Dia desses peguei de um antigo livro de minha biblioteca e dei-me com a página do decreto-lei considerando o dia do índio a data de 19 de abril. Isso se deu no ano de 1943 com Getúlio Vargas. Faz 80 anos. Criou-se um dia, seguido de uma semana e por conseguinte o mês de abril virou palco para se lembrarem que existem povos nativos no Brasil.
Então lembrei-me do ex-presidente da república, Mourão. Até onde sei, o Brasil nunca teve um indígena tão perto da presidência da república. Mourão foi pioneiro. Mas o que isso tem a ver?
Em 2018, quando concorreu como candidato a vice-presidente, Mourão declarou-se "indígena" no TSE. Após mudar sua identificação de raça no Tribunal Superior Eleitoral de "indígena" para "branco" e provocar polêmica, ele afirmou que é descendente de índios "com muito orgulho" e alegou ter sido um "simples erro de preenchimento". Na verdade, em 2018, quando concorreu como candidato a vice-presidente, Mourão declarou-se "indígena" no TSE. Recentemente, ao protocolar seu registro para concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul, ele se apresentou como "branco".
Novamente questionado pela imprensa, ele declarou "Sou descendente de índios sim, e com muito orgulho. Está estampado no meu rosto e na minha pele, independentemente de qualquer formulário burocrático. Resolveram fazer um escarcéu com um simples erro de preenchimento de um formulário", Na ocasião, disse que a classificação havia sido feita de acordo com seus "dados básicos de identificação".
Que ele é um índio puro sem tirar nem pôr, é óbvio. Inclusive seus pais, indígenas, migraram da Amazônia para o Rio Grande do Sul, onde ele nasceu. Falta apenas ele abraçar isso com o devido respeito à sua etnia.
Aparenta que ele achou mais adequado declarar isso apenas quando foi candidato a presidência da república. Foi mais conveniente o povo brasileiro, ameríndio, ter um candidato com antepassados saídos de uma aldeia indígena.
Quem diz ser descendente está dizendo que não se reconhece como indígena, mesmo tendo pais nativos. Isso é fruto de uma política denigratória contra os indígenas, por parte dos "descobridores" do Brasil, os quais, na verdade, foram invasores desse gigante território, já que a história conta que, em 1500, havia em Pindorama, seis milhões de nativos. Foi uma conquista forçada à base da imposição, força, morticínio etc.
O vice presidente parece não se sentir muito à vontade de se auto-declarar indígena. Isso é meio cultural. Infelizmente, ao longo do tempo, o nativo mostrado aos descendentes dos invasores, na relação escravocrata que estabeleceu desde sempre é "indolente, preguiçoso, infiel traiçoeiro, beberrão e até sem alma". São palavras do ex-presidente Mourão. Por isso ele mesmo, oculta o seu eu-índio.
Marechal Cândido Rondon, indigenista e militar matogrossense |
Isso é desserviço. E o seu exemplo ainda se torna mais indevido quando se trata de um militar de alta patente. Ele poderia usar a sua conquista como inspiração, dizendo sempre que os indígenas poderiam ser o que quisessem. É estúpido demais, gesto não civilizado, principalmente quando colocamos Mourão cara a cara com o extraordinário marechal Rondon, indígena bororo, terena e guaná, militar de alta patente e grande defensor dos povos indígenas.
Para
um militar de mais alta patente como Mourão, doutrinado ao cumprimento de
ordens, seria “desonroso” reconhecer-se índio. Mourão pensa exatamente como boa
parte dos brasileiros que julgam o indígena uma pessoa desnutrida de cidadania
e civilidade. A esses cidadãos equivocados deve ser dito que os indígenas
brasileiros, tendo ou não moradia em aldeias, frequentam universidades, têm
carros, vão aos shoppings, possuem bens, escrevem livros (como Krenak) e
continuam sendo índios. Eles são índios sendo ministros ou vice presidentes. A
diferença é apenas a aceitação ou não. Os indígenas se deparam com uma cerca de
mourões diariamente, e precisam pular para sobreviver; eles têm livre arbítrio
para escolherem viver ou não em suas aldeias. Ser indígena não é uma condição.
Ser indígena está no sangue, o saber científico do "civilizado",
não tem o condão de tornar uma pessoa
indígena ou não.
É
desrespeitoso o Estado tentar mudar o índio em "Civilizado" ou, em qualquer
outra coisa que o valha. O General Morão, deveria sentir orgulho de ter pais
indígenas, Ele deveria usar isso a seu favor, educando a sociedade ao pensar
diferente. Quantas personalidades notáveis, a exemplo de Elza Soares, Pelé,
Milton Nascimento e outros negros ajudam combater essa imagem deturpada dos
negros? Desse modo eles ajudam a construir respeito a eles como a qualquer
povo. Mourão poderia ajudar desse mesmo jeito e se orgulhar da sua origem.
Os
nativos receberam as caravelas de Cabral, poderiam tê-los dizimados, já que
eram seis milhões, mas foram acolhedores. Com o passar do tempo, para povoar o
país receberam todos os tipos de criminosos, ladrões bandidos que eram mandados
para a "Colônia". Mas, pobres indígenas, receberam a incompreensão,
uma sociedade que os pilhou, esbulhou e os escravizou, tentando mudá-los,
torná-los iguais a eles em uma sobreposição Cultural. Fizeram um verdadeiro
etnocídio.
Pois
é, Mourão, você pode ser um grande profissional, mas tem esse defeito. Que
pena!
https://sintrabloguecintia.blogspot.com/
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