Entendi literalmente e requisitei explicações, afinal era criança,
Eu o teria sentenciado louco não fosse o testemunho.
Ele era poeta, disse que sua declaração funcionava só para poesia.
Argumentou que a rua é material poético,
A feira é material poético,
O vagão do trem é material poético...
A natureza é material poético...
A vida é material poético...
Poesias estão em constante aflição,
Voando, cantando, sussurrando ou mesmo encaramujadas em silêncios...
Então o poeta deve aguçar o olhar e as oiças,
Tem que sentir as coisas como quem investiga um crime...
Quanto mais simplicidade, mais poesias.
Elas têm parte com coisas que nem todos valorizam,
Às vezes nem sabem que existem...
Por isso pegam valor quando caem no ouvido e olho do poeta...
É necessário que os poetas as salvem...
Bêbados, loucos, caipiras, crianças e natureza usinam as melhores poesias.
Ele contou que sempre funcionou de ouvir e ver,
Inclusive os silêncios e as coisas invisíveis...
Depois colocava inquietação nas palavras, raspando papel com lápis,
Como quem rala coco...
Como quem faz um bolo de fubá.
Exaltou que poeta é efeito de fragmentos de pessoas,
Na realidade, poeta é defeito de coisas...
O segredo está no escutar, ver, cheirar, sentir...
Alertou que poesias voam e podem se dissipar
Acaso não colhidas na hora,
Como passarinho que se assusta no galho,
Então fica difícil rever e reouvir...
Mas as mais belas pérolas poéticas são gratuitas
E divagam em todos os impensáveis,
Aparecidas aqui e acolá...
O velho então reforçou:
Tem que ver,
Tem que ouvir
E depois sangrar.
Escrever sangra...
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