Já imaginou a metade de uma cidade ir a um enterro?
Assistindo aos jornalistas de todo o mundo, unânimes, afirmando que o cortejo fúnebre do Papa Francisco foi o maior da história de todos os papas, reunindo uma multidão significativa em Roma, estimada em cerca de 400 mil pessoas, incluindo líderes mundiais e fiéis, lembrei-me de um enterro ocorrido em Natal, cujo velório arrastou sessenta por cento da cidade e o cortejo fúnebre teve mais da metade da população da cidade. Vocês sabem o que é isso? É uma massa humana.
A cerimônia na Praça de São Pedro foi acompanhada por 250 mil pessoas, e o cortejo pelas ruas teve cerca de 150 mil espectadores. A cerimônia ocorreu na Praça de São Pedro e o cortejo percorreu as ruas da cidade até a Basílica de Santa Maria Maggiore, onde o papa pediu para ser sepultado. O evento atraiu a atenção de líderes de diversos países e a participação foi acompanhada por milhões de telespectadores ao redor do mundo.
Você sabia que Natal já teve um cortejo fúnebre que foi mais da metade da cidade? Claro que você já sabe, inclusive escrevi um texto sobre ele há muito tempo no meu blog. Falo do padre João Maria Cavalcanti de Brito. Pois é verdade, seu velório foi presenciado por sessenta por cento da população de Natal e o cortejo fúnebre até o Cemitério do Alecrim teve uma massa humana que não se via o fim, unindo pessoas de todas as camadas sociais num choro uníssono.
João Maria Cavalcanti de Brito nasceu 23 de junho de 1848, na fazenda Logradouro do Barro, zona rural de Caicó, uma localidade que hoje pertence ao município de Jardim de Piranhas . Ele morreu às 8 horas do dia 16 de outubro daquele ano, aos 57 anos, na casa onde foi construída, em sua homenagem, a Igreja Nossa Senhora de Lourdes.
MAS O QUE MULTIDÕES TÃO GRANDES QUEREM DIZER? Pois bem, tanto o Papa Francisco como o padre João Maria foram santos em vida. E ser santo em vida é tão difícil – diante da tão atraente corrupção (em todos os seus sentidos) – que não se veem mais santos no século XXI. E quando aparecem, são apedrejados. E, mesmo apedrejados, há uma parcela da sociedade que se curva a esses santos e os louva. E os querem perto. E os proclamam. E se despedaça quando eles morrem. Choram copiosamente diante de suas mortes porque a carência do bom líder é tão gigantesca, que um pedacinho de gente santa – esteja aonde for – seja de que pais for – torna-se o combustível que alimenta as nossas velinhas do amor, dizendo “vale a pena o amor, vale a pena ser bom, vale a pena não ceder à deliciosa e atraente corrupção!”. A maior prova disso é que vimos muçulmanos, budistas, padres ortodoxos, evangélicos de linha progressista, espíritas, adeptos de matrizes africanas, enfim, gente de todas as religiões querendo dizer uma palavra sobre o Papa Francisco. Ele foi uma relíquia...
Pois foi exatamente assim com o padre João Maria Cavalcanti de Brito, uma relíquia. Aquele que dormia sobre uma esteira no sótão da Igreja Matriz de Nosa senhora do Ó, em Nísia Floresta, depois na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal. Aquele que, quando o mendigo batia à sua porta e ele ia almoçar, seu almoço era oferecido ao pedinte. Aquele que peregrinava diariamente por toda a Natal, levando remédio, palavras de amor, mensagens cristãs, ensinando noções de higiene, alternativas de alimentos, doando cestas básicas aos desvalidos, enfim, exercendo Jesus. Num tempo de uma Natal terrivelmente paupérrima.
O Papa Francisco deixou cem dólares na conta. Mandou vender os carros de luxo usados pelos papas anteriores e preferiu o mais barato do mercado. Não quis nada de ouro nem prata em seu corpo, mas de latão. Aboliu alguns ornamentos clericais, os sapatos luxuosos, a mesa nababesca, enfim viveu o voto de pobreza, que significa viver com dignidade (para quem não entende) e jamais na miséria. E ele “era comunista” porque almejava que todos pudessem viver com dignidade. Um papa que teve a coragem de tratar assuntos delicadíssimos com sabedoria incomum, sem se preocupar em desagradar, e mesmo assim foi incompreendido por alguns (o que é normal, afinal a corrupção é atraentíssima e permite delícias). Entenda por corrupção ela em todos os seus aspectos.
Pois bem, dois homens distantes no tempo e na geografia, mas iguaizinhos na santidade. É louvável e confortante saber disso.
E num tempo em que nos assustamos com líderes religiosos enormemente preocupados com futilidades (carros de luxo, perfumes franceses, roupas de grife, Iphones de última geração, imóveis, sapatos caríssimos, viagens internacionais, restaurantes em que um único jantar pagaria 100 cestas básicas para quem não tem comida, dentre outras abominações) causa perplexidade ver tanta corrupção – pasmem! – dentro das igrejas, salvas as devidas exceções. E falo “igreja” no sentido generalizado.
Cumprir Jesus é matar um leão por dia. É o mais difícil dos desafios não apenas dos líderes religiosos, mas de quem tenta. Cumprir Jesus posso comparar ao ato de educar um filho: é a tarefa mais difícil que um pai e uma mãe tem nas mãos (principalmente nos dias de atuais em que líderes religiosos que deveriam dar exemplos de amor para serem apoio para as famílias, dão exemplos de futilidade, injustiça, corrupção e desamor). Está difícil. Está difícil a santidade... é por isso que ontem o mundo – não a metade – mas o mundo inteiro, se pudesse, teria ido ver ser enterrado um santo em vida. Sabe por quê? Porque foi enterrado o AMOR... L.C.F. 26.4.2025 – 22H54.
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