GIZINHA - DE 'POLYCARPO FEITOSA' - OBRA COMENTADA
POR LUÍS CARLOS FREIRE
Gizinha é uma obra de ficção. Romance
regionalista, publicado em 1930 sob autoria de Polycarpo Feitosa - pseudônimo
de Antonio de Souza. A história de passa na Natal de 1928, permitindo ao leitor
conhecer os hábitos, o comportamento social e político provinciano, os bairros
badalados da época, como Tirol, Alecrim, Ribeira; os lugares frequentados pela
sociedade, o serviço público, enfim ter uma ideia do contexto daquela época. Na
realidade, Gizinha é uma obra
ficcionista no aspecto novelístico, no âmbito da trama dos personagens, mas
pincelada de realidades. Isso é constatado quando o autor menciona lugares,
como o Palácio do Governo, bairros e ruas. Por outro aspecto são nítidas as
suas referências a personagens políticos da época, embora ele não menciona
nomes. Gizinha uma obra permeada por expressões e vocábulos típicos do interior
potiguar.
Na orelha da segunda edição do romance -
publicado há oitenta anos - escreveram: " (...) A ficção era, para
Polycarpo Feitosa, um instrumento de observação da vida social, de fixação de
costumes coletivos. Ele construia os personagens com os modelos que a vida lhe
fornecia. Foi assim que escreveu este romance, em que buscou uma compreensão
mais profunda da alma feminina. Em geral, na ficção brasileira o homem está
muito mais bem representado do que a mulher. Polycarpo Feitosa compreendeu a
necessidade de uma reversão dessa perspectiva. O seu livro traz, por isso, uma
contribuição nova à ficção brasileira. Só por esse ângulo já merece o interesse
dos leitores e da crítica. Obedece à forma tradicional da novelística - o grão
renovador que nele há é mais de temática , revelada no tratamento da figura de
Gizinha, do que de recursos técnicos da arte de narrar. Emoção presente, poesia
presente - uma prosa clara, ajustada aos objetivos do escritor. (...) Gizinha é
assim um livro regional, do nível de D. Guidinha do Poço e tantos ouros
romances que, escritos na província, hoje integram a literatura nacional."
Gizinha é a forma carinhosa como é
chamada Adalgiza, personagem principal, contando dezoito anos.
Ela é
filha do senhor Azevedo, próspero comerciante natalense de 54 anos, e da
jovem senhora d. Regina, de 36 anos, casada desde os dezesseis. Eles são
pais de um casal, sendo Renato, de dezesseis anos, o outro homem da
casa
.
D. Regina
debruçava toda vênia ao seu casamento, comportando-se com o devido respeito
diante da sociedade atenta aos menores deslizes. Mas o amor verdadeiro parece
ser apenas da parte do marido, o qual procura satisfazer os gostos da esposa
com roupas, passeios próximos e certas regalias que lhe são possíveis.
Nesse ofício de agradar a mulher e ficar
retido ao comércio, descuidou-se de educar Gizinha
nos moldes tradicionais e conservadores das famílias do seu padrão. Essa
responsabilidade foi deixada para a esposa, a qual quebrou todas as regras.
Gizinha tornou-se uma exceção dentre as
moças natalenses de sua época, no que se refere aos hábitos modernos demais.
Isso nos parece muito providencial, tendo o autor nascido na terra onde nasceu
Nísia Floresta, cuja história assusta até a sociedade atual.
Polycarpo Feitosa assim descreve o pai de
Gizinha:
"(...) Azevedo, mole e pávido
diante da vontade ou dos caprichos da mulher, porque a amava e não dispunha de
outro meio para obter que ela o tolerasse e vivesse em paz, era profundamente
honesto, incapaz duma intransigência no capítulo da honra feminina, como num
deslize da correção comercial; mas ainda por amor da mulher, tivera, desde a
infância da filha, de abdicar da autoridade efetiva sobre ela, e a rapariga
cresceu e se fez moça 'senhora das suas ventas', em que a mãe não pusera rédeas
curtas, namorando desde os doze anos, vaidosa, galhofeira, até o limite em que
só o instinto a detivera até então." (p.17).
O trecho acima, se retirado isoladamente e
exposto ao leitor atual, parece escrito hoje. Mas, devolvido ao seu contexto
original, choca o leitor que espera obviamente algo mais condizente com o período
em que foi escrito, onde a sociedade era muito mais apegada a tabus e
preconceitos.
Nesse
aspecto Polycarpo Feitosa surpreende o país com essa inovação de costumes. E
continua surpreendendo a atualidade, pois muitas Gizinhas podem ser facilmente
encontradas nas casas noturnas e baladas da Natal de hoje.
A família reside na Avenida Rio Branco,
numa espaçosa e elegante casa com mobília requintada e empregados à disposição.
Ali o casal vive uma "monotonia conjugal", na expressão
do autor, a propósito curiosa para um solteirão convicto que foi na vida real.
O casal raramente se desentendia, salvo em
casos de divergência de opinião, mas algo sutil. Os filhos eram poupados desses
momentos. Ambos respeitavam o pai, mas a verdadeira obediência era dirigida a
mãe, a qual - ardilosa - criava situações para que o marido pensasse - ou
fingisse pensar - ser o dono da última palavra e de todas as decisões.
Gizinha
tem uma postura muito liberal, a ponto de atrair os olhares da sociedade
natalense. Escolhia os seus próprios namorados e terminava os relacionamentos
quando bem queria - costume nada comum para a década de 1928.
De tradicional
tinha apenas o hábito de tocar piano, tendo aprendido com bons professores.
"Odiava a cozinha" e adorava dançar nos "bailes de
casas amigas, nos do Natal Clube ou nos famosos maxixes políticos do Carlos
Gomes, ela figurava entre as mais espevitadas dançadeiras de tango e de todas
as palhaçadas de nomes anglo-saxônicos, cujos requebros e tremeliques, mais ou
menos obnóxios, conhecia como profissional".
Num desses bailes ela iniciou namoro
rápido com Roberto Lima, o qual se distanciou da mesma por vê-la dois
meses depois dançando com Julinho Silveira, rapaz de 23 anos, dado a
raspar o bigode, praticar alteres, usar bengala e vestir belos figurinos, numa
elegância de vitrine. Seus pais tinham consideráveis posses.
Este escreveu para
o Sr. Azevedo pedindo a mão de Gizinha. O pai não se opôs, mas se
lembrou da figura de Roberto Lima, com o qual Gizinha se
enamorou, ou melhor - na linguagem atual, "ficou", inclusive indagara
a esposa sobre Cesário - amigo dele – ter perguntado se Roberto
ia ser seu genro.
Roberto, de uns 28 a 30 anos, não
era rico, mas tinha suas virações e ganhava bem, inclusive ajudava dois irmãos
de condição social bem inferior, pois eram órfãos. Muito bem articulado, tinha
negócios em Natal e Recife. Apesar de namorador, era muito reservado.
Na realidade Gizinha "não
tinha outro intuito, além de divertir-se, sem muito vexame de se casar, e
antes, como ela própria dizia, apenas o de gozar a vida enquanto era tempo".
Quando admoestada por conhecidos e familiares dizia que eram invejosos e
despeitados.
Curioso é que d. Regina reprova a
atitude do Sr. Azevedo, quando este diz que Roberto é um bom partido para a sua
filha "(...) um rapaz sério, com um bom emprego, e até metido na
política". (...) Qual o rapaz sério que quererá para mulher uma
moça, que todo mundo sabe que já namorou com fulano e beltrano?".
É possível sentir a postura destoante da
esposa - para os padrões da época - quando mesmo ouvindo o marido ressaltar as
posses do pretendente e a opinião da sociedade sobre o comportamento da filha,
ela o contradiz: "Isso não tem importância. Hoje não há ninguém que
case com o primeiro que encontra, e deve haver liberdade de escolher".
A reflexão de d. Regina revela o pensamento moderno de Polycarpo Feitosa, haja vista
que as três décadas do novo século ainda conservavam meio intactos o costume do
século anterior, no qual os pais escolhiam os pretendentes dos filhos. O autor
escolheu os personagens Azevedo e d.
Regina para fazer o contraponto
entre o antigo e o moderno, dando um tempero interessante à obra. Se bem que a
moralidade do Sr. Azevedo se dilui
muito em alguns pontos, como se verá.
Azevedo, apesar de conservador,
parece manter uma postura meio isenta de responsabilidade sobre a educação da
filha, mas jamais deixa de externar sua opinião diante da esposa que ri de suas
colocações "(...) Bons tempos, em que uma filha ata e desata um negócio
dessa ordem sem a mãe saber, nem aconselhar". D. Regina diz que
ele é do tempo antigo.
Sr. Azevedo tem o hábito de tecer
reclamações inclusive sobre a roupa curta que a mesma usa: "(...) Adalgiza
já anda com o vestido pelos joelhos, e por baixo só tem uma 'combinação' que
não esconde quase nada".
E aproveita para lembrar à esposa que ela também tem o mesmo costume da filha no tocante ao modo de se vestir. D. Regina solta altas risadas, reforçando a ideia que ela leva o marido em "banho Maria", satisfazendo os gostos da filha.
E aproveita para lembrar à esposa que ela também tem o mesmo costume da filha no tocante ao modo de se vestir. D. Regina solta altas risadas, reforçando a ideia que ela leva o marido em "banho Maria", satisfazendo os gostos da filha.
E os dela
também.
Essas e outras colocações de Polycarpo
Feitosa permitem ao leitor perceber que d. Regina se projetava na filha
e, quem sabe, queria estar fazendo o mesmo que ela. Ou pior!
Julinho Silveira, o pretendente de Gizinha,
estava encantado com a sua beleza e a queria como esposa. Ele se imaginava
passeado com ela e despertando inveja e admiração nas pessoas. Isso dava-lhe
satisfação e não despertava-lhe ciúmes, mas também já pensava, se casado, não
permitir aquela disposição espetaculosa às danças em público por parte de Gizinha.
Adriano Queiroz é um amigo íntimo
de Julinho, o qual o visitava frequentemente, inclusive eram ligados
também pelo futebol.
Ao ouvir de Julinho Silveira a notícia de que
iniciaria namoro com Adalgiza - contada com entusiasmo, como se fosse um
trunfo - ficou surpreso com a admiração do amigo e pelo jeito esquisito como
este recebeu a notícia.
Julinho Silveira, percebendo,
insistiu para que ele explicasse aquela reação. Após muita insistência, Adriano perguntou se ele não sabia que Gizinha
tinha tido um "flirt" com Roberto Lima. Isso tinha causado
muito comentário em Natal. E supôs que o relacionamento não fora um simples
namoro, inclusive disse que viu os dois se beijando "numa varanda do
Carlos Gomes" durante o intervalo de um concerto.
Para os
costumes da época expor-se dessa forma era algo escandaloso, e nem as
meretrizes o faziam em público, pois tinham lugares próprios.
Ouvindo isso Julinho Silveira ficou
sem palavras. Adriano entendia o seu alerta como uma atitude de amizade
e não como delação. Ao despedir-se de Julinho, a mãe deste, d. Hortênsia,
pergunta se Adriano já sabia da "cabeçada" que o filho
havia dado, reprovando a relação dele com Gizinha. Tal postura era óbvia
a qualquer mãe (não parecendo diferente até hoje). Adriano desconversou e deixou o amigo
ainda mais pensativo.
Mil ideias povoaram a sua mente, temeroso
de se tornar um homem desmoralizado. Temeu pela possibilidade de Roberto
espalhar maledicências sobre Gizinha. Mas, embevecido de paixão, já encontrava
desculpas, supondo para si mesmo que apenas Adriano havia presenciado
tal beijo, e mais ninguém. Supôs que a sua amada permitira o beijo por
ingenuidade. Ele sabia da postura de Roberto e via-o como um
aproveitador. Mas algo era certeza: Julinho Silveira estava criando uma
antipatia ferrenha pelo amigo.
Tomado por mil pensamentos, Julinho
Silveira pegou o bonde no ponto da Avenida Rio Branco e se abalou
até o Tirol, onde morava Roberto Lima. Pretendia certamente
‘colocar os pingos nos is’. Eles eram amigos, mas ultimamente não estavam tão
aproximados. No bonde se encontrou com o futuro cunhado Renato Azevedo, o
qual se dirigia a um clube de futebol.
Julinho
Silveira sempre
o tratou de forma amável pelo fato de ser bem mais novo e, certamente, para
conquistar o futuro cunhado. Mas o jovem, embora o tratasse bem e o
respeitasse, não sentia muita simpatia por ele.
Chegando ao seu destino, e já contando com
alguns minutos de conversa, pergunta se o amigo sabia que ele pedira a mão de Gizinha
em casamento. Roberto, sem manifestar surpresa e sem parabenizá-lo, diz
que não sabia. Logo em seguida pergunta sobre o relacionamento de Roberto
com Gizinha.
Roberto diz ter sido um
simples "flirt", nada mais. Julinho o indaga se tinha sido
realmente só isso, tendo a mesma resposta. Meio sem graça, muda de assunto e
logo se despede, livrando-se daquela desconfortável conversa entre dois homens.
Sr Azevedo
via Julinho Silveira como um bom rapaz, filho de pais decentes e gente
abastada. Reprovava o seu apego ao jogo valendo dinheiro, embora confiasse numa
mudança futura. A esposa também não se opunha.
No desenrolar da história é possível
encontrar verdadeiras pérolas, como essa referência a Julinho Silveira: "(...) Acendeu o charuto, e como
Renato se tivesse esgueirado, conforme o costume, logo depois do café, ficou só
na sala de jantar, espichado numa cadeira de lona, fitando um quadro de frutas
e legumes, a que o reflexo das lâmpadas dava tons de pintura futurista".
(p.36).
Esse trecho estampa uma fotografia imaginária, ressaltando o advento do
futurismo, haja vista o frescor da Semana de Arte Moderna. A propósito o
modernismo está impresso na própria obra de Polycarpo Feitosa não apenas por
referências óbvias, mas como um todo. Ele é modernista por criar um personagem
com comportamento avançado para a época, embora precisamos constatar até onde vai
esse modernidade.
Mais
adiante ideias modernistas emergem novamente, veja esse trecho “(...) Tinha acabado o almoço, a copeira
substituía a toalha pelo grosso pano de ramagens, sobre o qual Adalgiza alisou
um estreito ‘caminho de mesa’, ornado de desenhos futuristas, pondo-lhe ao meio
um alto e esguio vaso de vidro opalescente com rosas e dálias, circundadas de
folhas e crótons e begônias”.
Os “desenhos
futuristas” e o vaso “esguio” e “opalescente” não são mais que elementos do
modernismo, impressos na decoração da casa daquela família rica e, de certo
modo, moderna.
Nota-se também nuanças de política
contornando alguns personagens, como o Coronel Queiroz, o qual conhecia
profundamente a crônica política de seu estado. Era amigo de velhas datas dos
pais deles.
A descrição desse personagem permite ao leitor suspeitar que Polycarpo
Feitosa se referia a algum conhecido seu - ou quem sabe a si próprio - haja
vista ter assumido vários mandatos políticos e cargos de confiança. Lembrando
que ele era amigo pessoal da família “Maranhão”, destacando-se Pedro Velho.
A
propósito, em sua terra natal, Nísia Floresta, residia o bufento Coronel José
de Araújo, interventor de Papari, homem autoritário, o qual, cometia desmandos
sob proteção politica dos referidos oligarcas.
PEDRO VELHO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO |
Parece que o autor buscava inspiração para
compor seus livros em fatos do próprio cotidiano – o que não é novidade –
disfarçando alguns detalhes e características para não ficar muito óbvio. Isso
não é perceptível apenas em Gizinha, mas em outras obras, em especial nos
romances “No Tempo da República” e “Diário Dum Recolhido”.
Coronel Queiroz tinha mais de
sessenta anos e habitualmente aconselhava o casal nos momentos de
desentendimento promovidos pelas pirraças e manhas de d. Regina. Como
não podia ser diferente – e com muita sabedoria – quase sempre favorecia o Sr. Azevedo. Dava bons conselhos a d. Regina,
mas ela nunca os seguia.
Passeiam sutilmente pela obra Gizinha as personagens Margarida
Lopes e sua filha Nair, moça de "linguinha afiada de que
muita gente tinha medo" (p. 38), conselheira e confidente de Adalgiza.
Quando esta diz sobre a carta com o pedido de casamento, Nair mal consegue disfarçar a inveja. Contava com 26 anos, sonhava
com um príncipe encantado, mas recusava os poucos que apareciam. Até porque era
meio desprovida de beleza. Para compensar vivia presa aos trabalhos manuais e
arrumando inimigas dado a sua língua felina.
Seu pai
fora homem riquíssimo, mas falira, deixando apenas a casa onde viviam e duas
casinholas para aluguel.
Em outro momento Polycarpo Feitosa escreve sobre um baile no palácio do Governo, "promovido por amigos em homenagem a outros amigos".
Para o
evento fora convidada a nata da sociedade natalense. E a família do Sr. Silveira foi uma delas. O baile deu-se
no mais alto requinte, com ornamentações e iluminações encomendadas em Recife,
orquestra e comidas e bebidas finas.
Ao descrever os cuidados com esse evento Polycarpo Feitosa dá uma
alfinetada em governos anteriores quando diz: "(...) Para o
provimento das despesas corriam subscrições pelo comércio e pelo funcionalismo,
porque o 'Tesouro não entrava', conforme diziam ser de uso em obscuros tempos
passados (...)".
Polycarpo
Feitosa descreve o baile com tanta perfeição e riqueza de
detalhes que transporta o leitor para o luxuoso cenário, participando,
contemplando e interagindo com as figuras presentes.
Curiosamente,
não há como não se lembrar do conto de fada Cinderela, quando o autor comenta
sobre o alvoroço provocado em Natal, desde o momento dos convites, a divulgação
na imprensa, o luxo na ornamentação, os comes-e-bebes, as vestimentas, Adalgiza e as pessoas invejosas e
fofoqueiras que a observavam, tais quais as filhas da ‘rainha má’ do citado
conto. Até um "toucador" (espécie de
salão de beleza) fora improvisado no palácio.
Os homenageados - sua maioria - políticos,
tinham seus nomes expostos em escudos pintados de dourado, colocados em locais
estratégicos, com canhões de luz direcionados para os mesmos, dando uma
impressão de serem de ouro. Quando chegavam eram recebidos ao som da banda. Todos
os homens usavam "smokings".
Nota-se
muitos excessos e glamour no evento em si. Tais bailes teriam sido comuns
durante as gestões do governador Antonio de Souza?
O evento parecia virar Natal de ponta
cabeça, a ponto de mudar o ritmo do comércio – de olho nas vendas. Era um
corre-corre de madames a procura das melhores lojas de tecido e das mais
apuradas costureiras, ou "modistas".
E
barbearias? Naquele tempo não existiam cabeleireiros do século masculino nos
moldes de hoje - pelo menos em Natal. Existiam apenas barbearias para ambos os
sexos, as quais podiam ser requintadas ou não. E os barbeiros tinham uma
postura completamente diferente dos cabeleireiros atuais.
O Sr. Azevedo compareceu com a
esposa, os filhos e Julinho Silveira. Gizinha chamou atenção pelo vestido sumário e pela beleza inebriante,
a qual ofuscava a pouca roupa. Alguns rapazes, cujo autor não lhes dá nome,
comenta que Gizinha deveria ter
vindo sem nada a usar apenas minúscula roupa.
Esse
capítulo permite ao leitor conhecer, além do luxo das festas e o alvoroço da
moda, os estilos musicais da natal de 1928. Absolutamente diferente de hoje, como
se verá. Nota-se que a mudança foi grande! Sepultou-se todo um romantismo.
Julinho, ansioso para ser o primeiro a
dançar a valsa e exibir o troféu tão cobiçado, teve que aguardar a vez
concedida ao cunhado.
Ao som de um tango o casal começou a dançar
e roubou todos os olhares, os quais, no dizer de Polycarpo Feitosa, "a expressão clara era de inveja".
Nada mais despertava a atenção do público que olhava para os dançarinos com
verdadeira contemplação.
Veja como esse trecho nos remete ao conto infantil
acima citado. Roberto Lima era um dos observadores, mas o casal não o
percebera.
O autor,
certamente para deixar claro o quanto era destoante o comportamento da
personagem principal, ironicamente diz "(...) segundo a velha
comparação chinesa, uma gota d'água não podia passar entre ambos".
Gizinha, muitas vezes externara uma "leviandade
infantil", provocando fantasias nos assistentes.
Quem
seriam as Gizinha de hoje?
Para ferver mais o tempero da história Polycarpo Feitosa faz surgir
nesse baile outro personagem: "José de Castro, considerado um tanto
filósofo", de pouco mais de trinta anos.
Algumas de
suas características também parecem ser a do próprio Polycarpo Feitosa, este é descrito nos anais da história como
enérgico e de hábitos incomuns. Alguns até exagerados.
Homem de
honestidade inquestionável e altamente crítico. Sobre tal postura narram-se
vários episódios interessantes. Quando governador guardou na garagem do palácio
o carro oficial que deveria ser para o seu uso. Retirou a bateria para que
nenhum desavisado bancasse o esperto.
Num dos
seus relatórios de governo gaba-se de nunca ter perseguido funcionários
públicos, transferindo-os para lugares distantes, principalmente desafetos
políticos.
Mas vamos ao romance. A descrição de José
de Castro é tão interessante que merece ser transcrita: "(...) Era
um amigo de Julinho, José de Castro, considerado um tanto filósofo, apesar de
contar pouco mais de trinta anos, empregado numa repartição qualquer, descrente
de tudo, dizia muito sério, menos na honestidade feminina e da altivez dos
homens.
Tipo dos mais pitorescos de Natal, tanto
pelas atitudes quanto pelos paradoxos, todo o conheciam, mas da sua vida
particular apenas constava que não bebia senão água, comparecia
indefectivelmente à repartição em todos os dias úteis do ano, e... era
solteiro, mas não solitário. Dizia-se também que se acidentalmente, em reunião
de rapazes, aceitava um copo de cerveja, perdia logo a cabeça e mostrava 'uma
linguinha feroz', mas só para os homens.
Desprovido
de pretensões a elegância, apresentava-se todavia com a sua melhor farpela, um
terno, já bastante sovado, de jaquetão, com umas calças muitos curtas, abaixo
das quais umas meias brancas saiam de sapatões escovados havia mais de um mês.
Sem nada de romântico, apesar do aspecto
boêmio, José de Castro era um remanescente daquela antiga casta de empregado
público de Natal, hoje rara: pobre, honesto e altivo, não adulando os grandes,
só se juntando com os de sua classe, e por isto mesmo passando dez, vinte e
mais anos no mesmo lugarzinho de 150$ por mês" (p.52).
Observe a crítica que o autor faz ao tipo
de funcionário público já escasseado em sua época. O que ele diária hoje?
Ao ouvir
um grupo de rapazes moralistas, criticando a postura de Gizinha,
exatamente no momento em que um rapaz considera despudor e afronta às famílias
presentes, Polycarpo Feitosa parece
emprestar a Castro a sua personalidade irônica quando este contra-ataca
"(...) Todos êles são tão bons quanto tão bons. Os que exigem a
exiguidade do vestuário são exíguos noutras coisas até mais consideráveis..."
Polycarpo
Feitosa monta uma cena curiosa sobre Castro no baile. Episódio passado "(...) Ao lado do
quadro de Miguelinho, como abrigados sob aquela sombra, alguns velhos,
pacatamente, palestravam discretamente". (p.55). O quadro referido
por Polycarpo Feitosa encontra-se até
hoje no local, atualmente Pinacoteca do Estado.
O referido baile fora organizado para
políticos, e essa atmosfera os envolvia. Cesário diz que naquele momento
tinham "(...) gente nossa para governar, mas quem nos diz que amanhã
não nos mandarão estranhos, como os presidentes do império?".
Isso era uma crítica. Até porque sabe-se de
forasteiros que governaram o estado e a capital. Curioso é que ele filosofa bastante
com Cesário sobre isso. Ao final, Queiroz expõe o seu temor
diante da possibilidade de os potiguares terem que aceitar algum deputado ou
senador nessas condições.
Inicia-se
um diálogo no qual Polycarpo Feitosa
parece querer externar a sua própria opinião, na pele do Sr. Queiroz, criando um dito curioso:
- "Em política tudo se conserta
e acomoda, o gato com o cachorro, a onça com o bode".
Cesário vem com a réplica
-"Mas sempre um sai apanhando..."
E Queiroz
sai com a tréplica:
-"Dará depois. Cada um tem o
seu dia".
O amigo retorna, dizendo:
- Isso era quando havia partidos,
hoje não. Hoje uns dão a vida toda, outros apanham a vida inteira.
- E Queiroz
finaliza:
- "Não é tão raro assim. O mais
comum é darem e apanharem simultaneamente. Apanham numa coisa, dão noutra, e
tudo vai bem".
A conversa continua sobre quem dá e quem
apanha dos políticos, até que Queiroz
sentencia: “Vamos para adiante...”.
O episódio mais crítico do referido baile
– no tocante aos personagens principais – foi protagonizado por Roberto Lima.
Este, que acabara de preparar um pratinho de doces, vendo Gizinha e o
noivo se aproximarem do "bufete"
(bifê) de guloseimas, se dirige à ex-namorada e lhe oferece. Esta – que não
costuma conservar protocolos – aceita sem cerimônias.
Julinho disfarça o gesto que
considerou afrontoso. Roberto, aparentando absoluta normalidade, se
afasta naturalmente. Mais adiante questiona a atitude da namorada, mas esta,
"num tom galhofeiro", diz que não poderia ter recusado
uma gentileza. Julinho retorque, dizendo que ela não deveria ter
aceitado.
E nesse
arrufo se despedem do evento, acompanhados por Azevedo e Regina.
Esta também havia sido muito cortejada e observada devido a sua beleza. E
dançara com algumas figuras importantes, como era de costume na época.
O próximo personagem a entrar no romance –
e atiçar a imaginação do leitor – é Fernando Ribeiro, de dezesseis anos,
filho de um freguês e grande amigo do Sr. Azevedo. Ele passa a morar num
quarto dos fundos de sua casa, a pedido do amigo, haja vista uma epidemia de
tifo que grassara em Natal e vitimara muitos na pensão em que ele anteriormente
morava quando chegara do interior.
O rapaz fazia o "curso de
preparatórios" (59), inclusive estudara no Ateneu com o irmão de Gizinha.
Era excessivamente tímido. O episódio que será desencadeado tem uma nuança que
lembra a história real de Ana de Assis e Euclides da Cunha, embora com outra
roupagem e final completamente diferente.
D.
Regina, "por uma espécie de perversidade trocista",
percebendo o modo interiorano e o jeito retraído de Fernando, passa a
brincar com a situação de forma insinuante e maliciosa, deixando-o embaraçado.
Certo
dia, voltando de um baile, encontra-o lendo – por ironia do destino – Minas de
Prata, de Alencar. Ela se aproxima demasiado próximo para ver o que ele lia.
"(...) Sentindo tão perto o perfume e até o calor daquele corpo, o
adolescente, estonteado, ia talvez 'fazer asneira', mas viu Gizinha que o fitava com um sorrizinho
irônico".
D. Regina toma-lhe o livro, olha, vê não ter o
que a sua imaginação fértil lhe instigara, e o devolve. A partir de então Fernando pareceu nutrir por D. Regina um sentimento, misto de
adoração ódio, desejo e medo. Ele não tinha malícia para compreender o que
realmente aquela atraente mulher estava fazendo.
Percebendo
isso D. Regina passou a brincar com
a situação, flagrando-o várias vezes o rapazote contemplando o seu corpo, como se
imaginasse coisas. Ela estava segura de jamais permitir que tudo não passasse
daquilo. Pelo menos é isso que inicialmente Polycarpo Feitosa diz. Aqueles
jogos a excita, e ela não quer destruí-los.
Certo dia
o marido viaja até Recife e ela aproveita para jogar pimenta na brincadeira.
Inicia um diálogo insinuante com o rapaz. Era cedo da noite e os filhos se
demorariam fora.
Fernando,
nervoso e apaixonado, age monossilábico. E tem início um diálogo no qual ela
pergunta “que fez hoje?”
- “Nada”
E num ímpeto de audácia:
- Pensei na senhora.
(...) – Pensou como?
- Como em todas as horas da vida, como se
pensa no céu”. (p.64).
A
perversidade e os modos insinuantes de D. Regina
são tão fortes – a ponto de agrupar o corpo, a fala, os trejeitos naquela
conversa maliciosa – que o rapaz agarra a sua mão e começa a beijá-la.
Num
rompante ela se recompõe, retoma uma seriedade inexplicável e recrimina o
rapaz, sentenciando-lhe “eu sou casada”.
O garoto,
envergonhado, desmancha-se em pedidos de desculpas. Ela recomenda-o dormir. Ele
sai e a deixa pensando sobre o acontecimento, ciente que fora ela a causadora
de tudo.
Mas a sua
esquisita inclinação pelo garoto fez com que ela se dirigisse ao quarto do
rapaz, causando-lhe grande surpresa. Ela também sentiu um nervosismo esquisito.
O rapaz começou a chorar. Ele disse que ela sabia a razão daquela emoção. Ela
usou argumentos para dar-lhe a entender que ele estava carente devido à
ausência dos pais e que ela era uma “amiga
velha, uma segunda mãe, que o estimaria e o ajudaria na vida”.
Eles se
abraçam, surge um beijo, mas a acanhada reserva de pudor que lhe restava faz
com que ela se desvencilhe de seus braços e corra meio arrependida, pensando na
besteira que quase se configurara.
Fica pensando
na sala, inclusive sobre a possibilidade de conversar com o marido e pedir a
retirada do rapaz de sua casa, mas faltam-lhe argumentos. O rapaz era uma
pessoa tranquila e educada. O que alegar?
Sem
imaginar a extensão do seu ato, ela arrastou para si um problema que poderia
ter sido evitado, cuja consumação poderia encerrar em tragédia.
Certo
dia, na dúvida entre casar ou não, motivado pelo histórico liberal da amada, Julinho Silveira tem uma conversa com o
“filósofo” Castro o qual acaba
convencendo-o sobre a decisão que tomaria.
Sobre D. Regina, Castro diz “(...) apesar da
beleza e duma suspeitada desarmonia íntima com o marido, nunca se divulgaram
mexericos” (76). Esse trecho deixa clara a hipocrisia da sociedade
natalense, pois motivos não faltavam para que mãe e filha fossem ‘pratos
cheios’ para os mexericos daquelas rodas. Ainda mais numa Natal provinciana,
cujo advento do rádio e da televisão ainda não eram conhecidos. Certamente, tal
qual hoje, a situação abastada da família do Sr. Azevedo blindava esse ofício.
O
casamento deu-se ainda em 1928, na residência da família “com aparato e danças até depois de meia-noite” (p.81). Gizinha parecia indiferente a tudo. Essa
atitude era isolada, dentre muitas que viriam. Apesar do comportamento incomum
à época, era moça de coração bondoso. Muitas vezes nuanças de infantilidade
cruzavam com seu espírito. Assim era Gizinha.
Pensaram
em passar a lua-de-mel no Rio de Janeiro, mas se decidiram pelo sítio que o Sr. Silveira tinha no sertão de Serra
Caiada. O pai a presenteou com um belo automóvel, e o veículo ajudara na
decisão.
Certamente
Gizinha foi a primeira mulher a
dirigir um carro – pelo menos em romance – no Rio Grande do Norte, reforçando
essas lufadas de modernidade de Polycarpo Feitosa, embora quem fez a viagem foi
o “chauffeur” Claudino.
O local,
pela descrição do autor, pode ser o seu próprio sítio, ao qual ele era
apaixonado e se abalava para lá eventualmente.
Logo o
autor descreve o estado em que andava o referido casamento “(...) Gizinha se acomodava pouco a pouco à vida nova, interessava-se
pelo arranjo da casa, que estavam provendo para quando regressarem do campo;
mas no íntimo do seu ser, a espécie de afeição, ou antes de camaradagem, que
tinha ao marido, e se poderia talvez se transmutar em amor, ia aos poucos se
tornando vulgar indiferença doméstica, amálgama de solidariedade material e de
hábitos, com uma boa fração de menosprezo, que constitui a vida de muitos
lares, como aquele em que nascera e vivera.” (p. 85).
Essa
viagem permite ao leitor conhecer detalhes curiosos sobre a geografia ao longo
de Natal a Serra Caiada: vegetação, flores, serras, acidentes geográficos etc.
No sítio
o casal passou os dias acompanhado pelos empregados, recebendo visitas de
pessoas simples, conhecidas da família, eventualmente cavalgando pelas
proximidades.
Apesar de
todas as demonstrações de carinho do marido, Gizinha tinha rompantes constantes de indiferença, a ponto de o mesmo estar sempre
lhe perguntando se ela estava bem, se algo estava acontecendo etc. Foi uma
“lua-de-mel” não muito agradável. Durou quase um mês, quando retornam para a
casa dos pais da noiva.
Passado o
clima de casamento recente, o casal começa a vivenciar uma relação desgastante,
na qual um passa a fazer o contrário do que o outro quer. Uma espécie de
provocação constante. Sem brigas, mas psicologicamente deprimente.
Como Julinho a amava acabava cedendo algumas
vezes, dando preferência aos gostos da esposa, mas esta, ao perceber que ele
favorecia algo que ela tinha proposto, mudava de ideia no mesmo instante.
“(...) Mais duma vez Julinho teve de devolver
objetos comprados, ou de fazer encomendas, pois ela achava defeitos naqueles,
ou adiava estas, alegando, para amofiná-lo, motivos de economia”. (p.108).
Assim que
eles retornaram do sertão o pai de Gizinha
propôs a Julinho que ele deixasse o
emprego e se tornasse seu sócio no armazém. Ele recusou, mas devido a
insistência do sogro, aceitou, assumindo a função de “guarda-livros”, espécie de contador.
No início
tudo caminhou bem, mas certamente devido ao relacionamento doentio entre o
casal, passou a sair depois do jantar e retornar tarde da noite. Pior, retomou
o antigo hábito de jogar baralho valendo dinheiro no Clube Poti. Quando
solteiro via o dia nascer nessa atividade que agora o reencantava.
Como
acontece com os adeptos de jogo, começou a fazer reiteradas investidas no
dinheiro do armazém, outras vezes tomava emprestado do sogro. Este conversou com
D. Regina sobre sua insatisfação,
mas a esposa não quis intervir.
Sr. Silveira comunica ao pai de Julinho sobre o comportamento do genro,
mas esse, apesar de ter-lhe feito um sermão, não o sensibilizou. Julinho lhe tomara emprestado duzentos
mil réis num dia e pouco tempo depois retornou pedindo mais mil réis. Sempre
inventando uma mentira diferente, embora este sabia da real finalidade.
O velho,
deprimido, aconselha-o, dizendo que ele
era homem casado e deveria ter responsabilidade com o futuro da família, mas o
mesmo continuava alegando ser a última vez e que não o incomodaria mais.
No Clube
Poti ele sempre se encontrava com Roberto
Lima, onde também jogava, mas seu desafeto não fazia apostas vultosas, nem
se fizera dominar pelo jogo.
Interessante
os comentários que Polycarpo Feitosa tece sobre o esquema que rege o jogo de
roleta, o qual exerce uma espécie de fascínio sobre o jogador, viciando
facilmente pessoas que não tinham a firmeza de resisti-lo. Era o caso de Julinho.
O simples
fato de ver qualquer jogador levando uma bolada para casa o instigava mais e
mais. É uma espécie de atração incontrolável, na qual o jogador não se vê como perdedor
em nenhum momento. É o vício.
Certa
noite, foi ao Clube Poti com cem mil réis no bolso, e logo perdeu tudo. Deu-se ao
luxo de tomar emprestado ali mesmo no próprio caixa do clube a alta importância
de dois contos, perdendo tudo logo em seguida.
Essa
espécie de doença ocasionava nele sensações físicas indescritíveis, associadas
à inapetência, boca amarga, nervosismo, frio no corpo. O dinheiro deveria ser
devolvido em vinte e quatro horas, e ele iria para casa com enorme fardo de
preocupação, sem saber de onde tirar dita quantia. A cena fora testemunhada por
Roberto Lima, seu maior rival, o
qual externou um rizinho de troça assim que ele deixou o clube.
Julinho chegou em casa de madrugada. Gizinha estava acordada e o tratou com
a mesma indiferença de sempre – o que o irritava mais. Houve o prenúncio de
discussão. Habituada a dormir em outro quarto, foi dormir separada.
Ele estava
arrasado e a cama foi-lhe como se tivesse espinhos. A preocupação que teria no
dia seguinte de conseguir o dinheiro o incomodava. Muito mais o fato de não
saber onde consegui-lo e o medo de ser desmoralizado no clube.
Logo cedo
procurou a mãe, D. Hortência. Ela
disse que não tinha o valor. Pediu que ela pedisse ao pai. Ela, muito triste,
alegou que não saberia o que justificar. Então ele pediu que ela visse com o
seu sogro, Silveirinha. Sabia que
acumulava débitos com este e seria um contracenso procurá-lo
novamente. A mãe seria uma espécie de escudo.
D.
Hortência recusou-se e disse que se ele quisesse ela daria as economias
pessoais dela, no valor de seiscentos mil réis e que tentaria obter mil réis
com o marido. Ficaria faltando quatrocentos.
Julinho sabia que o pai jamais daria o
dinheiro. Passou o resto do dia martirizado pela sanha de conseguir, em vão, o
restante. À noite dirigiu-se ao Clube Poti com apenas os seiscentos réis dado
pela mãe.
Mesmo
sabendo da humilhação que passaria, pensou em arranjar uma desculpa. Chegou ao
caixa do clube, falou da dívida e foi informado que o seu inimigo havia pago
tudo. Ele havia percebido tudo o que ocorrera na noite anterior e acertou assim
que saiu, pedindo o recibo. Julinho ficou
fora de si, mas disfarçou.
A partir
de então mil pensamentos lhe afloraram a mente, inclusive a insanidade de supor
que Gizinha tinha um caso com o seu
rival.
“(...) Despiu-se o casaco e o colete e
estendeu-se na cama, mas apesar do cansaço que sentiu, era-lhe impossível
dormir. Continuava a cuidar, mas o pensamento consistia em remoer o mesmo
problema: ‘Porque teria aquele sujeito pago dois contos de réis por ele?’ Sem
nenhum razão que o convencesse, nem o dissuadisse, não tinha dúvida de que
Gizinha era a causa daquela esquisita amabilidade.” (p.121).
A partir
daí recomeça outro sofrimento: pensar como conseguir o dinheiro para devolver
ao seu rival.
A ansiedade para resolver o problema
martiriza Julinho a cada segundo. Ele procura o amigo Castro, e
juntos veem esgotar-se todas as possibilidades de conseguir o dinheiro. Castro
sugere que ele procure o rival para conversar. Sem saída ele o faz.
Roberto Lima o recebeu com uma
cordialidade nunca vista, deixando-o transtornado, pois ele sente que tanta
deferência era pura falsidade e tinha algum propósito, mas é obrigado a
suportar a pressão psicológica e manter a serenidade.
Julinho agradece-o por ter pago a
sua dívida, faz menção de entregar-lhe o dinheiro que a mãe lhe emprestara,
ressaltando que o restante seria devolvido nos próximos dias.
Roberto Lima recusa-se a receber,
apesar da insistência de Julinho, ciente de que seu rival exercia aquela mesura
para "tê-lo preso pela dívida" (p. 124). Ao deixar a casa o
rival ainda disse "eu apareço".
"(...) Roberto Lima era um desses
indivíduos em cujo caráter predomina a tendência de esconder dos outros os
sentimentos e impressões, que nunca se confessam, e cujas paixões ninguém
conhece, porque ele sabe que quem conhece as paixões de outro está sempre a cavaleiro
deste, e em dadas circunstâncias o pode dominar” (p. 127).
Intimamente, Roberto Lima tinha
interesse em Gizinha. Esta andava revoltada com as atitudes do marido, o
qual não lhe dava mais a necessária atenção, preso às consequências deprimentes
de suas jogatinas. Sua ausência na casa havia se tornado comum, despertando
dúvidas se era unicamente motivada pelo vício ou se tinha outro motivo. Mas
jamais lhe passara pela mente a ideia de traí-lo. Roberto Lima era uma
página virada da sua vida.
Certo dia Roberto Lima, logo após
ter constatado que Julinho se encontrava no Clube Poti, e que recentemente
havia perdido em jogo todo o dinheiro que a mãe lhe emprestara, resolve fazer
uma visita a casa do amigo a pretexto de vê-lo.
Lá, encontra Gizinha acompanhada da
velha amiga Nair Lopes, presença esta que já começa a incomodá-lo. Ela o
recebe com indiferença, mas o convida para entrar. Diz que o marido não se
encontrava. Ele começa a puxar conversa e a "olhá-la com indiscreta
admiração e um desejo tão claro de cortejá-la, que Nair teve um risinho de
mofa" (p. 131).
Na maioria das vezes Gizinha conversa de forma indireta, usando a
amiga para dizer coisas que pensava. Ele parece falar de forma impessoal, mas
usa fatos que que o relacionava a Gizinha. Na realidade eles dialogam
entre si usando tais artimanhas.
Interessante esse estágio do romance, no
qual Polycarpo Feitosa demonstra a importância que Gizinha dá às coisas
ordinárias, em detrimento do que era mais comum, haja visto os padrões da
época. Apesar de o tratar com indiferença ela demonstra-se satisfeita com os
galanteios de Roberto Lima, o qual chega a elogiar o corpo da amada.
Sabendo de suas vaidades, ele usa tal
artifício intencionalmente, deixando de lado o romantismo e a tônica poética,
que estariam mais condizentes com aquela época – se bem que direcionada para a
pessoa errada, pois se tratava de uma mulher casada. Isso mostra uma revolução
nos costumes, na qual as futilidades parecem sobrepujar.
Polycarpo Feitosa serve-se desse gancho
para fazer uma reflexão sobre a Natal dona de uma sociedade fútil, valorizadora
de coisas supérfluas e o "servilismo político" (p.132)
que assolava. Fala do embutimento da moral e o fato de interesses pessoais
serem colocados acima dos direitos dos outros, permitindo ao leitor constatar
que tal comportamento, tão em voga hoje, foi inaugurado há muito.
Na realidade, Roberto Lima não
pagou a dívida do amigo, e sim pagou o ingresso para entrar no seu lar, na
tentativa de destruí-lo.
Curiosamente é possível constatar que a
casa de Gizinha era próxima da catedral, pois eles ouvem o relógio
anunciar vinte e uma hora. Justamente quando Julinho chega e, de cara
com o rival "(...) ficou estarrecido, muito pálido e sem poder
articular uma sílaba. O coração bateu-lhe desordenado, sentiu a impressão de um
frio repentino no diafragma, e durante um bom momento parou em pé, tendo ainda
na mão o chapéu, que tirara ao entrar..." (p. 133).
Roberto
alega não ter vindo a negócio, mas para vê-lo. Todos ficam meio sem jeito e a
visita se despede.
Mal o desafeto sai e Julinho
diz “(...) Se eu encontrar outra vez
aquele sujeito aqui, faço uma asneira.
Ela devolve: “(...) Não será a primeira”.
Ele faz a tréplica brutalmente: “(...) É verdade, a primeira foi casar com
você”.
E Gizinha
encerra: “(...) Chore na rede que é
lugar fresco”.
Gizinha não tinha a mesma sabedoria de sua mãe, a qual lidava com os seus
problemas conjugais de forma muito natural, sem essas afetações psicológicas.
A vida do jovem casal era verdadeiro suplício. Vez em quando Julinho, aparentemente arrependido, tentava
amenizar a situação com algum presentinho trazido da rua, o qual Gizinha recebia com a tradicional
indiferença. Logo tudo voltava a ser igual.
Para não
viver tão só Gizinha visitava os
pais todas as noites, ouvia conselhos da mãe, os quais não obedecia a nenhum. Julinho chegava e nunca encontrava a
esposa e sabia que também fazia o mesmo com ela. Era essa a vida dos dois.
Certo dia Julinho chega mais cedo e se dirige a casa
dos sogros, encontrando a esposa acompanhada de uma roda de conversa
aparentemente muito divertida, na qual estão os sogros e os amigos José de Castro e o velho Queiroz.
A
conversa toma um rumo filosófico e mais uma vez Polycarpo Feitosa coloca o
assunto política como tema principal. É possível encontrar frases irônicas,
pautadas por crítica, faladas por Castro
e Queiroz, como “(...) “O coronel já foi político, e essa mazela é como varíola, deixa
vestígios indeléveis” (p.141). Em outro momento: “(...) Todos os verdadeiros políticos são soberbos como pavões”
(p.141). E ainda sobre o perfil dos políticos de então, encerram com essa: “(...) Há duas categorias principais: uns
são bonecos de porta de alfaiataria, tesos, repuxados e lustrosos, olhando mais
as leis da moda que os artigos da constituição...” (p.141). Como já
refletimos acima, Polycarpo Feitosa – altamente crítico e enérgico, certamente
se referia a alguns personagens reais que lidou.
Ainda
nessa conversa é possível colher uma frase que parece ter sido escrita hoje e
para a atualidade “(...) Aí está o maior
mal: se todos se queixam do meio, e ninguém se esforça para melhorá-lo, nunca
passará do que é” (p.141).
Julinho assiste a toda essa conversa em
silêncio e sem prestar atenção. O contrário da esposa. Com o adiantar das horas
eles se despedem, deixando os pais de Gizinha
conversando sobre o estranho comportamento do genro.
Julinho conseguiu pagar os dois contos que
devia a Roberto Lima, mas isso não
foi o bastante para que o rival deixasse de sondar os menores passos do amigo,
ávido por uma nova falha na qual ele pudesse repetir a prática anterior.
Ademais suas intenções com Gizinha permaneciam
intactas.
Julinho teve um rompante de seriedade e se
afastara das jogatinas de roleta, limitando-se ao poker e ao bacará, inclusive passou a voltar para casa mais cedo.
Algumas vezes nem saia. Mas o novo comportamento apenas amenizou as discussões.
O resto continuou igual.
Nair Soares se casara com Florêncio, abastado comerciante de Mossoró, adiantado na idade.
Resolvem residir no sertão, onde também levaria a mãe D. Margarida. Antes de partir faz visita a Gizinha.
Nair diz que o marido é muito bom para ela. Gizinha pergunta: “(...) E isso assim tão bom... a todas as horas?
Nair responde: “(...) Ah, sim, a todas as horas”.
O
questionamento de Gizinha permite ao
leitor suspeitar que ela não era feliz sexualmente com Julinho. Certamente tanto desprezo era fruto dessa insatisfação.
Urge as perguntas que jamais serão respondidas: no que consistia exatamente
essa insatisfação sexual? O que Gizinha
pensava ou conhecia sobre sexo?
Nair, pelo contrário, conta-lhe ser feliz
sexualmente e isso deixa Gizinha
arrasada. “(...) Gizinha contemplava a
amiga, e com a continuação daquela conversa íntima o seu enfado aumentava, não
porque a outra fosse favorecida pela sorte, que ingenuamente supunha caber a
todas as casadas, mas porque ‘só ela não a tinha’ (...)”.
Em que
consistiria essa ‘felicidade sexual’ que a amiga dizia vivenciar?
Natal
não falava outro assunto, exceto o caso do incidente do tiro em Roberto Lima.
"(...)
Sem perspicácia nem experiência para distinguir amor de desejo, nem podendo
conhecer a índole egoísta e a vontade pertinaz do antigo adorador, para quem
todos os caminhos eram retos desde que o levassem à satisfação dos seus
desejos, ela via naquela intervenção uma prova de amor, que não descobria nas
declarações anteriores. E, involuntariamente, apesar do sólido fundo de
honestidade do seu caráter e da firme resolução de manter-se digna da família e
da consideração social, um vislumbre de simpatia e de gratidão substituiu-lhe
no ânimo o antigo ressentimento contra Roberto". (p.152).
Gizinha percebe que o seu casamento
seria eternamente daquela forma, e para agradar a sociedade nada faz para mudá-lo.
Busca inspiração em sua mãe a qual agia sempre com maturidade e sabedoria
diante dos problemas com o marido, embora suas diferenças matrimoniais eram
totalmente diferentes da de Gizinha.
Gizinha se auto-avaliava como uma
pessoa superior ao marido sob o ponto de vista da inteligência, pois este não
acompanhava o raciocínio desta quando os assuntos eram leitura e ideias. As
ideias da esposa não batiam com as dele.
Julinho era de uma geração que se
auto-afirmava através do esporte, julgando-se em tudo superior, inclusive nos
músculos, no futebol e no box, onde Gizinha
jamais poderia competir com ele.
A
atitude de Roberto Lima de livrá-lo
dos dissabores da responsabilidade de um crime acabava criando uma espécie de
cumplicidade indesejável entre os dois. Julinho
trazia a certeza de que também existia um laço entre a sua esposa e o seu
rival. Ele julgava-os amantes, e que o rival assumira aquela culpa por remorso.
Isso alimentava ainda mais o ódio para com a esposa e o suposto amante. Ele
chega a pensar em suicídio, mas via nessa atitude a certeza de que a esposa
iria definitivamente para os braços de Roberto
Lima.
Essa
situação nos reporta a Dom Casmurro, publicado quase trinta anos antes, no
tocante àquele misto de dúvida e certeza sobre a traição da esposa.
O
convívio entre o casal torna-se intolerável. Não se falavam. Não se colocavam
mais juntos à mesa das refeições. Intimamente ele amava Gizinha. Era um sentimento de posse, e esta parecia apenas sentir
por ele uma espécie de piedade e ao mesmo tempo raiva, aliás raiva de ambos
terem chegado àquele ponto.
Enquanto
Julinho se trancava em seu mundo,
sem desabafar com ninguém, Gizinha encontrava
conforto nas longas conversas com a mãe, a qual faz colocações para a filha que
permitem ao leitor refletir sobre a vida vegetativa e sem dignidade a qual a
maioria das mulheres viviam naquela época, presa às amarras de um casamento
infeliz. Isso tudo para se livrar da crucificação social que eram submetidas
aquelas que rompiam as raias do matrimônio para viver a sua própria vida.
Percebe-se
claramente que o autor tinha conhecimento da história da intelectual Nísia
Floresta, sua conterrânea, a qual escolheu separar-se do marido e cumprir um
destino de apedrejamento social, que dura até hoje, mesmo passados cento e
vinte e nove anos da sua morte.
NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA |
Dona
Regina com certeza choca o leitor de
época quando mostra as opções que a filha tinha: "(...) se temos a
consciência tranquila, só há dois caminhos: ou desprezar, ou separar, e este é
mais grave diante da opinião dos outros". Tudo bem que a composição do
personagem de D. Regina oscila entre
conservador e moderno, mas não é imaginável que ela dê margem a separação da
filha diante da "crucificação" social que essa sofreria, e também da
própria cultura das senhoras da época, as quais se submetiam às piores
humilhações em nome do matrimônio. As próprias mulheres apedrejavam aquelas que
tivessem a ousadia de romper as raias do matrimônio. Do dia para a noite
estariam legadas ao piores adjetivos.
Gizinha ainda questiona: "(...)
De modo que tenho que sacrificar a minha felicidade à opinião dos outros?"
(p.161).
A
atitude de Julinho torna-se cada vez
mais inconciliável com a vida em comum. Passava o dia fora de casa, e quando
junto à esposa, mostrava-se incomunicável.
Certo
dia ele faz as malas e desaparece. Apenas a empregada testemunha a sua muda
saída. Não foi dada satisfação a ninguém. Assim que ambas as famílias tomam
conhecimento reúnem-se juntamente com amigos mais próximos na casa do Sr. Silveira.
Dona
Regina desenrola todo o novelo da
história. Nos últimos tempos Julinho suspeitara
que Gizinha recebia cartas,
bilhetes, souveniers e se encontrava
em algum lugar com o seu rival. Estava paranóico com tais suposições.
José de Castro, ouvindo atentamente,
filosofou: "(...) Em suma, o que se
infere em tudo isso, enquanto caminhavam pelas calçadas da Avenida Rio Branco,
é que, nos melhores casos, e nas condições mais favoráveis, o amor conjugal vai
se tornando um mito" (p.167).
E,
(...) O que há é que hoje os costumes
sendo menos regrados, mais livres de qualquer freio, pois que deram um ponta-pé
na velha moral do meu tempo, e não a substituiram por outra".
Num dado momento, a
conversa entra num contexto no qual alguém associa vestidinhos sumários a
degradação. O “filósofo” diz que nem sempre, pois “(...) vestidinhos sumários se harmonizam com a honestidade perfeita e
com a retidão do procedimento, como essa que há pouco vimos” (p.168). Em
ambos os casos fizeram referência à Gizinha,
até porque, apesar de seu comportamento ultramoderno, nunca traiu o marido,
mesmo tendo oportunidade.
Mais adiante Castro diz que os homens não mudaram,
pois ainda não compreendiam as mulheres. E outro diz: “(...) ou não podemos”.
Essa colocação é uma
das pérolas do livro, a julgar pelo sentido filosófico e por estar à frente da
época. Lembremos que a própria conterrânea do autor também disse isso – muito tempo
antes – com outras palavras.
E continuando a roda
de conversa ainda sobra tempo para falarem sobre o interesse que a mulher vem
apresentando até mesmo na política. Esse último assunto, é claramente
influenciado por uma grande novidade que o Rio Grande do Norte proporcionou ao
mundo, elegendo Alzira Soriano como a primeira prefeita do Brasil.
O episódio
ocorreu em Lajes, em 1929 – onde Gizinha
e Julinho passaram a lua-de-mel
– e na vida real Polycarpo Feitosa possuía uma granja. Esse fato ocorreu um ano
antes da publicação de Gizinha.
ALZIRA SORIANO AO CENTRO |
Ainda sobre política,
foi na Mossoró de 1927 que a natalense Celina Guimarães tornou-se a primeira
eleitora do Brasil. Curiosamente, em 1934, o Rio Grande do Norte elege a
curraisnovense Maria do Céu Fernandes como uma das primeiras deputadas do Brasil.
Poucos meses depois
encontravam-se na casa do Sr. Azevedo,
nas tradicionais rodas de conversa noturna, Queiroz, Castro, Gizinha, Dona Regina e Fernando,
o qual havia chegado recentemente de Recife, onde fora aprovado no exame
vestibular na Academia.
De repente chega Azevedo, sem dizer uma palavra e
entrega um telegrama para Dona Regina.
Julinho havia falecido recentemente, em Manaus.
PERSONAGENS: Claudino (chofer); Rosendo e Oliveira (rapazes vizinhos do sítio onde Gizinha passara a lua-de-mel).
DITOS: "Cada um sabe as linhas com que cose". (p.15) - "Em política tudo se conserta e acomoda, o gato com o cachorro, a onça com o bode" (p.55). “Todos os verdadeiros políticos são soberbos como pavões” (p.141).
Fim
PERSONAGENS: Claudino (chofer); Rosendo e Oliveira (rapazes vizinhos do sítio onde Gizinha passara a lua-de-mel).
DITOS: "Cada um sabe as linhas com que cose". (p.15) - "Em política tudo se conserta e acomoda, o gato com o cachorro, a onça com o bode" (p.55). “Todos os verdadeiros políticos são soberbos como pavões” (p.141).
PALAVRAS REGIONAIS: galhofeira,
espalhafato - espevitada, vexame (pressa), "danado" - contanto que
não "brome" - encalacrado - somiticaria - "dar para trás" -
diabo de tanto baile! - como o diabo -'senhora das suas ventas', róseo - maninhas - uma linguinha feroz';
“ronceiro” (p. 86);
DANÇAS: fox-trots, tango,
rag-times, maxixes, valsa
GÍRIAS: dar o fora,
"flirt" (paquera por olhares e piscadas), “aperuar”,
BAIRROS E LUGARES: Avenida Rio Branco
- Ribeira - Tirol - Alecrim - Baldo – Areia Preta, Praia de Redinha, Genipabu,
Rio de Janeiro; Macaíba, Serra-Caiada; as vedetas de Borborema; região de
Potengi e Trairi; Serra de “Joana Gomes”; Serras do Olho d’Água, Salgado,
Vermelha, Santa Rosa, São Pedro, Serra Preta; Santa Cruz; Clube Poti, Mossoró,
RUAS: Rua da Conceição,
Rua Santo Antonio,
INSTITUIÇÕES: Ateneu, Teatro
Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão), Cinemas, Forte dos Reis Magos,
EXPRESSÕES
ESTRANGEIRAS:
"set" (pessoas de classe mais simples) - "crepe Georgette"
- strass - - caften - bufete - "plafonniers" (espécie de imensos
abajures) - smokings
OBJETOS: - óculos de celulóide escuro
Sensacional essa postagem. Adoraria ver uma postagem sobre o percurso da poesia e da prosa riograndense.
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