Há muitos anos os padres Capuchinhos
aportaram em Papari com o objetivo de evangelizar os índios aldeados nas
vilas de São José do Rio Grande (hoje Mipibu) e Papari (hoje Nísia
Floresta) que, fazendo jus ao nome, era uma região de floresta
intransponível, berço de algumas casinhas de palha e taipa onde
atualmente se localiza o centro da cidade. Nos pontos mais distantes
ficavam poucas casas que findaram originando os atuais
distritos e povoados como Alcaçuz, Cururu, Porto Búzios e outros.
Papari era um grande vale
permeado de lagoas piscosas de água doce, emoldurada de gigantescas
árvores, abrigando uma multiplicidade de animais. Os frades
percorriam longos caminhos abertos a facão. As viagens eram difíceis
e feitas em lombos de jumentos. Eles também
serviam-se de um carro de boi da irmandade, pois algumas vezes
levavam materiais para as capelas, como por exemplo, pequenos sinos,
bancos, cestos, potes de barro, altares de madeira e outros
assessórios. As pesadas carroças venciam lentamente rios, pauls,
dunas, morros, lagoas e pedregulhos até chegar ao destino.
Contavam
os mais velhos que a léguas de distância era possível ouvir o
ranger das rodas de madeira, cujo som lembrava
um clamor triste, parecido
com choro. Desse modo
os frades Capuchinhos se anunciavam, permitindo
aos
fiéis se organizar
para acolhê-los.
A grande novidade dos
pequenos povoados era exatamente
a chegada de alguém. A visita dos capuchinhos destoava sempre, tendo
em vista que usavam um roupão marrom com capuz e
o característico
cavanhaque e careca no centro da cabeça.
Próximo
à lagoa Papebinha existia uma capelinha de palha, onde eram
celebradas missas para os índios aldeados naquela proximidade. A
referida lagoa era muito funda. O assoreamento deu-se
muitos anos depois, em virtude do corte de sua mata
ciliar, substituída por roças.
Certo
dia um velho Capuchinho montou uma junta com vários bois para fazer o trajeto do centro de Papari até a capelinha, acompanhado
de alguns sacristões.
Junto trouxeram um sino.
Após
mais ou menos uma hora de viagem rasgando
as pequenas veredas, deram
de cara com a lagoa Papebinha.
Era
comum aproveitarem
as margens da lagoa como estrada. Naqueles
dias havia chovido muito e o volume de água emendava-se com a mata, impedindo-os de ver o caminho.
Eles não se intimidaram, pois era possível se guiar pelas árvores
que emolduravam a lagoa, desse modo encetaram marcha bem devagarinho.
Como
se sabe, carro de boi é um veículo muito pesado, pois é todo de
madeira maciça e ferro. Num dado momento alguns bois começaram a beber
água. Estavam cansados e sedentos devido a subida que haviam acabado
de vencer. Logo adentraram nas águas mais profundas, fazendo com que
o carro de boi adernasse para o lado de dentro da lagoa. Naquele instante chovia muito. Amedrontado,
o Capuchinho começou a
açoitar a junta de bois, para que tomassem a direção da mata, mas o movimento assustou os animais. Ao invés de
investirem para as margens, avançaram para a lagoa e o pesado carro
desceu de uma vez para as profundezas. Como
já foi dito, o veículo era muito pesado e a carga agigantou o peso,
arrastando-os para o leito em fração de segundos. O
episódio aconteceu exatamente às dezoito horas, inclusive já
estava escuro.
Nenhum dos viajantes sabiam nadar, portanto deslizaram todos para o leito da lagoa. Ninguém nunca soube explicar o paradeiro do padre Capuchinho, nem de seus coroinhas. Sumiram sem deixar pista alguma. Apenas um indígena viu a cena, mas ninguém lhe deu crédito, afinal os condutores eram muito experientes. Até disseram que eles foram comidos por canibais. A história comoveu a todos, mas acabou sendo esquecida. Com o passar do tempo os
poucos moradores das proximidades da lagoa Papebinha passaram a ouvir um badalar de sino, e
em seguida surgia a voz do sacerdote celebrando missa. O
som era tão perfeito que alguns se arrumavam para o evento, embora
não compreendiam de onde vinha o bimbalhar. Mas ao chegarem à
capela encontravam-na vazia, e o sino, como se sabe, sequer teve o
gosto de ser instalado. Logo
foram percebendo que se tratava de um malassombro. Era a alma do
Capuchinho e dos sacristãos. O sino havia se encantado. O tempo continuou passando, a lagoa Papebinha tornou-se cercada por sítios com casas e outras estradas foram rasgadas por ali. Mas até hoje os mais velhos contam que escutam o malassombro exatamente às seis horas da tarde. Por esse motivo existe o hábito de acender uma vela em louvor às almas dos religiosos ali afogados, e isso se dá exatamente na hora do Angelus. L.C.F. agosto de 1994.
eu moro perto da papebimha seus antos
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