Quando estive no Mato Grosso do Sul, em 2018, fiz essa fotografia em que apareço "conversando" com ele na avenida Afonso Pena, centro da capital. A obra, impecável, é assinada pelo impecável escultor campograndense Victor Henrique Woitschach (imagino o que ele deve estar sentindo). Ver essa fotografia com o seu pé arrancado dói na alma. É como se ferissem o nosso pai, a nossa mãe, alguém amado.
Essa é outra página deplorável da história atual. Ninguém faz nada por essas pessoas, e elas vagam como zumbis. Se foi esse o caso, é possível que o "pé" de Manoel de Barros possa ter sido vendido por cinco reais, ou dado a troco de cinco pedrinhas de crack. Esses zumbis não tem noção do que fazem e aumentam a cada dia desenfreadamente. Tanto matam como roubam sem perceber, pois vivem dopados. São capazes de tudo. Enfim, é complexo.
Com certeza em breve a escultura será restaurada, mas até quando resistirá? E as outras espalhadas pelo Brasil? Manoel de Barros dizia que "queria reformar o mundo usando borboletas"... O mundo seria outro se cada um de nós pudesse "crescer para passarinho"... Pois bem, encerro aqui, oferecendo o que Manoel de Barros sempre teve: poesia. Ele era, é e sempre será poesia...
RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário