A cultura popular brasileira é um patrimônio que não morrerá nunca. Isso é óbvio, mas não garante que em diversos municípios do Brasil já não se veem mais tradições que eram comuns no passado. As autoridades e pessoas comuns - que deveriam ser baluartes dessa causa - se descuidaram ou não se importaram, e hoje se somam àqueles que falam das tradições usando verbos do passado: "antigamente havia a festa tal, antigamente existia a dança folclórica tal, antigamente as pessoas faziam muito a brincadeira tal...". Isso é preocupante e deve mudar.
A cultura popular brasileira é um patrimônio vivo, que reflete a diversidade, a história e a alma de cada região do nosso imenso país. No entanto, em muitos municípios, essa riqueza vem sendo dilapidada, esquecida ou até mesmo abandonada, resultando na perda de tradições, danças, estilos musicais e manifestações que fazem parte da identidade de comunidades inteiras. Essa situação não é apenas uma questão de nostalgia, mas uma ameaça à essência cultural que nos diferencia e nos enriquece enquanto nação.
Diante desse cenário, é fundamental que as instituições públicas, especialmente as secretarias de educação e de cultura, assumam um papel ativo na formulação de estratégias legais que promovam a preservação e revitalização da cultura popular. Uma das ações mais eficazes seria a parceria entre essas secretarias e as Câmaras Municipais para a criação de leis específicas, que garantam a valorização da cultura em todos os espaços públicos e privados.
Por exemplo, uma legislação que obrigue a realização de apresentações culturais — como danças folclóricas, teatro, balé, quintetos musicais, entre outros — na abertura de eventos civis e militares, ajudaria a inserir a cultura regional de forma natural e constante na rotina da comunidade. Além disso, leis que incentivem a realização de festivais, feiras culturais e atividades educativas voltadas à tradição local podem fortalecer o sentimento de pertencimento e orgulho pela identidade regional.
Infelizmente, há municípios onde as manifestações culturais tradicionais já se perderam, seja pela ausência de políticas de preservação ou pela priorização de interesses que valorizam apenas o que vem de fora. Essa perda de identidade é uma anomalia. Vejo-a como um crime contra a cultura, pois faz parte de um povo, portanto, o mínimo que deve ser feito, é investigar o passado e pelo menos fazer releituras (de uma dança antiga, por exemplo), revitalizando e trazendo aos palcos e praças o que se perdeu. É possível. É só querer.
Resgatar o que foi perdido ou preservar as expressões culturais antigas não é uma questão de congelar o passado, mas de garantir que a essência cultural de cada lugar seja reconhecida, respeitada e transmitida às novas gerações. Afinal, a cultura é o fio que conecta o passado ao presente, e sua preservação é uma responsabilidade de todos nós. Falamos da identidade, da impressão digital de um povo.
As autoridades públicas têm, em primeiro lugar, o dever moral de liderar essa causa, atuando como principais defensores da cultura local. Os professores também desempenham papel fundamental na preservação e revitalização dessas manifestações dentro das escolas, transmitindo às crianças e jovens o valor de suas tradições. Além disso, órgãos e entidades que fomentam a cultura devem assumir uma postura proativa, promovendo ações de incentivo, capacitação e valorização das expressões culturais regionais.
Infelizmente, muitas secretarias municipais e estaduais ainda demonstram uma negligência preocupante com a cultura de suas regiões, priorizando ações que valorizam o que vem de fora, muitas vezes ignorando o potencial cultural local. Essa postura precisa ser revista, pois fortalecer a cultura regional é fortalecer a identidade de cada comunidade, promovendo o orgulho e a autoestima de seus habitantes.
Em suma, a criação de leis que incentivem a valorização da cultura popular, aliada a uma atuação conjunta entre secretarias, câmaras e a sociedade civil, é essencial para que o Brasil preserve sua diversidade cultural. Não se trata de engessar o passado, mas de garantir que suas raízes permaneçam vivas, pulsantes e presentes no cotidiano de todos nós. Afinal, nossa cultura é o maior patrimônio que temos para construir um futuro mais rico, plural e autêntico.
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