Essa história apareceu nos tempos dos velhos sertões do Rio Grande do Norte, quando uma casa acordou aos berros de um parto de trigêmeos. Antes disso é preciso atalhar que houve uma história na traseira dessa. A começar quando a parturiente dá de ser mãe-solteira, destruindo a honra do pai. Após uma surra de sangrar, o velho passa os nove meses mastigando xingamentos, enquanto a filha sentia a barriga crescer. Os remoídos desagradáveis e humilhantes do velho funcionavam como lapadas de rebenque.
Jamais alguém pensou que
debaixo daquela casinha de taipa chegariam mais uma boca para se dar de comer.
Casa pobre de duas águas, erguida na grade de pé de pau enchido com o barro das
vazantes, tinha mais dois cômodos, além da camarinha dos pais. Fogão a lenha,
um pote de barro e uma bateria franca de alumínios que pareciam espelhos.
Foi surpresa para todos,
quando Sinhá Chica Parteira deu o terceiro cuspe de fumo e gritou “são duas
fême e um menino-macho!”. Para o velho João Marchante foram três facadas nas
carnes. Ele deu a moléstia dos cachorros e caiu debaixo do alpendre a arfar
como boi zebu. Que castigo é esse? Onde já se viu nascer três menino d’uma vez?
Dona Maria Simplícia, a avó,
como sempre apaziguando, levando surras de xingamentos como bicho bruto,
engoliu a felicidade misturada à amargura de não saber como criar as crianças
naquele cenário de misérias. Aquele sertão cinza tolhia qualquer sonho. Sequer
ousou elogiar as três belas criancinhas de olhos azuis como o céu. Apenas as
abençoou em pensamento… pelo menos naquele momento não podia expressar-se.
Carregando oito meses, os
meninos já firmavam as pernas num brinquedinho de aprender a andar, equipamento
feito de emburana por um tio artesão. Quando Lucidalva cogitou registrá-los no
cartório, o pai, já domado pela graciosidade das crianças que enchiam a casa de
vida, condenou os nomes escolhidos. Está louca? Não basta sua desonra, e agora
quer botar o nome de Lua, Sol e Estrela nas crianças? Nem pelos seiscentos
diabos! Inventação de gente doida! Isso que ganhei deixando você ir com dona Dôra
pra cidade. De lá trouxe um bucho e inventação. Você tirou esses nomes foi dessas
novelas véia, cheias de perdição.
Lucidalva engoliu como
tijolo essas ignorâncias. Sentia vontade de contradizer o pai, mas fez igual à
mãe que passou a vida colecionando desaforos e ofensas em silêncio. Amanhã vou
pra rua e pergunto ao senhor Santiago Lorenzo sobre um nome bonito pras
crianças. O velho é espanhol, dono de armazém, gente viajada, sabe nome bonito.
Dias depois Lucidalva recebe das mãos dos pais os registros de nascimento dos filhos: Luana, Solano e Estela. Veja, minha filha, que nomes bonitos! Agora dá gosto! Até parece que o velho Santiago adivinhou. Minha avó se chamava dona Estela. Desde que contei a ele essa história doida de botar nome de Lua, Sol e Estrela nas crianças, o velho Santiago Lorenzo me deu esses nome. Gostei na hora! E você querendo botá nome de artista véi de televisão nas criança! Sostô! Lucidalva só fez olhar para a mãe e piscar.
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