ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

TREINAMENTO DOS PILOTOS BRASILEIROS EM ORLANDO, FLÓRIDA - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (1943-1944)



Como sabemos, não somos um país beligerante. Guerreamos contra o Paraguai, mas é uma história tão triste que é melhor ficarmos quietos. A nossa participação na Itália - como Força Expedicionária Brasileira - foi uma guerra em que fomos tomados emprestados para brigar pelos outros. E ainda bem que os nossos soldados foram vitoriosos, peças importantes para a vitória. Essa história precisa ser contada nas escolas, pois temos os herois.



Lucramos a Usina Nuclear no Rio de Janeiro, prédios, veículos, maquinários e equipamentos em Natal e Parnamirim, Rio Grande do Norte, influências culturais e, para muitos, foi bom enquanto durou. A presença dos Estados Unidos também aconteceu no Pará não se limitava a um único local. Havia uma rede de bases militares e instalações aéreas espalhadas pela região, incluindo Belém e outras cidades. Mas vamos ao que importa... 


Durante a Segunda Guerra Mundial, o treinamento dos pilotos brasileiros foi uma jornada que combinou experiências no Brasil e nos Estados Unidos. Eles aprenderam a pilotar aviões como o Curtiss P-40 e o P-47 Thunderbolt, além de terem acesso a técnicas modernas de instrução. A Força Aérea Brasileira (FAB) formou 558 oficiais aviadores no Brasil e também promoveu a formação de mais de 281 oficiais da reserva nos Estados Unidos.


O início do treinamento aconteceu no Brasil, onde os pilotos começaram pilotando aviões de caça Curtiss P-40. Além disso, a Aviação de Patrulha também teve seu papel, operando aviões como o PBY-5 "Catalinas" e o A-28 "Hudsons". Para fortalecer a força, a FAB criou diversas esquadrilhas, como o 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA), fundado em 1943 para atuar na Itália.


Depois, os pilotos brasileiros tiveram a oportunidade de fazer um treinamento mais avançado, com acesso a sistemas e técnicas modernas, muitas vezes separados dos grupos americanos para um preparo mais específico. O foco em aviões de caça, especialmente o P-47 Thunderbolt, foi fundamental para prepará-los para as missões de combate na Itália. Além disso, houve um intercâmbio de experiências, onde os pilotos brasileiros aprenderam técnicas de sobrevivência na selva e participaram de voos de combate, fortalecendo suas habilidades e conhecimentos.


O 1º GAVCA destacou-se na campanha na Itália, realizando 682 missões de guerra e ajudando a coordenar o tiro de artilharia da FEB. Esses pilotos participaram ativamente dos combates, enfrentando perigos e, infelizmente, alguns foram abatidos pela artilharia inimiga. Um exemplo de coragem é o tenente Danilo Moura, que, após seu avião ser abatido, caminhou impressionantes 386 km.


A bravura e o esforço desses pilotos brasileiros foram reconhecidos ao longo do tempo. Uma celebração especial foi feita pelos 75 anos da participação da FAB na Segunda Guerra Mundial, com um símbolo comemorativo que homenageia essa história de coragem e dedicação.




terça-feira, 3 de junho de 2025

UM AMIGO SE AFASTOU DE VOCÊ?


Na vida tudo pode acontecer, inclusive amigos desaparecerem, dissipando-se no tempo. Ou “amigos”, não sei… mas alguém que você conhece no mundo real ou 'internético': amigo, conhecido, colega, alguém que, de alguma forma você se comunica ao longo do ano - e, de repente lhe vem um pensamento involuntário… uma espécie de insight… cadê fulana? cadê fulano? A pessoa sumiu. Você nunca mais viu nem falou com a pessoa. Desapareceu até dos contatos que eventualmente tinha com você no facebook. Cadê-la?

Essa experiência é muito comum e não significa que o motivo seja o mais provável. Pode ser mera casualidade. A pessoa “desapareceu” dos holofotes da vida por ter se mudado de cidade, país, por estar muito ocupada com projetos pessoais e quer ficar quieta, dar um tempo na vida social, algo muito íntimo e não necessariamente significa hostilidade às pessoas do convívio.

Pois bem, pode ser isso, mas não é regra. Às vezes algum amigo ou conhecido desaparece por ter sido provocado a desaparecer. Mas como? Dias desses, numa longa conversa com uma psicóloga, amiga de infância, ela discorria sobre relacionamento humano e questões de ciúmes, inveja, traição, injustiças e outros comportamentos afins e que também podem partir dos “amigos”.

Um amigo – ou alguém visto como amigo – pode “desaparecer” sem maldade alguma, depois você o reencontra e acontece a mesma química, a pessoa traz a mesma aura. Maravilha! Mas há o amigo ou a amiga que se afasta de você por indicação de inimigos ou inimigos gratuitos que você tem e não sabe.

Há pessoas que dizem “eu não tenho inimigos”. Que bom, mas não é regra . Normalmente quem diz isso está enganado ou negando a verdade. A vida de quem vive em sociedade é permeada de conflitos normais, saudáveis e parte das relações humanas. Nossas diferenças diversas permitem divergirmos de opiniões, de fazeres, de decisões, de posturas, de atitudes etc.

O ato de divergir não prediz inimizade, até porque pessoas civilizadas têm empatia. Seria anti-civilizado – por exemplo – tornar-me inimigo de alguém por ter achado belíssima a capa de um livro, sugerido que a amiga escolhesse aquela arte e ela escolheu outra. Isso é imaturidade e tentativa de controle sobre os outros. Chato, mas é tolerável, afinal nasceu uma inimizade simplesmente por causa de um livro. Ninguém maculou ninguém. Não houve danos à moral da pessoa. Não se julgou a pessoa pelas costas pelo simples dar ouvidos aos inimigos dela. Não se colocou em cheque caráter do outro.

Pessoa que lhe deseja o mal, que não gosta de você, que é capaz de lhe fulminar com energias ruins, gratuitamente, lhe dão autoridade – e legitimidade – para que você diga com todas as letras “tenho inimigos, sim”, sem hipocrisias. Quem quer estar ao lado de pessoas duvidosas, diabólicas disfarçadas de anjos?

O grande conflito (olha eu aqui dando uma de Helen White!), é quando alguém lhe detesta porque involuntariamente vida lhe envolveu numa situação em que você tem como provar por documento e testemunha, que essa pessoa é uma terrível mau caráter, e como ela não tem como lhe riscar do mapa, ela tenta afastar os outros de você. Gente assim é uma espécie de sociopata/psicopata. Gente que se esconde atrás da máscara de pessoa respeitável - sendo perigosa criatura. Tão amoral que chega a ser imoral. Aí a história é outra.

Esses seres existem. Não pense que sociopata/psicopata é apenas quem mata outra pessoa e se mascara para bem viver em sociedade. Há muitos tipos de sociopatas/psicopatas, conforme a obra “Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado”, da especialista Ana Beatriz Barbosa da Silva e tantos outros autores.

Psicopatas e sociopatas estão em todos os espaços e são capazes de – secretamente – praticar atrocidades contra você, como denegri-lo, caluniá-lo para amigos que lhe valorizam e o respeitam. Essas pessoas puxam tapetes, enganam, mentem, afastam amigos, criam contendas e saem como se nada tivesse feito. Elas constroem em torno de si uma redoma protetiva de pessoa boazinha, que veio da pobreza, que passou fome, que a mãe traia o pai, que sofreu muito, enfim inventas estórias sofridas para provocar piedade nos outros e, automaticamente preferência nos ambientes em que visa estar inserida. Sua tática é estar articulada, pois dando errado aqui, dará certo ali. E assim ela vai ocupando postos para se projetar e alargar o seu campo de aparente pessoa do bem.

Essa pessoa vive num eterno e falso doutorado de destruir a imagem de quem atravessar o seu caminho e desnudá-la, pois é tão forte e revoltante nela saber que você – diferente da grande maioria – consegue enxergá-la por dentro - ver o seu veneno de naja – que a única arma dela é tentar lhe ofuscar. Ela sabe que você sabe que ela é ladra, que se apossou de algo precioso e alheio, que já falsificou documentos institucionais - e você descobriu - e por isso ela não conseguiu te enganar, restando ela tentar afastar de ti pessoas de bem, pois é exatamente dessas pessoas que ela se aproxima para se projetar e se proteger, portanto você é a grande ameaça que derrubará sua máscara. Ela usa a psicopatia dela como defesa, ou seja, ela lhe denigre para que teus amigos se afastem de ti e não sejam avisados do perigo que ela é para os outros.

O que essas sociopatas/psicopatas não contam é que o tempo se encarrega de derrubar as máscaras lentamente. Ela certamente o subestima, supondo que você – por sua diplomacia e respeitabilidade – jamais revelaria os acervos físicos e informações que são como bombas contra a mesma. Ela comete um deslize aqui, outro ali e a máscara cai. Ela foge de um lugar onde comete um vacilo e cai em outro lugar onde repetirá com o passar do tempo. E o número de pessoas que descobre quem é ela vai aumentando gradualmente.

O mais providencial nessa história é quando alguém que passou dois anos “desaparecido” o procura para contar a razão do desaparecimento, e lhe conta que se deixou levar por tal sociopata/psicopata, mas descobriu quem é tal pessoa e os estragos que ela fez em outros lugares e com outras pessoas.

Meu pai sempre dizia que se alguém se afastar de nós em consequência de calúnia de alguém que temos como amigo, devemos deixar o tempo resolver. E quando a pessoa retornar, arrependida, devemos nos dar o direito de escolher se queremos resgatar a amizade ou não, afinal quem vai na cabeça de sociopatas/psicopatas não merece apreço e respeito de ninguém. QUANDO CONHECEMOS ALGUÉM VERDADEIRAMENTE DO BEM, O DEFENDEMOS PERANTE O QUE QUER QUE SEJA, PORTANTO RECOMENDO A QUEM SE DEIXA LEVAR POR SOCIOPATAS/PSICOPATAS, QUE DÊ O DESPREZO À MESMA.

Quem dá ouvidos a uma sociopata/psicopata que denigre um amigo querido ou se afasta de um amigo por indicação de alguém, sem nunca ter recebido injustiça desse amigo e tendo certeza de sua decência - mas que se permitiu acreditar numa calúnia - é sinal de que você também tem um mau caráter. Gente boa não se deixa persuadir por seres desse tipo.

Meu pai também dizia que se alguém chegar a você para denegrir um amigo, encontre uma forma de desviar o assunto e fingir que não está entendendo. Prefira observar mais o amigo. Prefira descobrir se é verdade, se é mentira, se é fruto de inveja, traição ou, pior, obra de um sociopata/psicopata. Observe.

No meu caso, quando alguém “desaparece” não acho nada estranho. É normal. Mas quando alguém "desaparece" e, para a minha surpresa, passo a vê-lo de braços dados com uma psicopata – por pessoa que não tenho receio de dizer "essa é minha inimiga" - por exemplo – e vejo esse tal "amigo" enaltecendo-a, bendizendo-a, passo a considerá-lo um inimigo – quero distância – tal comportamento me serve de termômetro, pois quando você precaveu a pessoa – mostrou provas – sobre tal sociopata/psicopata e, surpreendentemente o vê com ela constantemente, sem que isso fosse normal anteriormente, com certeza essa pessoa também tem dentro de si algo de sociopata/psicopata, ou até de pedófilo e algo pútredo tanto quanto.

O tempo tem feito chegar às minhas mãos informações sobre tais seres. E o melhor de tudo é quando um amigo “desaparecido” lhe procura para pedir perdão e contar que viu a face horrorosa desse ser sem máscara. É quando é reforçado em você o sentimento de desprezo a tal criatura, pois mais feia que sua horripilante cara, é sua máscara. Inimigos existem, sim.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

LITERATURA: PARA QUÊ E PARA QUEM ?

 


O fenômeno das redes sociais tem despertado uma espécie de patologia em boa parte dos internautas/leitores. A síndrome se manifesta no comportamento de ler textos rápidos e com escrita fácil. Os leitores não vão adiante quando o texto passa de dez centímetros. As pessoas não querem ler muito e não assistem a vídeos que passam de dez minutos. O encantamento de se ter o mundo diante dos olhos desperta uma pressa injustificável. O internauta quer ler/ver assistir o maior número de coisas e com rapidez. Esse fenômeno faz com que muitos não leiam/assistam produções/obras de qualidade, presos ao banal e fútil. Uma parte considerável da juventude está propensa ao vazio na música, na literatura, na arte etc.


Observo que o preocupante sintoma tem saltado da internet e caído no colo da Literatura com força. Tenho a impressão de que escrever uma narrativa tradicional nos tempos atuais tem ficado cada vez mais difícil e por incrível que pareça, artificial, obrigando o escritor a ir além da superficialidade do discurso literário. É algo parecido com “se reinventar” para agradar um público/leitor em decadência, principalmente o público jovem. Aí reside o desafio/problema/perigo, pois já vemos escritores nem tão escritores que perceberam isso e escolheram atender justamente a esse público equivocado, visando vender mais enquanto o escritor real fica para trás porque prioriza qualidade em todos os detalhes, inclusive na palavra.


Na realidade, além do fator “leitor apressado”, há outros fatores, como o problema da comunicação entre a obra e o público. O desafio de quem escreve é o de comunicar a incapacidade de expressar-se nos seus textos, pois a estética pós-moderna não aceita mais um escritor que explica tudo. Muitos autores trocaram a escrita que deixa subentendido, que diz sem dizer, que sugere, que divaga, que leva o leitor ao pensar, que sai do lugar-comum. A escrita fútil - na contramão disso - prendeu o leitor ao óbvio, entregando tudo mastigado. A metáfora, a poesia, a descrição, a discrição e uma série de considerações que deveriam ser prioridade ao escritor – como forma de arte literária – foram abortadas para atender leitores apressados, contaminados pelas mídias.


Outro imbróglio que trava até mesmo a capacidade criadora do autor - que se torna um impasse da narrativa contemporânea - é a dependência do escritor diante do mercado da editoração. A Editora Sextante, por exemplo, priorizava clássicos da literatura. Hoje só publica autoajuda. Há editores que não arriscam se o autor não estiver contaminado pelo fútil. Ele entendem que o autor deve escrever algo que lembre/pareça com algo. “Escreva algo que lembre Harry Potter”, “Pegue um gancho em alguma coisa de Nárnia”…

As próprias capas das obras lembram essas coisas cinzas da Europa.

Fazer algo que pareça ter vindo do way of life dos Estados Unidos, da Inglaterra etc parece sucesso garantido. Não importa o banal, o fútil.


Sinto falta de ouvir gente dizendo: "Poxa! Sua obra faz a diferença”.


Muitos editores pecam por escantear autores em que os alicerces se assentam no tradicional, não necessariamente reproduzindo a estrutura do cânone literário, nem sendo retrógrado, prolixo, mas se aproximando do imaginário dos clássicos europeus e latino americanos. Autores com substância, alicerçados numa vasta bagagem literária. Tenho observado muito isso e não acredito estar enganado. É uma prática cada vez mais comum, MAS NÃO É GENERALIZADA E AINDA BEM!


Todo autor é feito de autores, de quintais, de mundos, de planetas imaginários e reais. Creio que nos faltam - ou que seguem desconhecidos/desvalorizados - grandes autores em quase todos os estados do Brasil, e a responsabilidade está nessas visões deturpadas, contaminadas pelo padrão mercadológico e industrial dos simulacros dos simulacros das cópias das cópias.


E os autores regionais? Piorou!


Ser regional não é defeito, é uma constante mediação entre o particular e o todo, pois no regionalismo está implícito questões universais, afinal o homem objeto de toda escrita. Não existe escrita sem homens. No regionalismo reside a Filosofia. No estado onde nasci, Mato Grosso do Sul, por exemplo, temos Hélio Serejo, um monstro literário digno de ser universal, mas desconhecido até no próprio estado como aqui no RN são desconhecidos alguns autores que não mereciam.


No Rio Grande do Norte, por exemplo, quando releio “Chão dos Simples”, obra prima do Rio Grande do Norte, embora escrita há mais de meio século, mas publicada há 31 anos, encontro sertanejos simples, mas que não diferem de ninguém em qualquer parte do mundo, pois são universais. Para desvelar esse mundo extraordinário criado pelo autor Manoel Onofre Jr. é preciso adentrarmos o mistério cósmico ao qual ele se refere. Esse mistério nos cerca, e o sentimos, e Manoel Onofre traz à tona através da geografia do sertão e da alma tosca do sertanejo d'outrora, tipos humanos que despreocupados com o raciocínio lógico, são propensos a toda espécie de impulsos vagos, premonições, crendices, hipocrisias religiosas, espertezas, caritós, alimárias, maldades, inocência, agruras da seca, cangaço, folclore, o mundo onírico… até mesmo o romanceiro ibérico ou uma versão sertaneja de Joãozinho e Maria passeiam na obra. É o sertanejo, habitante distante da nossa civilização urbana e niveladora. São homens e mulheres com o espírito aberto por vezes ao fantástico, ao extraordinário, ao milagre, e são elas que decifram o “Chão dos Simples”, obra que conduz o leitor ao lado misterioso da existência, revelando que a natureza e a própria existência transmite inúmeros recados aos homens. Pressentimentos, revelações, sonhos, pesadelos, sinas, mensageiros que transmitem aquilo que precisamos ouvir, ou a resposta para coisas que pensamos não terem resposta, mensagens que, se ouvidas, podem mudar os destinos de cada um. Tristezas e situações hilárias pautam Chão dos simples. Como não dizer que isso não é literatura universal se trazem um gigantismo filosófico? O próprio e genial Guimarães Rosa escreveu que “o sertão é o mundo”.


Pois bem, isso é um exemplo dentre tantos escritores potiguares excepcionais, como os atuais Pablo Capistrano, Nivaldete Ferreira, Ana Cláudia Trigueiro, Marize Castro, enfim, o Rio Grande do Norte tem referências literárias de qualidade e em vários estilos.


Creio que escrever uma narrativa na atualidade, aproximando-se de noções canônicas, apesar de caminhar para o estilo não-cânone, na lógica de que toda criação é uma destruição, é trair a tendência do texto imediatista e comercial da pós-modernidade industrial em que o autor reproduz, quase como cópias, características de personagens, cenários, narrativas, tipos humanos com pouco ou nenhum desenvolvimento.


Quantos filmes, livros, séries de livros, séries cinematográficas reproduzem o que Adorno chamou de “ausência do clássico”. Narrativas que seguem a mesma estrutura de um personagem principal que passa por uma tribulação e que segue toda a história dramática para superar o problema que o aflige, e o fim se dá basicamente na superação desse problema e na conquista da felicidade. O que significa isso senão a demonstração prática de uma subjetividade narcísica que destruiu toda a complexidade das tragédias?


O escritor acredita - ou é induzido pelo meio digital ou pelo mercado editorial, a investir num aspecto “novo/diferente” de narrar, mas que não tem nada de novo. Como nasce o novo? Por escolher abdicar do estilo próprio da escrita para abraçar o suposto "novo'', muitos autores abandonam a própria originalidade para parecer palatável. E assim se afunda na mesmice, mesmo que – de repente – até sendo bem lido. Mas lido por quem? Por um público mamão com açúcar?


Alguns autores optam pelo caminho mais difícil, sem se importar em agradar o leitor com mamão com açúcar. São exigentes e sólidos. Não erguem castelos de areia que logo somem com o vento. Salvas as exceções, assistimos e consumimos com frequência a banalização da literatura e sua redução à mera mercadoria.


Atualmente as grandes livrarias estão abarrotadas de livros de autoajuda, relatos de viagem, biografias de homens ricos e socialites, business, alimentadas pela indústria do entretenimento. Os autores de obras literárias aparecem em segundo plano adiante, aceitos e contemplados apenas pelos críticos, por quem não deixou se enganar, e por uma elite intelectual que pouco se deixa levar pelas novidades da indústria cultural. Hoje em dia essa elite não está lendo nem mais O Pequeno Príncipe como o jactavam no passado. No caudal disso tudo a literatura como arte tornou-se autônoma e aparentemente inacessível ao grande público.


O assunto é complexo, principalmente na filosofia da estética, pois está a abranger política, educação, pedagogia e a cultura de um povo, propriamente. Parece até piegas a conhecida e inacessível frase “um país se faz com homens e livros”, e dependendo da qualidade do livro se explica a qualidade do homem. Uma geração que preteriu Paulo Freire em detrimento de ler as biografias de homens ricos de Wall Street não parece estar construindo um futuro interessante.


Se o aprendizado em comunhão e a solidariedade são concebidas como perda de tempo, e o egoísmo patológico e a subjetividade humana domada pela lógica concorrencial são tidas como virtudes, o que nos reserva?


Imagine esse público diante de Memória do Cárcere, de Graciliano Ramos, Os Sertões, de Euclides da Cunha, Grande Sertão Veredas, enfim as obras de José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Machado de Assis, padre Antonio Vieira, Lima Barreto e outros. Que susto tomariam diante de Os Miseráveis, Os Irmãos Karamazov, Dom Quixote de La Mancha, O Idiota, Madame Bovary, Satíricon, O conde de Monte Cristo e tantos outros.


Somente um povo bem educado a partir dos anos iniciais com acesso à literatura de excelência, a museus, teatros, exposições de arte, ciências etc, frequentemente estimulada a desenvolver a criatividade, mudará essa realidade. 2.7.2

CABEZA DE VACA...

 


Apaixonado pelos povos indígenas, e sempre lendo sobre o Pantanal, cheguei a essa obra justamente porque diversos povos indígenas passeiam nela da primeira a última página. Não é um livro sobre indígenas, mas eles estão em todas as folhas.


O aventureiro espanhol “Cabeza de Vaca”, que se tornou governador da área onde hoje é o estado de Santa Catarina, percorreu a pé da Flórida, nos Estados Unidos, até a metade do México. Do México a Santa Catarina ele (e sua comitiva) viajou por meio de diversas embarcações, ora no mar, ora em rios, assim se relacionou com vários povos nativos. Muitas mortes se deram nesse trajeto inóspito, seja pela hostilidade das matas intocáveis, seja por flechas ou comidos por indígenas ao longo do caminho. Há um tom quixotesco na história, por mais que seja um fato.


A obra me permitiu conhecer detalhes e nuanças de diversas etnias nativas, seja da América do Norte, da América Central, e, agora, no capítulo atual, na América do Sul. A história se passa no período de 1524 a 1542. São inimagináveis os episódios vividos por esses aventureiros, seja no trato com os nativos e vice-versa. Impressiona os hábitos e as tradições de diversos povos indígenas. Encontramos tradições lindas, ao mesmo tempo, chocantes. Encontramos indígenas hostis, vingativos, arredios... E ao mesmo tempo, indígenas dóceis e amáveis, mesmo que ainda não estivessem habituados aos homens do Velho Mundo.


Impressiona o terror sentido pelos indígenas quando veem o cavalo pela primeira vez. A facilidade de dar tudo o que tinham em troca de um espelhinho ou um chapéu vindo da Espanha. Ao mesmo tempo etnias que roubavam o que aparecia na frente, outras que os viam como "deuses" vindos de algum lugar extraplanetário. Encontramos padres revoltados com as orgias sexuais promovidas pelos espanhóis, ou tentando mudar hábitos sexuais de algumas tribos...


Tudo isso e muito mais é fruto de registros de época - quase um trabalho antropológico - escritos por 'Cabeza de Vaca", transformados nessa obra pelo grande Paulo Markun. Estou mostrando nessa postagem o hábito comum dos espanhóis, os quais, assim que chegavam a uma comunidade indígena, se encarregavam logo de batizar os nativos, mas com um detalhe: SÓ SE ALI EXISTISSE OURO OU ALGUM METAL PRECIOSO. Seletivos, não!


Era dito que se os indígenas aceitassem o Cristianismo, teriam muitos privilégios, mas se não aceitassem, seriam transformados em escravos. E nessa história faziam os indígenas destruir incontáveis objetos de sua cultura, além de determinadas tradições (sentenciadas como "cousa do diabo"). Se o local não tivesse riqueza, partiam para outro. Lembrando que Cabeza de Vaca estava nessa empreitada a serviço do rei Dom Carlos, que representava também a Igreja Católica. Esquisito, não!


E nessa sucessão de cristianizações nem sempre bem sucedidas, havia todo um ritual, conforme você pode ler e constatar nas páginas que fotografei. IMPRESSIONANTE! O livro é uma viagem. Uma aventura incrível que me fez percorrer com eles da Flórida, onde eles chegaram por via de um naufrágio, até Santa Catarina, onde será nomeado governador. É melhor que qualquer filme…

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