Parnamirim fica aqui próxima a Natal, aliás, tão imiscuída a Natal que parece ser Natal, e Natal parece ser Parnamirim. Quem vai e vem passa por um longo percurso que deveria se chamar "Parnatal". Não fosse o invisível Pitimbu ninguém saberia ser o ponto limítrofe. Não existe os brasiguaios? Então existem os parnatalenses! Pois bem, neologismos e topônimos à parte não importa. Importa descortinarmos a História e os espaços de Memória que se "escondem" nesse itinerário como tesouros "perdidos", invisíveis pela velocidade dos automóveis e a velocidade de como nos esquecemos o que é nosso.
Sabe-se, pela imprensa, que na Base Norte de Parnamirim/RN existe o Museu Jean Mermoz. Mas, inexplicavelmente, é para inglês ver, ou melhor, para ninguém ver. Os prédios, históricos, aliás, os mais antigos de Parnamirim depois dos engenhos, não são zelados - são ignorados - e, a julgar pelo aspecto em que se encontram, certamente desaparecerão como muitos prédios históricos da Base Aérea, demolidos sem justificativa e tantos aqui mesmo em Natal.
Na realidade não existe justificativa para depredação do patrimônio histórico, mas parece que muitas autoridades - amparadas por uma população que ignora seus tesouros - tornam-se responsáveis pelo desaparecimento de sua História. É lamentável que Parnamirim assista a isso em silêncio.
Visitando os prédios mostrados nas fotografias, do lado de fora da cerca, dá-se a impressão de estar-se na "Casa de Usher". O mato reivindica o seu espaço e parece que ninguém se lembra que ali se hospedou Jean Mermoz, Paul Vachet, Amélia Earhart, dentre outros aviadores. E na década de 50 essas edificações abrigaram os primeiros passos da educação em Parnamirim, num tempo em que ainda não existiam os prédios escolares.
Esses espaços têm importância superior ao que se pensa, pois interessa não só a Parnamirim, não só ao Estado, não só ao Brasil, mas ao Mundo, pois quando a aviação era um bebê de fraldas, cujos primeiros pássaros de lata sobrevoavam São Paulo, Rio de Janeiro e Belo horizonte, pouco depois Parnamirim foi berço, foi ninho dessas aves "extra-terrestres". Que pena que muitos não dão o devido valor. Pelo menos é o que as aparências e evidências estampam.
E tem mais: ali está o primeiro Hangar de Parnamirim. Construído pelos franceses (fotografia abaixo). Vejam como precisamos rever as coisas, aliás, o patrimônio histórico do país.
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Acervo BANT |
Ontem, visitando-os do lado de fora, senti um grande incômodo vê-los semi-abandonados. É simplesmente inacreditável que deem a tais edifícios esse tratamento desprezível, como se não tivessem tanta significação para a História do Brasil.
Às vezes penso que esse pequeno conjunto histórico é terra de ninguém - não digo isso como provocação nem como ofensa. É porque observo que os militares que comandam esse espaço estão sempre de passagem. Não são daqui e parecem não se interessar em conhecer a história desse quintal quase desconhecido por eles mesmos pelo fato de estar muito colado com a cidade em si. O resultado é o que se vê.
Educação é o primeiro passo para o necessário pertencimento. As escolas devem trabalhar vivamente o assunto patrimônio histórico. Faltam a esse espaço um projeto museológico, políticas públicas. Falta pertencimento. As pessoas, os estudantes, enfim o povo precisa visitá-lo, conhecê-lo, enaltecê-lo... Temo que isso possa, a qualquer hora, dependendo da falta de conhecimento dos gestores militares, desaparecer. L.C.F.2018.
E você, o que tem a dizer?!!!
Essa fotografia entra apenas como complemento, pois faz parte da CBTU, que já foi RFFESA e, nos primóridios Great Western Raweil Cia (1880)
Nos próximos dias
estarei explicando as fotografias abaixo
Essa fotografia, graças ao saudoso Protásio de Melo, é o único registro imagético dos primórdios do "campo de Parnamirim", cuja data é suposta como sendo 1929, o que é bastante provável. O aspecto formal dos homens faz-nos supor tratar-se de alguma inauguração, cerimônia, pedra fundamental, algo assim. Certamente ali estão autoridades do Estado, militares e aviadores. Vê-se, ao centro, o governador José Augusto Bezerra de Medeiros, ladeado pelo capitão Luiz Tavares Guerreiro, Dr. Alberto Roselli e o Dr. Décio Fonseca.
Os aviadores Costes e Le Brix sendo recebido por autoridades locais. Fotografia oriunda do livro de Paulo Viveiros.Os pioneiros pilotos a pousar um avião no campo de pouso de Parnamirim: Dieudonné Costes e Joseph Le Brix. O fenômeno deu-se às 23 horas e quarenta e cinco minutos do dia 14 de outubro de 1929. Imagem de Leonardo Barata.
Primeira construção erguida em Parnamirim, no "Campo dos Franceses". Era alojamento dos pilotos, depois Base Militar e estação de Rádio. Fotografia de A. Amaral.
Antigo portão de acesso ao "Campo dos Franceses", na lateral do portão da Base Oeste. É um projeto de museu idealizado pelo sargento Adeodato Reis, década de 1980, objetivando preservar as primeiras edificações e a memória de Parnamirim. Atualmente está semi-abandonado e em situação crítica.
A casa que por inúmeras vezes abrigou Jean Mermoz, herói da aviação francesa, que posteriormente serviu como rádio, cujas torres laterais são visíveis, além de um avião em decolagem. Fotografia de 1930. Hoje a casinha, apesar de intacta, está abandonada e consumida pelo mato.
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Observe à direita, em último plano, a casa onde ficavam os pilotos franceses. |
Jean Mermoz, pioneiro nos voos ligando a Europa à África e o Brasil. Durante alguns anos Parnamirim foi berço de seus voos.
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Jornal pernambucano anunciando a chegada de Amélia Earhart |
Jornal natalense anunciando a chegada de Amélia Earhart
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Jornal natalense anunciando a chegada de Amélia Earhart |
O português Manoel Machado, que doou o terreno onde se encontra a Base Aérea. |
Paul Vachet, piloto francês que pousou algumas vezes em Parnamirim. |
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Entrada do Museu Jean Mermoz, defronte à estação da CBTU/Parnamirim (foto não recente) |
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Americanos comendo doce enlatado, iguaria desconhecida em nossa região. Essa fotografia foi feita na varanda da casa onde ficavam os pilotos franceses e se encontra intacta. É o Museu Jean Mermoz. |
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Amelia Earhart acompanhada de alguns potiguares em Natal |
Eu havia escrito esse texto há 20 dias, a contar a partir da data da postagem quando, retornando ao Museu Jean Mermoz, tive a surpresa de vê-lo capinado e o muro pintado. Não sei se foi por causa dessa postagem ou porque perceberam que a situação estava realmente crítica. Mas seja o que for, valeu a pena. Confira as imagens abaixo, feitas dia 17 de maio de 2018, quarta-feira.
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