Acho muito interessante esse fascínio que alguns jovens europeus tinham pelo Brasil em seus primórdios, a ponto de até mesmo largar os estudos e objetivos traçados para se embrenharem nas selvas brasileiras, desprovidas totalmente do conforto a que estavam acostumados.
Alguns nunca mais voltaram. Preferiram o Brasil. Outros desapareceram nas matas, outros foram assassinados, como Guido Boggiani (Ele escreveu “Os Caduweus”; essa obra traz relatos impressionantes como, por exemplo, indígenas “jogando bola”, algo meio alienígena se o fato se deu em 1894. A bola era feita de couro. O livro é repleto das melhores observações sobre uma nação indígena entre diversas outras, mais ou menos perdida nos alagadiços entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai).
Stradelli nasceu em 1852, herdeiro de uma antiga família nobre da Itália. Ele desenvolveu expedições na Amazônia, compilando relatos de mitos dos povos indígenas, dentre os quais os “Uananas”.
O resultado dessa pesquisa se transformou numa obra publicada no boletim da Società Geographica Italiana no ano de 1890. Além de seus escritos, Stradelli, deixou um vasto acervo fotográfico.
Na verdade, a obra de Câmara Cascudo passeia eventualmente pelo universo indígena, inclusive potiguar, e ele nos presenteia com importantes informações.
No livro “Em memória de Stradelli” o pesquisador pode colher ricas informações sobre os índios que tanto concorreram para a realização dos trabalhos da Comissão Mista de demarcações do Setor Oeste.
Os índios que habitavam o alto rio Negro se gruparam no vale do seu confluente Uaupés, primitivamente Buopé, nome do tuxaua que dominou o rio por tempo imemorial.
São os descendentes dos índios que, em 1773, o Ouvidor e Intendente Geral da Capitania do Rio Negro, Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, menciona no “Diário de Viagem”, que em visita e correição das povoações da capitania fez naquela época:
“Nesse tempo as principais nações de índios do Uaupés eram: Coeuána, Macu, Macucoena, Uanana, Tariana, Deçana, Irinaná, Timanará, Boanari, Mamengá, Panenuá e Bouapé, a mais célebre, cujo Tuxáua, de quem a tribo tomara o nome, forneceu os mais interessantes temas para as lendas coligidas em colaboração por Max. J. Roberto e Brandão de Amorim.”
Os índios Deçana, Tariana e Uaupé mantinham frequentes relações com os seus irmãos do rio Guaviari, por um furo que o liga a um afluente do rio Negro.
Dentre aqueles contos, paciente e inteligentemente coligidos por Max Roberto, destaca-se a história do Jurupari, que ele ouviu de muitos índios do rio Negro e registrou.
O copioso material foi entregue a Stradelli. Este o aproveitou, traduzindo a história, sob a forma de legenda: “Simples e valioso documento original e fiel para o estudo da teogonia social ameríndia”.
As páginas 63, 64 e 65 do opúsculo: Em memória de Stradelli, e na nota 6, da lenda: “Paraman e Duí”, inserta no tomo 100 do vol. 154 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico, 2º de 1926, se encontra interessante narrativa sobre o Grande Reformador, Jurupari, nascido de Ceuci, segundo a concepção da virgem-mãe. Eis que garimpando, dou-me com o nosso Cascudo "indigenista".
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