OTACÍLIO ALECRIM |
Normalmente os estudantes
universitários que, por paixão ou orientação docente, se interessam por algum
personagem estrangeiro da história, literatura etc, iniciam um processo
contínuo de leitura das obras do autor e tudo o que escreveram sobre ele. Os
mais ilustrados vão logo atrás das obras originais para lê-las na língua
materna do escritor. Dessa forma parecem sentir melhor a alma do autor.
Nem
sempre a universidade possui material teórico vasto sobre determinados temas, e
isso dificulta o necessário aprofundamento. A solução é partir para as grandes
universidades à cata do que for possível para copiar, tomar emprestado, ler,
reler, enfim iniciar a construção do projeto. Diante disso há casos de
universitários que empreendem verdadeira odisseia.
Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust (um dos mais extraordinários escritores da literatura universal) |
Mas
quando o objeto de estudos é o excepcional escritor francês Marcel Proust (Auteuil, 10 de Julho de 1871 — Paris, 18 de Novembro de 1922),
todo estudante brasileiro, em especial os norte-riograndenses, têm uma fonte
das mais ricas no seu próprio estado, e não sabe. Refiro-me a Otacílio Alecrim
(1906-1968), uma dos maiores intelectuais potiguares e precursor (até o seu
falecimento) no estudo da obra do citado escritor, inclusive autor de vários
trabalhos sobre Proust.
Prova
da erudição e de o quanto Otacílio Alecrim estava adiantado em termos de
novidades em literatura estrangeira de qualidade, é o fato de ele deter vasto
conhecimento sobre a célebre obra proustiana A la recherche du temps perdu (Em busca do tempo perdido) quando
seu autor era quase um ilustre desconhecido no Brasil. Um dos seus livros
“Província Submersa”, verdadeiro primor literário, publicado em 1957, tem no
próprio título uma aura proustiana. O autor exalava Proust. Não foi a toa que
ele escreveu:
“Esse Proust – o das peregrinações ruskinianas em busca
da Província perdida - é sem dúvida o que sempre mais senti e por isso o
que sempre mais admirei. Impressiona-me nele, quando o releio desse modo
particular, qualquer coisa de indizível mas que me faz viver delícias de
leitura até então não experimentadas. Ele aprofundou e poetizou um tema – o
souvenier afetivo da infância na província – que na literatura do gênero haverá
de sobreviver com o odor evocativo dos lilases de Illiers”.
Antes dele existiu outro potiguar
precursor na leitura da obra de Proust, Jayme Adour da Câmara. Mal havia saído
do prelo La recherche du temps perdu
e lá estava ele com a obra francesa debaixo dos braços, já lida e relida,
dentre outras que sucederam. Ele dizia que Proust significa um divisor de
águas, pois o romance moderno passou a ser outro depois dele.
ALECRIM, TERCEIRO À DIREITA |
Mas é importante destacar que
este foi apenas um ferrenho leitor. Diferente de Alecrim, que além de estudar
perquirir as obras de Proust, escrevia sobre elas e sobre o escritor, além de
também ser escritor extraordinário com características próprias. Sem esquecer
que foi um dos maiores especialistas na literatura francesa de sua época.
Otacílio Alecrim integrou um rol
restrito de intelectuais brasileiros estudiosos das influências francesas no
Direito Constitucional Brasileiro. Jurista, crítico literário, filósofo,
conferencista, e profundo estudioso das ideias e das instituições do Brasil
Império. Até hoje esse intelectual consta no rol dos grandes teóricos de
Proust. Sua intelectualidade levou-o a ser eleito para a Sociedade dos Amigos de Proust na
França.
JOSÉ AUGUSTO BEZERRA DE MEDEIROS |
Otacílio Alecrim tinha vocação política.
Certa vez, seu amigo José Augusto Bezerra de Medeiros, governador do Rio Grande do
Norte o convidou para ser seu chefe de gabinete. O jovem macaibense tinha sido
um fiel defensor do político, inclusive discursado na campanha. Ele acalentava
a vontade de seguir carreira política, mas decepciona-se com o amigo ilustre,
que designa-o para ser professor no Colégio Atheneu. Esse gesto motivou-o a
deixar o Rio Grande do Norte, onde voltou algumas vezes apenas em visita, ou
quando convidado para conferenciar.
Ainda bem!
ESTUDOS
PROUSTIANOS DO AUTOR
·
Proust.
Correio da Manhã (SL), de 22 de agosto de 1948.
·
Museu de literatura Proustiana. C.M. (SL), de 12 de setembro de
1948.
·
Introdução à Bibliografia
Proustiana. C.
M. (SL), de 26 de setembro de 1948.
·
À Província de Combray. C.M. (SL), de 24 de outubro de
1948.
·
Sistemática da Bibliografia
Proustiana.
Revista Branca (Homenagem a Proust), nº 4, de 1º de dezembro de 1948.
·
Proust e a Província. Conferência lida na Academia
Norte-Riograndense de Letras, Natal, 12 de dezembro de 1949.
·
Em busca da Província perdida. Edição especial da revista
Nordeste, do Recife, nº 5; de 1º de dezembro de 1949, dedicada a Proust – o
Romancista da Província.
·
Repertório de Estudos Proustianos. Revista Branca, nº 12, de 1º de
agosto de 1950.
·
Raízes de Proust. Na proustiana brasileira,
poliantéia editada pela revista Branca, 1950, por motivo do 25º aniversário da
morte de Proust.
·
Técnica da Prosa Impressionista (O Estilo Artista de Proust), na
revista Cultura, nº 6, 1954, editada pelo S.D. do Ministério da Educação.
·
Recriações da Memória Proustiana. Capítulos VI-X dos Ensaios de
Literatura e Filosofia, Rio, 1955. Análise, pelo método comparativo, de fontes
e influências no À la recherche du Temps Perdu.
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OBRAS DE OTACÍLIO ALECRIM:
- Tamatião, Natal, tipografia Minerva - 1931
- Fundamentos da Cultura Civil - 1933
- Fundamentos do Standard Jurídico - 1941
- Fundamentos do Seguro do estado - 1941
- Província Submersa - 1957
- Ideias as Instituições do Império
- O Sistema de Veto nos estados Unidos
- Ensaios de Literatura e Filosofia, Rio - 1955
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OBRAS DE OTACÍLIO ALECRIM:
- Tamatião, Natal, tipografia Minerva - 1931
- Fundamentos da Cultura Civil - 1933
- Fundamentos do Standard Jurídico - 1941
- Fundamentos do Seguro do estado - 1941
- Província Submersa - 1957
- Ideias as Instituições do Império
- O Sistema de Veto nos estados Unidos
- Ensaios de Literatura e Filosofia, Rio - 1955
LUÍS CARLOS FREIRE –
FEVEREIRO DE 2009
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