ANTES DE LER É BOM SABER...
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
ATENÇÃO MINHA GENTE
PARA ESTA NOTÍCIA
ESTAMOS VIVENDO
A POLUIÇÃO EM NÍSIA
A POPULAÇÃO ESTÁ CONSCIENTE
POIS AQUI ESTAMOS LUTANDO
DIZENDO AS AUTORIDADES
QUE NÃO ESTAMOS MAIS AGUENTANDO
AS ÁGUAS ESTÃO CONTAMINADAS
ISTO NÓS ESTAMOS VENDO
A FAUNA AQUÁTICA DE NÍSIA
ESTÁ DIMINUINDO
OS RIOS SÃO SAGRADOS
QUE NOSSA SENHORA OS ABENÇOE
POR ISSO ESTAMOS UNIDOS
FOI DEUS QUEM NOS INDICOU
OUTRA COISA MUITO SÉRIA
QUE OCORRE EM ZONA RURAL
É USAR PRODUTO QUÍMICO
SEM SABER DIREITO QUAL
A LAGOA DE PAPARY
NOS DÁ O PÃO DE CADA DIA
VAMOS TODOS, NISIENSES
LUTARMOS COM ALEGRIA
TODOS ESTAMOS AQUI
POR UM MESMO MOVIMENTO
ATENÇÃO AS AUTORIDADES
TENHAM TODOS SENTIMENTO
VOU FINALIZANDO
PEDINDO AO NOSSO PAI CELESTIAL
QUE NOS DÊ FORÇA PARA CONTINUARMOS
COM ESTE CHAMADO DE SOCORRO PELA PRESERVAÇÃO DE NOSSOS RIOS.
DISTRITO DE CURRAIS, NÍSIA FLORESTA/RN, 22 DE NOVEMBRO DE 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Fragmentos da Memória de Nísia Floresta
Ainda em 1982 Socorro participou ativamente do Festival Nacional de Mulheres nas Artes, um evento que repercutiu em nível nacional. Em 1990 ela publicou “EU NÃO TENHO PALAVRAS”, Codecri. O livro trazia todas as páginas em branco, utilizado pela autora para fazer uma intersecção literária no processo político brasileiro por ocasião da campanha das Diretas Já!
Ainda em 1990 ela lançou “O DIA PÚBLICO E OUTROS DIAS”, contos, Edições Ponto Oito. Em 1993 foi a vez de ser dignamente condecorada com a medalha Nísia Floresta, pelo Conselho Municipal de Direitos da Mulher, em parceria com a Prefeitura de Natal, em reconhecimento à sua obra, ao desenvolvimento da cidade e do Estado.
Em 1994 escreveu “HISTÓRIA PARTICULAR DE UM POETA”, Edições Ponto 8. Sobre esse último livro, a própria Socorro diz “... O que este livro pretende apresentar, afinal, é o acesso a uma coerência que já não é a nossa, a do homem, nem a de Deus, nem a do mundo. Neste sentido, diríamos tratar-se de um Livro apocalíptico, no qual se realiza também o terceiro tempo na série do tempo…”.
Socorro Trindade integrou ainda várias antologias: “MULHERES DA VIDA”, São Paulo, Vertente Editora, 1978. “CHAME O LADRÃO” (Contos policiais brasileiros). São Paulo. Edições Populares, 1978. “AS CINCO PRAGAS DE AGOSTO”, Rio de Janeiro, Edições do autor, 1979. “ISSO QUE É, NATAL” Edições Clima, 1981. “RESPEITÁVEL PÚBLICO” (poemas), Rio de Janeiro, Edições Trote, 2ª edição, 1981. “CARIOCAS DE TODOS OS CONTOS”; “OS POTIGUARES”, entre muitas. Tem trabalhos publicados em jornais e revistas do país e do exterior e segue escrevendo até o presente.

Nasceu em Papary, aos 24 de dezembro de 1867, filho de Antonio José de Melo e Souza e d. Maria Emília Seabra de Melo e Souza. Cursou Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1889. Advogado, jornalista, escritor, político. Sua atividade profissional no ramo jurídico, se alterna com sucessivas investiduras na área política, a saber: foi Promotor de Justiça na Comarca de Goianinha (1890-1892); Deputado Estadual (1892-1894); Diretor de Instrução Pública (1892-1895); Procurador da República (1895-1899); Secretário de Governo (1899); Procurador Geral, “com assento no Superior Tribunal de Justiça” (1900); Governador a 23 de fevereiro de 1907, substituindo a Tavares de Lira que se afastara do cargo para assumir as funções de Ministro da Justiça e Negócios Interiores (gestão Afonso Pena); Senador da República (1908); desta vez substituindo a Pedro Velho, que havia falecido; Senador novamente na 9ª legislatura (1915-1917), cujo sufrágio majoritário garantiu-lhe 9 anos de mandato ao qual, no entanto, renunciaria em fins de 1919, para assumir o cargo de Governador do Estado (1920-1924); Consultor Geral do Estado (1924) e, enfim, Secretário Geral do Estado (1934-1935). Segundo consta, terá desenvolvido excelente administração: No governo, como no exercício de outros cargos públicos (...) o doutor Antonio de Souza manteve sempre uma invariável linha de conduta moral e revelou aptidão, critério e honestidade (Antonio Soares de Araújo) Dicionário Histórico e Geográfico do RN, p. 31). Com efeito, como Governador implantou escolas, revitalizou o sistema financeiro, implementou ações conseqüentes na área sanitária, construiu estradas e procedeu a iniciativas destinadas a atenuar os efeitos da estiagem que assolava o Rio Grande do Norte. Elevou a categoria de Vila as povoações de Parelhas (lei nº 478, de 26 de novembro de 1920) e Barriguda que passou a denominar-se Alexandria (lei nº 572, de 3 de dezembro de 1923). Como jornalista colaborou com “A República”, onde também foi redator; escreveu crônicas e peças literárias, adotando o pseudônimo de Polycarpo Feitosa. Fundador do Grêmio Polimático, em 1897; sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e fundador da Revista do Instituto. Faleceu em Recife no dia 05 de julho de 1955.Publicações:Flor do Sertão (1928)Gizinha (1930) Alma Bravia (1934)Encontros do Caminho, (1936)Os moluscos (1938)Jornal da Vila (1939). 12.3.1997.

A biografia da intelectual Nísia Floresta, por ser parte de inúmeros trabalhos que escrevi ao longo de alguns anos, será publicada em textos diversificados, neste blog, a partir de agora, tendo em vista ser muito ampla. É imprescindível que o Poder Público Municipal construa uma política de estudo fluente, pautada em legislação, sobre a vida e a obra dessa intelectual, envolvendo a secretaria de educação e a secretaria de cultura
+ 29.08.1894
Nasceu aos 20 de julho de 1829, em Papary. Tornou-se bacharel em 1857 e doutor em 1859. Em concurso para professor substituto da Faculdade de Recife, cadeira de Direito Eclesiástico, sensibilizou a D. Pedro II – ali em visita oficial – pela sabedoria demonstrada. Primeiro professor norte-rio-grandense em Faculdade de Direito.
Foi deputado provincial de 1858 a 1859, deputado Geral de 1857 a 1877, 1882 a 1885 e de 1886 a 1889. Quando o coronel Bonifácio Câmara faleceu, em 1884, o Partido Conservador cindiu-se em duas facções, a do Pe. João Manoel de Carvalho e a do Conselheiro Tarquínio de Souza. Os líderes do grupo do padre reuniram-se “debaixo das gameleiras da praça da Alegria” (hoje , praça Pe. João Maria); O grupo de Tarquínio “fazia ponto” na farmácia do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, na rua Tarquínio de Souza, hoje rua Chile. Dizia-se “grupo do cantão das gameleiras” e do “grupo da Botica”. Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1894. Tarqüínio Bráulio de Sousa Amaranto, conhecido comoTarqüínio de Sousa, juntam,ente com mais dois irmãos integrou a congregação de professores da Faculdade de Direito do Recife na Turma de 1857 e tomou posse de sua cadeira na mesma instituição em 1860, quando ainda vivia Braz Florentino. (12.12.1995 - Pesquisa: Luís Carlos Freire).
Isabel veio para Natal em 1866, então aos 24 anos, passando a morar na Ribeira, onde instalou posteriormente a sua primeira sala de aula. Simultaneamente ao ensino dedicou-se às letras, constituindo sua obra os seguintes títulos: Reflexões às minhas alunas (1874), Brasil (1903), O sacrifício do amor (1909), Sedição de 1817 na Capitania, ora estado do Rio Grande do Norte (1917), A lira singela e O preceptor (1933). Deixou inéditos ainda O Rio Grande do Norte, Noções Históricas, Resumo da História do Brasil, Elementos da Educação e Curso primário de caligrafia.
Era sócia do Instituto Arqueológico de Pernambuco e foi a primeira mulher a integrar o quadro de sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Sua vida foi essencialmente dedicada ao ensino e à poesia, tendo sido condecorada com a Medalha do Mérito do Departamento Estadual de Educação.
Seu nome foi dado a uma escola no bairro da Ribeira, em Natal. Faleceu de causas naturais, aos 94 anos em 10 de junho de 1933. Isabel Gondim projetou-se até hoje na história do Rio Grande do Norte por uma peripécia que rendeu-lhe ser eternamente lembrada. Trata-se de uma extensa carta, escrita por ela em 1884, direcionada a J. F. Souto – sobre Nísia Floresta – a qual denigre o nome da sua conterrânea de forma deplorável, sem nunca tê-la conhecido. 3.9.1997

Quando estudante, colaborou com alguns jornais, inclusive “O Oásis”, editado em Natal e no jornal “A Arte”, editado em Santos, São Paulo.
Tendo feito seus estudos iniciais no Atheneu Norte-Riograndense, iniciou sua vida pública na Fazenda Federal, sendo nomeado oficial aduaneiro de Santos-SP, e depois escriturário, Escriturário da Alfândega de Belém, no Pará.
Em 1897, formou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
Casou-se em Natal, aos 30 de julho de 1914 com a Esther Bezerra da Trindade. Eis a certidão de casamento, conforme consta no Livro de Certidão de Batismo nos Arquivos da Catedral de Natal/RN: “Aos trinta de julho de mil novecentos e quatorze, na Egreja Cathedral, feitas as proclamações sem impedimento, impetrado dispensa de segundo attigente ao primeiro e terceiro atigente ao segundo grau simples de consaguinidade e observados as demais formalidade prescriptas, assisti com as testemunhas Doutor Joaquim Ferreira Chaves, Governador do Estado e Francisco Heroncio de Mello, ao recebimento matrimonial do Bacharel Luis Segundo Bezerra da Trindade e Esther Bezerra da Trindade, ele filho legitimo de Luiz Augusto Bezerra da Trindade e Josina Rosalinda Cabral de Vasconcellos, solteiro, com trinta e nove annos de idade natural da Freguesia de Papary e residente na cidade do Rio de Janeiro, ela filha legitima de Francisco Theophilo Bezerra da Trindade, e Domitilla Galvão Bezerra da Trindade, solteira com 23 anos, natural desta Freguesia e nella moradora; do que fiz este termo que assigno. O Vigário, Cônego Estevam José Dantas.” O poeta Luiz Trindade tinha um irmão chamado Francisco Theófilo. Infelizmente pouco se sabe sobre o mesmo.
Exerceu no Rio de Janeiro o cargo de 2º Escriturário do Tesouro Nacional, falecendo naquele estado aos 11 de junho de 1951.
Eis abaixo um de seus belos poemas:
A CRUZ
Vês ali uma cruz abandonada,
Feita de velhos troncos de Madeiro...
Emblema onde se alteia o verdadeiro
Culto de amor á legião sagrada
Vês ali, no silêncio de um oiteiro,
Vislumbres de uma choça abandonada,
Onde, em festas, gorjeia a passarada,
Saltando, à tarde, o canto derradeiro?
Não vês também, quando agoniza o dia,
E que o sino da aldeia a Ave-Maria
Toca – uma virgem contemplando os céus?
Pois bem; aquela cruz, sobre a savana,
Guarda a história fiel de uma cabana,
Que viu passar e viu morrer os seus! ...
(1897) 7.7.1995

A gente que é afeiçoado à história oral costuma ser procurado por alunos para informar sobre pessoas e fatos do passado. Sobre dona Maria do Carmo Bezerra Dias, a “dona Mariinha”, como é popularmente conhecida, os alunos costumam ser informados que ela é a primeira professora de Nísia Floresta. O que não é verdade. Antes de dona Mariinha existiram inúmeras outras professoras, nascidas inclusive, nas últimas décadas de 1700, ou seja, mais de um século antes de dona Mariinha vir ao mundo. Veja os nomes de algumas professoras antigas e os anos em que as mesmas lecionaram em Papary, por exemplo: Maria Manoela de Castro (1867), Joanna Evaristo de Moraes Barros (1882 a 1883), Heládia Ribeiro Sampaio (1886), Thereza Lustoza da Silva e Araújo (1900), Aurora Costa Carvalho (1927), Annita Oliveira Monteiro (1927).
Para que todos conheçam a história da adorável professora, dona Mariinha, eis abaixo sua breve biografia, fruto, inclusive, de minhas pesquisas em história oral, iniciadas em 1992. As informações que se seguem ocorreram em 1997, quando a referida professora tinha 92 anos e não estava tão fragilizada como se encontra hoje. Na ocasião das entrevistas que gravei em fitas cassete e escrevi-as à lápis, ela ainda possuia muita vivacidade, voz forte e raros lapsos de memória. Observei nesse período que a professora, apesar da relevância do seu trabalho, nunca tinha recebido algum tipo homenagem. Era uma ilustre desconhecida em se tratando da sua história. Foi nessa observação que organizei uma grande homenagem a alusiva a essa professora, em 1999, ocorrida na Escola Municipal Yayá Paiva, onde estiveram presentes a comunidade escolar, autoridades, filhos e ex-alunos da referida professora. Poucos anos depois a mesma teve seu nome dado ao PET. Vamos agora ao texto construído por mim, no dia 17 de maio de 1997.
No dia 5 de fevereiro de 1905, numa tarde chuvosa, exatamente na casa nº 129, defronte a Praça Coronel José de Araújo, nasceu dona Maria do Carmo Bezerra Dias, oriunda de uma família muito humilde, filha de Estefânia da Purificação e João Lourenço Bezerra, ambos nascidos na velha Papary.
Seis meses após seu nascimento foi abandonada pelo pai, o qual jamais retornou ao seio da família. Esse acontecimento, que marcaria para sempre a vida dessas duas mulheres, obrigou inicialmente sua mãe a se desdobrar, “numa época difícil”, como diz Maria do Carmo, “para dar conta da família”.
Mulher trabalhadora e abnegada, d. Estefânia sempre foi muito prendada, principalmente nos trabalhos culinários, com os quais se identificava. Com esse perfil não teve outra alternativa, senão tentar a vida através dos seus dotes culinários.
Foi até a mata que começava logo atrás de sua casa, cortou quatro estacas e uma porção de varas, preparou barro e alguns pedaços de ferro que, segundo ela ficavam atrás da igreja, "desde a época do padre Fortunato “Ele ia construir naquele oitão uma gruta de Nossa Senhora do Ó.”, diz dona Mariinha.
Com esses materiais dona Estefânia construiu, ela mesma, um imenso fogão de lenha em seu quintal. “Depois de uns dias mamãe mesma fez uma cobertura com uns frandi que o padre Fortunato deu pra ela. Depois, esse mesmo padre deu para ela umas telhas velhas que ficavam guardadas atrás da igreja. Era telhas de subisalença, para eles colocar quando uma quebrava. Essa gruta ele não chegou nem a começar. Mamãe disse que era um padre tão engraçado” (dizendo isso ela riu muito e colocou a mão direita na boca).
Encerradas as obras que duraram dois dias, dona Estefânia foi à feira de São José e comprou duas panelas de barro e algumas colheres de pau. Após tal empreendimento passou a fazer doces, pamonha, bolo e tapioca. “Mamãe fazia uma rudia de pano, botava na cabeça e botava em cima uma bacia cheia de tapioca e cocada e saia pelas ruas vendendo. Nas sextas e sábados ela gostava de ir vender na estação de trem, ela ia de pés”, diz dona Mariinha.
Assim que o pai abandonou a família, a pequena Maria do Carmo foi adotada por um rico morador da cidade, sr. Joaquim Freire, o qual viria a se tornar mais tarde prefeito de Papary.
Maria do Carmo cresceu nesse cenário. Entre sua casa e a casa do sr. Joaquim Freire. Acostumou-se a muito trabalho e tornou-se, desde criança, a única ajudante da mãe.
Em 1910 o governador Alberto Maranhão cria escolas de primeiras letras em várias cidades norte-riograndenses. Papary é uma dessas cidades contempladas. Surge então a Escola Isolada “Nysia Floresta” (a grafia com ypsilon obedece os documentos originais, embora se trate de equívoco).
Maria do Carmo Bezerra Dias vem a ser uma das primeiras meninas matriculadas nesse importante estabelecimento, pois, no silêncio das preocupações maternas, sua mãe sempre sonhara vê-la numa escola, tendo em vista seu espírito curioso, externado esde criança. “Eu não podia ver um papel que mesmo sem saber ler já ia querendo advinhar tudo o que estava escrito".
O surgimento da escola veio como bálsamo para o coração sofrido e preocupado de dona Estefânia. “A gente ia pra escola tão bonita. Eu usava uma blusa branca com as manga até o cotovelo. A blusa tinha dois bolso aqui (mostra o lado esquerdo). A saia era tão bonita. Era um azul escuro, toda prinsada e batia do joelho pra baixo. Ela lavava roupa em dois lugar. Um era num riozinho que tem até hoje na baixada da delegacia. A água tão limpa que a gente via as pedinha assim correndo e brilhando. A gente tomava água ali mesmo, na parte de cima que não tinha pisero. Até cumê mamãe levava, porque as veis a gente passava muitas horas. O outro pedaço do rio que ela ia era perto do quintal de dona Lulinha (onde hoje tem o Camarão do Olavo). Ela pegava as trochona grande, botava no lombo e fazia carreira prá lá. Naquela época não existia sabão. Ela lavava roupa com melão São Caetano. Depois ela engomava com ferro a brasa, daqueles da bocona assim” (faz gesto com as mãos, juntando em círculo os dois dedos polegares e indicadores – e dá muita risada).
"Minha mãe era muito espirituosa. Para ela não tinha tempo ruim. Era muito alegre e divertida. Ah minha mãe!”, discorre dona Mariinha.
No final de 1917 dona Estefânia é tomada de felicidade, pois a pequena Maria do Carmo é homenageada como a melhor aluna da turma. Com certeza valeram os esforços de uma mãe abnegada, que não fez do fato do abandono do marido motivo para ser amargurada ou para maltratar a filha. Ela sentia apenas o fato de o pai estar ausente num momento tão bonito.
Esse prêmio com certeza foi a culminância do seu projeto pessoal de ser professora. Sua infância reservou pouco tempo para brincar com boneca de pano e sabugo, mas em suas imaginações ela sempre se via como professora. Na escola ela imitava os professores e admirava o ato de ensinar.
Poucos anos de pois de ter concluido os estudos, dona Mariinha passou a dar aulas particulares em sua residência. Durante a manhã e à tarde ela ensinava para crianças, à noite se dedicava aos adultos. Diríamos hoje que era o MOBRAL da época, ou EJA, embora tais políticas educacionais não existiam, logicamente. Isso mostra o quanto a velha educadora era dedicada, pois reservava tempo àqueles que tinham chegado à fase adulta sem serem alfabetizados. E em sua época o índice de analfabetos, homens e mulheres, era gigantesco.
Na época ela cobrava “dez tões” mensais por pessoa, mas quem não pudesse remunerá-la não seria discriminado em nenhum aspecto, pois naquele mister estava uma índole de educadora por excelêcia. Modesta, mas suficientemente capaz de transmitir o essencial para a realidade do panorama ao qual seus conterrâneos estavam inseridos. Os “dez tões” cobrados por dona Mariinha tinham valor simbólico. Diríamos, à luz do atual sistema monetário, equivaler a R$ 20, 00 (vinte reais) por mês. O que era isso mediante uma pedagogia tão completa e uma didática tão moderna?
Pedagogia completa porque a referida educadora se desdobrava para aplicar o máximo de conhecimentos aos seus alunos, por exemplo: matemática, geografia, língua portuguesa e história. Ela não se detinha apenas à matemática rudimentar e à gramática básica, como era comum. A mesma ia mais além, perscrustando os caminhos do conhecimento no cuidado de alargar o campo de informação dos seus alunos. A mesma era metódica e exercia o magistério com o rigor de um ser que se sentia enviado à Terra para aquela tarefa.
É interessante, em caráter de reflexão, analisarmos o nível de conhecimento de muitos alunos que concluem o 5º ano (antiga 4ª série) nos dias atuais. Infelizmente é deplorável, exceto em escolas sérias e sensatas. Existem alunos atualmente que concluem tal nível com potencial de conhecimento equivalente aos que estão sendo alfabetizados. E não é diferente, salvo raras exceções, no ensino médio, conforme matéria jornalística que veio ao ar em 1999, no Jornal Nacional, da Rede Globo de televião.
É notória a admirável dedicação da velha mestra, pois como deveriam ser difíceis os materiais didáticos, os quais, diferentemente da abundância atual, consistiam apenas em livros. E raros.
Didática moderna porque, segundo um dos seus alunos, hoje contador e ex-professor na UFRN, Otacílio Maurício Damasceno, “dona Mariinha jamais usou o terrível instrumento tão temido pelas crianças – a palmatória –, a qual servia para dar bolos nas crianças que erravam os deveres ou desobedeciam os professores”.
O trecho acima aspado foi retirado de um discurso feito por seu ilustre aluno, em 1999, na ocasião das homenagens alusivas à referida professora, tratadas logo no início deste texto. À época mandei emoldurar uma fotografia da mesma e o decreto que a nomeou como professora, em 1942.
A palmatória é um objeto plano, de pau, semelhante a uma escumadeira, com orifícios, usado para bater com força nas mãos de alunos desobedientes ou que errassem respostas. Segundo informações recebidas de pessoas idosas, os “bolos” (como se chamavam as batidas da palmatória nas mãos) eram tão fortes e incômodos que deixavam as mãos doloridas. As crianças ficavam soprando-as e com vontade de molhá-las para aliviar a dor.
Cabe aqui uma reflexão sobre a didática de ensino, pois, justamente as mãos da criança – que estavam em desenvolvimento físico e de coordenação motora – que deveriam receber todo o cuidado possível – eram espancadas através de um pedaço de pau, no qual, juntamente com terrível método, muitas vezes se incluiam o estado de espírito e as frustrações de muitos professores, onde o aluno era o "bode expiatório". Coitada das crianças dessa época!
O fato de dona Mariinha ter abolido o uso desse objeto inquisidor em suas aulas, deixa claro seu método inovador para a época, pois, conforme o sr. Otacílio, “dona Mariinha usava como arma, se assim podemos dizer, a palavra. A palavra mansa, clara, dita com segurança na hora certa. A palmatória da dona Mariinha foi a palavra. A palavra educada”.
O trecho acima foi retirado do discurso proferido por esse seu ex-aluno.
Em sua adolescência dona Mariinha gostava de andar a cavalo, e quando podia empreendia cavalgadas até a praia de Buzios, acompanhada pelo “pai adotivo” e pelas filhas deste. “A gente ia de jumentinho, subindo e descendo duna, comia frutas que encontrava pelo caminho. Ai que tempo bom!”, relembra a velha professora.
Já moça casou-se com o sr. José Henrique Dias, mestre de engenho de açucar, que era uma espécie de responsável pela organização de tudo o que acontecia num engenho durante o fabrico de açucar e melado. “Ele chefiava um grupo de trabalhadores, orientando as coisas que eles tinha que fazer para nada dar errado, nem queimar o açucar, nem deixar o mel amargo”, explica dona Marrinha.
Com ele dona Maria do Carmo teve 11 filhos, tendo morrido dois gêmeos. Generosa, adotou um menino quando esse ainda era criança.
De acordo com o Decreto Executivo nº 4, o prefeito José Dutra nomeou dona Maria do Carmo Bezerra Dias para exercer oficialmente o cargo de professora, em conformidade com o artigo 15, nº 1, do Decreto-lei nº 172, de 28 de outubro de 1942.
Agora remunerada dona Mariinha passou a ensinar gratuitamente a todos os que buscavam os seus ensinamentos.
O senhor José Henrique, segundo dona Mariinha, foi excelente esposo. Trabalhador e dedicado à família. Era muito religioso e devoto de Nossa Senhora do Ó.
Da mesma forma dona Mariinha sempre foi muito religiosa. Criada em lar católico, teve grande dedicação às coisas da igreja. Trabalhou muitos anos na Casa Paroquial, exercendo a função de cozinheira, a qual, como vimos, tinha grande domínio.
Prestou tais serviços no período compreendido entre 1953 a 1956, durante a administração do Cônego Rui Miranda (coincidentemente é o padre que recebeu os despojos de Nísia Floresta, em 1954).
Continuou tais atividades durante a atuação dos padres Armando de Paiva ( (1956 a 1958) e para o padre Antonio Barros (1966), o qual tornou-se futuramente monsenhor. Sempre foi respeitada por todos, graças ao seu espírito prestativo, de grande bondade e gentileza. Somado a isso herdou o jeito alegre da mãe, sabendo brincar na hora certa, quebrando protocolos com graciosidade encantadora.
Durante o período que o padre Rui Miranda atuou em Arês, cidade próxima, logo que saiu de Nísia Floresta, solicitou os trabalhos de dona Mariinha, a qual atendeu-o prontamente.
Trabalhou posteriormente na Cooperativa Popular Mista, localizada no Centro Pastoral Isabel Gondim, vinculada à Igreja Católica.
Dona Maria do Carmo Bezerra Dias não teve a intelectualidade de Nísia Floresta ou de Bráulio Tarquínio, mas, dentro da realidade provinciana da velha Papary, obteve grande destaque. É de se pensar que se essa mulher tivesse tido a oportunidade de ter estudado com mais profundidade, seja como auto-didata ou frequentado os bancos de uma universidade, com certeza teria dado vazão ao seu potencial intelectual e ajudado muita gente.
A mesma vive até hoje na antiga casa nº, ou seja, na casa-escola, testemunha da formação intelectual de inúmeros nisiaflorestenses. Ali nasceu e cresceu a mais velha professora viva do município. Professora que serve de exemplo para tantos outros educadores atuais.
Nísia Floresta, maio de 2009
Luís Carlos Freire
HELÁDIA RIBEIRO SAMPAIO (tit. de 3 de julho de 1886 e ap. de 27 de janeiro de 1893)
MANUEL LAURENTINO FREIRE DE ALUSTAU (Piau)
MANOEL FERREIRA DE MESQUITA (ap. de 1º de fevereiro de 1893)
THEREZA LUSTOZA DA SILVA E ARAÚJO (ap. 4 de fevereiro de 1895)
AURORA COSTA DE CARVALHO (dirigente) Isolada Masculina
ANNITA DE OLIVEIRA MONTEIRO (Isolada Feminina)
GRUPO ESCOLAR NYSIA FLORESTA – Decreto nº..........., de ....... de......... de 19....... (ver página 168 N. Lima).
ADÉLIA DA SILVA GURGEL (Lotada em Pirangy)
VIÚVA MACHADO, UMA LENDA QUE ME IMPRESSIONOU
A matéria prima de pesquisa popular é composta de pessoas. Vem delas o que queremos saber e desencadeiam delas a mais extraordinária experiência e descobrimentos, pois tudo pode acontecer, é uma teia. Recordo-me que em 1994, no povoado de Taborda, em São José de Mipibu, povoado situado na divisa com o município de Parnamirim, eu conversava com um senhor idoso, chamado Antônio, sobre Cultura Popular. Era uma roda de conversa, pois algumas pessoas da fazenda se sentavam sob a mangueira e se apossavam de um ou outro assunto, davam pareceres, opinavam, riam, enfim, nesse fervilhado brotavam pérolas. Um citava o Boi-de-Reis de fulano, a Lapinha de Siclana, o Pastoril de Beltrana... Dependendo o mote da pedida - linguagem, comida, folguedos populares, fazeres, lendas etc -, cada um saltava com alguma coisa interessante.
Sr, Antônio, o mais idoso, teve uma vida ligada a São José de Mipibu e Parnamirim, pois são muito próximas, apesar de que Taborda está mais ligada a Parnamirim. Foi nesse entrelaçar de caminhos que ouvi uma lenda que denominam "Papa Figo" (entendam por "figo", o fígado humano). A lenda advém de uma senhora que, de fato existiu. Pouco tempo depois, curioso pela aura que essa lenda impregnou aquela roda de conversa, fui saber quem era essa senhora. Descobri que a "Papa Figo" - pelo meno no imaginário popular - se tratava de Amélia Duarte Machado, uma mulher muito rica, viúva do empresário Manoel Machado, um rico comerciante que doou as terras para construção do campo de pouso de aviões na década de 1920. Fiquei impressionado.
Amélia Machado (conhecida também como "Viúva Machado"), depois de ter ficado viúva, cedeu as terras onde atualmente se encontra a Base Aérea de Natal, mas que na década de 40, era a Base Aérea norte-americana, considerando a presença dos EUA em Parnamirim naquele contexto da Segunda Guerra Mundial, quando houve parceria entre o presidente brasileiro Getúlio Vargas e o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt. Amélia também cedeu grande parte da área onde se instalou o município de Parnamirim.
A lenda me é intrigante: como uma mulher tão rica e generosa, esposa de um homem tão generoso, poderia tornar-se o centro de um enredo que a descreve como um monstro comedor de criancinhas? O que teria feito aquela mulher para atrair para si uma narrativa tão marcante? Como surgiu essa lenda?
Nesse encontro com o sr. Antônio, alguns nativos partilharam o pavor que sentiam quando ouviam falar da Viúva Machado. Curioso é que essas pessoas, mesmo adultas - e algumas idosas - nutrem ainda esse sentimento de medo. Eles contaram que seus pais diziam que ela vagava nas matas locais de Parnamirim, frequentava a lagoa e uma fazenda próxima ao rio Pitimbu, onde descansava com familiares.
O tema, claro, intrigou-me profundamente: entre o registro histórico e a sensação de assombro que a história provoca, há uma linha tênue entre o que foi vivido, o que se repete nas vozes das pessoas e o que a pesquisa ainda não conseguiu decifrar. Também me chama a atenção que idosos contam a lenda com tom de mistério, ressaltando o quanto tinham pavor só de pensar em se deparar com a viúva Machado nos arredores de Parnamirim.
Realmente é interessante, inclusive é uma lenda possível de datar a sua origem, pois surgiu após a morte do marido, quando ela se viu obrigada a assumir todo um império, pois eles eram muito ricos. Ela não entendia de administração e teve que aprender tudo para que o patrimônio não saísse pelo ralo e findou dando conta do recado. Imagine isso nas décadas de 30/40. Realmente a coisa foi difícil para ela, pois o maior obstáculo daquele tempo era o simples fato de ela ser mulher. Quantas mulheres administravam fortunas em Natal? Só ela! Creio que essa lenda não é difícil de se entender. Com certeza foi uma forma de destruí-la ou se vingar dela, algo do tipo. Aconteceu algo parecido com Nísia Floresta. Quiseram destruí-la com deploráveis calúnias devido à sua intelectualidade e o fato de ela lutar pela emancipação feminina.
Ao transpor essas lembranças para o papel, percebo que a pesquisa de cultura popular é, antes de tudo, uma escuta paciente. Não se trata apenas de confirmar fatos ou de atribuir uma “verdade” a uma figura, mas de ouvir as vozes que a cercam, entender os medos, as memórias e as perguntas que permanecem no ar. E, nesse processo, cada narrativa — mesmo aquela que parece ter o peso de um mito - revela mais sobre quem a conta do que sobre quem é contado. Ainda há muito a explorar sobre essa lenda, e cada encontro sob a sombra de uma mangueira lembra que o passado se faz vivo quando alguém o escuta com cuidado. Com certeza, Amélia Machado também foi vítima de grande injustiça. 7.7.2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Campanha de salvação da lagoa Papari e do rio Mipibu.
EM AGOSTO DE 2009 O PROFESSOR LUÍS CARLOS FREIRE, CONSTATANDO QUE O CANAL DE ESGOTO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE MIPIBU (EM CONSTRUÇÃO) ESTAVA DE VENTO EM POPA, SEM NENHUM PROTESTO PÚBLICO DA SOCIEDADE E NEM DAS AUTORIDADES, INICIOU UMA CAMPANHA EM DEFESA DA LAGOA PAPARY, TENDO EM VISTA A CANALIZAÇÃO DE ESGOTO DIRECIONADA AO RIO MIPIBU, A QUAL DESÁGUA NA MESMA. NA OCASIÃO ENVIOU OFÍCIOS A DIVERSAS AUTORIDADES EM NÍVEL FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL, SENDO QUE EM NÍSIA FLORESTA O OFÍCIO FOI ENVIADO A TODAS AS AUTORIDADES RELIGIOSAS, AOS DIRETORES DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES, AOS MOTO-TAXISTAS, SINDICATOS, AOS VEREADORES (INDIVIDUALMENTE), A PROMOTORA E AO JUIZ. O FOCO DA QUESTÃO É SOLICITAR ESCLARECIMENTOS ÀS AUTORIDADES SOBRE A OBRA EM CONSTRUÇÃO, CONSIDERANDO QUE O ANTIGO CANAL JÁ POLUI E QUE O NOVO POLUIRÁ NUMA DIMENSÃO MUITO SUPERIOR. A IDÉIA É QUE A OBRA SEJA EMBARGADA E O PODER PÚBLICO DA CIDADE VIZINHA RESPONDA PELOS DANOS JÁ CAUSADOS PELO ANTIGO CANAL, E QUE SEJA CONSTRUÍDA LAGOA DE CAPTAÇÃO OU ESTAÇÃO DE TRATAMENTO.
O GRUPO DE DEFESA DA LAGOA PAPARY CONVIDA A POPULAÇÃO DE NÍSIA FLORESTA A SE FAZER PRESENTE DEFRONTE A IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó, NO PRÓPRIO SÁBADO, DIA 28 DE NOVEMBRO, ÀS 7 HORAS.
HAVERÁ UMA CONCENTRAÇÃO QUE SAIRÁ EM CAMINHADA ATÉ O CANAL DE ESGOTO QUE ESTÁ SENDO CONSTRUIDO NO RETORNO DE SÃO JOSÉ DE MIPIBU E NÍSIA FLORESTA.
A POPULAÇÃO NISIAFLORESTENSE PRECISA SE UNIR PARA PROTESTAR CONTRA A MANEIRA COMO O CANAL DE ESGOTO VEM SENDO CONSTRUÍDO, POIS NÃO ESTÁ SENDO CONSTRUÍDA UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO NEM LAGOA DE CAPTAÇÃO. OS DEJETOS SERÃO JOGADOS SEM NENHUM TRATAMENTO.
O ANTIGO CANAL DE ESGOTO JÁ TEM CAUSADO ESTRAGOS, ONDE PESCADORES JÁ ESTÃO COM DOENÇAS DE PELE E OUTROS TIPOS DE DOENÇAS. JÁ NÃO EXISTE MAIS CAMARÃO PITU, O GOIAMUM ESTÁ EM EXTINÇÃO, O PEIXE ESTÁ REDUZIDO.
A POPULAÇÃO NÃO PODE PERMITIR QUE OUTRO MUNICÍPIO SE APROPRIE DOS NOSSOS RECURSOS NATURAIS E OS DESTRUA, TRANSFORMANDO A LAGOA PAPARY NUMA FOSSA.
NÍSIA FLORESTA ESTÁ ENVOLTA POR MATA ATLÂNTICA, DENTRO DE UMA ÁREA DE PROTEÇAO AMBIENTAL BONFIM-GUARAÍRAS E SOB OS AQUÍFEROS ALUVIÃO E BARREIRAS. UM VERDADEIRO SANTUÁRIO NATURAL.
SE A SOCIEDADE CONTINUAR CALADA VEREMOS MORRER NOSSOS PEIXES, CRUSTÁCEOS, NOSSAS MATAS E O RESULTADO PODERÁ SER FOME E MISÉRIA.
VAMOS DEFENDER A LAGOA PAPARY. TRAGA SUA FAMÍLIA. TRAGA PUÇÁS, VARAS DE PESCAR, CANOAS, REDES DE PESCA, MANGOTE, SAMBURÁ, COVOS, QUICHÓ E MOSTRE QUE O POVO DE NÍSIA NÃO CONCORDA COM A DESTRUIÇÃO DA NOSSA LAGOA.
FAREMOS UM PROTESTO PACÍFICO E ORGANIZADO, COM A PRESENÇA DE AUTORIDADES, REDES DE TELEVISÃO E JORNAIS. É SÁBADO, DIA 28 DE NOVEMBRO, ÀS 7 HORAS, DEFRONTE A IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó.
Nísia Floresta, 18 de setembro de 2009
Pelo presente, encaminho às Vossas Excelências uma carta a qual enviei ao Ministro do Meio Ambiente, ao IDEMA, ao IBAMA, às Promotoras do Meio Ambiente Rossana Sudário e Gilka da Mata e a Promotora de Justiça do município de Nísia Floresta.
Como poderão observar, trata-se de denúncia contra a forma como vem sendo construída uma obra de escoamento no retorno dos municípios de São José de Mipibu e Nísia Floresta.
Sabemos que há alguns anos existe o escoamento de águas pluviais através de uma galeria subterrânea que inicia defronte a rodoviária mipibuense e que deságua nas imediações das granjas dos senhores Mano e Tamires Peixoto (próximas ao posto de combustível), em São José de Mipibu. A referida galeria possuía diâmetro bem inferior ao que ora está sendo construído, mas já causava danos erosivos e poluidores até chegar ao rio.
As pessoas que trabalham nas proximidades da rodoviária mipibuense (inclusive vários taxistas) sabem que existe escoamento de esgoto de alguns comerciantes e de residências, pois o odor putrefato que exala diariamente à altura da borracharia do Sr. Cícero Amaro é insuportável, inclusive existe um orifício aberto defronte ao posto de combustível.
É desnecessário entender bem de matemática para percebermos que o que está sendo construído atualmente quadruplicará a vazão dos resíduos ali escorridos. É preocupante sabermos que o destino desses resíduos será a Lagoa Papary.
Pelo que se percebe estamos prestes a vivenciar uma catástrofe ambiental que afetará a Lagoa Papary, pois sabemos que São José de Mipibu está sendo saneada e precisamos conhecer a sua política de esgoto, pois, a julgar pelo que se vê – embora não podemos julgar – o destino é Nísia Floresta. Se isso se concretizar assistiremos um cenário de catástrofe. Justamente numa região de turismo excepcional. Ademais não somente nossos pescadores serão prejudicados, mas o município como um todo.
Tal realidade é inconcebível diante do fato de que atualmente o que mais se vê em todo o mundo é luta em prol da defesa do meio-ambiente.
Mais inconcebível é saber que estamos numa Área de Proteção Ambiental – APA Bonfim/Guaraíras, sob um dos maiores aqüíferos do Nordeste e em plena Mata Atlântica.
Apenas um item deste é o bastante para justificar a necessidade de se tratar o município de Nísia Floresta como verdadeiro santuário ecológico. Mais ainda quando sabemos que possuímos um ecossistema singular e invejável.
Por tal razão estranha-se a ausência de observações contra essa obra criminosa e que ainda tem, por sorte, o trunfo de estar o curso e, portanto, passível de ser embargada e redirecionada, de forma que não afete o meio-ambiente.
O fato de inexistir ações de protesto por parte de nenhum órgão público, instituições, pessoas comuns ou ONGs, nem a convocação dos responsáveis por essa obra absurda, instiga-nos, principalmente a nós educadores, que ajudamos a sociedade a formar opiniões, a sugerir à Câmara Municipal de Vereadores de Nísia Floresta a elaboração de projeto conveniente, dentro de um contexto sócio-ambiental, pedindo esclarecimentos aos órgãos envolvidos e, principalmente, pedindo que a referida obra seja embargada até que uma equipe técnica avalie os prejuízos ambientais que decorrerão de sua construção e realize a obra de maneira adequada.
Na certeza de acreditar que a Câmara de Vereadores de Nísia Floresta representa o povo de Nísia Floresta, externo meus agradecimentos, ciente que meu pensamento é o pensamento desse mesmo povo.
Atenciosamente,
Professor Luís Carlos Freire
AOS EXCELENTÍSSIMOS VEREADORES
PALÁCIO CÍCERO ANTONIO TRINDADE
CÂMARA MUNICIPAL
NÍSIA FLORESTA - RN
LEIA, ABAIXO, OS OFÍCIOS E REQUERIMENTOS ENVIADOS PELA CÂMARA MUNICIPAL DE NÍSIA FLORESTA AO PROFESSOR LUÍS CARLOS FREIRE EM RESPOSTA AO SEU PEDIDO SOBRE PROVIDÊNCIAS COM RELAÇÃO AO ANTIGO CANAL DE ESGOTO QUE DESÁGUA NA LAGOA PAPARY, EM NÍSIA FLORESTA - RN. OBSERVAÇÃO: CLIQUE SOBRE O DOCUMENTO PARA VISUALIZÁ-LO EM TAMANHO REAL.

O OFÍCIO ACIMA, RESPONDIDO PELO PRESIDENTE DA CÂMARA, MOSTRA QUE O MESMO DESCONHECE QUE O PROFESSOR LUÍS CARLOS FREIRE SEMPRE PARTICIPOU DAS ATIVIDADES DA CÂMARA MUNICIPAL DE NÍSIA FLORESTA ENQUANTO CIDADÃO COMUM, POIS HÁ 17 ANOS O MESMO ENVIA SUGESTÕES CONSTRUTIVAS A REFERIDA INSTITUIÇÃO. É DE SE SUPOR QUE A CÂMARA NUNCA TENHA ARQUIVADO OS DOCUMENTOS RECEBIDOS (O QUE É LASTIMÁVEL), POIS DOCUMENTOS RECEBIDOS DEVEM SER GUARDADOS.





O MESMO OFÍCIO ACIMA FOI ENVIADO PELA CÂMARA AO SR. PAULO ROBERTO - CHEFE DO INSTITUTO CHICO MENDES, DE NÍSIA FLORESTA - RN.


Exmos. Srs.
Cumprimentado-os, agradeço-lhes pela atenção dispensada a minha carta, a qual externa a preocupação coletiva de qualquer nativo, da Câmara de Vereadores e, logicamente, de todos os moradores de Nísia Floresta.
A carta, num gesto de civilidade, cita o canal de esgoto que tem início defronte a borracharia do Sr. Cícero Amaro, em São José de Mipibu, apenas em caráter de comprovação de que realmente vem sendo despejado esgoto no rio Mipibu, sem questionar se algum vereador protestou ou não contra tal absurdo, pois, qualquer ser humano normal entende ser óbvio a algum edil tê-lo feito. O foco da questão está no documento que enviei em anexo, remetido também ao Ministério do Meio Ambiente, Ao IDEMA, IBAMA, às Promotorias do Meio Ambiente de Natal e a Promotoria Pública de Nísia Floresta, tratando acerca da construção do canal de esgoto no retorno de São José de Mipibu e Nísia Floresta.
É tão óbvio supor que algum parlamentar tenha, em algum momento, apresentado requerimento contra a poluição do rio Mipibu e Lagoa Papary, causada pelo antigo canal que faz-se desnecessário questionamento ou solicitação de cópia do documento comprobatório. Mas, de antemão, agradeço-lhes pelo envio do mesmo, lembrando que a atual preocupação refere- se à obra que já toca o rio Mipibu.
Como não ficou clara a essência das minhas reflexões, pelo que observei, ressalto que tratei sobre a ausência de uma AÇÃO PÚBLICA, não apenas instrumentalizada pela Câmara Municipal de Vereadores, mas por outras instituições, reivindicando as autoridades ligadas à referida obra, esclarecimentos públicos à população. Saliento que não enviei a sugestão apenas a Câmara, mas às escolas, igrejas, sindicatos e a alguns nativos, pois o povo, em massa, tem que pensar a gravidade do fato, sob uma política diplomática e respeitosa, inclusive sendo informado sobre alternativas. Insisto em lembrar que o fato é grave.
Reconheço que parte considerável dos munícipes e até mesmo de alguns políticos, por razões culturais e educacionais (que não cabem agora serem refletidas) pode entender a Câmara unicamente como local de legislar, ignorando a nova visão que deve estar impressa em qualquer edil, dando a tal instituição um perfil de cidadania cada vez mais abrangente. Nesse sentido, é digno de ser parabenizada a antiga prática da Câmara Itinerante, a qual conheço desde a minha adolescência. Mas o que sugeri, diante da gravidade da obra em questão, foi a necessidade de a Câmara, enquanto local de representantes eleitos pelo povo, protagonizar, DE FORMA PÚBLICA, aliada ou não as outras instituições, UMA AÇÃO DE PROTESTO, seja através de panfletos, de audiência pública, de visita às escolas em caráter de sugestão ou de outro gesto de cidadania plena.
Parte considerável dos nativos está preocupada, mas as discussões se resumem a discussões nas esquinas. Ainda sobre os requerimentos que me foram enviados pela Câmara, ressalto que não os conhecia (apenas ipsis literis), porém os conhecia através da oralidade de tais iniciativas, as quais me foram informadas por Francisco Canindé (Titico).
Conhecer ipsis literis tais documentos, ao invés de tranqüilizar-me, aumentou minha preocupação, pois, pelo que vi, não houve solução para o requerimento nº 134, datado de 28 de novembro de 2005, nem para o requerimento nº 116, de 15 de junho de 2009 (inclusive só agora, aos 21 de setembro de 2009 o de nº 116 foi direcionado a Promotoria Pública) pedindo providências sobre a poluição do rio Mipibu e da Lagoa Papary. Logicamente que as ações da Justiça são morosas, infelizmente, mas pela gravidade a mesma tem que ser provocada sob diversos ângulos e por várias instituições, com insistência.
O canal de esgoto ora construído é muito grande e sinaliza um escoamento de resíduos muito superior e muito mais degradante. E reside aqui o “nó górdio”. Pois, se um documento feito pela Câmara, dirigido ao Ministério Público, tratando assunto tão sério, foi ignorado ou postergado, somos levados a pensar sobre o que acontecerá com os novos requerimentos apresentados pela Câmara? Isso reforça a tese da insistência e da necessidade de uma ação popular envolvendo instituições diversas através de Audiência Pública.
É por tal razão que apresentei as sugestões na cópia da carta de denúncia enviada às Vs. Excias, pois diante da gravidade dessa obra criminosa, cabe também a Câmara Municipal de Vereadores instrumentalizar direta ou indiretamente uma ação popular.
Se não ocorrer uma ação pública com grande movimentação popular, de forma respeitosa, organizada e sistematizada, na qual os responsáveis sejam convidados a explicar tal obra criminosa e ouvir os nisiaflorestenses, supostamente acontecerá o que já aconteceu com o requerimento, embora, para o de nº 136, por ser recente, digamos que esteja em tempo. Nesse sentido autoridades municipais, estaduais e federais devem ser convidadas, bem como os representantes do poder público (prefeito, vereadores, secretários convenientes e demais autoridades de São José de Mipibu) devem ser peças fundamentais.
Urge a necessidade de se pensar a forma correta de se concretizar tal obra, abortando a proposta anterior, a qual é absurda. Cabe ao momento discussões públicas em escolas, igrejas, Câmara e em outras instituições, sempre com a participação de autoridades relacionadas ao assunto. É oportuna a organização de seminários, conferências, reuniões ou audiências que abordem a questão e levem a população a pensar uma solução correta.
Alguns podem entender que isso não cabe a Câmara, mas o fato é tão grave e chocante que ninguém pode mais se prender a conceitos ultrapassados, reforçando a rançosa idéia de papéis e incumbências limitadas. A causa interessa ao Rio Grande do Norte, pois trata-se da poluição de dois aqüíferos.
Sobre a orientação a mim dirigida de participar mais da casa do povo, informo que o fato de estar comprometido com a escola a qual dirijo com o mesmo comprometimento que dirigi a Escola Municipal Yayá Paiva, sinto-me impossibilitado. Ademais o horário das reuniões e o dia da semana definidos, no meu entendimento particular, não são populares. Agradeço o convite e destaco que, conforme sempre fiz, desde que passei a residir neste município, o qual tenho profundo respeito, sempre estarei participando da forma como posso, assim como participo há 17 anos enviando sugestões.
Conforme encerrei a carta anteriormente escrita, entendo que a Câmara representa o povo. Lembro-me de uma sugestão muito bem recebida por essa casa, onde propus que o dia da emancipação política do município fosse considerado feriado e a Câmara, através do Dr. Lércio, viabilizou o projeto, acatado por unanimidade (cópia em anexo). É isso que me faz acreditar na democracia e jamais deixar de exercer a cidadania.
Recentemente sugeri a Câmara e a Assembléia Legislativa do Estado, de forma escrita e detalhada, que acessassem o link dos Correios para votarem no nome de Nísia Floresta para ser contemplado em selo comemorativo em 2010. Fiz o mesmo com a Escola Municipal Yayá Paiva, e Terezinha Leite, tendo em vista o número significativo de alunos. Não recebi resposta, mas tenho plena certeza que tais instituições, por serem sérias e conhecerem a dimensão do nome Nísia Floresta, empreenderam as ações pertinentes junto à comunidade escolar. Resta agora esperar o resultado em 2010 e ver a participação desse público. O presidente da Assembléia Legislativa também acatou tal pedido, dando rumo certo a sugestão.
Em 1994 sugeri que apresentassem requerimento orientando a Secretaria Municipal de Educação a intensificar o estudo da vida e da obra de Nísia Floresta, primando pelo currículo escolar.
Em 1997 sugeri que apresentassem requerimento orientando que as fachadas dos prédios públicos antigos do município não fossem modificadas e de preferência preservadas o seu conjunto arquitetônico. Se as orientações foram discutidas na Câmara ou não fica a cargo dos edis.
À propósito, é interessante e conveniente se propor ao Poder Público, envolvendo Fundação José Augusto e IPHAN, a aquisição do prédio do Engenho Descanso, pois trata-se de um patrimônio cuja propriedade ultrapassa as raias de uma simples escritura. O Engenho Descanso é patrimônio do Rio Grande do Norte. Tenho plena certeza que o futuro sentirá orgulho dos seus antepassados por preservarem esse tesouro singular e de valor histórico/arquitetônico incalculável. O Engenho Descanso é a memória viva de várias facetas da história do Brasil. Resta-nos o reconhecimento e o respeito a tal monumento.
Aproveitando a oportunidade e retornando ao assunto anterior, entendo ser oportuno, acaso não exista lei pertinente, criar uma lei que proíba o direcionamento de águas servidas e esgoto nos pequenos riachos que serpenteiam o centro do município, por exemplo, o rio que nasce na divisa do Alto Monte Hermínio e o que nasce na Vila São João, divisando a área do Porto. São bilhões de litros de água diários que deságuam na lagoa Papary. E que podiam ser puras e cristalinas, pois trata-se de duas portentosas fontes.
Supostamente alguns nativos poderão não entender a nobreza de tão relevante gesto, mas as gerações futuras sentirão orgulho da iniciativa visionária dos seus antepassados. Se tal lei existe é oportuno e louvável que a Câmara a tirasse da teoria.
Finalizando, relembro que minha preocupação não é com a genealogia do ideário edil, e sim com a necessidade de a Câmara, junto com o povo, lutar contra um crime ambiental que ainda não aconteceu.
Na certeza de estar contribuindo com a cidadania e com a história do município, externo meus agradecimentos, ciente da atenção da Câmara Municipal de Nísia Floresta.
Atenciosamente,
Luís Carlos Freire

SEGUE, ABAIXO, OFÍCIOS ENVIADOS AO PROFESSOR LUÍS CARLOS FREIRE EM RESPOSTA AS DENÚNCIAS QUE O REFERIDO PROFESSOR FEZ PEDINDO ESCLARECIMENTOS SOBRE A CANALIZAÇÃO DE ESGOTO EM DIREÇÃO A LAGOA PAPARY. OS OFÍCIO FORAM ENVIADOS DE BRASÍLIA, PELO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E PELO IBAMA.



