Era uma casinha de taipa guardada na "Floresta"
Aquietadinha às margens da rua,
Tão insignificante que de invisível era quase toda.
Ali morou uma senhorinha de andar cambado,
Ganhava a vida no azeite de dendê.
Gastava horas naquele mister
Havia um alpendrezinho na porta da cozinha,
Onde jazia o fogão à lenha...
Ardia o dia inteiro, bafejando tufos de fumaça que se via de longe.
Trabalhoso fazer azeite de dendê!
Garrafas de vidro, urupema, panela de barro, colher de pau, molambos,
Funil, pano de prato, fogo, brasas, barriga na pia.
Lenha... lenha... lenha...
Tempo... tempo... tempo...
Azeite vermelho, alaranjado, cor de mel.
O melhor azeite do Sítio Floresta.
Casa de taipa, de adobe, de pau e barro...
Enfeitada de tisna,
Decorada de picumãs,
Cheirando a fogo e fumaça,
Quintal de mangueiras frondosas,
Coqueiros e dendezeiros...
Cheiro de azeite na estradinha...
Perfume de Floresta;
Casa linda... museu natural...
Ali residia "Joaninha dos Padres",
Porque as terras vizinhas eram da igreja.
Joaninha de todos e de ninguém...
Escutei dela histórias nunca ditas sequer aos filhos.
Reflexões que tanto podem sair da boca de um filósofo
Quanto de um fabricante de azeite...
Herança eterna...
Ela se encantou.
A casa ficou,
Adoecida de intempéries,
Adoecida de abandono...
Sem dona, sem ninguém...
Sobejaram lembranças...
Dizem que está meio que extinto fazer dendê ao modo Joaninha dos Padres...
Joaninha Bandeira, seu nome de batismo...
Joaninha dos Padres, batismo do povo.
Dizem que casa de taipa é teimosa.
Verdade!
Resistem estacas apodrecidas,
Agarradas em torrões de barro,
Lembrando a dona que se foi...
Joaninha dos padres,
Esquecida por todos,
Menos por mim,
Não sei porque nasci assim:
Enxergo melhor os invisíveis,
Acho que meu olho é torto,
Assim penso...
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