma outra curiosidade faz-me reportar a
palavra “entonce” (então), a qual é falada por raros idosos quase tão fielmente
ao entonces espanhol. A diferença é que na Espanha se pronuncia nitidamente o
“s”. É importante lembrar que a expressão “entonce”, em vigor em Nísia
Floresta, é uma palavra ultrapassada e que era muito comum no português
medieval, a qual tem origem no latim
intunce e também extunce.
Existem raros casos de nisiaflorestenses
que falam “vórrmicê” (vosmicê) (você). Uma forma diminuída de dizer Vossa Mercê
(a avó de Vossa Senhoria). Interessante é que mercê (em latim: merces) significa “graça”, “proteção”,
“benefício”.
Quem sabe no português medieval Vossa
Mercê ou vosmicê também significou vossa graça?, ou seja vosso nome? Pois
muitos por aqui usam essa expressão quando querem saber o nome de alguém: sua
graça?
No universo pluralista dessas expressões
regionalistas podemos encontrar casos extremos, onde pessoas que se servem
parcialmente desse regionalismo, costumam “estranhar” e até zombar daquelas
mais versadas no falar popular. Tais versados são rotulados de matutos.
Veja alguns exemplos: “prá sumana eu vo”
(para a semana eu vou – eu vou na próxima semana), “tá quilaro” (está claro),
“minhã eu vo” (amanhã eu vou), “istrui” (destruir), “istrudia” (outro dia),
“apoi” (“apois” – percebemos aqui que o próprio regionalismo tem outras
vertentes, as quais se diferem segundo certas peculiaridades de algumas
famílias), “ingreja” (igreja), “strumo” (estrume), “nu ro não” (não vou não),
“tu riu” (tu viu?), “ce rai dispois” (você vai depois), “nu dixi” (não disse),
“boralá” (embora lá), “borali” (embora ali), “ramo lacolá” (vamos lá acolá –
aqui ocorre uma redundância), “Avre Maria!” (Ave Maria!), “lastá-lo ele” (lá
está ele), etc.
O que também chamou muito a minha atenção
foi constatar casos de crianças entre 5 a mais ou menos 15 anos usando o
linguajar dos avós e bisavós como um dialeto. Digo dialeto porque em vários
momentos muitas frases fogem a compreensão até mesmo de quem é nativo, pois,
como já expus, a prática desse linguajar não é algo homogêneo, diferindo, sim,
de um distrito para outro, dependendo da expressão.
A prova maior da existência dessa espécie
de dialeto está no fato de algumas crianças não utilizarem na escola ou na rua
a mesma linguagem usada em casa com os avós. Entretanto é difícil a criança
saber separar o que é “dialeto” e o que não é, exceto quando é alvo de zombaria
principalmente na escola. Só assim ela deixa aquela palavra em casa para
conversar com os avós (esses com certeza não mangam – diriam).
Podemos perceber com isso que, por mais
que a linguagem se lapide, existe uma resistência involuntária, estimuladas
pelos idosos (ainda bem!).
Outro detalhe interessante e que reforça a
riqueza e a beleza das expressões populares, refere-se ao fato de muitos
universitários e pessoas formadas conservarem vivamente o regionalismo.
Constatei que o regionalismo e a
existência do que preferi denominar dialeto, torna-se mais forte nas casas onde
existem menos pessoas alfabetizadas, que vivem em áreas rurais e que têm em seu
seio pessoas idosas.
É possível ainda ouvirmos “pia li” (espia
ali), “vareia” (varia) e outras. Casos de pronúncia apocopada é, de certo modo,
comum, por exemplo: “refém” (referente), “hômi” (homem), “mué”, “mulé” ou
“muié” (mulher), “Gabrié” (Gabriel), etc.
Casos de suarabacti (ou epêntese) ocorrem
na mesma proporção, por exemplo: “empriquitado” (empiriquitado), “espritado”
(espiritado), “intriçado” (icteriçado – de icterícia), “tramela” (taramela),
“mó” (maior), “pruquê” ou “proquê” (por que ou porque), etc.
Talvez até mesmo alguns nativos possam estranhar esse apanhado de palavras, pois dispostas dessa forma, soltas e aleatórias, soam, de fato, estranhas, mas a partir do momento que integram um diálogo a coisa muda. É bom lembrar que elas foram obtidas dentro de um contexto, a partir de conversas informais, de maneira despercebida. E não foram juntadas num dia. Esse pequeno exemplo é fruto de anos de observação, até porque tenho uma quantidade incomparavelmente maior de outras, que ficam para outra postagem.
Talvez até mesmo alguns nativos possam estranhar esse apanhado de palavras, pois dispostas dessa forma, soltas e aleatórias, soam, de fato, estranhas, mas a partir do momento que integram um diálogo a coisa muda. É bom lembrar que elas foram obtidas dentro de um contexto, a partir de conversas informais, de maneira despercebida. E não foram juntadas num dia. Esse pequeno exemplo é fruto de anos de observação, até porque tenho uma quantidade incomparavelmente maior de outras, que ficam para outra postagem.
Creio que aqui está reunida uma breve
reflexão em termos de regionalismo constatado em Nísia Floresta. Não se trata
de uma reflexão completa, pois em pesquisa não existe fim, ademais, como já
disse, a linguagem é mutante, assim como toda a natureza.
quinta-feira, 10 de maio de 2018
Roubar merenda escolar é roubar o futuro das crianças
Revoltante
o episódio do desvio do dinheiro da merenda escolar em mais de vinte municípios
de São Paulo. Chega a ser inacreditável que um gestor tenha tal coragem.
As imagens da quantidade
de dinheiro público apreendido nas casas desses corruptos (que deveriam passar
longos anos na cadeia) choca e causa indignação. Parece o cofre de um banco.
O incrível é a alegação
de inocência. Quem é louco para deixar tanto dinheiro assim dentro de casa, acaso
viesse do suor do trabalho?!!!
É roubo mesmo. Na cara
dura!
O que mais revolta é
que eles atacam justamente os que mais precisam. As escolas públicas, já tão
martirizadas por tantas injustiças, oferecer aos alunos biscoitos com leite em
pó de péssima qualidade e fraco.
É de chorar!!!
Quando se tira o direito
de um aluno ser bem alimentado, tira-se o direito de ele aprender. Tira-se dele
o direito de ter um futuro melhor.
Quem aprende de barriga
vazia?
Eu torço para que as autoridades
coloquem os culpados atrás das grades, pois ali é lugar de criminosos.
Eu torço pelo
Ministério Público e por todas as autoridades empenhadas em retomar tudo o que
esses ladrões roubaram.
VEJA A REPORTAGEM
ABAIXO:
A Polícia Federal faz operação nesta
quarta-feira (9), em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), para
desarticular cinco grupos criminosos suspeitos de desviar recursos da União. O
dinheiro era destinado à merenda em municípios dos estados de São Paulo, Paraná,
Bahia e Distrito Federal. Há indícios de envolvimento de 13 prefeitos e 4
ex-prefeitos na operação nomeada como Prato Feito.
Principais pontos
da operação
·
65 contratos
suspeitos na área da educação somam R$ 1,6 bilhão
·
5 núcleos
empresariais são investigados
·
Entre os alvos,
há empresários ligados a grupo investigado pela "Máfia da Merenda"
·
PF diz
que cartel direcionava licitações e superfaturava
contratos
·
154
mandados de busca
e apreensão são cumpridos
·
Prefeitos investigados são das seguintes cidades
paulistas: Barueri, Embu das Artes, Mauá, Caconde, Cosmópolis, Holambra,
Hortolândia, Laranjal Paulista, Mogi Guaçu, Mongaguá, Paulínia, Pirassununga e
Registro.
·
Ex-prefeitos investigados são de: Águas de Lindoia,
Pirassununga, Mauá e Mairinque.
·
Justiça pediu
afastamentos preventivos de agentes públicos
Todas as medidas foram expedidas, a pedido da PF,
pela 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo e pelo Tribunal Regional Federal da
3ª Região.
A investigação começou após o Tribunal de Contas da
União identificar desvios em licitações relacionadas à merenda. Diversas
empresas que já foram investigadas pelo Ministério Público no âmbito da chamada
"Máfia da Merenda" são citadas na operação desta quarta.
Segundo a PF, os grupos criminosos agiriam
contatando prefeituras por meio de lobistas, para direcionar licitações que
usavam recursos federais. Esses contratos eram feitos para fornecer merenda
escolar, uniformes, material didático e outros serviços a escolas municipais.
"O que é chocante foram os registros na
inexecução contratual da merenda escolar. Nós tivemos registro, ao longo destes
anos, do fornecimento de lanche para uma criança de uma bolacha maisena com
leite diluído, suco substituindo o leite", disse a delegada
Melissa Maximino Pastor.
"[Temos] áudio de empresários que falavam 'corta a carne, fornece
ovos todos os dias para estas crianças'", afirmou a delegada.
No total, há indícios do envolvimento de 85
pessoas: além dos prefeitos e ex-prefeitos, 1 vereador, 27 agentes públicos não
eleitos e outras 40 pessoas da iniciativa privada (veja mais detalhes abaixo).
Os investigados devem responder pelos crimes de
fraude a licitações, associação criminosa, corrupção ativa e corrupção passiva,
com penas que variam de 1 a 12 anos de prisão.
As investigações apontam que empresas pioneiras de
um esquema conhecido como "máfia na merenda", entre os anos de 1999 e
2000, estão por trás das fraudes descobertas na operação Prato
Feito, diz a Polícia Federal.
Investigação
As investigações tiveram início em 1999 após
apresentação de crime em processos licitatórios de fornecimento de merenda
escolar em diversos municípios paulistas pelo TCU.
Segundo a Polícia Federal, um grupo de empresas se
reuniu e montou um esquema ilegal de divisão de diversos municípios no Estado
de São Paulo, em que forneceriam insumos ou merendas prontas.
De acordo com as investigações, prefeitos e
secretários da Educação eram procurados em épocas de campanhas eleitorais com
propostas de financiamento em troca da terceirização da merenda escolar. Após a
terceirização, as empresas que formaram um cartel estipulavam valores dos
lances e quem venceria cada licitação.
Para garantir que outras empresas do ramo não
vencessem as licitações, por meio de pagamento de propinas, editais eram
elaborados com inclusão de cláusulas restritivas que as beneficiavam e
direcionavam a disputa. Na contratação das empresas também eram formalizados
vários aditamentos sem amparo legal, como forma de garantir lucro às contratadas.
Em troca das fraudes, lobistas negociavam propina para agentes públicos.
Segundo levantamento do TCU, a empresa cujo
administradores possuem vínculos com uma das empresas envolvidas na “Máfia das
Merenda” tem atuado em 14 municípios paulistas, incluindo a cidade de São
Paulo.
Foi identificado que em torno de uma das empresas
havia um grupo de várias empresas, colocadas em nome de terceiros, que atuavam
no setor público, cuja análise apontou vários indícios de fraudes em
procedimentos licitatórios para gerar contratos superfaturados e desviar
recursos públicos em benefício próprio e de terceiros.
Alvos
A TV Globo registrou policiais do Grupo de Pronta
Intervenção, grupo tático da PF, em uma casa que foi do prefeito de Embu das
Artes, na Grande São Paulo, Ney Santos (PRB).
Desde antes de assumir o cargo, em dezembro de
2016, o prefeito Ney enfrenta uma investigação por envolvimento com o crime organizado e o
tráfico de drogas. Ele chegou a pedir afastamento temporário do
cargo, mas uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve um
habeas corpus concedido a ele. Em abril deste ano, a Justiça Eleitoral o
declarou inelegível por oito anos.
O advogado Humberto Sabretti, defensor do prefeito
Ney Santos, afirmou que a defesa não teve acesso aos autos do processo e não
sabe informar sobre o que se trata, já que as investigações estão sob sigilo.
Ele também informou que o prefeito de Embu das Artes não está na casa que está
sendo alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal, já que está em processo
de separação da esposa e ficando em um imóvel em São Paulo.
Cinco mandados de busca e apreensão por suspeita de
desvio de verbas foram cumpridos na casa do prefeito de Laranjal Paulista
(SP), Alcides de Moura Campos Júnior (PTB).
A Polícia Federal também faz buscas na Prefeitura
de Laranjal Paulista e esteve também na casa do secretário de Esportes e Lazer,
Alziro Cesarino.
(CORREÇÃO: O G1 errou ao informar que foram feitas
buscas na casa de José Francisco de Moura Campos, irmão do prefeito de Laranjal
Paulista. A defesa de José Francisco disse que não tem mandado contra ele, que
não teve policiais na casa dele e que o nome dele não está citado no processo.
A reportagem foi corrigida às 16h47).
O que dizem as
prefeituras
A Prefeitura de São Paulo informou
que a PF esteve no prédio da adminsitração municipal e na sede da Secretaria
Municipal da Educação com um mandado de busca e apreensão relativo a três
processos de alimentação escolar de 2010 e 2011.
A Prefeitura disponibilizou toda a documentação
necessária e está colaborando com a investigação da Polícia Federal. "Em
2017, a Secretaria Municipal de Educação deu início a uma força tarefa em
parceria com a Secretaria da Fazenda para atualizar cobranças de multa que
estavam parados desde 2013 na Coordenadoria de Alimentação Escolar", diz
nota .
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo do Campo disse que desde o início da
atual gestão "não firmou nenhum contrato com empresas envolvidas na
operação deflagrada pela Polícia Federal. Os esclarecimentos prestados
referem-se aos contratos de licitação de merenda escolar ocorridos na gestão
anterior. "Salienta, ainda, que o secretário citado nos autos da
investigação pediu exoneração logo pela manhã e o pedido já foi aceito pelo
prefeito", diz nota.
A Prefeitura de Barueri disse
que "colaborou com a ação da Polícia Federal desta quarta-feira (dia 9)
cumprindo todos os mandados requisitados. A operação é coordenada em todo o
país e investiga diversos contratos celebrados por cerca de 30 prefeituras na
área de educação. Cabe ressaltar que este inquérito foi instaurado em 2015. A
atual gestão segue o padrão rigoroso da legalidade nos certames
licitatórios".
A Prefeitura de Jaguariúna afirmou
que "recebeu a visita de integrantes da Polícia Federal (PF) e de um
representante da CGU (Controladoria Geral da União), que solicitaram
informações e cópias de documentos referentes a dois contratos firmados nos
anos de 2015 e 2016, portanto, no período da gestão anterior – 2013/2016.
Trata-se de contratos assinados com fornecedores de alimentos para abastecer o
Restaurante do Servidor Público Municipal e material didático para a rede
municipal de ensino (Secretaria de Educação)."
A Prefeitura de Cosmópolis afirmou
que preza pela transparência e colabora com as investigações.
A Prefeitura de São Sebastião informa
que "está colaborando de maneira integral com a Operação da Polícia Federal".
A prefeitura de Leme informa
que os agentes da PF estiveram nas dependências da prefeitura para buscar
documentos referente aos contratos de compra de uniformes do ano de 2016, da
antiga administração. "Foram cumpridos a busca e apreensão de documentos
relacionados à empresa Trynivest Uniformes Eirelli ME, que em 2016 forneceu os
uniformes para a Secretaria Municipal de Educação".
Em nota, a Prefeitura de Mongaguá confirmou que recebeu os agentes da
Polícia Federal e afirmou que está colaborando com a investigação. "O
Departamento Jurídico aguarda o término da vistoria para tomar conhecimento dos
autos e, assim, poder emitir um parecer oficial."
A Prefeitura de Cubatão informou
que a PF tem como alvo "operações a partir de 2016, e os documentos da
prefeitura que poderiam interessar às investigações, já entregues para
subsidiar as apurações, se referem ao período até 2014, não existindo
documentação posterior de interesse dos investigadores".
A Prefeitura de Araras informou
que foram apreendidos documentos sobre processo de licitação realizado em junho
de 2015, e vencido em dois lotes pelas empresas Reverson Ferraz da Silva ME e a
Unimesc Indústria e Comércio LTDA., ambas investigadas na operação. Os
contratos foram assinados em julho de 2015 e as empresas forneceram uniformes
escolares para os alunos dos ensinos infantil e fundamental.
Em nota, a Prefeitura de Peruíbe informou que a equipe de policiais
federais foi recepcionada pelo prefeito Luiz Mauricio, que determinou à
Secretaria de Administração o pronto-atendimento e acesso aos documentos a
serem examinados. Afirmou, ainda, que o mandado de busca e apreensão refere-se
a documentos relativos a processo licitatório para aquisição de uniformes
escolares assinado em dezembro de 2013, realizado durante a administração
municipal anterior.
A Prefeitura de Caconde informou
que os policiais federais solicitaram contratos e levaram documentos referentes
a contratos administrativos firmados desde 2013. Após a verificação dos
documentos, levaram cópias para instruir a investigação.
A Prefeitura de Sorocaba informa
que a cidade foi incluída na Operação por manter contratos com empresas
investigadas em outras cidades. Um delegado e cinco policiais federais foram
recepcionados pelo secretário de Licitação e Contratos, Hudson Zuliani, e pelo
secretário de Assuntos Jurídicos e Patrimoniais da Prefeitura, Gustavo Barata.
Quando a operação for concluída, será divulgado um balanço.
Em nota, a Prefeitura de Votorantim informou que os agentes federais
solicitaram documentação relativa a dois processos sobre merenda, cujos
contratos foram firmados em 2010 e 2014, tendo sido entregues pelos servidores
dos respectivos departamentos todos os documentos em sua forma original.
A Prefeitura de Francisco Morato informa
que nenhum mandado de busca ou apreensão foi realizado nesta gestão, que age em
seus atos pela legalidade e está à disposição das autoridades, para qualquer
esclarecimento e que até o momento não recebeu nenhuma notificação sobre o
caso.
A Prefeitura de Águas de Lindoia informou
que uma equipe da PF está no paço municipal cumprindo mandado de busca e
apreensão sobre licitação referente à merenda escolar entre os anos de 2014 e
2016. A Prefeitura informou ainda que está dando suporte para operação. O
ex-prefeito de Águas de Lindoia, Antônio Nogueira, o Toninho Nogueira (DEM),
disse ao G1 que desconhece a investigação da força-tarefa.
Ele negou qualquer irregularidades nos contratos com merendas escolares durante
a sua gestão entre os anos de 2012 e 2016. "A Polícia Federal esteve aqui
(casa) e não achou nada. Perguntaram se eu tinha dinheiro em casa e disse que
só tenho contas para pagar. Estou desde 1988 e não sou corrupto" , disse.
A Prefeitura de Holambra confirmou
o cumprimento de mandado nesta manhã no paço e na casa do prefeito. Segundo a
administração, o Executivo prestará todas as informações e esclarecimentos
necessários aos agentes. Disse ainda que," a operação deflagrada nessa
manhã em mais de 50 cidades por todo o Estado apura possíveis irregularidades
em contratos firmados por empresas investigadas", informa texto enviado
ao G1 e à EPTV.
A Prefeitura de Monte Mor informou
que a Secretaria de Finanças está à disposição da Polícia Federal e é a
principal interessada em colaborar com as investigações para em seguida
esclarecer os fatos.
Por meio de nota, a Prefeitura de Paulínia confirmou o cumprimento de mandado na
sede do Executivo e afirmou que a administração é a "principal interessada
na apuração de qualquer tipo de fraude que tenha trazido prejuízos aos cofres
públicos". A nota afirma ainda que a prefeitura está "inteiramente à
disposição e continuará colaborando com todas as investigações".
A Prefeitura de Mogi Guaçu confirmou
que a Polícia Federal esteve na casa do prefeito, Valter Caveanha. Os policiais
apreenderam um notebook e um celular. Os federais ainda estiveram no paço
municipal, segundo o executivo.
A Prefeitura de Itaquaquecetuba informou
que os agentes da PF estiveram no setor de compras onde solicitaram informações
e cópias de documentos. "A Prefeitura disponibilizou toda a documentação
necessária e está colaborando com a investigação da Polícia Federal."
A Prefeitura de Hortolândia informou
que as empresas citadas pelos investigadores nunca prestaram serviços ao
município. E, nesta manhã, a administração colocou à disposição dos policiais
todos os documentos solicitados a respeito da contratação de fornecedores de
alimentação escolar. Ainda segundo a Prefeitura, o Executivo vai ajudar nas
investigações dos órgãos de fiscalização.
A Prefeitura de Cosmópolis também
confirmou a presença dos federais nos setores de licitações, e disse que vai se
posicionar em breve.
As administrações de Socorro, Mogi-Mirim e Santo Antônio de Posse afirmaram que não houve
cumprimento de mandados nas prefeituras.
A Prefeitura de Santo André informa
que não tem conhecimento desta operação e que até o momento não recebeu
qualquer tipo de intimação e nem agentes da Policia Federal. Disseram também
que a merenda em Santo André não é terceirizada, e sim fabricada por produção
própria desde 1990, através da CRAISA (Companhia Regional de Abastecimento
Integrado de Santo André). De qualquer forma, a Prefeitura se coloca à
disposição das autoridades para qualquer outro esclarecimento.
Em nota, a Prefeitura de Mauá disse que Polícia Federal esteve lá "em
busca de processos administrativos referente a Secretaria de Educação". A
Prefeitura disse que disponibilizou toda a documentação necessária e está
colaborando com a investigação da Polícia Federal.
A Prefeitura de Laranjal Paulista informou,
por telefone, que não vai comentar sobre as autuações do prefeito e do
secretário de Esportes e Lazer.
O G1 entrou em
contato com as demais prefeituras e aguarda retorno.
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região não
autorizou prisões pedidas pela Polícia Federal.
Veja as cidades
com mandados:
Bahia
·
Salvador - 1
Distrito Federal
·
Brasília - 1
Paraná
·
Curitiba - 2
São Paulo
·
Araras – 3
·
Barueri – 6
·
Boituva – 1
·
Caconde – 3
·
Cajati – 1
·
Cosmópolis – 4
·
Cubatão – 2
·
Embu das Artes – 4
·
Francisco Morato – 1
·
Guarulhos – 1
·
Holambra – 5
·
Hortolândia – 3
·
Itaquaquecetuba – 2
·
Jaguariúna – 2
·
Jundiaí – 2
·
Laranjal Paulista – 4
·
Leme – 2
·
Mairinque – 3
·
Mauá – 5
·
Mogi Guaçu – 4
·
Mogi-Mirim – 1
·
Mongaguá – 4
·
Monte Alto – 2
·
Monte Mor – 2
·
Paulínia – 3
·
Peruíbe – 3
·
Pirassununga – 6
·
Registro – 6
·
Santo André – 6
·
Santo Antônio da Posse – 1
·
Santos – 3
·
São Bernardo do Campo – 8
·
São Paulo – 14
·
São Roque – 1
·
São Sebastião – 3
·
Socorro – 1
·
Sorocaba – 3
·
Tietê – 19
·
Várzea Paulista – 1
·
Votorantim - 4
·
Araras
·
Barueri
·
Boituva
·
Brasília
·
Caconde
·
Cajati
·
Cubatão
·
Curitiba
·
Holambra
·
Jundiaí
·
Leme
·
Mauá
·
Paulínia
·
Peruíbe
·
Registro
·
Salvador
·
Santos
·
Socorro
·
Sorocaba
·
Tietê
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