Cemitério de Cururu (Campo de Santana) - Políticas Públicas de Turismo e Participação dos Nativos
No dia que estive no antigo povoado
do Cururu, "Geto", o jovem senhor que me acompanhou, informou-me que
dia desses um rapaz subiu com uma motocicleta a mesma vereda que nos servimos
para chegar até o cemitério daquela localidade, situado no ponto mais alto de
Campo de Santana.
Ele narrou o episódio admirando a destreza
do piloto, pois, como escrevi no texto anterior, o caminho é muito íngreme e
permeado de cajueiros, obstáculos quase intransponíveis por uma pessoa a pé,
imagine uma moto.
"Geto", que é agricultor e
trabalha na localidade, disse que eventualmente ouve o ronco dos motores em
outros pontos de dunas, assinalando a presença de praticantes de esportes. O
objetivo deste texto é exatamente provocar reflexões sobre o trânsito de
veículos nessa localidade.
É muito importante o incentivo às
práticas esportivas, mas, mais importante é construir previamente políticas
públicas no âmbito das secretarias municipais de esporte, turismo e meio
ambiente locais. E, principal: os moradores de Campo de Santana devem ser
chamados a participar de tal projeto. Se isso “virar moda”, as consequências
negativas virão logo em seguida.
Observei que boa parte dos nativos,
por serem pessoas simples - comporta-se com muita ingenuidade quando veem
veículos transitando nas dunas (embora não seja regra, pois "Geto"
manifestou preocupação). Essa ingenuidade é preocupante, pois os nativos ficam
olhando os motoqueiros ou os motoristas de "bugues" com uma espécie
de contemplação. Há passividade. Ninguém os aborda para, educadamente dizer que
não é adequado percorrer aquela área com qualquer tipo de veículo. Assim
faziam, em 1500, os povos indígenas quando os europeus apareceram por aqui
saqueando tudo. A presença desses "seres extraterrestres" parece
promover um espetáculo para quem está habituado apenas a ouvir o canto dos
pássaros e o farfalhar das palhas de coqueiro.
Precisamos reconhecer que é inviável
promover o sobe e desce nessas dunas sem amenizar a sua depredação. Só as
pisadas humanas já são o bastante para forçar a descida de suas areias, imagine
de motos e, pior, de veículos "bugues". Foi por esse motivo que, em
Natal, proibiram esse tipo de trânsito nas areias desse belo ponto turístico.
Na realidade falta um projeto de
turismo para o local. Desse modo os nativos seriam despertados a interagir com
os turistas e corrigir situações de desrespeito às regras de conservação do
local. Haveria mais legitimidade na abordagem. A ingenuidade dos seus
habitantes é até compreensível, pois os mesmos não foram despertados para isso.
A partir do momento que existir algo bem elaborado, cria-se o respeito. O olhar
do turista (e do nativo ingênuo) muda.
Não sou especialista, mas na minha
insignificante opinião deveria-se fazer uma escadaria rústica - com troncos de
coqueiros colocados horizontalmente, fazendo as vezes de escadaria. Para isso,
bastaria-se podar as ramagens finas dos cajueiros, sem cortar seus galhos
grossos, permitindo a subida apenas de pessoas. Quem chegasse com motos,
estacionaria para ter acesso ao cemitério.
Desde que o homem surgiu no planeta
Terra usa de técnica parecida para plantar suas roças sem sofrem erosões e -
obviamente - para subir as regiões montanhosas. Todas permanecem intactas até o
presente. No caso eles faziam uma espécie de muros de pedra ao longo da área,
numa sucessão interminável, até chegar a sua base.
Quando eu caminhava no sopé da duna
onde está fincado o cemitério, passei por uma porteira, à esquerda, já chegando
à referida vereda. Vi uma cena esdrúxula. A cancela traz uma placa com a
seguinte informação: "Preserve a natureza".
Poderia não ser esquisito se dentro
desse terreno não houvesse uma cratera imensa cavada na base de uma duna. Dela
saíram algumas carrocerias cheias de areia para alguma obra. Só espero que tal
absurdo não seja uma iniciativa do poder público local - não é possível! Tanto
lugar para retirar areia e escolher logo a base de uma duna. Pior: num lugar
paradisíaco.
Detalhe da antiga Capela do Cururu |
Só para raciocinarmos melhor:
observe que o cemitério do Cururu é murado. Isso reforçou ainda mais a
integridade do local, pois impede que a ação do vento arrie aos poucos as suas
areias, fragilizando os túmulos. Há - logicamente - a barreira natural formada
pela vegetação nativa, que "freia" o vento, mas o muro reforça a
preservação do local.
O leitor cuidadoso poderá pensar que
estou sendo contraditório, pois no texto que escrevi sobre o Cemitério do
Cururu, externei a minha revolta com o estado de abandono do local, no qual se
encontram belos túmulos. Mas estado crítico. Um deles, inclusive, tombou quase
inteiro.
O estado caótico dos túmulos que
restaram decorre da própria antiguidade. São peças esquecidas no tempo, como se
nem parentes restassem para o devido zelo. O reboco de dois deles se desprendeu
totalmente. Jaz seu esqueleto de tijolões. Vê-se um leve deslizamento da areia
do alicerce, mas nada que um breve reparo não resolva. Um dos mais bonitos foi
literalmente empurrado por um cajueiro nativo que invadiu a área com a intenção
de retomar o local.
Curiosamente veem-se muitos túmulos
com suas cruzes quase soterradas pelas areias. Esse fenômeno ocorre apenas com
os que são desprovidos de alguma construção de alvenaria sobre eles, como
mostram as fotos. Nesse caso a ação do vento, ao invés de varrer as areias,
avoluma-se mais.
Finalizando, fica este texto como um
convite para que Nísia Floresta tenha olhos civilizados para esse tesouro de
valor incalculável. Quiçá o poder público local destine parte do seu portentoso
IPTU para um projeto de turismo, junto à secretaria específica e coligadas,
como às de educação, cultura e meio ambiente. Com certeza não faltará apoio do
MINC.
O povoado do Cururu precisa de uma
estrutura adequada para acolher o turista. Nela devem existir ambientes de
gastronomia (limitado, pois se abrir para todos vira bagunça), banheiros limpos
e confortáveis, lojinhas para venda de artesanato, comidas e bebidas típicas. O
acesso deve ser melhorado com o mínimo de dano possível.
Tudo deve ser bem
sinalizado a partir da pista de entrada de Campo de Santana. Toda a área deve
ser servida de lixeiras e serviço regular de coleta. Somado a isso o turista
deve contar com guias de turismo muito bem capacitados, guias turísticos e
guardas para possíveis intervenções. As instituições de educação tem papel
fundamental na construção de um olhar civilizado para esse e outros espaços
locais. Essa tarefa pertence ao poder público.
Minha mão virou 'mão de criança'. Usei-a para que o leitor percebesse o tamanho incomum do tijolo, digno se ser estudado. |
"Geto", o jovem senhor que gentilmente me acompanhou. |
Em primeiro lugar o povo
nisiaflorestense precisa conhecer (e reconhecer) o cemitério do Cururu e as
ruínas da velha capela como um monumento de história e memória. Na realidade
toda essa área é um complexo turístico formidável, pois está emoldurada por um
cenário natural de rara beleza. Um bom projeto turístico deve ser elaborado. Depois
disso, que o lugar seja de livre acesso aos turistas e a quem quer que seja.
Ficar como está é prejuízo para a história e a economia local.
Leia mais sobre Cururu; clique nos sites abaixo:
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Tenho uma colocação sobre ser pagão ou não o cemitério. Obviamente a sua colocação é pertinente, muitos teriam chegado à mesma conclusão de que as pessoas enterradas lá não seriam batizadas Ou pelo menos da religião cristã. Mas será que o fato do paganismo não está relacionado com o fato do terreno do cemitério não ser consagrado e por isso ser uma área pagã? Todo cemitério Cristão para abrir as portas é necessária que o clérigo local Benza o local. Para consagrar o terreno. Fica aí outra possibilidade para o nome.
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