Se Nossa Senhora Aparecida
aparecer – suponhamos – hoje, em boa parte dos 5.570 municípios do Brasil, e se
juntar a você numa chapa política, sendo ela prefeita e você vice – e essa
chapa for eleita... tenha certeza, vocês não farão um bom governo.
Vamos tentar explicar a
partir de Otto Von Bismarck (1815-1898), o chanceler de ferro da Alemanha. Esse
estadista deixou escrito que “A política arruína o caráter” e que “mentir era
dever de todo estadista”.
Se Jesus Cristo nos ensinou
que mentir é coisa do diabo, a pobre da Nossa Senhora Aparecida terá que
aprender a andar de mãos dadas com o “bicho preto” e deixar o Jesus de
escanteio. Confesso que nem consigo visualizar a cena, mas vamos lá...
Logo no início do mandato aparecerão os
presidentes dos partidos que compuseram a coligação da campanha e os candidatos
a vereadores. Noventa e nove vírgula nove por cento (ou seja, a maioria da
maioria) quer uma secretaria ou alguma função de chefia (não importa se alguns
são semi-analfabetos, gente de má fé, furunfador das mulheres alheias e das
mocinhas sem eira nem beira atrás de um emprego, ou gente perseguidora e dada
às picuinhas das mais diversas, carregadores de processos criminais nas costas,
enfim representantes das mais nojentas milacrias).
Obviamente que aparecerão também
algum secretário decente, afinal nem todos são iguais. Mas a exceção é tão
pequenininhazinha que faz pena. Normalmente a maioria dos gestores têm como
lema atrair para o seu grupo a bandidagem, mas, para disfarçar um pouco,
arrastam meia dúzia de pessoas realmente de bem, pois elas dão votos e servem
de “equilíbrio”, bandeira e escudo de uma campanha. Essas pessoas são escanteadas
paulatinamente. (Dizem eles que tal perfil atrapalha, pois não abrem mão da
decência).
Pois é, Nossa Senhora
Aparecida terá que administrar essa alcateia (não fosse a meia dúzia boa),
senão não conseguirá administrar. Sim, mas nem falei do que acontece antes da
formação da chapa. A infeliz santa terá que ‘rebolar’ para ser candidata, pois
criarão tantas formas de ela desistir que, se conseguir ser candidata, já
poderá dizer que ganhou (a lógica da maioria dos que se proclamam políticos é
optar pelos corruptos).
Noventa e nove por cento dos
presidentes de partido, exceto um ou dois (e olha lá), só emprestará a legenda a
troco de dinheiro ou benesses depois da vitória. Noventa e nove por cento das
lideranças e dos possíveis ocupantes das futuras secretarias fazem o mesmo.
Como Nossa Senhora Aparecida é pobrezinha de Jó (no sentido humano obviamente),
sofrerá copiosamente, pois seu ‘rebolado’ será maior.
A coitadinha terá que
negociar secretarias e cargos antes de ser eleita. Se ela não tiver cuidado seu
manto pegará fogo, pois essa negociata consiste num verdadeiro inferno (gera
inimizades ferrenhas, traição, até briga entre famílias e pessoas do mesmo
partido, separação de casais etc). A maioria das reuniões de políticos traz o
diabo no centro. Não importa se no meio tem gente religiosa. Naquele momento
ela é parte da jogatina diabólica. Deus serve apenas para mascarar.
Ou Nossa Senhora Aparecida
disfarça para tentar driblar tudo isso, ou... E olha que alguns desses
bandidos, aliás, políticos, ou melhor, politiqueiros (é esse o verdadeira
nomenclatura) botam banca. Se acham o máximo meramente porque são grandes
atores, fazem caras e bocas, enfim vivem enganando e mentindo para o povão (e,
cá entre nós, parte do povo também não vale uma sola de sapato rota).
Pois bem, depois que Nossa
Senhora Aparecida for eleita e tiver nomeado seus secretários, enfim os demais
cargos, começará a governar, ou melhor, pensará que estará governando. Ao
primeiro projeto que idealizar – suponhamos que seja construir um hospital
(isso nem é coisa de prefeito bom das faculdades mentais) normalmente dá muita
despesa. Mas façamos de conta que seja um hospital. Triste da Aparecida! Vai
sofrer muito! Terá que “molhar” as mãos da maioria dos vereadores, pois, do
contrário, não aprovarão o projeto de Cidinha.
Mas quem é Cidinha?
Deixa eu explicar: a essa
altura, a ‘tadinha’ vai estar tão desgastada que nem perceberá que o povo a
denomina assim (aqui para nós: dizem que é ‘status’ se parecer íntimo de prefeitos,
chefes de gabinetes etc). Pois bem, Cidinha terá que comprar a maioria. Pode
até ter um ou a metade de um que não se enquadrará nessa regra... mas não vamos
garantir!
E lá vem mais bomba, pois de
quando em vez explodirá algum escândalo de seus secretários, “funcionários de
confiança” ou vereadores. Um porque superfaturou o material de construção das
casas dos programas federais ou fez o mesmo com grandes obras, outro porque
propôs ficar com os bônus das megas compras para o município, outro porque ao
dar emprego para a sua cota de funcionários, passou a exigir a metade dos seus
salários, outro porque ofereceu cargo para alguém em troca de favores sexuais,
outro porque manda um caminhão de material de construção para a sua casa na
praia e outro para a secretaria que “administra”, e assim vai.
As pessoas falam muito mal
dos empresários e empreiteiros, mas se os coitados quiserem sobreviver, têm que
se dobrar às propostas de corrupção da maioria dos prefeitos. Se Cidinha
inventar de ser honesta esbarrará em sua assessoria, a qual negociará às
escondidas, ou seja, mesmo inocentemente, a santa ficará com o nome sujo. O
Ministério Público a chamará de ‘ladrona’. Coitada!
A essa altura a imagem da
santa – que prometeu tanto – estará tão desgastada que já estarão chamando-a de
Cida (alguns até de “Sujeita”). Mas não terminou. A sua vidinha paradisíaca nos
altos céus se transformará num inferno. Se a decaída santa inventar de dar
expediente, transformará a sua vida numa penitência sem fim. Todos os dias
aparecerão um número interminável de pessoas reivindicando que a prefeitura
pague contas de água, luz, telefone, conserto de carro, implante de silicone,
cesta básica, remédio, traslado de um parente que morreu nos cafundós, uma
conta pessoal lá na boutique tal... não tem fim!
Não pensem que é só pobre
que pede não. Os ricos quase empatam nessas romarias de pedintes. E, de forma
lorde: pedem por telefone ou marcam um jantar para pedir tipo... “uma cirurgia
para a minha esposa deixar o narizinho mais empinado”, “um terrenozinho que
está meio esquecido lá na praia”. São pedidos caros! Há até falsos religiosos
engordando essas filas (sempre atrás de benesses para seus familiares ou
pessoas com relações suspeitas). As exceções são poucas mesmo!
Se a depressiva Cida
inventar de criar cooperativas ou arrastar a iniciativa privada para gerar
empregos e melhorar a vida de todos, esbarrará nos mais impensáveis obstáculos.
Aqui para nós: poderá até mesmo ser alvo de uma emboscada, pois a geração de
emprego gera independência. E a maioria desses bandidos, ou melhor, políticos (perdão,
eu quis dizer politiqueiros, querem a certeza dos currais eleitorais para
garantir a certeza da vitória nas urnas). Suas sobrevivências dependem da
miséria, portanto miséria é matéria prima desses bandidos. E essa “farra” toda
que eu falei é garantida exatamente por tais currais.
Não pensem que o inferno
terminou, não! A esquálida santa – agora chamada de Cici – estará fedendo a
enxofre. Ela precisará procurar um médico que, com certeza, lhe receitará um
tarja preta. A pobrezinha não suportará ver seus secretários empregando primos,
tios, sobrinhos ou colocando laranjas para dividir os salários.
Como se não bastasse, terá
que enfrentar outra fila de gente pedindo emprego interminavelmente. Às vezes
tem mais da metade da família empregada, mas se a infeliz gestora não empregar
mais um, vira oposição gratuita. Resultado: terá que alegar a todo tempo que
não poderá pagar o Piso Salarial disso e daquilo Todo final de semana terá que
dar uma voltinha pelos distritos e povoados, principalmente onde mantém suas
lideranças. Nesses locais encontrará jogo de futebol rodeado de gente bebendo,
muitas totalmente bêbadas, com som alto, falando gritando, bebendo cachaça,
cuspindo na cara dos outros. E terá que passar algumas horinhas nesses
ambientes, fingindo que gosta, dizendo “meu povo!”.
Aí, a quase enlouquecida santa
terá que decidir, ou perder o caráter e abrir para tudo isso, ser acreditada
por uns, debochada e explorada por outros, ou jogar a toalha (aliás, o manto),
ou se impor, se levantar, sacudir a poeira do manto e pegar o volante. Mas uma
coisa é certa: a coitada, comerá o pão que o diabo amassou (seja qual for a
decisão). Parece inacreditável, mas será assim!
A pobre Cici, já quase sem
fiéis, perturbada e com ameaças de AVC (e até mesmo quase sem o próprio nome)
certamente estará tão desacreditada que, com certeza dirá: “o diabo é quem vai
cobrir esse povo com o seu manto sagrado... esse bando de ladrões... que fiquem
com a capa do “bute”.
É, minha querida, o seu
lugar é exatamente onde a senhora sempre esteve, olhando por seu povo, mas lá
do Céu, intercedendo e cobrindo o seu povo com os seu manto sagrado.
Entendem agora a frase de
Bismarck?
Continuo acreditando num
Brasil melhor. E educo o meu filho a esperançar o melhor. Mas é difícil, pois
tudo isso que eu escrevi é apenas um estágio que projetará uma minoria que
alçará voo aos postos mais altos da política em outros níveis.
Querida Santa, daqui
continuaremos recusando esses tipos de governantes, mas cheios de esperança num
Brasil melhor. A senhora continuará sendo sempre a Padroeira. Política, jamais!
(3.7.2017)
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