Apaixonado pelos povos indígenas, e sempre lendo sobre o Pantanal, cheguei a essa obra justamente porque diversos povos indígenas passeiam nela da primeira a última página. Não é um livro sobre indígenas, mas eles estão em todas as folhas.
O aventureiro espanhol “Cabeza de Vaca”, que se tornou governador da área onde hoje é o estado de Santa Catarina, percorreu a pé da Flórida, nos Estados Unidos, até a metade do México. Do México a Santa Catarina ele (e sua comitiva) viajou por meio de diversas embarcações, ora no mar, ora em rios, assim se relacionou com vários povos nativos. Muitas mortes se deram nesse trajeto inóspito, seja pela hostilidade das matas intocáveis, seja por flechas ou comidos por indígenas ao longo do caminho. Há um tom quixotesco na história, por mais que seja um fato.
A obra me permitiu conhecer detalhes e nuanças de diversas etnias nativas, seja da América do Norte, da América Central, e, agora, no capítulo atual, na América do Sul. A história se passa no período de 1524 a 1542. São inimagináveis os episódios vividos por esses aventureiros, seja no trato com os nativos e vice-versa. Impressiona os hábitos e as tradições de diversos povos indígenas. Encontramos tradições lindas, ao mesmo tempo, chocantes. Encontramos indígenas hostis, vingativos, arredios... E ao mesmo tempo, indígenas dóceis e amáveis, mesmo que ainda não estivessem habituados aos homens do Velho Mundo.
Impressiona o terror sentido pelos indígenas quando veem o cavalo pela primeira vez. A facilidade de dar tudo o que tinham em troca de um espelhinho ou um chapéu vindo da Espanha. Ao mesmo tempo etnias que roubavam o que aparecia na frente, outras que os viam como "deuses" vindos de algum lugar extraplanetário. Encontramos padres revoltados com as orgias sexuais promovidas pelos espanhóis, ou tentando mudar hábitos sexuais de algumas tribos...
Tudo isso e muito mais é fruto de registros de época - quase um trabalho antropológico - escritos por 'Cabeza de Vaca", transformados nessa obra pelo grande Paulo Markun. Estou mostrando nessa postagem o hábito comum dos espanhóis, os quais, assim que chegavam a uma comunidade indígena, se encarregavam logo de batizar os nativos, mas com um detalhe: SÓ SE ALI EXISTISSE OURO OU ALGUM METAL PRECIOSO. Seletivos, não!
Era dito que se os indígenas aceitassem o Cristianismo, teriam muitos privilégios, mas se não aceitassem, seriam transformados em escravos. E nessa história faziam os indígenas destruir incontáveis objetos de sua cultura, além de determinadas tradições (sentenciadas como "cousa do diabo"). Se o local não tivesse riqueza, partiam para outro. Lembrando que Cabeza de Vaca estava nessa empreitada a serviço do rei Dom Carlos, que representava também a Igreja Católica. Esquisito, não!
E nessa sucessão de cristianizações nem sempre bem sucedidas, havia todo um ritual, conforme você pode ler e constatar nas páginas que fotografei. IMPRESSIONANTE! O livro é uma viagem. Uma aventura incrível que me fez percorrer com eles da Flórida, onde eles chegaram por via de um naufrágio, até Santa Catarina, onde será nomeado governador. É melhor que qualquer filme…
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