ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

terça-feira, 19 de abril de 2022

O que Monteiro Lobato escreveu sobre Nísia Floresta


O QUE MONTEIRO LOBATO ESCREVEU SOBRE NÍSIA FLORESTA (L.C.F. 2016)

Monteiro Lobato foi um intelectual múltiplo. Escrevia com propriedade assuntos díspares; navegava nos mares remansos da Literatura Infantil às ondas turbulentas do petróleo e efervescências políticas. Altamente politizado, foi preso preventivamente, acusado de crime contra a segurança do Estado e a ordem social, acusado de injuriar os poderes públicos e os agentes públicos. Além de autor de renome, tinha longo histórico de defesa das posições nacionalistas, principalmente nos temas do ferro e do petróleo.

Sua obra se divide entre Literatura Infantil, juvenil e adulta. Como muitos intelectuais, ele  também escrevia em jornais e compilava os textos, transformando-os em livros. Nísia Floresta fez isso quando publicou a obra “Opúsculo Humanitário”. Ela reuniu alguns artigos que escreveu inicialmente em jornais do Rio de Janeiro.

Nísia Floresta aparece na obra de Lobato apenas nesse livro – pelo menos até onde a li - no ensaio intitulado “A Feminina”, publicado em jornal no dia 26 de janeiro de 1926. Sete anos depois, em 1933, o ensaio reaparece na coletânea “Na Antevéspera”, mesmo ano em que Escragnolle Doria escreveu o ensaio que já vimos anteriormente (vide blog).

Os textos de “Na Antevéspera” prenunciam o fim da República Velha e descortina a agitada década de 20, muito bem analisada por Lobato, que também incluiu textos de outras épocas, inclusive do tempo em que era aluno de Direito na capital paulista. Nele o autor escreve sobre diversos temas, de lavoura a literatura.

Assim como Nísia Floresta, Monteiro Lobato também sofreu críticas em seu tempo, mas por questões políticas. O tempo passou, os cenários mudaram e ele continuou muito lido – como é até hoje –, até reaparecer fortes críticas a alguns de seus livros infantis. Dessa vez não foi por política. Nos últimos anos, Lobato tem sido demonizado, principalmente pelos povos pretos, acusado de racista em alguns pontos de sua obra infantil.

Os críticos parecem não se permitir pensar sobre o contexto da época - em qual condição Lobato produziu algumas falas -,  quando brancos e pretos usavam expressões que hoje são condenadas, mas que, a meu ver, não é parâmetro para sentenciar Lobato um racista. Já estive com uma professora preta que defendeu ferrenhamente que jamais lê Monteiro Lobato para os seus alunos, pois não é insana de divulgar um racista. Tentei fazê-la rever a sua visão, destacando o que está neste texto, mas foi em vão, inclusive ela desapareceu das páginas do Facebook depois desse diálogo comigo.

Alguns intelectuais também apontaram Nísia Floresta como racista. É compreensível essa visão se lermos textos nisianos isoladamente. É assunto muito amplo, e para outro momento, mas adianto que isso também é um grande equívoco, embora há algumas controvérsias em alguns pontos da história dela. No que concerne a Monteiro Lobato, ele foi fruto de seu tempo, e tendo usado determinadas expressões, hoje tidas como preconceituosas – e que equivocadamente eram aceitas como normais em seu tempo –, não justifica o acusarmos de racista, sobretudo um gigante como ele, um visionário e um dos maiores defensores da leitura, das bibliotecas, das editoras e dos avanços culturais do Brasil. É dele a clássica frase: “Um país se faz com homens e livros”. Mas ressalvo que o objetivo deste texto é apenas apreciarmos em qual contexto Lobato citou Nísia Floresta, outros assuntos ficam para quem tem propriedade para falar sobre ele.

***

LOBATO FEMINISTA (L. C. FREIRE, 2016)

O sol do século XIX raiava em seus meados. A Literatura Brasileira insistia em apresentar as mulheres como as que o sociólogo Gilberto Freyre conta em Sobrados e Mucambos. Eram apenas donas de casa. Quando raras leitoras – normalmente as abastadas –, se apegavam apenas a livrinhos de rezas, aos açucarados romances franceses e pareciam sempre preocupadas em copiar modas e costumes importados da Europa, em especial França e Inglaterra.

Já existia meia dúzia de exemplos femininos que quebravam regras na Europa, tanto escritoras quanto personagens dos livros; que o diga Flaubert, com a sua Madame Bovary, mas a mulher submissa e quase propriedade do marido, seguia em alta em meados dó século seguinte. 

Flaubert . 1821-1880

Exatamente nesse tempo Monteiro Lobato faz surgir personagens femininas incomuns, metendo o nariz no panorama conservador e patriarcal, inaugurando comportamentos atípicos, que destoavam do que se conhecia até então. Lobato inauguraria um cenário diferente, com outro perfil feminino na Literatura Brasileira, ou melhor, na Literatura Infantil. Ele apresenta Dona Benta, a dona do Sítio do Picapau Amarelo, Narizinho, Tia Anastácia e a famosa Emília, a boneca de pano que ganhou alma.

Há muito o que se conferenciar sobre tais personagens, mas já que falamos sobre Nísia Floresta – a primeira feminista da América Latina –, nos apegaremos ao fator atípico em que Lobato inseriu suas personagens femininas na Literatura, o que o torna um visionário. São mulheres protagonistas, com ideias próprias, autonomia e comando, atitudes que eram exclusivas dos homens. E dentre essas personagens, a mais velha, Dona Benta, uma mulher culta, que falava aos olhos das ciências.

Alguns livros infantis que li para o meu filho durante a sua infância, antes do sono chegar.

Elas moram num sítio delicioso, talvez parecido com o Sítio Floresta, em Papary, onde residiu a pequena Nísia Floresta. Nesse Éden também residiam personagens masculinos, todos harmonizados com os personagens femininos. O homem, ali, estava de igual para igual com as mulheres. Exatamente como Nísia Floresta reivindicava desde que se entendeu por gente e, depois, em suas obras publicadas.

Inegavelmente, Monteiro Lobato – leitor de Nísia Floresta – quebrou a tradição autoritária e patriarcal ao desfilar em suas obras personagens femininas com luz própria e que eram ouvidas por homens e mulheres. Isso se amplifica quando percebemos que ele leva essa mensagem exatamente para quem era de direito: as crianças. Os picorruchos que houvessem lido as histórias lobatianas com tais personagens, seriam diferentes dos picorruchos que lessem literaturas que mostravam mulheres submissas. Ou seja, Lobato educava as crianças – justamente as crianças – para que elas, esclarecidas, passassem a mudar a sociedade. Nísia Floresta também escreveu romances com mulheres protagonistas. Ela também citou personagens clássicas femininas que tiveram atitudes visionárias na História Universal antiga. Ela se fundamentava nessas personagens para os seus parâmetros.

                           Redalyyc

Como sabemos, desde o início do século XIX, em várias partes do mundo, em especial na Europa, não faltavam exemplos de mulheres que externavam suas ideias visionárias em jornais e livros. Elas clamavam por direitos iguais. E quando lemos esse ensaio de Monteiro Lobato sobre mulheres que pretendiam criar uma academia feminina de letras, quando num determinado ponto ele diz: “... Durante a sessão uma lerá versos de poetisas esquecidas, como a Nísia Floresta; outra dissertará sobre o absurdo do sapato das chinesas; outra deitará apóstrofes fulminantes contra o tráfico das brancas; outra provará que a inteligência humana não tem sexo”, percebemos inúmeras mensagens feministas nesse breve trecho. E quando ele menciona Nísia Floresta, além de homenageá-la, revela conhecer seus escritos. Lobato estava antenado nessa questão de direitos iguais para as mulheres. Com certeza ele também havia lido Adauto da Câmara. As obras não infantis lobatianas também revelam várias citações e mesmo ensaios inteiros em que ele enaltece a emancipação da mulher.

Recorte de um conto de fada antigo.

A Literatura Infantil em Monteiro Lobato – no tocante às personagens femininas – é diferente de tudo o que existiu antes, normalmente importado da Europa, consumido pelas crianças que obviamente se educavam na concepção de que realmente as mulheres eram seres inferiores. Isso se percebe nas inúmeras obras clássicas da Literatura Infantil de renomados escritores europeus, inclusive, lidos até hoje. Ressalvo que não estou desmerecendo as obras infantis anteriores a Lobato, até porque cresci saboreando as delícias que elas traziam. Fui marcado por Andersen, Os Irmãos Grimm, La Fontaine, Perrault e até mesmo as Fábulas de Esopo. Foram poucos os brasileiros escritores de Literatura Infantil contemporâneos a Monteiro Lobato. Mas eles não foram visionários como Lobato. Não havia nada de novo em outros escritores de Literatura Infantil Brasileira. Lobato destoou. Como Nísia Floresta destoou das outras moças de seu tempo.

Monteiro Lobato apresentou dona Benta às crianças brasileiras. Ela veio para “deseducar” os picorruchos, desconstruindo a imagem que eles tinham de suas mães,  avós e teriam de suas irmãs. Imagem que não contemplava os livros, não valorizava as ciências. Ela administrava o sítio, era professora dos netos, zelosa, amável, contadora de causos, sempre colocando pitadas de sabedoria. Lia muito. A casa tinha dessas coisas estranhas chamadas de “livros”, cuja proprietária era leitora voraz, dominando diversas áreas do conhecimento. Era uma educadora. Onde se viu isso antes na Literatura Infantil?

Zilka Salaberry no papel de Dona Benta - Primeira versão do Sítio do Picacapau Amarelo, extreado em 1977.

E o mais interessante é que ela educava as crianças para um mundo que deveria avançar. Monteiro Lobato foi genial ao inventar justamente protagonistas mulheres para darem recados ao Brasil, e para os governantes. Todos sabemos que Lobato era um ferrenho defensor da brasilidade, das riquezas brasileiras, da leitura, da criação de bibliotecas... isso está estampado em suas obras... ele era abnegado na defesa de um Brasil que explorasse o petróleo, enfim, era múltiplo... e – pasmem! – ele coloca no colo de uma mulher, a dona Benta, a responsabilidade de levar os pensamentos visionários dele.

Por que não colocou um homem? Um vovozinho sábio? Ora! Porque ele havia lido feministas. Havia lido Nísia Floresta, e lido sobre Nísia Floresta, a primeira feminista da América Latina. Lobato estava atualizado, percebia o quanto eram negados os direitos das mulheres em virtude da injustiça dos homens (em plenos meados da década de 40 do século XX). Lobato escolheu a mulher para gerar um novo entendimento sobre elas, assim como Deus escolheu Maria para gerar Jesus que geraria um novo entendimento à fé. Deus teve duas opções: fazer nascer misteriosamente, como um anjo que surge, ou fazer nascer de uma mulher. Deus escolheu a mulher. Jesus poderia ter surgido sem a mulher, como tantos mistérios de Deus, mas Deus divinizou a mulher. Lobato também divinizou as mulheres ao escolhê-las como protagonistas pioneiras de um comportamento feminino avançado e necessário. Aquele atraso não poderia se perpetuar.

Vejam que audacioso. Quem no Brasil esteve na vanguarda ao reivindicar a extração de petróleo em nossas terras? Foi Dona Benta! E essa loucura se deu em seu sítio. E o sítio prosperou. Prosperidade era a palavra de dona Benta. A obra lobatiana em que aparece essa mulher visionária – “louca” e audaciosa - com certeza não era muito recomendada, tendo em vista o patriarcalismo ainda tão forte nos meados do século XX. Mulher "subversiva"... alto lá!

Pois bem, para equilibrar o ambiente culto e delicioso do Sítio Floresta, aliás, do Sítio do Pica Pau Amarelo, na pessoa da Dona Benta, temos a encantadora Tia Anastácia, que vai empregnar esse oásis com o que temos de mais belo e contagiante no Folclore Brasileiro. Tia Anastácia é afro-descendente - expressão desconhecida à época -, e principalmente com essa personagem ele usaria algumas expressões apedrejadas atualmente por muitos, consideradas racistas.

Lobato não se sentava com gregos e troianos; não andava em cima do muro. E quando isso se junta a uma mente visionária, o apedrejamento vem na certa.

Sobre isso, devemos considerar o contexto da época. Não que fosse certo humilhar alguém por sua condição humilde ou por sua cor. Tais expressões eram impregnadas na sociedade como um todo. Era praticamente o vocabulário da época. Em nenhum momento a sabedoria, a esperteza, a inteligência e a graciosidade dessa personagem tão encantadora é inferiorizada. Pelo contrário. Tia Anastácia é colocada de igual para igual com Dona Benta no aspecto de ter a sua sabedoria popular enaltecida. O conhecimento dela é valorizado tal e qual o de Dona Benta. Lobato coloca o Folclore Brasileiro num panteão, como o fez Mario de Andrade. Ele se serviu de uma mulher preta para essa missão nobre. Lobato educa as crianças a amarem os mais velhos, ouvirem os mais velhos (como bem fazem os africanos), Ele educa as crianças a serem família. E com esse mesmo respeito Lobato age com o Tio Barnabé, que também era preto. 

                                              Dona Benta e Tia Anastácia

Na realidade ainda não li biografias de Monteiro Lobato. Desconheço seus biógrafos e especialistas. O que sei sobre ele está embutido nas sínteses biográficas trazidas em suas obras e meia dúzia de breves leituras sobre ele em jornais e revistas. Sei também de ouvir admiradores dele. Sei pouco. Sei sobre algumas de suas obras. Até aqui não o vejo como racista até que me provem o contrário. O que seria uma decepção, mas mesmo assim a riqueza de suas obras – a exemplo do que aqui escrevo - e o seu exemplo nobre de ter defendido ferrenhamente livros e bibliotecas, sua mente visionária em outros aspectos me bastam, pois foram poucos brasileiros com essa abnegação.

Expressões hoje assustadoras foram parte do cenário de sua época, e que não temos culpa. Sobre isso, lembro-me, quando criança e adolescente (décadas de 70 e 80) de livros de piadas sobre pretos, vendidos nas bancas de revistas. Li muitos. Não que os apreciasse. É que eles existiam em quantidade. Não havia como não lê-los. Sempre achei estranho aquilo. Nunca usei esse material como instrumento de brincadeiras. Nunca me servi de tais informações para contar piadas sobre pessoas pretas na tentativa de humilhar alguém.Os homens do poder demoraram a acordar para perceber essas publicações e criar políticas públicas de cidadania e civilidade. Ainda bem que isso se deu no passado. Hoje, apesar de o racismo continuar presente, é incomparável ao passado. Aqui citei apenas um exemplo.

Mas, retomando às mulheres do Sítio do Pica Pau Amarelo... Tia Anastácia é exímia cozinheira, boleira, doceira, enfim exerce os serviços domésticos bem ao modo da tradição reservada aos povos pretos daquele tempo, que na verdade eram filhos e netos de ex-escravos que ainda não estavam totalmente libertos. No pacote da abolição não veio junto política pública alguma. As mulheres pretas se valiam das cozinhas e dos quintais dos abastados, até o dia em que a situação melhorasse. Para os homens restaram a lida nas fazendas e serviços pesados na cidade. A abolição não significou liberdade imediata. Ela foi construída ao longo de sofridos anos. Isso é outra história.

A adorável Jacira Sampaio, no papel de Tia Anastácia, primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo. Ao seu lado, Narizinho (Rosana Garcia). 1977.

Tia Anastácia, assim como Dona Benta, era um doce de pessoa. Quem assistiu ao Sítio do Pica Pau Amarelo na TV Globo, em sua primeira versão principalmente, na década de 70, como é o meu caso, aos dez anos de idade, queria ter sido Pedrinho para se deliciar com o alimento delicioso saído de seu coração disfarçado de fogão cheio de sabores e fartura, complementados ricamente com o alimento de suas contações de histórias extasiantes. Essas duas senhoras adoráveis se complementavam. Uma era do universo dos livros. Outra, do universo das coisas populares. O sítio era uma felicidade.

As meninas do sítio também são apresentadas por Lobato como inteligentes e autônomas. Não são meninas quietinhas, amedrontadas... O que não era tão comum numa época em que o ranço do patriarcado e do machismo anda se apresentava intenso. Narizinho é falante, desenvolvida, articula bem as ideias, sabe argumentar. Não é aquela menina dependente, passiva, submissa e mais tradicional. Não significa ser uma pessoa adiante do tempo, até porque oscila um pouco tais comportamentos, mas Lobato a mostra como uma menina quebrando tradições e se modernizando. Ela é fruto do meio. Tem uma avó erudita, que conhece as ciências e ouve rádio, lê, é atualizada.Tudo isso sem se despir do necessário respeito aos mais velhos, reconhecendo-os como entes queridos, que devem ser ouvidos e valorizados. A obra lobatiana passa a mensagem sobre valores sempre, mesmo modernizando as relações humanas.

Emília entre Narizinho e Pedrinho

 Emília é astuciosa, perspicaz, curiosa, questionadora, sem filtros, tem iniciativa, não se convence com todas as ideias. Parece que Lobato, achou meio sem sentido uma boneca de pano como as outras, então se fez "Deus" e deu alma a Emília, deu-lhe a alma de Nísia Floresta? Não dizem que os autores projetam as suas ideias nas obras? A propósito, creio que Nísia Floresta foi uma menina inquieta e audaciosa logo cedo. O próprio casamento revela isso. Jamais ela se casaria forçada. É provável demais que, no calor e efervescência da puberdade, ela se apaixonou e caiu nos braços de Manuel Alexandre Seabra de Melo, restando ao pai – que tinha outra mentalidade – assim como a mãe, apesar de não ser alfabetizada, mas liberal – acolhê-la.

Lobato havia lido Nísia Floresta. Sabia que ela não se casou forçada, que não houve aquela ideia de dotes, que não houve casamento arranjado. Isso não combinava com a jovem de treze anos, filha do Sítio Floresta, assim como não combinava com a boneca de pano que ganhou vida, filha do Sítio do Pica Pau Amarelo, onde havia uma fonte constante escorrendo sabedoria. Onde havia – pasmem! – rádio.



Emília tinha ideias adiante do tempo com relação ao casamento. Dizia para todos que não tinha natureza para o casamento, não queria ser submissa. Sem papas na língua, alegava que nas redondezas não havia alguém que valesse a pena. Lobato empresta suas ideias feministas para Emília usá-las em sua obra, ensinando “rebeldia” às meninas, acomodando o feminismo aqui e ali. Mas Nísia, por livre e espontânea vontade, se casou com um rapaz que não valia a pena, e percebendo que não valia a pena,  em menos de um ano quebrou o elo sagrado do matrimônio. Como já comentei no terceiro texto dessa temporada de abril - sobre Raquel de Queiroz - , esse episódio gerou insatisfação por parte dos familiares que residiam em Goianinha, berço de Antonia Freire, mãe de Nísia. Naquele tempo uma separação matrimonial desonrava uma família inteira. Como uma mancha na família.

Em suas criações, Lobato também dava o seu recado à sociedade. Foi um visionário. Sua literatura infantil era diferente do que se conhecia até aquele momento. Sua literatura é nativista. Ele  inaugura o cenário brasileiro como palco de suas criações. Ele apresenta o povo brasileiro ao povo brasileiro e a quem o lesse nos continentes afora. O próprio Jeca Tatu era a cara do Brasil interiorano e desassistido. Era necessário mostrar à sociedade aquele homem real. Sua escrita é diferente de tudo o que líamos antes dele. Não é à toa que crianças e velhos adoram apreciá-lo até hoje. (Meu filho dormia embalado por suas histórias. Cada dia eu lia um trecho, e quando ele começava a fechar os olhos, eu datava o trecho para retomar no dia seguinte. Mas morria de vontade de ir até o fim naquele instante, refazendo a viagem feita na adolescência).

Guardo todos os livros que comprei durante a infância de Fídias. Aqui se vê a história datada. Tem até uma observação. Os livros estão todos assim. Há, de fato algumas expressões que aos olhos da atualidade não soam bem. Li-as do jeito que estava. Meu filho, hoje, tem 22 anos. Tem abominação por pessoas racistas.

Quantos homens e mulheres, hoje adultos, intelectuais, educadores e até escritores, leram ou ouviram a literatura infantil de Lobato. Quantos se inspiraram nele e se tornaram escritores? Sem dúvida, as mulheres do Sítio do Pica Pau Amarelo eram feministas. Feministas à luz daquele tempo. Quebraram protocolos, padrões e tinham ideias próprias. Lobato poderia ter sido igual aos demais. Mas foi diferente. Com certeza Lobato ajudou a formar novas feministas ao longo do tempo. 

 

Pois bem, agora que comentamos um pouco sobre Monteiro Lobato, passeamos no "Sítio Floresta, aliás, no Sítio do Picapau Amarelo, viajamos em alguns momentos da história de Nísia Floresta, vamos conhecer o ensaio em que ele menciona Nísia Floresta:

“Feminina” (por Monteiro Lobato)

Não pode ser mais feliz, com este calor, a ideia da fundação duma academia feminina de letras. Já que a masculina, contrariando a opinião unânime dos fisiologistas, embirra no erro de dar sexo à inteligência não admitindo em seu seio mulheres, lógico se torna o revide da saia, o qual, para ser completo, devia ainda expressar-se à porta numa tabuleta de moer: homem aqui não entra.

 Resta agora que o novo grêmio se organize por moldes autônomos, libérrimos, que deem boa medida da invenção guanabarina.

 Para isto faz-se mister que as fundadoras antes de mais nada se esclareçam no relativo ao que é, foi e poderá vir a ser uma academia, coisa na aparência fácil, mas na realidade dificílima. Tão difícil, que um mesmo homem as define pela tabela A, enquanto as namora, e pela tabela Z, depois que as possui.

 Ao caso não servem definições masculinas; as fundadoras hão de consultar as femininas, entre as quais ressalta a de Mme. de Linange.

 Disse esta aguda Madame: Academia é uma sociedade cômica onde se guarda o sério.

Pergunta-se: conformar-se-ão nossas damas de letras com a rigidez de tal programa? Terão a linda coragem, não digo de ser cômicas, o que seria lamentável, mas de guardar o sério?

Parece-nos difícil. Na fotografia do grupo das fundadoras, publicada pelos jornais, uma há que ri — e ri lindamente.

Vemos nisso um vício de constituição. Riso intestino, assim de começo, lembra cavalo de Troia dentro da Praça — e a sombra de Príamo poderá dizer como são perigosos tais presentes de grego!

Tudo muda, porém, se o riso fica de fora. É neste caso inócuo, pois não consta que riso algum, amarelo ou rabelesiano, jamais haja morto nenhum acadêmico.

Se existissem entre nós editoras, fora lógica a esperança de uma Mecenas, que à vara mágica dum legado resolvesse para sempre a questão.

 Não consta que as haja, e fora daí não parece possível que venha herança.

 É verdade que em França já houve um precedente.

 Clemência Isaura, formosa dama de Toulouse, tomou-se de singular paixão pela Academia dos Jogos Florais, e vendo que por escassez de fundos a olorosa instituição definhava, teve a ideia feliz de legar-lhe sua fortuna.

Tudo mudou, como aqui. Foi um derrame de primavera no esfaimado inverno da academia moribunda. Restaurou-se incontinenti o brilho da festa anual em que, como prêmios às melhores flores poéticas apresentadas, o vencedor recebia uma violeta de ouro.

 Que mimo! Em vez de prosaicos prêmios em vil papel moeda, uma violetinha de ouro!

A renda proporcionada pela interessante Clemência possibilizou a criação de novos prêmios: uma sempre-viva, para as odes; uma eglantina, para as charadas; um amor-perfeito, para os acrósticos; um lírio, para os poemas — tudo de ouro, com exceção do lírio, que seria de prata dourada. Larousse não o diz, mas está no caráter francês. O lírio é flor muito grande para ser reproduzida em ouro...

 Essa Clemência teve estátua no salão nobre do Trianon de Toulouse, estátua que os “maitres és” jogos florais, no 3 de maio de cada ano, revestiam de flores e diante da qual um deles, emergindo de enorme corbelha de rosas, fazia o panegírico da padroeira.

 Há que notar aqui a gratidão dessa gente. Gozavam-se do dinheiro de Clemência, mas não deixavam passar ano sem festa ditirâmbica em sua honra.

E como apesar de tudo inda sobrasse dinheiro, a academia floral agregou às festas simbólicas banquetes lautíssimos. Banquetes que degeneraram em orgia e fizeram intervir, com denúncia ao rei, um marquês de Maricá da época (não ganhara violetinha, com certeza...). 

O qual rei, abespinhado, restabeleceu policialmente o sério próprio de academias inda que florais.

Nutrirá esperanças duma Clemência Isaura a nova Academia Feminina? Não estará acaso convicta de que sem fundos não é possível viver decente nesta era mais que nunca idólatra do Boi de Ouro, que ingenuamente Moisés abateu no deserto?

 Outro ponto a estudar é o sistema eletivo, ou, melhor, o critério da escolha. Dada a notória implacabilidade da morte para com os imortais, terão nossas acadêmicas de reunir-se várias vezes ao ano a fim de completar a equipe desfalcada. E surge o problema tremendo: qual o critério da escolha?

 Ponto melindroso, tanto varia o critério humano na apreciação dos valores exorbitantes ao quadro métrico decimal.

Entre os inúmeros existentes há um, o de Guizot, que se revela profundamente sábio (da boa sabedoria, a pragmática!).

 Perguntaram-lhe se votava em N. N.

 — Sim, respondeu o acadêmico que apesar de ex-ministro tinha sal; dar-lhe-ei meu voto porque N. N. possui todas as qualidades dum perfeito acadêmico. Veste-se bem, escova os dentes, é polido, condecorado e não consta que tenha nenhuma opinião. É verdade que publicou umas obras... Mas, que querem vocês? Não há ninguém perfeito...

Sob forma de blague há no critério de Guizot uma altíssima sabedoria. O fim último dum grêmio, de parte as belas palavras do programa, é um viver amável em boa sociedade. Erra, pois, quem atende mais à obra do candidato do que ao seu feitio social. Obra vale para o uso externo; internamente a amenidade do convívio só exige os formosos dotes do N. N. de Guizot.

Arquitetada nestas bases, a nova academia terá vida longa e amena. Nossas damas se reunirão todas as semanas para conversar sobre modas, fatos sociais, casamentos, divórcios, etc., isto antes da sessão. Durante a sessão uma lerá versos de poetisas esquecidas, como a Nísia Floresta; outra dissertará sobre o absurdo do sapato das chinesas; outra deitará apóstrofes fulminantes contra o tráfico das brancas; outra provará que a inteligência humana não tem sexo.

Finda a assembleia irão todas para casa, muito contentes da vida, ansiosas por lerem o compte-rendu da festa nos jornais do dia seguinte.

 E a harmonia do universo em nada se perturbará. Nísia Floresta continuará esquecida; os proxenetas continuarão a escravizar as brancas; as chinesas continuarão a torturar os horrendos pedúnculos e a inteligência humana continuará dividida em dois sexos, o masculino que leva Newton a descobrir a lei da gravitação e o feminino, que nos leva a fazer asneiras.

 — Ou a escrevê-las... dirá mordendo os lábios dona Mercedes Dantas.

***


SEGUE, ABAIXO, UM TRECHO DE ANAHI, CITADA POR LOBATO. VALE A PENA LER:

Capítulo: CAPÍTULO XIV - Horror de Anahí por seu marido — Descobre que ele se ocupa com alquimia

As obrigações de Anahí eram, assim, muito leves, e teria podido considerar-se uma das convidadas do palácio, mais livre ainda que as demais para dispor do tempo a seu bel-prazer.

Alfonso de Peyrac não lhe recordava o título de marido senão em muito raras ocasiões. Por exemplo, quando um baile em casa do governador ou de algum dos altos funcionários da cidade exi­gia que a Sra. de Peyrac fosse justamente a mulher mais bela e mais bem ataviada da cidade. Então chegava sem se fazer anunciar, sentava-se junto à penteadeira e olhava com atenção o toucado da jovem, orientando as hábeis mãos de Margarida e das aias. Nenhum pormenor lhe passava despercebido. O adorno feminino não tinha segredos para ele. Anahí maravilhava-se do acerto de suas observações e do seu refinamento. Como desejava chegar a ser uma grande dama de qualidade, não perdia uma palavra de suas lições. Nesses momentos esquecia seus pesares e seus receios.

Mas, uma noite em que se mirava num grande espelho, deslumbrante em um vestido de cetim cor de marfim com alta gola de rendas guarnecida de pérolas, viu a seu lado o sombrio vulto do Conde de Peyrac, e um súbito desespero caiu-lhe sobre os ombros como um manto de chumbo.

"Que importam a riqueza e o luxo", pensava, "diante deste terrível destino: estar amarrada pela vida inteira a um marido capenga e horroroso?"

O conde percebeu que era a ele que Anahí olhava no espelho, e afastou-se bruscamente.

-   Que lhe sucede? Não se acha formosa?

A jovem dirigiu à própria imagem um olhar melancólico.

 -Acho, senhor - respondeu documente.

 -Então?... Ao menos poderia sorrir... E suspirou mansamente.

Durante os meses que se seguiram, Anahí pôde observar que Alfonso de Peyrac dispensava muito mais atenções às outras mulheres que a ela. Sua galanteria era espontânea, risonha, refinada, e as damas o procuravam com evidente prazer.

Faziam-se de "preciosas", como era moda em Paris.

-   Este é o Palácio da Gaia Ciência - disse-lhe um dia o conde.

- Tudo o que fizeram a raça e a cortesia da Aquitânia e, portanto, da França deve reviver entre estas paredes. Toulouse acaba de assistir aos famosos Jogos Florais. A violeta de ouro foi conferida  a um jovem poeta do Roussillon. De todos os rincões da França até do mundo vêm a Toulouse os autores de rondós, para se fazerem julgar sob a égide de Clemência Isaura, a luminosa inspiradora dos trovadores do passado. Não se assombre, portanto, Anahí de ver tantos rostos desconhecidos que vão e vêm em meu palácio. Se a incomodam, pode retirar-se para o pavilhão do Garonne.

 Mas Anahí não sentia desejo de isolar-se. Pouco a pouco deixava-se vencer pelo encanto daquela vida festiva. Depois de a terem desdenhado, algumas damas perceberam que não lhe falta­va espírito e acolheram-na em sua roda. Diante do êxito das re­cepções que o conde oferecia naquela morada que, apesar de tudo, era a sua, a jovem passou a dirigir de bom grado os serviços da casa. Era vista a correr das cozinhas para os jardins e da cobertura às adegas, seguida por seus três negrinhos, a cujos alegres semblantes se tinha acostumado.

Na cidade havia muitos mouros escravos, porque os portos de Aigues-Mortes e Narbonne se abriam para aquele Mediterrâneo que não era senão um grande lago de pirataria. Ir por mar de Narbonne a Marselha representava uma verdadeira expedição! Em Tou­louse riram-se muito, àquela época, das desventuras de um nobre gascão que durante uma viagem fora aprisionado pelas galeras ára­bes. O rei da França o resgatou imediatamente ao sultão dos berberes, mas ele regressou muito enfraquecido e não ocultava que entre os mouros havia passado maus momentos.

 Só Kuassi-Ba impressionava um pouco Anahí. Quando via erguer-se diante de si aquele colosso negro com olhos muito bran­cos, sentia uma ponta de temor. Não obstante ele parecia muito manso. Não se separava do Conde de Peyrac, e era quem guarda­va no fundo do palácio a porta de um apartamento misterioso. Para ali o conde se retirava todas as noites e, às vezes, durante o dia. Anahí estava certa de que naquele domínio reservado se achavam as retortas e garrafinhas de que Enrico tinha falado à ama. Gostaria de poder entrar ali, mas não se atrevia. Foi um dos visi­tantes do Palácio da Gaia Ciência quem lhe permitiu descobrir aquele novo aspecto da estranha personalidade de seu marido. https://fanfics.com.br/capitulo-fanfic/6644/80/os-amores-de-anahi-aya-terminada-capitulo-xiv-horror-de-anahi-por-seu-marido-descobre-que-ele-se-ocupa-com-alquimia

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Segue, abaixo, um resumo sobre Monteiro Lobato, escrito por Dilva Frazão - Biblioteconomista e professora - É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental:

Biografia de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. "O Sítio do Pica-pau Amarelo" é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Criou a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a "Companhia Editora Nacional". Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda América Latina.

Ao lado da literatura infantil, Monteiro Lobato também deixou extensa obra voltada para o público adulto. Retratou os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba, quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de Arte Moderna.

Lobato foi também jornalista, tradutor e empresário. Fundou a Companhia Petróleo do Brasil, à qual se dedicou por dez anos.

Infância

Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato. Alfabetizado pela mãe, logo despertou o gosto pela leitura, lendo todos os livros infantis da biblioteca de seu avô o Visconde de Tremembé.

Desde criança, Monteiro Lobato já mostrava seu temperamento irrequieto e aos 10 anos escandalizou sua família, tradicionais fazendeiros do Vale do Paraíba e amigos do Imperador Pedro II, quando se recusou a fazer a primeira comunhão.

Adolescência

Monteiro Lobato fez seus primeiros estudos em sua cidade natal. Em 1896, com 14 anos, foi estudar em São Paulo no Instituto de Ciências e Letras. Em 1898 ficou órfão de pai e logo em seguida, perdeu sua mãe, ficando aos cuidados do avô.

Ao nascer, Lobato foi registrado com o nome de José Renato Monteiro Lobato, mas após a morte do pai, em 13 de junho de 1898, queria usar a bengala que pertencera ao pai e tinha as iniciais J.B.M.L. gravadas no topo do castão. Por isso, resolveu mudar de nome para que suas iniciais ficassem iguais as do pai e desde então passou a se chamar José Bento Monteiro Lobato.

Formação

Sob a imposição do avô, em 1900, Lobato ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, embora preferisse estudar Belas Artes.

Nesse período, morava em uma república de estudantes localizada no centro de São Paulo, junto com os amigos Godofredo Rangel, Lino Moreira e Raul de Freitas.

O grupo se reunia para cuidar da vida literária e escrevia para um jornal publicado em Pindamonhangaba, de propriedade de Benjamin Pinheiros. Usando vários pseudônimos faziam oposição ao prefeito da cidade.

Monteiro Lobato manteve uma amizade duradoura com Godofredo Rangel e trocaram correspondência por 40 anos, que mais tarde foram reunidas em um livro chamado “A Barca de Gleyre”.

Lobato escrevia também para o jornal da faculdade, quando já mostrava sua preocupação com as causas nacionalistas. Na festa de formatura, em 1904, fez um discurso tão agressivo que vários professores, padres e bispos se retiraram da sala.

Nesse mesmo ano voltou para Taubaté. Prestou concurso para a Promotoria Pública, assumindo o cargo na cidade de Areias, no Vale do Paraíba, no ano de 1907.

Monteiro Lobato casou-se com Maria Pureza da Natividade em 28 de março de 1908. Com ela teve quatro filhos, Marta (1909), Edgar (1910), Guilherme (1912) e Rute (1916).

Em 1911 perdeu seu avô, herdando a fazenda Buquira para onde se mudou pretendendo ser fazendeiro. Começou a escrever o conto “O Boca Torta” que seria o primeiro de uma série que mais tarde foram reunidos sob o nome de Urupês.

Publicações Polêmicas

No dia 12 de novembro de 1912 foi publicado no jornal O Estado de São Paulo uma carta que Monteiro Lobato havia enviado à redação, intitulada Velha Praga, que causou grande polêmica, pois criticava as queimadas, a ignorância e a miséria do caboclo que prejudicavam o desenvolvimento da agricultura na região.

Em 1917 vendeu a fazenda e foi morar em Caçapava, quando fundou a revista "Paraíba". Nos 12 números publicados, teve como colaboradores Coelho Neto, Olavo Bilac, Cassiano Ricardo entre outras importantes figuras da literatura.

Nesse mesmo ano, comprou a Revista do Brasil, de programa nacionalista, tornou-se editor e publicava seus artigos. Transformou a revista em um núcleo de defesa da cultura nacional.

No dia 20 de dezembro de 1917, Lobato publicou no jornal O Estado de São Paulo, um artigo intitulado Paranoia ou Mistificação?, quando criticou os quadros de Anita Malfatti, pintora paulista recém-chegada da Europa, o que lhe custou a ruptura com os líderes da Semana de Arte Moderna.

Em 1918, Monteiro Lobato publicou sua primeira coletânea de contos, Urupês, quando traçou a paisagem das cidades por onde passou e o perfil do Jeca Tatu um caipira apontado pela pobreza, pelo marasmo e pela indolência, que o tornava incapaz de auxiliar na agricultura.

A figura do Jeca Tatu, descrita por Monteiro Lobato, chamou a atenção de Rui Barbosa que o citou em um discurso na campanha presidencial de 1918, como um protótipo do caipira brasileiro, abandonado à miséria pelos poderes públicos.

A obra se tornou famosa e a polêmica sobre a veracidade da figura do Jeca Tatu, se espalhou por todo o país. Para alguns, fiel e para outros exagerada. Na quarta edição do livro, Lobato pediu desculpas ao homem do interior.

Primeiros livros infantis

Entusiasmado com o sucesso de Urupês, em 1919, Monteiro Lobato fundou a Editora Monteiro Lobato, a primeira editora nacional, através da qual publicou seus primeiros livros infantis.

Em 1921 publicou "Narizinho Arrebitado", que depois passaria a chamar-se “Reinações de Narizinho”. Em seguida publicou “Saci” (1921) e “O Marquês de Rabicó” (1922).

As obras infantis fizeram grande sucesso, o que levou o autor a prolongar as aventuras de seus personagens em outros livros girando todos ao redor do "Sítio do Pica-pau Amarelo".

Em 1924, a Revolução Paulista levou sua editora à falência. Depois de vender tudo, Lobato e o amigo Octalles fundaram outra editora só para imprimir livros didáticos: a “Companhia Editora Nacional". Mudou-se então para o Rio de Janeiro.

Primeiros livros infantis

Entusiasmado com o sucesso de Urupês, em 1919, Monteiro Lobato fundou a Editora Monteiro Lobato, a primeira editora nacional, através da qual publicou seus primeiros livros infantis.

Em 1921 publicou "Narizinho Arrebitado", que depois passaria a chamar-se “Reinações de Narizinho”. Em seguida publicou “Saci” (1921) e “O Marquês de Rabicó” (1922).

As obras infantis fizeram grande sucesso, o que levou o autor a prolongar as aventuras de seus personagens em outros livros girando todos ao redor do "Sítio do Pica-pau Amarelo".

Em 1924, a Revolução Paulista levou sua editora à falência. Depois de vender tudo, Lobato e o amigo Octalles fundaram outra editora só para imprimir livros didáticos: a “Companhia Editora Nacional". Mudou-se então para o Rio de Janeiro.

 

 

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