Esse
espaço é reservado a alguns vultos históricos nisiaflorestenses, os
quais deixaram obras escritas ou exerceram atividades relevantes e assim
se destacaram em nível estadual, nacional ou internacional. Como sabemos, coube maior destaque a figura de Nísia Floresta
Brasileira Augusta, tendo em vista o seu pioneirismo e a luta ferrenha contra o sistema que era fechado para mulheres. Nísia teve repercussão
internacional, deixando um legado que inclui livros escritos em inglês,
francês e italiano e ter se relacionado com grandes intelectuais
europeus, cuja obra é hoje estudada em universidades europeias. A
referida intelectual é patrona de várias escolas e ruas no país, é nome
de importantes prêmios, cadeiras de academia, salas de instituições e
outros. Outro nome ilustre, reconhecido em todo o Brasil é a escritora e jornalista Socorro Trindade, a qual vive entre idas e vindas RJ/RN. Professora universitária e autora de diversos livros, artigos jornalísticos, antologias etc... É um nome digno de ser estudado em todas as escolas de Nísia Floresta, principalmente...
SOCORRO TRINDADE
Maria
do Socorro Trindade Oliveira (Nísia Floresta, 18 de outubro de 1950) é
uma jornalista e escritora brasileira. Formada em Jornalismo pela UFRJ,
trabalhou em jornais da imprensa alternativa na década de 1970, entre
eles O Pasquim. Seu primeiro livro de contos, Os Olhos do Lixo, com
prefácio de Câmara Cascudo, foi publicado em 1972. Livros: 1972 - "Os
Olhos do Lixo"; 1978 - Cada "Cabeça uma Sentença" (Ática); 1985 - "Eu não
tenho Palavras"- o diário da democratização pessoal (Codecri); 1990 - "O
Dia Público e os Outros Dias" (Ponto Oito). “FEMININO FEMININO”, ENSAIO
SOBRE NÍSIA FLORESTA - PAPARY, RN, 1810 - ROUEN-FRANÇA, 1885 ed.
universitária/UFRN, publicado em 1981. Em 1982 publicou “UMA ARMA PARA
MARIA”, textos poéticos, Edições Ponto 8. Nesse mesmo ano ela escreveu
“P’RA NÃO DIZER QUE NÃO VIVI, coedição; UFRN/FJA/Editora Europa – RJ,
1982; NÍSIA FLORESTA, fazendo parte da Coleção Autores Potiguares,
Natal, Editora Universitária/UFRN.
Ainda em 1982 Socorro participou ativamente do Festival Nacional de Mulheres nas Artes, um evento que repercutiu em nível nacional. Em 1990 ela publicou “EU NÃO TENHO PALAVRAS”, Codecri. O livro trazia todas as páginas em branco, utilizado pela autora para fazer uma intersecção literária no processo político brasileiro por ocasião da campanha das Diretas Já!
Ainda em 1990 ela lançou “O DIA PÚBLICO E OUTROS DIAS”, contos, Edições Ponto Oito. Em 1993 foi a vez de ser dignamente condecorada com a medalha Nísia Floresta, pelo Conselho Municipal de Direitos da Mulher, em parceria com a Prefeitura de Natal, em reconhecimento à sua obra, ao desenvolvimento da cidade e do Estado.
Em 1994 escreveu “HISTÓRIA PARTICULAR DE UM POETA”, Edições Ponto 8. Sobre esse último livro, a própria Socorro diz “... O que este livro pretende apresentar, afinal, é o acesso a uma coerência que já não é a nossa, a do homem, nem a de Deus, nem a do mundo. Neste sentido, diríamos tratar-se de um Livro apocalíptico, no qual se realiza também o terceiro tempo na série do tempo…”.
O livro
“HISTÓRIA PARTICULAR DE UM POETA” traz uma curiosidade. A capa foi
ilustrada por Lapi, poeta visual, carioca, um dos fundadores do PT no
Rio de Janeiro, único brasileiro premiado com o “One World Art” (1992).
Ele e Socorro foram amigos inseparáveis, “amigos de muitas lutas, amigos
da resistência cultural, amigos de parcerias texto-visual, amigos de
ontem, de hoje e de sempre”, nas palavras dela.
Ainda em 1994 ela
escreve “LUZ DEL FUEGO”, pesquisa para a obra publicada por Agnaldo
Silva (seu grande amigo, autor de alguns prefácios e apresentações de
livros dela). Essa pesquisa foi levada para o cinema por David Neves.
Depois veio “REVOLUÇÃO E PROGRESSO CULTURAL”, tradução e apresentação da
Entrevista do jornalista Cubano Luiz Báez com o Ministro da Cultura de
Cuba, Sr. Armando Hart, sobre o projeto artístico e cultural da
Revolução cubana e “OS ANOS DE RESISTÊNCIA”, Anais do Seminário
realizado na Faculdade Cândido Mendes do Rio de Janeiro, pela RioArte.
Socorro Trindade integrou ainda várias antologias: “MULHERES DA VIDA”, São Paulo, Vertente Editora, 1978. “CHAME O LADRÃO” (Contos policiais brasileiros). São Paulo. Edições Populares, 1978. “AS CINCO PRAGAS DE AGOSTO”, Rio de Janeiro, Edições do autor, 1979. “ISSO QUE É, NATAL” Edições Clima, 1981. “RESPEITÁVEL PÚBLICO” (poemas), Rio de Janeiro, Edições Trote, 2ª edição, 1981. “CARIOCAS DE TODOS OS CONTOS”; “OS POTIGUARES”, entre muitas. Tem trabalhos publicados em jornais e revistas do país e do exterior e segue escrevendo até o presente.
OBS. Todas as vezes que Socorro vem a Nísia Floresta tenho a graça e o privilégio de
degustar uma prosa com ela. Assim vou juntando a colcha de retalhos.
Outra hora retomo essa postagem e trago novas informações, até porque
sua biografia é extensa e merecedora de estudo de todos, inclusive das escolas de
Nísia Floresta. Socorro é pessoa acessível. Estando em Nísia Floresta ela participa de missas, festa de padroeiros e outros eventos públicos. Sua mãe
reside no centro da cidade, portanto todos tem acesso a ela. A
secretaria municipal de educação, por exemplo, poderia incluí-la em
palestras, entrevistas, reeditando suas obras, enfim não faltam ideias
para louvá-la juntamente com a sua obra. 7 de março de 1995.
DR. ANTONIO JOSÉ DE MELO E SOUZA
Nasceu em Papary, aos 24 de dezembro de 1867, filho de Antonio José de Melo e Souza e d. Maria Emília Seabra de Melo e Souza. Cursou Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1889. Advogado, jornalista, escritor, político. Sua atividade profissional no ramo jurídico, se alterna com sucessivas investiduras na área política, a saber: foi Promotor de Justiça na Comarca de Goianinha (1890-1892); Deputado Estadual (1892-1894); Diretor de Instrução Pública (1892-1895); Procurador da República (1895-1899); Secretário de Governo (1899); Procurador Geral, “com assento no Superior Tribunal de Justiça” (1900); Governador a 23 de fevereiro de 1907, substituindo a Tavares de Lira que se afastara do cargo para assumir as funções de Ministro da Justiça e Negócios Interiores (gestão Afonso Pena); Senador da República (1908); desta vez substituindo a Pedro Velho, que havia falecido; Senador novamente na 9ª legislatura (1915-1917), cujo sufrágio majoritário garantiu-lhe 9 anos de mandato ao qual, no entanto, renunciaria em fins de 1919, para assumir o cargo de Governador do Estado (1920-1924); Consultor Geral do Estado (1924) e, enfim, Secretário Geral do Estado (1934-1935). Segundo consta, terá desenvolvido excelente administração: No governo, como no exercício de outros cargos públicos (...) o doutor Antonio de Souza manteve sempre uma invariável linha de conduta moral e revelou aptidão, critério e honestidade (Antonio Soares de Araújo) Dicionário Histórico e Geográfico do RN, p. 31). Com efeito, como Governador implantou escolas, revitalizou o sistema financeiro, implementou ações conseqüentes na área sanitária, construiu estradas e procedeu a iniciativas destinadas a atenuar os efeitos da estiagem que assolava o Rio Grande do Norte. Elevou a categoria de Vila as povoações de Parelhas (lei nº 478, de 26 de novembro de 1920) e Barriguda que passou a denominar-se Alexandria (lei nº 572, de 3 de dezembro de 1923). Como jornalista colaborou com “A República”, onde também foi redator; escreveu crônicas e peças literárias, adotando o pseudônimo de Polycarpo Feitosa. Fundador do Grêmio Polimático, em 1897; sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e fundador da Revista do Instituto. Faleceu em Recife no dia 05 de julho de 1955.Publicações:Flor do Sertão (1928)Gizinha (1930) Alma Bravia (1934)Encontros do Caminho, (1936)Os moluscos (1938)Jornal da Vila (1939). 12.3.1997.
Nasceu em Papary, aos 24 de dezembro de 1867, filho de Antonio José de Melo e Souza e d. Maria Emília Seabra de Melo e Souza. Cursou Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1889. Advogado, jornalista, escritor, político. Sua atividade profissional no ramo jurídico, se alterna com sucessivas investiduras na área política, a saber: foi Promotor de Justiça na Comarca de Goianinha (1890-1892); Deputado Estadual (1892-1894); Diretor de Instrução Pública (1892-1895); Procurador da República (1895-1899); Secretário de Governo (1899); Procurador Geral, “com assento no Superior Tribunal de Justiça” (1900); Governador a 23 de fevereiro de 1907, substituindo a Tavares de Lira que se afastara do cargo para assumir as funções de Ministro da Justiça e Negócios Interiores (gestão Afonso Pena); Senador da República (1908); desta vez substituindo a Pedro Velho, que havia falecido; Senador novamente na 9ª legislatura (1915-1917), cujo sufrágio majoritário garantiu-lhe 9 anos de mandato ao qual, no entanto, renunciaria em fins de 1919, para assumir o cargo de Governador do Estado (1920-1924); Consultor Geral do Estado (1924) e, enfim, Secretário Geral do Estado (1934-1935). Segundo consta, terá desenvolvido excelente administração: No governo, como no exercício de outros cargos públicos (...) o doutor Antonio de Souza manteve sempre uma invariável linha de conduta moral e revelou aptidão, critério e honestidade (Antonio Soares de Araújo) Dicionário Histórico e Geográfico do RN, p. 31). Com efeito, como Governador implantou escolas, revitalizou o sistema financeiro, implementou ações conseqüentes na área sanitária, construiu estradas e procedeu a iniciativas destinadas a atenuar os efeitos da estiagem que assolava o Rio Grande do Norte. Elevou a categoria de Vila as povoações de Parelhas (lei nº 478, de 26 de novembro de 1920) e Barriguda que passou a denominar-se Alexandria (lei nº 572, de 3 de dezembro de 1923). Como jornalista colaborou com “A República”, onde também foi redator; escreveu crônicas e peças literárias, adotando o pseudônimo de Polycarpo Feitosa. Fundador do Grêmio Polimático, em 1897; sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e fundador da Revista do Instituto. Faleceu em Recife no dia 05 de julho de 1955.Publicações:Flor do Sertão (1928)Gizinha (1930) Alma Bravia (1934)Encontros do Caminho, (1936)Os moluscos (1938)Jornal da Vila (1939). 12.3.1997.
DIONÍSIA PINTO LISBOA – “NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA” * 12.10.1810 + 24.4.1885
A biografia da intelectual Nísia Floresta, por ser parte de inúmeros trabalhos que escrevi ao longo de alguns anos, será publicada em textos diversificados, neste blog, a partir de agora, tendo em vista ser muito ampla. É imprescindível que o Poder Público Municipal construa uma política de estudo fluente, pautada em legislação, sobre a vida e a obra dessa intelectual, envolvendo a secretaria de educação e a secretaria de cultura
TARQUÍNIO BRÁULIO DE SOUZA AMARANTO *20.07.1829
+ 29.08.1894
+ 29.08.1894
Nasceu aos 20 de julho de 1829, em Papary. Tornou-se bacharel em 1857 e doutor em 1859. Em concurso para professor substituto da Faculdade de Recife, cadeira de Direito Eclesiástico, sensibilizou a D. Pedro II – ali em visita oficial – pela sabedoria demonstrada. Primeiro professor norte-rio-grandense em Faculdade de Direito.
Foi deputado provincial de 1858 a 1859, deputado Geral de 1857 a 1877, 1882 a 1885 e de 1886 a 1889. Quando o coronel Bonifácio Câmara faleceu, em 1884, o Partido Conservador cindiu-se em duas facções, a do Pe. João Manoel de Carvalho e a do Conselheiro Tarquínio de Souza. Os líderes do grupo do padre reuniram-se “debaixo das gameleiras da praça da Alegria” (hoje , praça Pe. João Maria); O grupo de Tarquínio “fazia ponto” na farmácia do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, na rua Tarquínio de Souza, hoje rua Chile. Dizia-se “grupo do cantão das gameleiras” e do “grupo da Botica”. Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1894. Tarqüínio Bráulio de Sousa Amaranto, conhecido comoTarqüínio de Sousa, juntam,ente com mais dois irmãos integrou a congregação de professores da Faculdade de Direito do Recife na Turma de 1857 e tomou posse de sua cadeira na mesma instituição em 1860, quando ainda vivia Braz Florentino. (12.12.1995 - Pesquisa: Luís Carlos Freire).
ISABEL URBANA DE ALBUQUERQUE GONDIM – * 05.07.1839 +10.6.1933
Nasceu
quando essa localidade se chamava “Vila Imperial de Papary”, aos 5 de
julho de 1839, filha de Urbano Égide da Silva Costa Gondim de
Albuquerque e de d. Isabel Deolinda de Melo Gondim.
Isabel veio para Natal em 1866, então aos 24 anos, passando a morar na Ribeira, onde instalou posteriormente a sua primeira sala de aula. Simultaneamente ao ensino dedicou-se às letras, constituindo sua obra os seguintes títulos: Reflexões às minhas alunas (1874), Brasil (1903), O sacrifício do amor (1909), Sedição de 1817 na Capitania, ora estado do Rio Grande do Norte (1917), A lira singela e O preceptor (1933). Deixou inéditos ainda O Rio Grande do Norte, Noções Históricas, Resumo da História do Brasil, Elementos da Educação e Curso primário de caligrafia.
Era sócia do Instituto Arqueológico de Pernambuco e foi a primeira mulher a integrar o quadro de sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Sua vida foi essencialmente dedicada ao ensino e à poesia, tendo sido condecorada com a Medalha do Mérito do Departamento Estadual de Educação.
Seu nome foi dado a uma escola no bairro da Ribeira, em Natal. Faleceu de causas naturais, aos 94 anos em 10 de junho de 1933. Isabel Gondim projetou-se até hoje na história do Rio Grande do Norte por uma peripécia que rendeu-lhe ser eternamente lembrada. Trata-se de uma extensa carta, escrita por ela em 1884, direcionada a J. F. Souto – sobre Nísia Floresta – a qual denigre o nome da sua conterrânea de forma deplorável, sem nunca tê-la conhecido. 3.9.1997
Isabel veio para Natal em 1866, então aos 24 anos, passando a morar na Ribeira, onde instalou posteriormente a sua primeira sala de aula. Simultaneamente ao ensino dedicou-se às letras, constituindo sua obra os seguintes títulos: Reflexões às minhas alunas (1874), Brasil (1903), O sacrifício do amor (1909), Sedição de 1817 na Capitania, ora estado do Rio Grande do Norte (1917), A lira singela e O preceptor (1933). Deixou inéditos ainda O Rio Grande do Norte, Noções Históricas, Resumo da História do Brasil, Elementos da Educação e Curso primário de caligrafia.
Era sócia do Instituto Arqueológico de Pernambuco e foi a primeira mulher a integrar o quadro de sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Sua vida foi essencialmente dedicada ao ensino e à poesia, tendo sido condecorada com a Medalha do Mérito do Departamento Estadual de Educação.
Seu nome foi dado a uma escola no bairro da Ribeira, em Natal. Faleceu de causas naturais, aos 94 anos em 10 de junho de 1933. Isabel Gondim projetou-se até hoje na história do Rio Grande do Norte por uma peripécia que rendeu-lhe ser eternamente lembrada. Trata-se de uma extensa carta, escrita por ela em 1884, direcionada a J. F. Souto – sobre Nísia Floresta – a qual denigre o nome da sua conterrânea de forma deplorável, sem nunca tê-la conhecido. 3.9.1997
Parente
de Socorro Trindade, Luiz Segundo Bezerra da Trindade nasceu em Papary,
aos 23 de julho de 1876. Filho de Luiz Augusto Bezerra da Trindade e de
Josina Cabral Bezerra da Trindade.
Quando estudante, colaborou com alguns jornais, inclusive “O Oásis”, editado em Natal e no jornal “A Arte”, editado em Santos, São Paulo.
Tendo feito seus estudos iniciais no Atheneu Norte-Riograndense, iniciou sua vida pública na Fazenda Federal, sendo nomeado oficial aduaneiro de Santos-SP, e depois escriturário, Escriturário da Alfândega de Belém, no Pará.
Em 1897, formou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
Casou-se em Natal, aos 30 de julho de 1914 com a Esther Bezerra da Trindade. Eis a certidão de casamento, conforme consta no Livro de Certidão de Batismo nos Arquivos da Catedral de Natal/RN: “Aos trinta de julho de mil novecentos e quatorze, na Egreja Cathedral, feitas as proclamações sem impedimento, impetrado dispensa de segundo attigente ao primeiro e terceiro atigente ao segundo grau simples de consaguinidade e observados as demais formalidade prescriptas, assisti com as testemunhas Doutor Joaquim Ferreira Chaves, Governador do Estado e Francisco Heroncio de Mello, ao recebimento matrimonial do Bacharel Luis Segundo Bezerra da Trindade e Esther Bezerra da Trindade, ele filho legitimo de Luiz Augusto Bezerra da Trindade e Josina Rosalinda Cabral de Vasconcellos, solteiro, com trinta e nove annos de idade natural da Freguesia de Papary e residente na cidade do Rio de Janeiro, ela filha legitima de Francisco Theophilo Bezerra da Trindade, e Domitilla Galvão Bezerra da Trindade, solteira com 23 anos, natural desta Freguesia e nella moradora; do que fiz este termo que assigno. O Vigário, Cônego Estevam José Dantas.” O poeta Luiz Trindade tinha um irmão chamado Francisco Theófilo. Infelizmente pouco se sabe sobre o mesmo.
Exerceu no Rio de Janeiro o cargo de 2º Escriturário do Tesouro Nacional, falecendo naquele estado aos 11 de junho de 1951.
Eis abaixo um de seus belos poemas:
A CRUZ
Vês ali uma cruz abandonada,
Feita de velhos troncos de Madeiro...
Emblema onde se alteia o verdadeiro
Culto de amor á legião sagrada
Vês ali, no silêncio de um oiteiro,
Vislumbres de uma choça abandonada,
Onde, em festas, gorjeia a passarada,
Saltando, à tarde, o canto derradeiro?
Não vês também, quando agoniza o dia,
E que o sino da aldeia a Ave-Maria
Toca – uma virgem contemplando os céus?
Pois bem; aquela cruz, sobre a savana,
Guarda a história fiel de uma cabana,
Que viu passar e viu morrer os seus! ...
(1897) 7.7.1995
Quando estudante, colaborou com alguns jornais, inclusive “O Oásis”, editado em Natal e no jornal “A Arte”, editado em Santos, São Paulo.
Tendo feito seus estudos iniciais no Atheneu Norte-Riograndense, iniciou sua vida pública na Fazenda Federal, sendo nomeado oficial aduaneiro de Santos-SP, e depois escriturário, Escriturário da Alfândega de Belém, no Pará.
Em 1897, formou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
Casou-se em Natal, aos 30 de julho de 1914 com a Esther Bezerra da Trindade. Eis a certidão de casamento, conforme consta no Livro de Certidão de Batismo nos Arquivos da Catedral de Natal/RN: “Aos trinta de julho de mil novecentos e quatorze, na Egreja Cathedral, feitas as proclamações sem impedimento, impetrado dispensa de segundo attigente ao primeiro e terceiro atigente ao segundo grau simples de consaguinidade e observados as demais formalidade prescriptas, assisti com as testemunhas Doutor Joaquim Ferreira Chaves, Governador do Estado e Francisco Heroncio de Mello, ao recebimento matrimonial do Bacharel Luis Segundo Bezerra da Trindade e Esther Bezerra da Trindade, ele filho legitimo de Luiz Augusto Bezerra da Trindade e Josina Rosalinda Cabral de Vasconcellos, solteiro, com trinta e nove annos de idade natural da Freguesia de Papary e residente na cidade do Rio de Janeiro, ela filha legitima de Francisco Theophilo Bezerra da Trindade, e Domitilla Galvão Bezerra da Trindade, solteira com 23 anos, natural desta Freguesia e nella moradora; do que fiz este termo que assigno. O Vigário, Cônego Estevam José Dantas.” O poeta Luiz Trindade tinha um irmão chamado Francisco Theófilo. Infelizmente pouco se sabe sobre o mesmo.
Exerceu no Rio de Janeiro o cargo de 2º Escriturário do Tesouro Nacional, falecendo naquele estado aos 11 de junho de 1951.
Eis abaixo um de seus belos poemas:
A CRUZ
Vês ali uma cruz abandonada,
Feita de velhos troncos de Madeiro...
Emblema onde se alteia o verdadeiro
Culto de amor á legião sagrada
Vês ali, no silêncio de um oiteiro,
Vislumbres de uma choça abandonada,
Onde, em festas, gorjeia a passarada,
Saltando, à tarde, o canto derradeiro?
Não vês também, quando agoniza o dia,
E que o sino da aldeia a Ave-Maria
Toca – uma virgem contemplando os céus?
Pois bem; aquela cruz, sobre a savana,
Guarda a história fiel de uma cabana,
Que viu passar e viu morrer os seus! ...
(1897) 7.7.1995
MARIA DO CARMO BEZERRA DIAS - * Papary: 5.2.1905
A gente que é afeiçoado à história oral costuma ser procurado por alunos para informar sobre pessoas e fatos do passado. Sobre dona Maria do Carmo Bezerra Dias, a “dona Mariinha”, como é popularmente conhecida, os alunos costumam ser informados que ela é a primeira professora de Nísia Floresta. O que não é verdade. Antes de dona Mariinha existiram inúmeras outras professoras, nascidas inclusive, nas últimas décadas de 1700, ou seja, mais de um século antes de dona Mariinha vir ao mundo. Veja os nomes de algumas professoras antigas e os anos em que as mesmas lecionaram em Papary, por exemplo: Maria Manoela de Castro (1867), Joanna Evaristo de Moraes Barros (1882 a 1883), Heládia Ribeiro Sampaio (1886), Thereza Lustoza da Silva e Araújo (1900), Aurora Costa Carvalho (1927), Annita Oliveira Monteiro (1927).
Para que todos conheçam a história da adorável professora, dona Mariinha, eis abaixo sua breve biografia, fruto, inclusive, de minhas pesquisas em história oral, iniciadas em 1992. As informações que se seguem ocorreram em 1997, quando a referida professora tinha 92 anos e não estava tão fragilizada como se encontra hoje. Na ocasião das entrevistas que gravei em fitas cassete e escrevi-as à lápis, ela ainda possuia muita vivacidade, voz forte e raros lapsos de memória. Observei nesse período que a professora, apesar da relevância do seu trabalho, nunca tinha recebido algum tipo homenagem. Era uma ilustre desconhecida em se tratando da sua história. Foi nessa observação que organizei uma grande homenagem a alusiva a essa professora, em 1999, ocorrida na Escola Municipal Yayá Paiva, onde estiveram presentes a comunidade escolar, autoridades, filhos e ex-alunos da referida professora. Poucos anos depois a mesma teve seu nome dado ao PET. Vamos agora ao texto construído por mim, no dia 17 de maio de 1997.
No dia 5 de fevereiro de 1905, numa tarde chuvosa, exatamente na casa nº 129, defronte a Praça Coronel José de Araújo, nasceu dona Maria do Carmo Bezerra Dias, oriunda de uma família muito humilde, filha de Estefânia da Purificação e João Lourenço Bezerra, ambos nascidos na velha Papary.
Seis meses após seu nascimento foi abandonada pelo pai, o qual jamais retornou ao seio da família. Esse acontecimento, que marcaria para sempre a vida dessas duas mulheres, obrigou inicialmente sua mãe a se desdobrar, “numa época difícil”, como diz Maria do Carmo, “para dar conta da família”.
Mulher trabalhadora e abnegada, d. Estefânia sempre foi muito prendada, principalmente nos trabalhos culinários, com os quais se identificava. Com esse perfil não teve outra alternativa, senão tentar a vida através dos seus dotes culinários.
Foi até a mata que começava logo atrás de sua casa, cortou quatro estacas e uma porção de varas, preparou barro e alguns pedaços de ferro que, segundo ela ficavam atrás da igreja, "desde a época do padre Fortunato “Ele ia construir naquele oitão uma gruta de Nossa Senhora do Ó.”, diz dona Mariinha.
Com esses materiais dona Estefânia construiu, ela mesma, um imenso fogão de lenha em seu quintal. “Depois de uns dias mamãe mesma fez uma cobertura com uns frandi que o padre Fortunato deu pra ela. Depois, esse mesmo padre deu para ela umas telhas velhas que ficavam guardadas atrás da igreja. Era telhas de subisalença, para eles colocar quando uma quebrava. Essa gruta ele não chegou nem a começar. Mamãe disse que era um padre tão engraçado” (dizendo isso ela riu muito e colocou a mão direita na boca).
Encerradas as obras que duraram dois dias, dona Estefânia foi à feira de São José e comprou duas panelas de barro e algumas colheres de pau. Após tal empreendimento passou a fazer doces, pamonha, bolo e tapioca. “Mamãe fazia uma rudia de pano, botava na cabeça e botava em cima uma bacia cheia de tapioca e cocada e saia pelas ruas vendendo. Nas sextas e sábados ela gostava de ir vender na estação de trem, ela ia de pés”, diz dona Mariinha.
Assim que o pai abandonou a família, a pequena Maria do Carmo foi adotada por um rico morador da cidade, sr. Joaquim Freire, o qual viria a se tornar mais tarde prefeito de Papary.
Maria do Carmo cresceu nesse cenário. Entre sua casa e a casa do sr. Joaquim Freire. Acostumou-se a muito trabalho e tornou-se, desde criança, a única ajudante da mãe.
Em 1910 o governador Alberto Maranhão cria escolas de primeiras letras em várias cidades norte-riograndenses. Papary é uma dessas cidades contempladas. Surge então a Escola Isolada “Nysia Floresta” (a grafia com ypsilon obedece os documentos originais, embora se trate de equívoco).
Maria do Carmo Bezerra Dias vem a ser uma das primeiras meninas matriculadas nesse importante estabelecimento, pois, no silêncio das preocupações maternas, sua mãe sempre sonhara vê-la numa escola, tendo em vista seu espírito curioso, externado esde criança. “Eu não podia ver um papel que mesmo sem saber ler já ia querendo advinhar tudo o que estava escrito".
O surgimento da escola veio como bálsamo para o coração sofrido e preocupado de dona Estefânia. “A gente ia pra escola tão bonita. Eu usava uma blusa branca com as manga até o cotovelo. A blusa tinha dois bolso aqui (mostra o lado esquerdo). A saia era tão bonita. Era um azul escuro, toda prinsada e batia do joelho pra baixo. Ela lavava roupa em dois lugar. Um era num riozinho que tem até hoje na baixada da delegacia. A água tão limpa que a gente via as pedinha assim correndo e brilhando. A gente tomava água ali mesmo, na parte de cima que não tinha pisero. Até cumê mamãe levava, porque as veis a gente passava muitas horas. O outro pedaço do rio que ela ia era perto do quintal de dona Lulinha (onde hoje tem o Camarão do Olavo). Ela pegava as trochona grande, botava no lombo e fazia carreira prá lá. Naquela época não existia sabão. Ela lavava roupa com melão São Caetano. Depois ela engomava com ferro a brasa, daqueles da bocona assim” (faz gesto com as mãos, juntando em círculo os dois dedos polegares e indicadores – e dá muita risada).
"Minha mãe era muito espirituosa. Para ela não tinha tempo ruim. Era muito alegre e divertida. Ah minha mãe!”, discorre dona Mariinha.
No final de 1917 dona Estefânia é tomada de felicidade, pois a pequena Maria do Carmo é homenageada como a melhor aluna da turma. Com certeza valeram os esforços de uma mãe abnegada, que não fez do fato do abandono do marido motivo para ser amargurada ou para maltratar a filha. Ela sentia apenas o fato de o pai estar ausente num momento tão bonito.
Esse prêmio com certeza foi a culminância do seu projeto pessoal de ser professora. Sua infância reservou pouco tempo para brincar com boneca de pano e sabugo, mas em suas imaginações ela sempre se via como professora. Na escola ela imitava os professores e admirava o ato de ensinar.
Poucos anos de pois de ter concluido os estudos, dona Mariinha passou a dar aulas particulares em sua residência. Durante a manhã e à tarde ela ensinava para crianças, à noite se dedicava aos adultos. Diríamos hoje que era o MOBRAL da época, ou EJA, embora tais políticas educacionais não existiam, logicamente. Isso mostra o quanto a velha educadora era dedicada, pois reservava tempo àqueles que tinham chegado à fase adulta sem serem alfabetizados. E em sua época o índice de analfabetos, homens e mulheres, era gigantesco.
Na época ela cobrava “dez tões” mensais por pessoa, mas quem não pudesse remunerá-la não seria discriminado em nenhum aspecto, pois naquele mister estava uma índole de educadora por excelêcia. Modesta, mas suficientemente capaz de transmitir o essencial para a realidade do panorama ao qual seus conterrâneos estavam inseridos. Os “dez tões” cobrados por dona Mariinha tinham valor simbólico. Diríamos, à luz do atual sistema monetário, equivaler a R$ 20, 00 (vinte reais) por mês. O que era isso mediante uma pedagogia tão completa e uma didática tão moderna?
Pedagogia completa porque a referida educadora se desdobrava para aplicar o máximo de conhecimentos aos seus alunos, por exemplo: matemática, geografia, língua portuguesa e história. Ela não se detinha apenas à matemática rudimentar e à gramática básica, como era comum. A mesma ia mais além, perscrustando os caminhos do conhecimento no cuidado de alargar o campo de informação dos seus alunos. A mesma era metódica e exercia o magistério com o rigor de um ser que se sentia enviado à Terra para aquela tarefa.
É interessante, em caráter de reflexão, analisarmos o nível de conhecimento de muitos alunos que concluem o 5º ano (antiga 4ª série) nos dias atuais. Infelizmente é deplorável, exceto em escolas sérias e sensatas. Existem alunos atualmente que concluem tal nível com potencial de conhecimento equivalente aos que estão sendo alfabetizados. E não é diferente, salvo raras exceções, no ensino médio, conforme matéria jornalística que veio ao ar em 1999, no Jornal Nacional, da Rede Globo de televião.
É notória a admirável dedicação da velha mestra, pois como deveriam ser difíceis os materiais didáticos, os quais, diferentemente da abundância atual, consistiam apenas em livros. E raros.
Didática moderna porque, segundo um dos seus alunos, hoje contador e ex-professor na UFRN, Otacílio Maurício Damasceno, “dona Mariinha jamais usou o terrível instrumento tão temido pelas crianças – a palmatória –, a qual servia para dar bolos nas crianças que erravam os deveres ou desobedeciam os professores”.
O trecho acima aspado foi retirado de um discurso feito por seu ilustre aluno, em 1999, na ocasião das homenagens alusivas à referida professora, tratadas logo no início deste texto. À época mandei emoldurar uma fotografia da mesma e o decreto que a nomeou como professora, em 1942.
A palmatória é um objeto plano, de pau, semelhante a uma escumadeira, com orifícios, usado para bater com força nas mãos de alunos desobedientes ou que errassem respostas. Segundo informações recebidas de pessoas idosas, os “bolos” (como se chamavam as batidas da palmatória nas mãos) eram tão fortes e incômodos que deixavam as mãos doloridas. As crianças ficavam soprando-as e com vontade de molhá-las para aliviar a dor.
Cabe aqui uma reflexão sobre a didática de ensino, pois, justamente as mãos da criança – que estavam em desenvolvimento físico e de coordenação motora – que deveriam receber todo o cuidado possível – eram espancadas através de um pedaço de pau, no qual, juntamente com terrível método, muitas vezes se incluiam o estado de espírito e as frustrações de muitos professores, onde o aluno era o "bode expiatório". Coitada das crianças dessa época!
O fato de dona Mariinha ter abolido o uso desse objeto inquisidor em suas aulas, deixa claro seu método inovador para a época, pois, conforme o sr. Otacílio, “dona Mariinha usava como arma, se assim podemos dizer, a palavra. A palavra mansa, clara, dita com segurança na hora certa. A palmatória da dona Mariinha foi a palavra. A palavra educada”.
O trecho acima foi retirado do discurso proferido por esse seu ex-aluno.
Em sua adolescência dona Mariinha gostava de andar a cavalo, e quando podia empreendia cavalgadas até a praia de Buzios, acompanhada pelo “pai adotivo” e pelas filhas deste. “A gente ia de jumentinho, subindo e descendo duna, comia frutas que encontrava pelo caminho. Ai que tempo bom!”, relembra a velha professora.
Já moça casou-se com o sr. José Henrique Dias, mestre de engenho de açucar, que era uma espécie de responsável pela organização de tudo o que acontecia num engenho durante o fabrico de açucar e melado. “Ele chefiava um grupo de trabalhadores, orientando as coisas que eles tinha que fazer para nada dar errado, nem queimar o açucar, nem deixar o mel amargo”, explica dona Marrinha.
Com ele dona Maria do Carmo teve 11 filhos, tendo morrido dois gêmeos. Generosa, adotou um menino quando esse ainda era criança.
De acordo com o Decreto Executivo nº 4, o prefeito José Dutra nomeou dona Maria do Carmo Bezerra Dias para exercer oficialmente o cargo de professora, em conformidade com o artigo 15, nº 1, do Decreto-lei nº 172, de 28 de outubro de 1942.
Agora remunerada dona Mariinha passou a ensinar gratuitamente a todos os que buscavam os seus ensinamentos.
O senhor José Henrique, segundo dona Mariinha, foi excelente esposo. Trabalhador e dedicado à família. Era muito religioso e devoto de Nossa Senhora do Ó.
Da mesma forma dona Mariinha sempre foi muito religiosa. Criada em lar católico, teve grande dedicação às coisas da igreja. Trabalhou muitos anos na Casa Paroquial, exercendo a função de cozinheira, a qual, como vimos, tinha grande domínio.
Prestou tais serviços no período compreendido entre 1953 a 1956, durante a administração do Cônego Rui Miranda (coincidentemente é o padre que recebeu os despojos de Nísia Floresta, em 1954).
Continuou tais atividades durante a atuação dos padres Armando de Paiva ( (1956 a 1958) e para o padre Antonio Barros (1966), o qual tornou-se futuramente monsenhor. Sempre foi respeitada por todos, graças ao seu espírito prestativo, de grande bondade e gentileza. Somado a isso herdou o jeito alegre da mãe, sabendo brincar na hora certa, quebrando protocolos com graciosidade encantadora.
Durante o período que o padre Rui Miranda atuou em Arês, cidade próxima, logo que saiu de Nísia Floresta, solicitou os trabalhos de dona Mariinha, a qual atendeu-o prontamente.
Trabalhou posteriormente na Cooperativa Popular Mista, localizada no Centro Pastoral Isabel Gondim, vinculada à Igreja Católica.
Dona Maria do Carmo Bezerra Dias não teve a intelectualidade de Nísia Floresta ou de Bráulio Tarquínio, mas, dentro da realidade provinciana da velha Papary, obteve grande destaque. É de se pensar que se essa mulher tivesse tido a oportunidade de ter estudado com mais profundidade, seja como auto-didata ou frequentado os bancos de uma universidade, com certeza teria dado vazão ao seu potencial intelectual e ajudado muita gente.
A gente que é afeiçoado à história oral costuma ser procurado por alunos para informar sobre pessoas e fatos do passado. Sobre dona Maria do Carmo Bezerra Dias, a “dona Mariinha”, como é popularmente conhecida, os alunos costumam ser informados que ela é a primeira professora de Nísia Floresta. O que não é verdade. Antes de dona Mariinha existiram inúmeras outras professoras, nascidas inclusive, nas últimas décadas de 1700, ou seja, mais de um século antes de dona Mariinha vir ao mundo. Veja os nomes de algumas professoras antigas e os anos em que as mesmas lecionaram em Papary, por exemplo: Maria Manoela de Castro (1867), Joanna Evaristo de Moraes Barros (1882 a 1883), Heládia Ribeiro Sampaio (1886), Thereza Lustoza da Silva e Araújo (1900), Aurora Costa Carvalho (1927), Annita Oliveira Monteiro (1927).
Para que todos conheçam a história da adorável professora, dona Mariinha, eis abaixo sua breve biografia, fruto, inclusive, de minhas pesquisas em história oral, iniciadas em 1992. As informações que se seguem ocorreram em 1997, quando a referida professora tinha 92 anos e não estava tão fragilizada como se encontra hoje. Na ocasião das entrevistas que gravei em fitas cassete e escrevi-as à lápis, ela ainda possuia muita vivacidade, voz forte e raros lapsos de memória. Observei nesse período que a professora, apesar da relevância do seu trabalho, nunca tinha recebido algum tipo homenagem. Era uma ilustre desconhecida em se tratando da sua história. Foi nessa observação que organizei uma grande homenagem a alusiva a essa professora, em 1999, ocorrida na Escola Municipal Yayá Paiva, onde estiveram presentes a comunidade escolar, autoridades, filhos e ex-alunos da referida professora. Poucos anos depois a mesma teve seu nome dado ao PET. Vamos agora ao texto construído por mim, no dia 17 de maio de 1997.
No dia 5 de fevereiro de 1905, numa tarde chuvosa, exatamente na casa nº 129, defronte a Praça Coronel José de Araújo, nasceu dona Maria do Carmo Bezerra Dias, oriunda de uma família muito humilde, filha de Estefânia da Purificação e João Lourenço Bezerra, ambos nascidos na velha Papary.
Seis meses após seu nascimento foi abandonada pelo pai, o qual jamais retornou ao seio da família. Esse acontecimento, que marcaria para sempre a vida dessas duas mulheres, obrigou inicialmente sua mãe a se desdobrar, “numa época difícil”, como diz Maria do Carmo, “para dar conta da família”.
Mulher trabalhadora e abnegada, d. Estefânia sempre foi muito prendada, principalmente nos trabalhos culinários, com os quais se identificava. Com esse perfil não teve outra alternativa, senão tentar a vida através dos seus dotes culinários.
Foi até a mata que começava logo atrás de sua casa, cortou quatro estacas e uma porção de varas, preparou barro e alguns pedaços de ferro que, segundo ela ficavam atrás da igreja, "desde a época do padre Fortunato “Ele ia construir naquele oitão uma gruta de Nossa Senhora do Ó.”, diz dona Mariinha.
Com esses materiais dona Estefânia construiu, ela mesma, um imenso fogão de lenha em seu quintal. “Depois de uns dias mamãe mesma fez uma cobertura com uns frandi que o padre Fortunato deu pra ela. Depois, esse mesmo padre deu para ela umas telhas velhas que ficavam guardadas atrás da igreja. Era telhas de subisalença, para eles colocar quando uma quebrava. Essa gruta ele não chegou nem a começar. Mamãe disse que era um padre tão engraçado” (dizendo isso ela riu muito e colocou a mão direita na boca).
Encerradas as obras que duraram dois dias, dona Estefânia foi à feira de São José e comprou duas panelas de barro e algumas colheres de pau. Após tal empreendimento passou a fazer doces, pamonha, bolo e tapioca. “Mamãe fazia uma rudia de pano, botava na cabeça e botava em cima uma bacia cheia de tapioca e cocada e saia pelas ruas vendendo. Nas sextas e sábados ela gostava de ir vender na estação de trem, ela ia de pés”, diz dona Mariinha.
Assim que o pai abandonou a família, a pequena Maria do Carmo foi adotada por um rico morador da cidade, sr. Joaquim Freire, o qual viria a se tornar mais tarde prefeito de Papary.
Maria do Carmo cresceu nesse cenário. Entre sua casa e a casa do sr. Joaquim Freire. Acostumou-se a muito trabalho e tornou-se, desde criança, a única ajudante da mãe.
Em 1910 o governador Alberto Maranhão cria escolas de primeiras letras em várias cidades norte-riograndenses. Papary é uma dessas cidades contempladas. Surge então a Escola Isolada “Nysia Floresta” (a grafia com ypsilon obedece os documentos originais, embora se trate de equívoco).
Maria do Carmo Bezerra Dias vem a ser uma das primeiras meninas matriculadas nesse importante estabelecimento, pois, no silêncio das preocupações maternas, sua mãe sempre sonhara vê-la numa escola, tendo em vista seu espírito curioso, externado esde criança. “Eu não podia ver um papel que mesmo sem saber ler já ia querendo advinhar tudo o que estava escrito".
O surgimento da escola veio como bálsamo para o coração sofrido e preocupado de dona Estefânia. “A gente ia pra escola tão bonita. Eu usava uma blusa branca com as manga até o cotovelo. A blusa tinha dois bolso aqui (mostra o lado esquerdo). A saia era tão bonita. Era um azul escuro, toda prinsada e batia do joelho pra baixo. Ela lavava roupa em dois lugar. Um era num riozinho que tem até hoje na baixada da delegacia. A água tão limpa que a gente via as pedinha assim correndo e brilhando. A gente tomava água ali mesmo, na parte de cima que não tinha pisero. Até cumê mamãe levava, porque as veis a gente passava muitas horas. O outro pedaço do rio que ela ia era perto do quintal de dona Lulinha (onde hoje tem o Camarão do Olavo). Ela pegava as trochona grande, botava no lombo e fazia carreira prá lá. Naquela época não existia sabão. Ela lavava roupa com melão São Caetano. Depois ela engomava com ferro a brasa, daqueles da bocona assim” (faz gesto com as mãos, juntando em círculo os dois dedos polegares e indicadores – e dá muita risada).
"Minha mãe era muito espirituosa. Para ela não tinha tempo ruim. Era muito alegre e divertida. Ah minha mãe!”, discorre dona Mariinha.
No final de 1917 dona Estefânia é tomada de felicidade, pois a pequena Maria do Carmo é homenageada como a melhor aluna da turma. Com certeza valeram os esforços de uma mãe abnegada, que não fez do fato do abandono do marido motivo para ser amargurada ou para maltratar a filha. Ela sentia apenas o fato de o pai estar ausente num momento tão bonito.
Esse prêmio com certeza foi a culminância do seu projeto pessoal de ser professora. Sua infância reservou pouco tempo para brincar com boneca de pano e sabugo, mas em suas imaginações ela sempre se via como professora. Na escola ela imitava os professores e admirava o ato de ensinar.
Poucos anos de pois de ter concluido os estudos, dona Mariinha passou a dar aulas particulares em sua residência. Durante a manhã e à tarde ela ensinava para crianças, à noite se dedicava aos adultos. Diríamos hoje que era o MOBRAL da época, ou EJA, embora tais políticas educacionais não existiam, logicamente. Isso mostra o quanto a velha educadora era dedicada, pois reservava tempo àqueles que tinham chegado à fase adulta sem serem alfabetizados. E em sua época o índice de analfabetos, homens e mulheres, era gigantesco.
Na época ela cobrava “dez tões” mensais por pessoa, mas quem não pudesse remunerá-la não seria discriminado em nenhum aspecto, pois naquele mister estava uma índole de educadora por excelêcia. Modesta, mas suficientemente capaz de transmitir o essencial para a realidade do panorama ao qual seus conterrâneos estavam inseridos. Os “dez tões” cobrados por dona Mariinha tinham valor simbólico. Diríamos, à luz do atual sistema monetário, equivaler a R$ 20, 00 (vinte reais) por mês. O que era isso mediante uma pedagogia tão completa e uma didática tão moderna?
Pedagogia completa porque a referida educadora se desdobrava para aplicar o máximo de conhecimentos aos seus alunos, por exemplo: matemática, geografia, língua portuguesa e história. Ela não se detinha apenas à matemática rudimentar e à gramática básica, como era comum. A mesma ia mais além, perscrustando os caminhos do conhecimento no cuidado de alargar o campo de informação dos seus alunos. A mesma era metódica e exercia o magistério com o rigor de um ser que se sentia enviado à Terra para aquela tarefa.
É interessante, em caráter de reflexão, analisarmos o nível de conhecimento de muitos alunos que concluem o 5º ano (antiga 4ª série) nos dias atuais. Infelizmente é deplorável, exceto em escolas sérias e sensatas. Existem alunos atualmente que concluem tal nível com potencial de conhecimento equivalente aos que estão sendo alfabetizados. E não é diferente, salvo raras exceções, no ensino médio, conforme matéria jornalística que veio ao ar em 1999, no Jornal Nacional, da Rede Globo de televião.
É notória a admirável dedicação da velha mestra, pois como deveriam ser difíceis os materiais didáticos, os quais, diferentemente da abundância atual, consistiam apenas em livros. E raros.
Didática moderna porque, segundo um dos seus alunos, hoje contador e ex-professor na UFRN, Otacílio Maurício Damasceno, “dona Mariinha jamais usou o terrível instrumento tão temido pelas crianças – a palmatória –, a qual servia para dar bolos nas crianças que erravam os deveres ou desobedeciam os professores”.
O trecho acima aspado foi retirado de um discurso feito por seu ilustre aluno, em 1999, na ocasião das homenagens alusivas à referida professora, tratadas logo no início deste texto. À época mandei emoldurar uma fotografia da mesma e o decreto que a nomeou como professora, em 1942.
A palmatória é um objeto plano, de pau, semelhante a uma escumadeira, com orifícios, usado para bater com força nas mãos de alunos desobedientes ou que errassem respostas. Segundo informações recebidas de pessoas idosas, os “bolos” (como se chamavam as batidas da palmatória nas mãos) eram tão fortes e incômodos que deixavam as mãos doloridas. As crianças ficavam soprando-as e com vontade de molhá-las para aliviar a dor.
Cabe aqui uma reflexão sobre a didática de ensino, pois, justamente as mãos da criança – que estavam em desenvolvimento físico e de coordenação motora – que deveriam receber todo o cuidado possível – eram espancadas através de um pedaço de pau, no qual, juntamente com terrível método, muitas vezes se incluiam o estado de espírito e as frustrações de muitos professores, onde o aluno era o "bode expiatório". Coitada das crianças dessa época!
O fato de dona Mariinha ter abolido o uso desse objeto inquisidor em suas aulas, deixa claro seu método inovador para a época, pois, conforme o sr. Otacílio, “dona Mariinha usava como arma, se assim podemos dizer, a palavra. A palavra mansa, clara, dita com segurança na hora certa. A palmatória da dona Mariinha foi a palavra. A palavra educada”.
O trecho acima foi retirado do discurso proferido por esse seu ex-aluno.
Em sua adolescência dona Mariinha gostava de andar a cavalo, e quando podia empreendia cavalgadas até a praia de Buzios, acompanhada pelo “pai adotivo” e pelas filhas deste. “A gente ia de jumentinho, subindo e descendo duna, comia frutas que encontrava pelo caminho. Ai que tempo bom!”, relembra a velha professora.
Já moça casou-se com o sr. José Henrique Dias, mestre de engenho de açucar, que era uma espécie de responsável pela organização de tudo o que acontecia num engenho durante o fabrico de açucar e melado. “Ele chefiava um grupo de trabalhadores, orientando as coisas que eles tinha que fazer para nada dar errado, nem queimar o açucar, nem deixar o mel amargo”, explica dona Marrinha.
Com ele dona Maria do Carmo teve 11 filhos, tendo morrido dois gêmeos. Generosa, adotou um menino quando esse ainda era criança.
De acordo com o Decreto Executivo nº 4, o prefeito José Dutra nomeou dona Maria do Carmo Bezerra Dias para exercer oficialmente o cargo de professora, em conformidade com o artigo 15, nº 1, do Decreto-lei nº 172, de 28 de outubro de 1942.
Agora remunerada dona Mariinha passou a ensinar gratuitamente a todos os que buscavam os seus ensinamentos.
O senhor José Henrique, segundo dona Mariinha, foi excelente esposo. Trabalhador e dedicado à família. Era muito religioso e devoto de Nossa Senhora do Ó.
Da mesma forma dona Mariinha sempre foi muito religiosa. Criada em lar católico, teve grande dedicação às coisas da igreja. Trabalhou muitos anos na Casa Paroquial, exercendo a função de cozinheira, a qual, como vimos, tinha grande domínio.
Prestou tais serviços no período compreendido entre 1953 a 1956, durante a administração do Cônego Rui Miranda (coincidentemente é o padre que recebeu os despojos de Nísia Floresta, em 1954).
Continuou tais atividades durante a atuação dos padres Armando de Paiva ( (1956 a 1958) e para o padre Antonio Barros (1966), o qual tornou-se futuramente monsenhor. Sempre foi respeitada por todos, graças ao seu espírito prestativo, de grande bondade e gentileza. Somado a isso herdou o jeito alegre da mãe, sabendo brincar na hora certa, quebrando protocolos com graciosidade encantadora.
Durante o período que o padre Rui Miranda atuou em Arês, cidade próxima, logo que saiu de Nísia Floresta, solicitou os trabalhos de dona Mariinha, a qual atendeu-o prontamente.
Trabalhou posteriormente na Cooperativa Popular Mista, localizada no Centro Pastoral Isabel Gondim, vinculada à Igreja Católica.
Dona Maria do Carmo Bezerra Dias não teve a intelectualidade de Nísia Floresta ou de Bráulio Tarquínio, mas, dentro da realidade provinciana da velha Papary, obteve grande destaque. É de se pensar que se essa mulher tivesse tido a oportunidade de ter estudado com mais profundidade, seja como auto-didata ou frequentado os bancos de uma universidade, com certeza teria dado vazão ao seu potencial intelectual e ajudado muita gente.
A autodidata foi professora compreendendo os anos de 1920 a 1970, encerrando seu ofício aos 65 anos, após 50
anos de dedicação ao magistério de Nísia Floresta, representando, pois,
uma figura exemplar e digna de ser homenageada e reverenciada na
passagem dos seus 105 anos.
A mesma vive até hoje na antiga casa nº, ou seja, na casa-escola, testemunha da formação intelectual de inúmeros nisiaflorestenses. Ali nasceu e cresceu a mais velha professora viva do município. Professora que serve de exemplo para tantos outros educadores atuais.
Nísia Floresta, maio de 2009
Luís Carlos Freire
A mesma vive até hoje na antiga casa nº, ou seja, na casa-escola, testemunha da formação intelectual de inúmeros nisiaflorestenses. Ali nasceu e cresceu a mais velha professora viva do município. Professora que serve de exemplo para tantos outros educadores atuais.
Nísia Floresta, maio de 2009
Luís Carlos Freire
JOÃO JOAQUIM DE SALLES E SILVA (tit. de 14 de julho de 1886 e AP. de 2 de fevereiro de 1893)
HELÁDIA RIBEIRO SAMPAIO (tit. de 3 de julho de 1886 e ap. de 27 de janeiro de 1893)
HELÁDIA RIBEIRO SAMPAIO (tit. de 3 de julho de 1886 e ap. de 27 de janeiro de 1893)
Professores
que serviram em 1892 e não foram aproveitados pela reforma, tendo-se
exonerado, ou ficando aposentados, jubilados ou em disponibilidade. Os
de Papary foram:
ALONSO ELÍZIO EMERENCIANO
MANUEL LAURENTINO FREIRE DE ALUSTAU (Piau)
MANOEL FERREIRA DE MESQUITA (ap. de 1º de fevereiro de 1893)
MANUEL LAURENTINO FREIRE DE ALUSTAU (Piau)
MANOEL FERREIRA DE MESQUITA (ap. de 1º de fevereiro de 1893)
THEREZA LUSTOZA DA SILVA E ARAÚJO (ap. 4 de fevereiro de 1895)
AURORA COSTA DE CARVALHO (dirigente) Isolada Masculina
ANNITA DE OLIVEIRA MONTEIRO (Isolada Feminina)
GRUPO ESCOLAR NYSIA FLORESTA – Decreto nº..........., de ....... de......... de 19....... (ver página 168 N. Lima).
ADÉLIA DA SILVA GURGEL (Lotada em Pirangy)
ANTONIO FÉLIX CANTALÍCIO
TRAJANO LEOCÁDIO DE MEDEIROS MURTA (Engenho Pavilhão)
CÂNDIDO FREIRE DE ALUSTAU NAVARRO ("Seu Candinho").
O
sr. Cândido Freire de Alustau Navarro era filho do Professor Manoel
Laurentino Freire de Alustau Navarro, o qual era médico homeopata. Sua
residência era construída exatamente defronte a entrada da rua da Palha,
ou Vila São João.
Ali
o "Seu Candinho" atendia a todos os que buscavam alento em seus
remédios caseiros, o qual passava dias, às vezes anos preparando certos
medicamentos. Foi uma figura extremamente agradável.
Em..............
durante a gestão do prefeito.....................................o seu
nome foi dado ao Posto de Saúde central, mas no mandato de George Nei
Ferreira a placa de homenagem foi arrancada e jogada fora, cuja
homenagem - tão bem pensada - foi ignorada em detrimento do nome de um
parente do citado prefeito - inclusive - uma parente desconhecida de
toda Nísia Floresta. "Seu Candinho" nasceu aos 13 de agosto de 1856, em
Papary. N.A. (Ainda não consegui maiores informações sobre o mesmo).
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