Na rua das Virgens, nº 184, na Ribeira, um sobrado chama a atenção pela beleza arquitetônica e aparência descuidada. É chamado por todos de "A casa nazista". O imponente exemplar foi construído para ser residência do imigrante iItaliano Guglielmo Lettieri. Mas quando você entra, algo muito mais curioso chama a atenção. Como se pode ver nas fotos abaixo. Uma extensa parte do piso, em ladrilho hidráulico, traz o desenho de uma cruz suástica.
Sabemos que essa cruz é permeada de lendas, nem tanto por sua origem milenar, mas por ter sido adotado por Adolf Hitler, como símbolo do nazismo tão exibido nos uniformes militares, placas e documentos. A bela residência abrigou o Consulado da Itália e após a morte do seu proprietário, a Bolsa de Valores de Natal. Não se sabe nada sobre esse belo exemplar arquitetônico que sobrevive na Ribeira dentre meia dúzias de casarios de rara beleza.
Independente
de se tratar de lenda ou não, há quem defenda que o
cônsul italiano Guglielmo
Lettierie, que
ali morou,
era
admirador dos nazistas e mandou confeccionar o ladrilho para
homenagear Hitler. Mas não se sabe se isso é verdade, nem podemos afirmar isso, tendo em vista que quase nada sabemos sobre Guglielmo, inclusive não sabemos se foi ele quem mandou construir o palacete ou já o encontrou assim ao adquiri-lo. Até hoje, ninguém localizou parentes. Não há registros fotograficos dele e de seus familiares. Devemos considerar também que a cruz suástica se tornou um monstro depois do nazismo, portanto esse símbolo poderia estar ali com outra finalidade. Nada sabemos. Guglielmo nasceu
em 6 de maio de 1887, em
villagio
de
Casalleto Spartano, na Itália.
Contam
que no ano de 1897
ele
visitou o Rio de Janeiro com sua família, se
apaixonou pelo Brasil, se organizou e retornou ao
Rio no
dia
3 de outubro de 1903, com 16 anos de idade. Perambulou
um tempo em Recife e depois se mudou para
Natal, onde
ficou até a sua morte.
Foi
proprietário de muitos
negócios no Estado. Fundou a tradicional
Cantina Lettieri e montou
primeira
fábrica de gelo de Natal na década de 30. Em
1928, enquanto representante
da comunidade italiana em Natal, recebeu na
referida casa os
aviadores transatlânticos Arturo Ferrarin e Carlo Del Prette, e em
1931 o General Italo Balbo.
Em
1938 foi nomeado cônsul da Itália no Rio Grande do Norte, e
transformou
o
consulado italiano em Natal exatamente
nesse local.
Preso em 25 de junho de 1942, acusado de espionagem foi
condenado em 22 de dezembro a 14 anos de prisão pelo Tribunal de
Segurança Nacional.
Após
a sua morte, seus
familiares venderam o prédio à
Bolsa de Valores do Rio Grande do Norte, que funcionou por muitos
anos no local. Sabe-se
que no Brasil há diversas referências a cruz da suástica, mas nada que se compare
ao que se vê no piso dessa residência, nem a finalidade delas. É uma edificação belíssima apesar de não estar bem cuidada por fora. É digna de ser conhecida por
todos. Por curiosidade, vale ressaltar que, assim como outras
residências da ápoca (como a de Tavares de Lira)
todas
as suas paredes e a laje são reforçadas por grandes vigas de
trilhos que foram utilizados no século XIX em vias férreas para o
tráfego de trens.
Se
as suásticas ali afixadas são em homenagem ao nazismo ou uma mera
referência à sua origem milenar, só mesmo Guglielmo
Lettierie soube
responder. Ou os seus parentes, quando encontrados para esclarecer. Mas, a julgar por relação com o nazi-fascismo, resta aos curiosos apenas especular, até porque em termos de
espiões nazistas que aqui transitaram durante a Segunda Guerra
Mundial, de fato a história conta que houve muitos, e os
norte-americanos não pareceram interessados em combatê-los... Inclusive esse último detalhe foi escrito por um historiador norte-americano por nome de Clyde Smith Jr.
O
local, atualmente, abriga um restaurante de excelente qualidade, cujo
proprietário é pessoa agradável, que recebe a todos com muita
atenção. A casa, de fato, tem uma arquitetura admirável e conserva quase totalmente a sua originalidade. É rica em detalhes que a tornam digna do conhecimento de todos.
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