É uma das mais belas e ricas
imagens sacras do mundo, inclusive registrada no "Liborun Iconoclastrun di
Vaticani". Nossa Senhora de Los Fuegos carrega essa nomenclatura
portentosa por ter aparecido misteriosamente sobre um vulcão extinto. Então la
población entendeu que deveria erguer ali a sua Igreja Matriz, dando-lhe esse
curioso nome.
Certa vez um especialista em
Arte Sacra, oriundo de Rouen, França, esteve na pequena Freguesia de
Deploración para fazer um estudo sobre as imagens sacras daquele templo. Passou
seis meses nesse empreendimento. Ao encerrar a pesquisa, convocou el padre e
los pueblos fiéis, orientando-os a não expor a imagem ao tempo, pois o sol, a
poeira, o vento, a umidade da tarde causaria danos irreversíveis.
Ele orientou que em últimos
casos mandassem fazer uma redoma de vidro especial, ao estilo "Blue light
protect ", de maneira que blindasse os raios solares e as luzes
artificiais, e que mandassem construir um andor
com alpendre, podendo assim carregar a imagem sobre andor na principal
procissión de la ciudad. Orientou que a Santa não saísse mais que uma vez em
procissão.
O especialista foi embora, e
com ele foi-se a orientação. Ela entrou por um ouvido, saiu por outro e
desapareceu de la ciudad. Alguns até debocharam do especialista. Acreditem se
quiser: até o padre, que deveria ser o primeiro a preservar! Mas acreditem
também: não foi toda a cidade que desdenhou da orientação do especialista. Nem
todo mundo tem isopor no cérebro.
Algumas pessoas mais
esclarecidas continuaram escutando aquelas palavras, como se elas tilintassem do
sino de San José. Elas passaram a se preocupar. Houve até um nativo que foi
falar com o padre, ao perceber que o mesmo não dava tratamento adequado às
imagens. Mas o religioso tinha uma empáfia enojante, aliás, era proprietário de
toda empáfia, e se chateou como se chateiam os néscios.
Dizia que tinha feito um
curso de restauración na Universidad de San Nunca. Certo dia o dito padre
mandou colocar a imagem de Nossa Senhora de Los Fuegos de fronte à Igreja
Matriz. A imagem ficou exposta das 11h30 da manhã até às 17h00. Foram cinco
horas e meia de sol escaldante. As pessoas sem esclarecimento acharam
maravilhosa aquela atitude, equivocadas pelas coisas da fé.
Mas como nem todos os
cérebros são faltos de massa cinzenta, outras pessoas, se lembraram das orientações
do francês e ficaram perplexas. Elas sabiam que sol e madeira não se
combinavam. Ainda mais a uma imagem do final do século XVII. Houve um
burburinho na cidade, mas as pessoas sem esclarecimento, que eram maioria,
foram persuadidas pelo padre. Dizem que os toscos têm esse poder de debilizar.
Pois bem, no outro dia
retiraram a imagem e perceberam que ela apresentava micro-frinchas em sua
compleição. A imagem foi guardada próxima de uma janela e parede com
infiltração. Após dois meses constataram que a policromia se soltava.
Partículas de ouro se amontoavam no piso do nicho, expulsas naturalmente. Seis
meses depois observararam que a imagem se rasgava de cima abaixo, numa trinca
única. No sétimo mês, ao abrirem a Matriz, tiveram uma surpresa: Nossa Senhora
de los Fuegos estava partida ao meio. Literalmente.
As pessoas esclarecidas e
não esclarecidas ficaram chocadas, e começaram a chorar. Comoção geral em
Freguesia de Deploración. O padre observava, assustado. Em seu cérebro
galináceo fervilhavam mil pensamientos. Chegou até a cogitar uma possível
estratégia de milagre. Mas não colaria. Milagre com santa rachada? Entonces ele
se deu conta de sua ignorância. Era tarde!
Dois meses depois a cidade
de Freguesia de Deploración acordou sob um forte estrondo. Eram cinco horas de
la mañana. Todos correram para janelas, quintais e ruas. Uma nuvem de fogo se
estendia ao longo de uns trezentos metros de altura. Parecia um cogumelo
vermelho seguro por uma mão escura. Não deu tempo correr. Assim como Pompéia, a
cidade de Freguesia de Deploración desapareceu sob um amálgama preto.
Na cidade próxima, Nuestra
Señora de la Anunciación, o povo assistiu a tudo, aterrorizado. Sr. Gonzalez,
um agricultor, disse que aquilo era castigo. Dona Mercedez, uma beata, proclamava
a todos que atragédia era obra del Diablo. Dona Marcelita, uma feirante, alarmava
em todos os recantos que a tragédia era uma vingança divina. Todos tinham um
parecer sobre a erupção do vulcão. Mas agora era tarde. A santa, que aparecera
com o desaparecimento do vulcão, desaparecera agora com o seu reaparecimento.
Tudo obra divina, conforme dizem...
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