BREVE
HISTÓRICO DA PROFESSORA APARECIDA BASÍLIO
Por Luis
Carlos Freire
Podemos encontrar uma explicação bem fácil para entendermos a
história da professora Aparecida Sales servindo-nos da Santa Bíblia Sagrada,
quando ela traz as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele diz
“Vinde a mim as criancinhas!”.
Essa comparação se justifica no fato de a referida professora ter
vivido a maior parte da sua vida cercada de crianças, na condição de professora
do ensino infantil.
Essa história começou no ano de 1982,
quando sua amiga de infância, Soledade Araújo, conhecida como “Suli”,
reconhecendo o seu potencial, apresentou-a à professora Terezinha Leite, a qual
era secretária do ex-prefeito Almir da Silva Leite, ambos falecidos.
Nessa época existia um programa do Governo
Federal denominado MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, que era
voltado para a alfabetização de adolescentes e adultos, numa política
educacional exatamente igual ao EJA que conhecemos atualmente.
Esse programa, criado em 1967, ocorria por
meio de convênios com entidades públicas ou privadas. Foi extinto em 1985, e
substituído pela Fundação Educar, desativada no Governo Collor de Melo, em 1990.
O MOBRAL existiu sob forte influência da
Ditadura Militar, cuja professora Aparecida vivenciou seu auge no governo do
Presidente João Figueiredo, que era Major do Exército Brasileiro.
A Prefeitura Municipal de Nísia Floresta,
na pessoa do prefeito Almir da Silva Leite, estabeleceu esse convênio,
conseguindo que ele também fosse destinado às crianças de Nísia Floresta, numa
atitude inédita
A professora Terezinha, encantada com o
dinamismo da professora Aparecida, encaminhou-a à Secretaria Estadual de
Educação, submetendo a professora Aparecida a um treinamento de 15 dias, cuja
professora realizou com sucesso.
Em seguida ela retornou para o município já
para começar a trabalhar como professora de uma turma de crianças com idades
entre 4 a 5 anos, cujos pais estavam ansiosos para ver funcionar, pois se
tratava de um momento histórico, afinal era a primeira vez que a pré-escola
funcionaria em Nísia Floresta.
Naquela ocasião a senhora Lurdinha Guerra,
coordenadora do Mobral, enviou um documento ao prefeito Almir Leite, o qual
dizia: “Comunico que o trabalho do MOBRAL do RN foi contemplado com um
prêmio internacional da UNESCO, e agradeço pelo apoio recebido do município de
Nísia Floresta, o qual contribuiu para essa grandiosa vitória”,
Naquela época não existiam tantos programas
educacionais como hoje. Os recursos eram escassos e tudo acontecia com grandes
dificuldades.
E foi assim que ela começou, pois o prédio
destinado às aulas – o Centro Pastoral Isabel Gondim – não tinha a mínima
infra-estrutura. Não havia água encanada, nem móveis. Mas Aparecida não fez
disso um problema. Reuniu todos os pais, expôs os problemas e recebeu apoio de
todos.
A partir daí passaram a ocorrer várias
reuniões. Todas muito proveitosas e com resultados surpreendentes.
Naquela época as pessoas demonstravam um
maior grau de voluntariado, pois, sem nenhuma reclamação, todos abraçaram a
causa com muito amor.
Cada pai trouxe o que podia: filtro para água,
um fogão de lata movido a carvão, bacias, vassouras etc. Resolveram o problema
da água, conseguindo improvisar uma mangueira que vinha da CAERN.
Houve o acordo para cada criança trazer um
prato, um copo, uma colher e o seu lanche.
Como a turma era grande foi decidido que
cada dia uma mãe daria expediente como auxiliar, numa espécie de estagiária.
Posteriormente os próprios pais decidiram que uma das mães, a senhora Adélia
(hoje falecida) ficaria de forma fixa, e seria remunerada pelos demais pais, os
quais fariam uma cota mensal. Infelizmente, devido às condições financeiras dos
pais, eles findavam não conseguindo pagá-la todos os meses.
Interessante era que a senhora Adélia, mãe
da aluna Janiere, jamais fez qualquer juízo de valor dessa situação, pois nunca
faltava e trabalhava com grande dedicação, sempre alegre, extrovertida e
atenciosa com as crianças.
Ao contrário do
Regime Militar que vigorava na época, a professora Aparecida, de forma bastante
democrática, pediu que os pais sugerissem nomes para a escola, a qual foi
denominada “Chapeuzinho Vermelho”.
Para obter
melhores resultados a professora Aparecida serviu-se de uma criatividade fora
do comum, mas, sem quere, acabou se tornando uma espécie de precursora no uso
de materiais reaproveitáveis – tão na moda atualmente - pois, de forma
lúdica, servia-se de tudo o que poderia ser jogado no lixo: caixas de ovos,
latas de conservas, vasilhames de margarina, palitos de fósforos, caixas de
papelão, tampinhas de garrafa, sementes, macarrão, cola de goma e outros
materiais.
A Praça Coronel
José de Araújo, que na época não tinha o modelo atual, passou a ser
praticamente uma extensão do Centro Pastoral Isabel Gondim, pois ali as
crianças passavam horas a fio, cantando músicas educativas, canções
tradicionais do folclore brasileiro, e várias músicas inventadas pela própria
professora. Uma das atividades que as crianças adoravam era desenhar na areia
com pequenos gravetos.
Com o passar do
tempo os pais perceberam os avanços no aprendizado dos alunos e resolveram
investir mais. Desse modo conseguiram mesinhas e bancos para as crianças e para
a professora, baldes e panelas grandes, um armário e um fogão à gás.
Os pais eram
muito dedicados e participativos. Não mediam esforços para fazer festas com
direito a escolha do rei e da rainha, com venda de votos e comes-e-bebes. Toda
a arrecadação das festinhas eram revertidas em prol do patrimônio da escolinha.
Um dos reis
dessas festinhas foi José Roberto, e uma das rainhas foi Clézia de Araújo, a
Nildinha, que reside atualmente em São Paulo.
A escolinha
“Chapeuzinho Vermelho” era uma escola feliz, amada e respeitada por todos.
Certo dia uma
encomenda dos Correios mudou a história dessa escola. Várias caixas chegaram,
destinadas pelo Ministério da Educação.
Ao serem abertas
a professora Aparecida foi às lágrimas. Eram materiais didáticos e pedagógicos:
cola, papel ofício, lápis de cor, giz de cera, lápis grafite, régua, borracha,
tinta guache, massa de modelar, pincéis, papel crepom, tesoura, barbante,
pegador, livrinhos de historinhas e diversos jogos educativos.
Foi um presente que emocionou a todos e foi
notícia na cidade inteira. A alegria das crianças não tinha fim. Era vista no
brilho dos olhos de cada um, os quais recebiam o material como se fosse algo do
outro mundo, com um valor inestimável. Havia um zelo especial por parte da
escola, dos alunos e dos pais.
No decorrer da existência dessa escolinha
tão feliz o seu funcionamento deu-se em outros prédios, como a casa de força,
na rua da Bica, a qual abrigava o velho motor desativado, que por muitos anos
abasteceu de energia elétrica todo o município.
Depois foi para o prédio onde atualmente
funciona a Secretaria Municipal de Ação Social. Posteriormente funcionou numa
sala cedida pela Escola Municipal Yayá Paiva.
Durante toda a trajetória educacional da
professora Aparecida ela teve o senhor Almir da Silva Leite como seu grande
incentivador e apoiador. O ex-prefeito sempre visitava a escola para saber se
tudo caminhava bem, pois tinha uma atenção especial às crianças.
Muitas vezes tirava dinheiro do seu próprio
bolso para arcar com despesas da instituição e sempre apoiou todos os eventos
dessa escola.
Um dia, tocado pelas constantes
improvisações e mudanças de prédio, resolveu empreender todos os esforços
possíveis para reverter esse quadro. Foi ao Governo do estado. Viajou a
Brasília e conseguiu um grande presente cujos pais não acreditavam: a escola
teria prédio próprio.
E foi assim que, onde atualmente se
encontra o prédio da Escola Municipal Maria Dolores Regina de Macedo Leite, foi
erguido um prédio que recebeu o nome Escola “Chapeuzinho Vermelho”.
A alegria se redobrou durante muito tempo
nessa instituição. E nessa escola, juntamente com as crianças que Deus lhe
enviou, ela encerrou suas atividades, sendo aposentada no ano de
...............
Desde muito tempo a professora Aparecida
sonhou reunir seus alunos para esse que é um dos mais importantes da sua vida,
pois ela não viu outro lugar mais especial para agradecer a Deus e a Virgem
Maria como a casa de Deus. A casa de Nossa Senhora do Ó. Ela agradece a essas
divindades por ter coroado de êxito a sua missão de educadora. Num tempo que as
coisas não eram tão abundantes como hoje, mas que o amor das famílias e as
bênçãos do Céu sempre estiveram, ao seu favor, fazendo com que tudo desse certo.
Aparecida Basílio, essa nisiaflorestense
abnegada, foi a primeira professora do ensino infantil de Nísia Floresta e será
sempre lembrada por sua trajetória de amor à educação.
Que Deus possa abençoá-la juntamente com
todos os seus ex-alunos e com os pais dos mesmos, pois foram peças
importantíssimas para o sucesso da sua trajetória.
Quando Jesus disse “Vinde a mim as
criancinhas”, à luz da exegese bíblica, ele quis dizer: “que todos os adultos
amparem as crianças e as ensinem o caminho do cristianismo, que é o caminho do
amor. Protejam as crianças e eduque-as para que o mundo seja cada vez melhor.
Nunca deixem uma criança desamparada”.
Foi com esse entendimento que a professora
Aparecida Basílio trabalho a vida inteira.
É por isso que Nísia Floresta deve a essa
professora o seu respeito e a sua gratidão, pois a missão de educadora é uma
das mais lindas, mas não deixa de ser uma das mais árduas. E não existe
profissional que não tenha passado pelas mãos de um professor.
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