ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

terça-feira, 29 de abril de 2025

NOTA DE REPÚDIO A VEREADORA CAMILA ARAÚJO

 


NOTA DE REPÚDIO A VEREADORA CAMILA ARAÚJO

Como brasileiro, patriota, esposo, pai, parente de vítima da Ditadura Militar (que enquanto vida tiver lutará contra todo gesto mesmo sublimar que favoreça a Ditadura Militar), externo o meu REPÚDIO à vereadora natalense Camila Araújo, levando em conta um vídeo publicado no Instagram em que ela pede anistia aos protagonistas da tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2022 em Brasília, e traz informações equivocadas ao tratar fatos. É direito de todos a livre manifestação de ideias, portanto não critico o ato em si, mas os argumentos equivocados que ela usa para banalizar o lastimável fato. Ela começa dizendo:


Os que receberam o perdão, não querem perdoar, o pai da anistia de 1979 (e mostra a fotografia de Lula), beneficiado pela anistia também não quer perdão nem querem anistiar ninguém”.


Depois diz:


Querem calar o povo patriota, conservador e brasileiro”


Antes de fazer reflexões, ressalvo que, assim como todos os que leem sabem, Lula não é pai da anistia de 1979 como ela disse. Lula, igual a qualquer pessoa esclarecida, igual à maioria do povo brasileiro – não quer anistiar os protagonistas da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, justamente pela gravidade do fato, para que sirva de exemplo principalmente às nossas crianças e adolescentes em idade de formação educacional -- tendo em vista esses últimos anos de tantos equívocos, deseducação, gestos desrespeitosos inclusive por parte do ex-presidente da república, banalizações dos fatos por parte de inúmeros bolsonaristas e incentivos às mentiras nos meios de comunicação -- e que essas crianças e adolescentes (em especial) precisam saber que o 8 de janeiro foi um grave ataque à Constituição Brasileira, ao Código Penal, à Democracia, ao Patriotismo, ao Conservadorismo, aos valores cristãos, éticos e morais  -- para que jamais os tenham como inspiração. O 8 de janeiro não foi algo simples assim. Os vídeos estão aí para todos constatarem os fatos, exceto se se negar a verdade.


Lula nunca participou de grupos de guerrilheiros. Ele combatia a Ditadura Militar através dos sindicatos. É uma contradição e desserviço à verdade reconhecermos golpistas como patriotas. Eles tentaram dar um golpe de estado e por isso estão sendo julgados pelo STF, que é o mínimo. Muitos deles defendem a intervenção estrangeira no país e alguns – pasmem! – têm a ousadia de defender o AI-5 (como há vídeos, inclusive, da parte do próprio filho do ex-presidente, esclarecendo que com um cabo e um soldado se fecha o Congresso Nacional). Isso é crime.


Os conservadores não defendem golpe de estado. A vereadora pega o assunto “Anistia”, no contexto de 1979 n(totalmente diferente) e arrasta para os fatos atuais, fazendo reflexões que banalizam e desrespeitam os mortos, desaparecidos e familiares ainda vivos de quem teve entes queridos torturados durante essa página horrorosa da História do Brasil (Como é o meu caso).


No dia 8 de janeiro houve crime contra a Constituição Brasileira e a própria Democracia ao se tentar dar o golpe. Sem contar o igualmente horroroso ato de dilapidar o patrimônio histórico e tombado de Brasília. Vossa senhoria ao pedir anistia hoje, eu nem diria que sublimarmente, mas que escancaradamente, coloca no mesmo patamar quem lutou contra a morte de pais de família, de jovens universitários que pensavam diferente dos agentes da Ditadura Militar, e até mesmo crianças foram assassinadas pelos torturadores desse regime. Vossa senhoria iguala os anistiados de 1979 com quem – ao tentar o golpe – tentou roubar à força o direito de um presidente governar o Brasil, tendo sido eleito de forma legítima, democraticamente, pelas urnas (mesmo que o ex-presidente da república até hoje ataque as urnas eletrônicas e o Supremo Tribunal Eleitoral, pois ainda não lhe caiu a ficha de que perdeu) a eleição.


A anistia veio à baila pelo próprio Regime Militar que, percebendo a sua decadência decorrente dos horrores que fizeram, e ironicamente esperançando permanecer no poder, resolveu anistiar. Foi uma válvula de escape para quem criou um filme de terror ao vivo e em cores e queria banalizar aquela tragédia. MAS O MAIOR MOTIVO, PARECIDO COM O QUE VEMOS NO PRESENTE, FOI ANISTIAR OS MILITARES. A anistia de 1979 jamais foi pensada para beneficiar as pessoas que eles chamavam de “subversivas” e nem mesmo pelos chamados “guerrilheiros”, foi para eles próprios – os militares – torturadores ao estilo de Ustra que, inclusive, colocava ratos vivos na vagina de mulheres ao lados dos filhos e, pior, crianças. COM QUEM ESSA HISTÓRIA SE PARECE?


Pedir anistia para os golpistas do dia 8 de janeiro diz muito – que fique bem claro aos brasileiros que a reivindicam – revela: ou muita ignorância, ou muita maldade, ou um cérebro vencido pelos tsunamis de mentiras que, na internet, transformam mentiras “em verdade” (como bem fazia Goebbels, marketeiro de Hitler), ataque à Democracia (que é crime), endossso à depredação do patrimônio histórico, ou uma ingenuidade típica aos que insistem em não ler a História e defendem falas equivocadas – gestos esses totalmente contraditórios a quem se proclama CRISTÃO, PATRIOTA E DEFENSOR DA FAMÍLIA (justamente num país com triste histórico de tantas famílias destruídas e traumatizadas até hoje pelo horror da Ditadura Militar).


Para finalizar, é válido lembrar que os que pedem anistia estão assumindo a tentativa do golpe no dia 8 de janeiro. Não é sobre Lula meramente não perdoar. É sobre o peso da Lei sobre o crime (Lula é apenas um dentre milhares de brasileiros que se horrorizam com a tentativa de golpe). Não é sobre os anistiados de ontem não quererem anistiar hoje. É sobre os anistiados de ontem não permitirem banalizar a anistia de 1979, cujos anistiados lutaram contra os que afrontavam a Democracia, e mataram, e torturaram. Não é sobre calar o povo patriota, conservador e brasileiro. É sobre o cumprimento das leis sobre crimes que afrontaram a Democracia do Brasil e que foram praticados por quem se diz povo patriota, conservador e brasileiro. LUÍS CARLOS FREIRE


sábado, 26 de abril de 2025

O QUE UNE O PAPA FRANCISCO AO PADRE JOÃO MARIA? O QUE AS MULTIDÕES QUEREM DIZER?



Já imaginou a metade de uma cidade ir a um enterro?
Assistindo aos jornalistas de todo o mundo, unânimes, afirmando que o cortejo fúnebre do Papa Francisco foi o maior da história de todos os papas, reunindo uma multidão significativa em Roma, estimada em cerca de 400 mil pessoas, incluindo líderes mundiais e fiéis, lembrei-me de um enterro ocorrido em Natal, cujo velório arrastou sessenta por cento da cidade e o cortejo fúnebre teve mais da metade da população da cidade. Vocês sabem o que é isso? É uma massa humana.
A cerimônia na Praça de São Pedro foi acompanhada por 250 mil pessoas, e o cortejo pelas ruas teve cerca de 150 mil espectadores. A cerimônia ocorreu na Praça de São Pedro e o cortejo percorreu as ruas da cidade até a Basílica de Santa Maria Maggiore, onde o papa pediu para ser sepultado. O evento atraiu a atenção de líderes de diversos países e a participação foi acompanhada por milhões de telespectadores ao redor do mundo.
Você sabia que Natal já teve um cortejo fúnebre que foi mais da metade da cidade? Claro que você já sabe, inclusive escrevi um texto sobre ele há muito tempo no meu blog. Falo do padre João Maria Cavalcanti de Brito. Pois é verdade, seu velório foi presenciado por sessenta por cento da população de Natal e o cortejo fúnebre até o Cemitério do Alecrim teve uma massa humana que não se via o fim, unindo pessoas de todas as camadas sociais num choro uníssono.
João Maria Cavalcanti de Brito nasceu 23 de junho de 1848, na fazenda Logradouro do Barro, zona rural de Caicó, uma localidade que hoje pertence ao município de Jardim de Piranhas . Ele morreu às 8 horas do dia 16 de outubro daquele ano, aos 57 anos, na casa onde foi construída, em sua homenagem, a Igreja Nossa Senhora de Lourdes.
MAS O QUE MULTIDÕES TÃO GRANDES QUEREM DIZER? Pois bem, tanto o Papa Francisco como o padre João Maria foram santos em vida. E ser santo em vida é tão difícil – diante da tão atraente corrupção (em todos os seus sentidos) – que não se veem mais santos no século XXI. E quando aparecem, são apedrejados. E, mesmo apedrejados, há uma parcela da sociedade que se curva a esses santos e os louva. E os querem perto. E os proclamam. E se despedaça quando eles morrem. Choram copiosamente diante de suas mortes porque a carência do bom líder é tão gigantesca, que um pedacinho de gente santa – esteja aonde for – seja de que pais for – torna-se o combustível que alimenta as nossas velinhas do amor, dizendo “vale a pena o amor, vale a pena ser bom, vale a pena não ceder à deliciosa e atraente corrupção!”. A maior prova disso é que vimos muçulmanos, budistas, padres ortodoxos, evangélicos de linha progressista, espíritas, adeptos de matrizes africanas, enfim, gente de todas as religiões querendo dizer uma palavra sobre o Papa Francisco. Ele foi uma relíquia...
Pois foi exatamente assim com o padre João Maria Cavalcanti de Brito, uma relíquia. Aquele que dormia sobre uma esteira no sótão da Igreja Matriz de Nosa senhora do Ó, em Nísia Floresta, depois na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal. Aquele que, quando o mendigo batia à sua porta e ele ia almoçar, seu almoço era oferecido ao pedinte. Aquele que peregrinava diariamente por toda a Natal, levando remédio, palavras de amor, mensagens cristãs, ensinando noções de higiene, alternativas de alimentos, doando cestas básicas aos desvalidos, enfim, exercendo Jesus. Num tempo de uma Natal terrivelmente paupérrima.
O Papa Francisco deixou cem dólares na conta. Mandou vender os carros de luxo usados pelos papas anteriores e preferiu o mais barato do mercado. Não quis nada de ouro nem prata em seu corpo, mas de latão. Aboliu alguns ornamentos clericais, os sapatos luxuosos, a mesa nababesca, enfim viveu o voto de pobreza, que significa viver com dignidade (para quem não entende) e jamais na miséria. E ele “era comunista” porque almejava que todos pudessem viver com dignidade. Um papa que teve a coragem de tratar assuntos delicadíssimos com sabedoria incomum, sem se preocupar em desagradar, e mesmo assim foi incompreendido por alguns (o que é normal, afinal a corrupção é atraentíssima e permite delícias). Entenda por corrupção ela em todos os seus aspectos.
Pois bem, dois homens distantes no tempo e na geografia, mas iguaizinhos na santidade. É louvável e confortante saber disso.
E num tempo em que nos assustamos com líderes religiosos enormemente preocupados com futilidades (carros de luxo, perfumes franceses, roupas de grife, Iphones de última geração, imóveis, sapatos caríssimos, viagens internacionais, restaurantes em que um único jantar pagaria 100 cestas básicas para quem não tem comida, dentre outras abominações) causa perplexidade ver tanta corrupção – pasmem! – dentro das igrejas, salvas as devidas exceções. E falo “igreja” no sentido generalizado.
Cumprir Jesus é matar um leão por dia. É o mais difícil dos desafios não apenas dos líderes religiosos, mas de quem tenta. Cumprir Jesus posso comparar ao ato de educar um filho: é a tarefa mais difícil que um pai e uma mãe tem nas mãos (principalmente nos dias de atuais em que líderes religiosos que deveriam dar exemplos de amor para serem apoio para as famílias, dão exemplos de futilidade, injustiça, corrupção e desamor). Está difícil. Está difícil a santidade... é por isso que ontem o mundo – não a metade – mas o mundo inteiro, se pudesse, teria ido ver ser enterrado um santo em vida. Sabe por quê? Porque foi enterrado o AMOR... L.C.F. 26.4.2025 – 22H54.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

ANIVERSÁRIO DE MORTE DE NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA - HÁ 139 ANOS...

 

Uma homenagem que minha irmã Regina Freire fez a Nísia Floresta em 2018, no Mato Grosso do Sul.


Após as experiências mais intensas como educadora e escritora, no Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro... após suas posições pioneiras de feminista, abolicionista, indianista e indigenista, após a defesa da causa republicana e de outras questões, Nísia Floresta alça voo altaneiro até o berço da civilização.

Diferente do olhar preconceituoso e permeado de tabus experimentados em sua pátria - salvas as devidas exceções - ela foi vista pelos intelectuais europeus de igual para igual (E o era!). Logo está dialogando com Duvernoy, Alexandre Herculano, Manzoni, Azeglio, Comte, Castilho, Victor Hugo e outras figuras de grande repercussão.

De seus 76 anos de idade, vividos intensamente, ela residiu 28 anos no Velho Mundo, respeitada, frequentando todos os ambientes onde aflorasse o conhecimento. Na França e Itália, em especial, experimentou a glória como pensadora, sendo aplaudida e reverenciada nos ambientes acadêmicos, inclusive viu o seu legado sendo notícia em jornais. Peregrinou sua sede de conhecimento pelas terras da França, Itália, Bélgica, Alemanha, Suíça, Grécia, Inglaterra e Portugal.

No Vaticano foi recebida em audiência pelo Papa Pio IX. Por onde passava, olhava os cenários com a visão apurada dos grandes jornalistas, filósofos, sociólogos, escritores... e com a dádiva de poeta de notável sensibilidade. Nada lhe passava despercebido: o modo de vida das mulheres; em especial, aos comportamentos sociais, as universidades... até mesmo as ruínas, cemitérios, folclore, natureza, misérias, riquezas, abismos sociais...

Certa vez, sofreu um acidente de trem na Itália e saiu ilesa. Como agradecimento a Deus pelo que considerou milagre (Nísia tinha uma postura católica, de certo modo), doou tudo o que trazia em suas bagagens, em se tratando de dinheiro e joias, a uma casa de amparo às pessoas em situação de extrema pobreza.

Isso era Nísia Floresta!

Mas tudo passa... a velhice chega, e é IMPLACÁVEL!

Então, já cansada e desgastada, certamente muito solitária, pois sua única companhia era Lívia, a filha, ela se recolhe numa cidade medieval minúscula, onde queimaram Joana D'Arc numa fogueira. Era vizinha de Flaubert (só não sei se conheceram - ambos não falam disso em seus legados, nem em suas cartas/memórias, mas suponho, pois a obra de Flaubert, como Madame Bovary, com certeza a agradou). Sabemos que Flaubert escandalizou a França, foi notícia alardeada na França, passou por um longo julgamento nos tribunais (tudo isso devido a literatura). Os conservadores - atuais patriotas - vigilantes da moral e bons costumes não gostaram da ideia de um livro que mostrava a realidade da vida sem cortes, algo parecido com alguns fatos que temos visto nos últimos anos. Enfim, creio piamente que Nísia e Flaubert se conheceram e trocaram ideias.

Então ela se recolhe em Rouen numa casa modesta, meio rural, afastada e desfruta as agruras da pior idade. No dia 24 de abril de 1885, toda a sua vida desaparece para ocupar única e exclusivamente a sua obra, a propósito, de singular importância. Era dia chuvoso, conforme revela o calendário da época. As honras fúnebres foram providenciadas por Lívia (que morrerá menos de trinta anos depois, e se aninhará ao seio da mãe no mesmo túmulo).

Sessenta e nove anos depois, após as buscas incessantes pelo seu túmulo, o jornalista Orlando Dantas finalmente localiza o ninho fúnebre onde repousava, intacta, a grande brasileira (Ela havia sido embalsamada a pedido, supondo, certamente, que um dia seria reivindicada pelos seus compatriotas. E o foi).

Finalmente "ela retorna" ao Brasil, onde uma multidão formada por gente de vários estados a aguardava. Ocorreram solenidades no Pernambuco. Ela dizia que se sentia Pernambucana (creio que devido a tal província ter lhe ofertado o seu grande amor e ali ter publicado em jornais e livros tudo o que pensava). Também devemos reconhecer que à ocasião da chegada dos seus despojos ao Brasil, Pernambuco foi sua posta de entrada, onde se curvaram em respeitosas homenagens.

Ela recebeu homenagens em Natal, onde houve quem quis polemizar, fruto ainda da desabonadora carta de Isabel. Ave Chicuta Nolasco! Ela impôs-se! (Entrevistei-a em 1993). Essa educadora sofreu certos preconceitos por acolher o féretro no estabelecimento educacional que dirigia, e isso desagradou alguns. Coisas da Natal que parece querer ser santa sem ser, que não perde nunca os ares provincianos. Natal desconsagra, sim, mestre Cascudo!

Depois, uma massa humana deslocou-se a Papary que já havia recebido o nome da homenageada em 1948 (fruto de um abaixo-assinado decorrente do mal estar que o topônimo original causava, foi parar na Assembleia Legislativa, virou projeto aprovado nas mãos do deputado Arnaldo Simonetti.

O cônego Rui Miranda, bastante insatisfeito, celebrou a missa de corpo presente (tive a sorte de entrevistá-lo antes de sua morte, em 2006; o material está guardado). Enfim, deram fé que ao invés de ela ter chegado numa caixeta, veio num ataúde comum. Precisaram fazer de fato um túmulo tradicional. O prefeito prometeu construí-lo. Não o fez. O padre teve que aturar a pobre Nísia na porta de sua Sacristia durante uma gestação humana, coincidentemente sob a proteção de Nossa Senhora do Ó grávida. Certamente a filha ilustre de Papari o ultrajava.

Passaram os meses. Houve verdadeiro imbróglio. Alguns intelectuais jogaram a toalha, se juntaram, e graças à Academia de Letras do Rio Grande do Norte o túmulo foi erguido em 1955, ao lado do monumento construído quase meio século antes, em 1909.

Ali a nossa Nísia repousa, espremida, sufocada, "ofuscada"... há 67 anos... Daqui a pouco ninguém conseguirá ver o seu túmulo (Denunciei isso às devidas instituições de governo e afins, antes da Pandemia, mas parece que nelas funcionam a lógica do que disse o diabo no final do filme O Auto da Compadecida).
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Dedico este texto à estilista Sra. Marlene, que costurou réplicas de diversos figurinos de Nísia Floresta no ano de 1993, para o espetáculo teatral 'História de Nísia Floresta', ocasião que escrevi esse trabalho que foi apresentado na UFR, na UFMA e em Nísia Floresta.

- Dedico esse texto ao Dr. Ormuz Barbalho Simonetti, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, autor da obra colossal de genealogia "Os Troncos de Goianinha", cidade potiguar onde também nasceram os antepassados de Nísia Floresta, em destaque, sua mãe Antônia Freire. Eu sempre ouvi da minha mãe a informação de nosso parentesco com Nísia Floresta. Nunca fiz disso bandeira, pois queria provas concretas. E isso se confirmou através do trabalho de mais de trinta anos de pesquisa, encampada pelo Dr. Ormuz Simonetti. Obra que aguardei com ansiedade, para poder hoje estar contando-a com fundamento.

- Dedico esse texto a minha mãe Maria Freire, 92 anos de idade, que permitiu que a minha infância fosse embalada por episódios da História da nossa Nísia. Aos nove anos recebi dela a obra "História de Nísia Floresta", escrito em 1941 por Adauto da Câmara, e guardo esse livro como relíquia.

- Dedico este texto a todas as pessoas que admiram a nossa Nísia Floresta e seu legado. L.C.Freire 24.4.2024.

terça-feira, 22 de abril de 2025

OS QUE ATACAM O PAPA SÃO OS MESMOS QUE NOS ATACAM...


Há dias acompanhamos o teatro de extremo mau gosto do EX-presidente Jair Bolsonaro. A dramaturgia é pior do que as pecinhas teatrais que nossas professoras primárias faziam nas datas comemorativas em que éramos os atores. Só os nossos pais se convenciam para nos agradar. Mas no caso do EX-presidente, os que se convencem dos seus embustes são tão maus quanto ele ou permitem o mal. Realmente ele está enfermo, mas o circo armado assusta. Se a Semana Santa demorasse mais, ele seria confundido pelos iguais como o próprio Messias. Mas não é sobre isso que venho falar (Já vamos entrar no assunto).
A figura de Jair Bolsonaro é a personificação da mentira, do engano, da corrupção, da morte, da tramoia, da maldade, da decadência humana e degradação das instituições. Por essa razão, comprometi-me a mostrar nas redes sociais – sempre – todos os males que esse ser abjeto promoveu no país e segue promovendo porque deram a ele poderes que ele sempre almejou.
Todos devem usar os instrumentos possíveis e idôneos para conscientizar os que são enganados por esse indivíduo que insiste em se passar por um homem de bem. Já vi muitas fichas caírem e ei de ver muitas.
É ingênuo esperar que o EX-presidente – e seus seguidores – se compareçam de situações que toque a alma das pessoas normais, afinal ele surgiu para dar poder de fala aos seres mais abjetos (foi assim com a Pandemia, por exemplo). Ele veio para criar uma plateia de iguais, e percebendo a fragilidade de boa parte do povo brasileiro, e pegando todos os símbolos que tocam com facilidade os corações das pessoas abjetas, ele não contou até três. Pegou da Religião, da Família e do Patriotismo para formar uma seita bizarra, pois sabe que esses símbolos são como varinha de condão e têm o poder impressionante de enganar. E às custas de lavagem cerebral em forma de discursos – ontem (como presidente do Brasil) agressivos e ameaçadores, e hoje, (como EX-presidente), mansos por medo da Lei – ele criou uma seita que deu certo nesse raciocínio adoecido de desinteligência e falta de civilidade, e arregimentou admiradores.
Desde ontem vejo as mais absurdas postagens de bolsonaristas atacando o Papa Francisco. Repugnante. É perda de tempo imaginar que esse povo se comoveria com a morte de um homem tão gigante, sendo que o consideram Comunista. E soma-se a isso uns religiosos que o veem como a Besta de Sete Cabeças do Apocalipse. Por consequência dessas fantasias, quem o respeita é comunista e segue o representante das profundezas (como dizem).
Não sou a favor de atacar pessoas física ou verbalmente. Sou a favor de expor as verdades sobre homens e mulheres que enganam, que usam pessoas de pouco esclarecimento, que roubam, que praticam estelionato, que causam danos aos outros sob o véu da integridade, usando posições políticas, religiosas ou falando em nomes de instituições. Expôr essas pessoas e seus embustes nas redes sociais – desde que verdadeiros – deve ser tarefa de todos. Errado é produzir e divulgar mentiras (o que chamam de fake news).
Sobre esses ataques ao Papa Francisco, não estranho, pois muitos agem como peças de dominó, sem saber, sem entender, sem noção. Pelo simples moto do primeiro que cai e condiciona os demais. O que estranho e me assusta são as alegações, a carga de ódio, as colocações, os absurdos, as invencionices, as fantasias criadas para “justificar” pensamentos dos mais diabólicos.
Quero distância desse povo, pois diante de uma confusão, matam sem saber o que é e o que foi. É esse tipo de gente que o EX-presidente Bolsonaro arrancou dos subterrâneos mais profundos e abjetos de parte do povo brasileiro. Ele foi capaz de criar na sociedade um vírus invisível do mal que contamina ignorantes. E essas pessoas passam a defender ideias absurdas, bizarras e fantasiosas. A maior delas é a honestidade e inocência do EX-presidente. O que nos revolta é saber que esse indivíduo levou muitos brasileiros – que se autodenominam “patriotas” – ao abismo no ‘8 de Janeiro’. Ele arquitetou o golpe, foi pra os EUA e o resto ficou a cargo dos seus teatrinhos de escola infantil, enquanto seus fãs tocaram o terror em Brasília. E não se enganem: a anistia que ele pede é pensando apenas nele.
Assusta saber que essa parcela do povo brasileiro não respeita autoridades verdadeiramente idôneas e ilibadas. Faz medo saber que elas não respeitam os Três Poderes. Essas pessoas – vitimadas por essa seita bolsonarista – perderam a noção de tudo – perderam a capacidade de discernir entre a razão e a fantasia, entre a crítica civilizada e o ataque vil. Elas atacam homens e mulheres que respondem por nobres instituições como se fossem seus iguais. Elas perderam a noção de ética, de moral, de civilidade, e mesmo da mínima educação de berço. E, pasmem, alegam – loucamente – estar a serviço de Deus, Pátria e Família. Fingem o tempo todo respeitarem “as quatro linhas da Constituição”. O que é isso se não uma espécie de seita, loucura e caos?
Os ataques ao Papa Francisco e a qualquer pessoa que não vive nesse mundo paralelo, doente e perigoso, vindos dessa espécie dispensávelde gente, jamais devem ofender os que conhecem a nobreza do Papa Francisco e quem quer que eles ataquem, mas deve servir de termômetro para percebermos onde chegamos e como anda o Brasil adoecido de bolsonarismo. Bolsonarismo que chegou ao ponto de planejar mortes e a matar a dignidade de muitos brasileiros.
Pois bem, não se assuste! Apenas lute contra o mal e o mau!



terça-feira, 8 de abril de 2025

NOTA DE REPÚDIO À PROPOSTA DO 'TÍTULO DE CIDADÃO NATALENSE' A JAIR BOLSONARO PELA CÂMARA DE NATAL


NOTA DE REPÚDIO

Na condição de brasileiro e cidadão comum, externo o meu REPÚDIO à concessão do título de cidadão natalense a Jair Bolsonaro, a ser votada amanhã, 9.4.2025, na Câmara Municipal de Natal. Essa afronta é um reflexo preocupante da falta de coerência e sensatez de alguns vereadores, a partir do (s) proponente (s). A proposta é de autoria do vereador Subtenente Eliabe Marques (PL) e foi subscrita pelos vereadores Fúlvio Saulo (SDD), Tony Henrique (PL), Preto Aquino (PODE) e Camila Araújo (União). A vereadora Brisa Bracchi (PT) foi a única a votar contra.

 VEJAM AS ALEGAÇÕES PARA ESSA CONCESSÃO DE TÍTULO:

1 - foi o presidente que mais visitou a nossa cidade;

2 - envio de R$ 200 milhões para aparelhar as forças de segurança;

3 - 18 ruas calçadas no bairro Planalto foram feitas no governo de Bolsonaro (Isso qualquer Secretaria de Obras resolve).

É o cúmulo! Visitar Natal, agora, pontua critérios para um título honorífico. Esse homem não visitou Natal. Ele veio atacar pessoas, fazer motociatas, promover pão e circo. Seus discursos são hostis e totalmente abstidos de diplomacia. Esse recurso destinado a Natal não cobre a metade da necessidade desse setor e se for comparado com margens matemáticas, não difere de investimentos do atual governo em outros setores.

Uma vereadora por nome de Camila também apoiou a proposta. Segundo o jornal AgoraRN ela declarou: “Subscrevemos e seguimos nas ruas, torcendo para que em 2026 ele retorne ao comando dessa nação que está aos frangalhos. É histórico o número de obras e recursos destinados na gestão Bolsonaro para Natal e para o estado”, disse. Essa senhora vê conforme o que ela tem dentro dela. Presidentes têm o dever de disponibilizar recursos para todos os estados do Brasil. Não é benesse, nem motivo de flores. Se assim o fosse, o ex-presidente Lula teria uma Holambra inteira despejada nele. Quem mais construiu IFRN no Rio Grande do Norte? Quem mais investiu na UFRN?


 Não desmereço a Segurança Pública tão necessitada. Verbas são bem vindas a todos os setores, mas acredito mais em quem investe na Educação (se bem que Lula investiu nas mais diversas áreas no RN, inclusive adutora e barragens). Quem investe em Educação prepara um povo altivo, e não verá no futuro vereadores – tampouco VEREADORA – enaltecendo um presidente que é fã do criminoso, torturador Ustra, (que colocava ratos vivos nas vaginas de mulheres vivas durante a horrorosa Ditadura Militar). Um ex-presidente que está a caminho da prisão, tendo em vista as provas audiovisuais que o colocam como mentor do ‘oito de janeiro’. Tenho parentes que foram torturados na Base Aérea de Natal e enquanto eu tiver vida, trabalharei contra os fãs de torturadores e quem diz que não estupra mulher feia).

E sobre o país em frangalhos, tire a venda dos olhos. Estamos, sim, com problemas. Problemas criados desde a arquitetura do golpe dado em Dilma Rousseff porque vocês têm dificuldades em aceitar um governo verdadeiramente civilizado e que dê dignidade aos pobres. Vocês não aceitam repartir o pão porque suas Bíblias são diferentes. Vocês têm horror às políticas públicas de cidadania porque não aceitam seus filhos lado a lado com o filho das vossas faxineiras na universidade. Tampouco fazendo doutorado em Moscou. Vocês não assumem a engenharia demoníaca que fizeram para – depois de Dilma – derrubar Lula a partir de um fantástico Power Point protagonizado por dois cidadãos que só entendiam do Vade Mecun universitário, analfabetos funcionais que nunca leram um livro de Literatura, nem de Arte, que tem o horror vocabular de pronunciar “cônge” ao invés de cônjuge. Eles, sim, prefaciaram esse tal “Brasil em frangalhos”. Depois deles vieram inúmeros outros, dentre eles os militares que nunca se conformaram por não conseguirem dar mais um golpe vitorioso como os três anteriores.  E esse grupo beligerante, asqueroso, sem projetos, cheios de armas nas mãos, encontrou um messias que deveria já ir há muito tempo para o lugar que passou a vida escapando. Vocês são boicotadores, não têm nada de patriotas. Se o fossem, teriam a civilidade de aceitar um presidente eleito legítima e democraticamente pela maioria dos brasileiros.

 É VERGONHOSA E AFRONTOSA A CONCESSÃO DO TÍTULO DE CIDADANIA A ESSE SENHOR QUE TEM TORNADO O BRASIL UMA FILIAL DO INFERNO – O QUE ELE VEM FAZENDO – ASSUMIDAMENTE OU DEBAIXO DOS PANOS – NUNCA FOI VISTO NA HISTÓRIA DO BRASIL ATÉ A DITADURA MILITAR INICIADA EM 1964. ESSA AFRONTA, INCLUSIVE, É, TAMBÉM, UMA TENTATIVA DE BANALIZAR O "OITO DE JANEIRO".


A gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro foi marcada por uma série de arbitrariedades que não apenas desrespeitaram princípios democráticos, mas também tiveram consequências nefastas, profundas e duradouras para a sociedade brasileira. Vejamos algumas das principais arbitrariedades cometidas durante seu governo, bem como suas repercussões:

1. Desrespeito às Instituições Democráticas: Bolsonaro frequentemente atacou instituições fundamentais, como o Judiciário e o Congresso Nacional, promovendo uma cultura de desconfiança e deslegitimação. Essa postura minou a confiança da população nas instituições democráticas, gerando um ambiente de instabilidade política.

2. Gestão da Pandemia de COVID-19: A condução da crise sanitária foi marcada por negligência e desinformação. Bolsonaro minimizou a gravidade do vírus, promoveu tratamentos sem comprovação científica e se opôs a medidas de distanciamento social e uso de máscaras. Como resultado, o Brasil se tornou um dos países com o maior número de mortes por COVID-19, refletindo uma tragédia humanitária sem precedentes. Como não bastasse, fez piada, imitando uma pessoa com COVID-19 agonizando, conforme vídeos reais dispostos na internet.

3. Desinformação e Fake News: O ex-presidente foi um dos principais disseminadores de desinformação, especialmente nas redes sociais. Sua propagação de notícias falsas sobre vacinas, saúde pública e questões sociais contribuiu para a polarização e a desinformação generalizada, prejudicando o debate público e a formação de opinião.

4. Desvalorização da Ciência e da Educação: A constante desvalorização da ciência e da educação, com cortes de verbas para universidades e instituições de pesquisa, comprometeu o desenvolvimento intelectual e científico do país. Essa postura prejudicou a formação de uma sociedade crítica e bem-informada.

5. Atentados aos Direitos Humanos: A gestão Bolsonaro foi marcada por discursos de ódio e ataques a minorias, incluindo LGBTQIA+, indígenas e grupos étnicos. Essa retórica alimentou a violência e a discriminação, resultando em um aumento de casos de agressões e assassinatos motivados por preconceito.

6. Desmatamento e Crise Ambiental: Durante seu governo, houve um aumento significativo no desmatamento da Amazônia e em outras áreas de preservação. A falta de políticas efetivas de proteção ambiental não apenas comprometeu a biodiversidade, mas também afetou comunidades indígenas e tradicionais, além de contribuir para a crise climática global.

6. Exploração hipócrita da Fé, do Patriotismo e da Família: um homem que durante todos os seus mandatos nunca morreu de amores por religião, de repente arrastou para si uma réplica do slogan de Hitler, pautada na ‘religião, família e patriotismo’. Nunca na história do Brasil se viu tanta confusão e ódio dentro das igrejas evangélicas (conforme abundam vídeos na internet), e isso parece ter vindo como consequência depois que esse público – com raras exceções – transformou as igrejas em comitês, comícios e palcos de campanha política bolsonarista. Vale ressaltar que ele se traveste de católico, judeu e agora, por último, inusitadamente, arrastou um pai de santo para o movimento pró-anistia na av. Paulista, SP. A bandeira do Brasil que sempre foi pautada de respeito tornou-se também símbolo de hostilidade, escudo que reveste cidadãos que atacam e agridem. Já houve até quem matasse. Patriotas: homens e mulheres de Deus que condenam o público LGBTQIA+, que se silenciam diante da notória misoginia desse senhor, que alegam que não devemos desenterrar os mortos da Ditadura Militar, que banalizam e subestimam suas atrocidades – pasme – em nome de Deus, justificando que Deus escolhe os idiotas para confundir. Não se enganem. Esse Deus não é o da Bíblia. Esse Deus passou a existir há pouco tempo como a famosa e alegada Besta de sete Cabeças que fez escola e criou uma legião de Mefistófeles.


As consequências dessas arbitrariedades são visíveis em diversos aspectos da vida social e política do Brasil. A polarização aumentou, a confiança nas instituições diminuiu e a sociedade se tornou mais vulnerável a discursos extremistas e à desinformação.


Diante desse cenário, a decisão da Câmara Municipal de Natal em propor o título de cidadão natalense a Jair Bolsonaro é – não apenas uma afronta à memória das vítimas da pandemia e as vítimas (mortas e desaparecidas) da Ditadura Militar que ele louva –, mas também uma demonstração de descompromisso com os valores éticos, morais, cristãos, laicos, democráticos e com o bem-estar da população. Essa concessão revela uma grave desconexão entre os representantes e os anseios da sociedade, que clama por respeito, justiça e dignidade.


É fundamental que a população de Natal se mobilize e exija responsabilidade de seus representantes, promovendo um debate crítico sobre as ações de figuras públicas que, como Bolsonaro, deixaram um legado de arbitrariedades e desrespeito aos direitos humanos e à democracia. A história deve lembrar que a decência e a ética são pilares essenciais para a construção de uma sociedade justa e igualitária, e jamais para promover esse desserviço.

Luís C. Freire 

sábado, 5 de abril de 2025

“O ABISMO SOB AS FLORES DA CIVILIZAÇÃO” E AS FESTAS JUNINAS NO RIO GRANDE DO NORTE, O QUE NÍSIA FLORESTA NOS ENSINA...

 


“O ABISMO SOB AS FLORES DA CIVILIZAÇÃO” E AS FESTAS JUNINAS NO RIO GRANDE DO NORTE, O QUE NÍSIA FLORESTA NOS ENSINA...

Antes de entramos no âmbito da reflexão, leiamos esse trecho do ensaio ‘O abismo sob as flores da civilização’ (Il L’abissotto i Fiori dela civilitá), escrito por Nísia Floresta, parte da obra ‘Cintilações de uma alma brasileira’ (Scintilled’um’anima brasiliana’, publicados originalmente Florença, Itália no ano de 1859.

"A música, esta celestial inspiração de almas poéticas e religiosas, mas tão profanada desde que se fez usar para matar alegremente os homens, e para depravar a mulher, atira e encilha os dois sexos numa dança desenfreada, à qual comanda o gênio da presente corrupção.

A desfaçatez, a luxúria, os excessos dos sentidos disputam o reino de dissolução, envolvendo num véu transparente a ruína dos povos; ruína que a civilização aprova e fomenta num contrassenso que horroriza o pensador, e lança nos ânimos gentis a dor e o desconforto!

Após muitas libações, a dança; após a dança, o passeio entre os verdores de inumeráveis alamedas. E depois, ainda, o infernal turbilhão de ‘valse’; onde extenua-se o vigor do corpo, quando aquele da alma já se dissipou.

Ali passeiam cabeças vazias; aqui lábios impuros pronunciam fugidiamente aquelas palavras tão poderosas sobre o pudico lábio da mulher. Um pouco apartado, ao lado de uma Megera enguirlandada, senta-se um jovem, ou melhor, um espectro vivente, que arrasta-se ele também à ‘Foire au plaisir’ (1), quando a morte já imprimiu o fatal sigilo sobre sua fronte. – O infeliz ilude-se! A sorte pôs ao seu lado, em vez de um anjo talvez abandonado, um demônio que o enfeitiça; precipitando-o para um fim prematuro, após ter-lhe desfibrado o corpo e a alma...” 1- Feira de diversões.

Nísia costumava jogar no papel muito do que testemunhava. Tudo era matéria prima para crônica. Ela presenciou a cena acima às margens do Sena, “para os lados de Asniére”.

Embora eu transcrevi o trecho completo, minhas observações se detém apenas aos quatro primeiros parágrafos, tendo em vista que o restante é óbvio demais. Para o bom entendedor...

Pois bem, já estão aparecendo os cartazes de propaganda do São João dos municípios do Rio Grande do Norte e isso traz muitas mensagens sublimares. É sobre isso que ontem eu conversava com uma pessoa que trabalha com cultura, inclusive citei essa passagem escrita por Nísia, tendo me lembrado dela. O assunto foi sobre a descaracterização das festas juninas do Nordeste. Aqui me atenho ao Rio Grande do Norte para falar com propriedade. Já ressalvo que não se trata de congelar o passado, engessando-o, tendo em vista que a civilização anda para frente.  Também não estou propondo que as festas sejam festas catequéticas. Refiro-me a conservar intacta a essência das coisas da terra (como os gaúchos fazem). Lá eles dizem “Mateus, primeiros os teus”. (Certíssimos!).

Você percebe que esse texto de Nísia Floresta parece escrito hoje. A postura de estranhar certos comportamentos modernos faz parte da história da humanidade. Antes de Cristo há registros de sábios criticando o comportamento dos jovens. Isso sempre existirá. O que farei agora, inclusive, é nada mais que isso. O que Nísia Floresta fez, foi nada mais que exercer o seu direito de estranhar o que viu.

Mas o que ‘O Abismo sobre as flores da civilização’ de Nísia Floresta tem a ver com isso tudo. O ensaio é dedicado aos jovens. Vamos entender isso tudo a partir da significação do título. “O ABISMO” se refere aos perigos aos quais os jovens estão sujeitos se se permitirem o mal (má companhia, por exemplo). “AS FLORES” são os próprios jovens. “AS FLORES” são as virtudes; tudo aquilo de bom que um jovem pode trazer dentro de si e praticar enquanto civilização. E a civilização? O que significa. “CIVILIZAÇÃO” é a humanidade.

Mas vamos retomar a conversa sobre Cultura. Festa Junina é uma tradição muito forte no Rio Grande do Norte. Ela está na alma do povo potiguar. As coisas juninas transcendem, estão no ar. As pessoas praticam as festas juninas dentro de casa, no quintal, na calçada, no bairro, no comércio formal e informal, nos festejos públicos. É uma fusão de tradições em que encontramos a gastronomia, os festejos, a linguagem, as bebidas, hábitos, religiosidade, musicalidade, enfim, uma gama de coisas. Mas mesmo assim não significa que a tradição mantém viva a sua essência.

Do mesmo modo que lá em cima Nísia Floresta critica a forma como a mulher é tratada nas músicas, o comportamento dos jovens nas festas públicas, cabe a mesma reflexão no presente. Vamos rever o que ela escreveu: “A música, esta celestial inspiração de almas poéticas e religiosas, mas tão profanada desde que se fez usar para matar alegremente os homens, e para depravar a mulher, atira e encilha os dois sexos numa dança desenfreada, à qual comanda o gênio da presente corrupção”.

É isso! Se há 166 anos alguém se horrorizou com o que viu em plena França, imagine hoje. Não vou entrar em detalhes. Basta ver os vídeos que têm em abundância na internet, pós-festas. Creio que pai algum gostaria de saber que sua filha ou o seu filho se submetem a tanto vexame (drogas, comas alcoólicos, estupros, brigas, acidentes etc).

O outro detalhe da minha conversa se deteve ao comportamento da maioria das prefeituras de Natal e cidades vizinhas, que tem a bizarrice de trazer cantores sertanejos para o São João do Nordeste. O que Gustavo Lima e Luan Santana têm – por exemplo – com o São João do Rio Grande do Norte? Esses artistas estão para a Festa de Peão de Boiadeiro, de Barretos, interior de São Paulo, como Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, João Gomes, Jorge de Altinho, Petrúcio Amorim, Flávio José, Zé Vaqueiro, Dorgival Dantas e uma porção de outros artistas incríveis estão para o São João do Nordeste. São costumes e tradições muito peculiares a cada região.

Não é preconceito, bairrismo ou algo do tipo. É sensatez e preocupação com a valorização das raízes de um povo. As instituições públicas que promovem a Cultura (Secretarias, Fundações etc) municipal e estadual tem o dever moral de serem os primeiros a preservar a cultura do seu povo, ao invés de usar a máquina pública ao gosto pessoal de terceiros. Alguém já viu Dorgival Dantas, Elba Ramalho ou João Gomes se apresentando na Festa de Peão de Boiadeiro de Barretos? Eles já cantaram no Oktober Fest de Santa Catarina ou na Festa da Uva, no Rio Grande do Sul?  (Nunca!). São festas que refletem a essência deles. Da mesma forma é o São João do Nordeste que tem tudo a ver com a nata da música nordestina, o zabumba, ao pandeiro e à sanfona.

As festas do Nordeste tem lugar para todos os artistas, ritmos e gostos, MAS NO MOMENTO CERTO. Mas há uma exceção quando falamos de SÃO JOÃO NO NORDESTE. O problema é que as instituições públicas que promovem a cultura – salvas as raras exceções – precisam ter consciência disso.

Negar ao povo o fomento às suas tradições é com toda certeza  uma forma de corrupção, pois quando os gestores públicos – que tem todos os instrumentos possíveis para enaltecer as raízes culturais de um povo – deixam de fazê-lo, estão corrompendo a sociedade, alienando-a.

É muito injusto ver as nossas crianças e os nossos jovens perdendo a sua identidade cultural ou entendendo as festas públicas como espaços de degradação. Esse discurso parece careta, mas não é. A população deve resistir e reivindicar, afinal os homens que estão no poder, hoje, foram colocados ali para representar o povo, e se esses homens estão equivocados, a sociedade deve dizer “Alto lá!”

Pois bem, se você é daquelas pessoas que sentem saudade da beleza, da poesia, da amorosidade, da presença das famílias, da alegria da população junta e misturada, da satisfação de estar num evento seguro, desde a sua estruturação às apresentações artísticas, o que você faz para que isso aconteça?

Que tal pensar? Pensar e por em prática ideias e alternativas para que a nordestinidade volte aos bairros, às vilas, aos lugarejos, às cidades. Que os artistas da terra sejam valorizados e respeitados nas festas públicas, que sejam remunerados com justiça, assim como os sertanejos são.

Quando Nísia Floresta critica a falta de poesia na aura cultural, referindo-se às músicas que trazem letras e coreografias cheias de vulgaridade, quando ela critica os equívocos nos festejos públicos, quando ela fala de corrupção, ela se refere à ausência da qualidade nas letras das músicas, ela fala do desconforto que muitos sentem ao ouvir vulgaridades num espaço onde há crianças, jovens, adultos e idosos. Num espaço de sociabilidade que deveria servir para celebrar as suas tradições genuínas de um povo.

Não sou contra os sertanejos nem a outros ritmos, inclusive nasci num estado em que as emissoras de rádio tocam sertanejo o dia inteiro – sou fã de Milionário e José Rico e Tonico e Tinoco e uma porção de artistas sertanejos (de verdade) –, mas os sertanejos devem ter lugar em outras festas nordestinas (aniversário da cidade, destas natalinas). No São João, não! O São João é quando o povo nordestino deve recarregar as suas baterias culturais – dançando xote, baião, xaxado e todas as vertentes do forró genuíno do passado e do presente – renovando-as, transmitindo-as às novas gerações... 

Pois é, eis que trago justamente Nísia Floresta para uma discussão aparentemente desconectada, mas, pelo contrário, nada mais pertinente que a nossa Nísia para nos ensinar sempre...

Que tal pensar!

terça-feira, 1 de abril de 2025

Há lugares em Natal que mais parecem saídos de um filme de terror...



Hoje surpreendi-me quando vi essa fotografia antiga no grupo “Natal não há tal”, de João Gothardo Emerenciano. É o prédio da Fundação José Augusto, na sua versão original, quando funcionou ali o Grupo Escolar Antonio de Souza, na década de 60, na rua Jundiaí. Eu conhecia essa versão original do prédio em outras imagens antigas, mas essa fotografia colorizada saltou a beleza arquitetônica desse prédio de maneira muito especial, por sinal, belíssimo. 

Chamo a atenção sobre o que se tornou esse prédio, a começar pelo atual frontão horroroso e de extremo mau gosto. Sobre sua arquitetura atual, poderíamos dizer assim “Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”, mas não cabe aqui. Como palestrava a minha mãe, “O pão bolorento é por fora e por dentro”. O aspecto interno da Fundação José Augusto desde sempre é excelente para ambientar um filme de terror de Stephen King. Pense num prédio que deprime e entristece quem ali entra. 

Confesso que quando vou ali sinto uma coisa estranha. O que surpreende é que entra e sai governadores e ninguém arranca a morbidez de sua arquitetura interna. NÃO DIRIA DESCARACTERIZAR AINDA MAIS, MAS DAR A APARÊNCIA MERECIDA E PERTINENTE A UM PRÉDIO QUE É O PILAR DA CULTURA DO RIO GRANDE DO NORTE. Imagine se não fosse! 

Há pessoas equivocadas que entendem que restaurar, preservar elementos arquitetônicos antigos é engessar/congelar o passado. Nada disso! É História. É Memória. É Cultura! E é possível tornar um prédio aparentemente aterrorizante num joia atual. É só querer!

Até o presente, nunca entrou um governo que restaurasse esse prédio no aspecto de torná-lo um ambiente agradável aos olhos e ao espírito. E olhe que se trata de uma instituição em que 99 por cento dos que entram ali são artista ou trabalham com cultura, uma classe que nos liga à alegria, cores, dança, luzes, reflexos, festa, alvura... É um lugar que, pelo menos a mim, parece carregado. Parece aquele conto de Poe. Como se evolasse miasmas de suas paredes, como fosse ruir... 

Se eu fosse governador do Rio Grande do Norte devolveria as características originais dos mais significativos prédios da Natal do século XIX e XX que sobraram espalhados pela Ribeira e Cidade Alta, até porque muitos deles confundem arquitetura com um poema de concreto. Quando não fosse possível a alguns, devolveria as fachadas originais, tal qual foi no passado. Seria prioridade. Devolveria todos os coretos originais das praças. Devolveria as características originais do Atheneu, dos célebres cinemas do centro e de tantos poemas arquitetônicos que ainda resistem na Ribeira e na Cidade Alta, deteriorados, descaracterizados, mexidos por gente sem noção. É tão fácil. É só querer. 

Esses prédios precisam ser ocupados por pequenas secretarias municipais e estaduais. Basta de alugar prédios de pessoas particulares (é um vício desnecessário para beneficiar amigos de políticos). Logicamente que não há como restaurar sem inserir alguns elementos modernos como sistema de ar-condicionado, iluminação de led etc, mas há como fazer algo belo e moderno dentro do antigo. Engenheiros e arquitetos sérios fariam isso como quem compra goma na feira. E trago esse mesmo raciocínio no que se refere ao centro da Cidade Alta (outro filme de terror). 

Quem tem coragem de andar neste exato momento (20h06) na Praça João Maria? E na Ribeira? 

Tem que ser feito algo nesse aspecto. Nem que, de início, perfilassem centenas de postes altíssimos de luz de led nessas áreas, tornando tudo super iluminado, como se o sol fosse. 

Luz, depois da educação, é o melhor remédio contra bandidagem, portanto trago essa luz, a qual gostaria que jorrasse onde os miasmas resistem...