O abraço - Picasso |
Como
sabemos, a releitura da obra de Lígia Clark, em Porto Alegre/RS, com a
performance de um artista nu, protagonizou uma polêmica nacional no mês passado
e até hoje é comentada, dividindo opiniões. O Brasil parou de maneira que se
esqueceram da roubalheira de boa parte de nossos políticos em conluio com
certos empresários.
De vez em quando, assistindo a novela "O outro lado do mundo", num dos meus raros momentos acordados a essa hora, vejo cenas e expressões que considero desnecessárias. Obviamente elas fazem parte da vida real de algumas pessoas, mas em termos de telenovela, não acrescentam nada de positivo. Dia desses, fazendo umas fotografias na Ribeira, vi um casal transando num beco. Eles não demonstraram receio algum, certamente por perceberem que eu estava ali como um turista e perceberam que eu fingi não ter percebido nada e me afastei. Isso confirma que na vida real tudo acontece. Até o inimaginável. Mas trazer esse aspecto da vida para mostrar em novela - de maneira óbvia - é passável.
Considero sem necessidade proclamá-las, principalmente num horário no qual boa parte das crianças estão acordadas até altas horas, penduradas nos celulares, ao lado dos pais que assistem novelas. Falo da personagem Graziela Massafera, que sai à cata de homens pela madrugada, transando com frentistas desconhecidos em postos de gasolina. Num tempo de campanhas contra AIDS e outras doenças transmissíveis, isso não pega bem. É óbvio que a atriz imita a vida real, mas as pessoas de casa querem ver arte, e não isso.
Recentemente a mãe de referida personagem (Marieta Severo) transou numa posição claramente anal dentro de uma mina de diamantes. Mais que insinuar, as cenas são fortemente apelativas. Não entendam a minha opinião como caretice ou moralismo. É uma questão de ver como desnecessária tais particularidades, as quais não acrescentam nada, e que, na maioria da vezes traduzem equívocos dos próprios autores e artistas. Hipocrisia? Claro que não. Apenas constatação do exagero de alguns autores e artistas, com pecha de intelectuais, querendo que o povão engula tudo.
Há pouco tempo Glória Pires disse numa entrevista que se sentia incomodada em supor que seu filho assistisse suas cenas calientes numa novela que já se encerrou. Disse, com todas as letras, que não permitia que seu filho assistisse. Mas o filho do favelado assiste, salvam-se raras exceções, pois o pai está preso ou morto, e a mãe trabalhando até altas horas da noite. Vejam como o nó é mais em baixo. É uma questão de construção de tipos de educação e de cultura. O favelado sequer teve tempo (e dinheiro) para construir a mesma educação da família de Glória Pires. Ela sabe que as apelações que protagoniza são inadequadas para o seu filho, mas o pai presidiário nem teve tempo para pensar nisso.
O personagem Juliano Cazarré, segue falando palavrões inadmissíveis na referida novela. Isso me fez supor que a tradição da maioria dos filmes brasileiros - de usar a todo instante pornografia e palavrões - está sendo trazida para as novelas das nove. Já pensou quando essas novelas forem reprisadas no "Vale a pena ver de novo"?
De vez em quando, assistindo a novela "O outro lado do mundo", num dos meus raros momentos acordados a essa hora, vejo cenas e expressões que considero desnecessárias. Obviamente elas fazem parte da vida real de algumas pessoas, mas em termos de telenovela, não acrescentam nada de positivo. Dia desses, fazendo umas fotografias na Ribeira, vi um casal transando num beco. Eles não demonstraram receio algum, certamente por perceberem que eu estava ali como um turista e perceberam que eu fingi não ter percebido nada e me afastei. Isso confirma que na vida real tudo acontece. Até o inimaginável. Mas trazer esse aspecto da vida para mostrar em novela - de maneira óbvia - é passável.
Considero sem necessidade proclamá-las, principalmente num horário no qual boa parte das crianças estão acordadas até altas horas, penduradas nos celulares, ao lado dos pais que assistem novelas. Falo da personagem Graziela Massafera, que sai à cata de homens pela madrugada, transando com frentistas desconhecidos em postos de gasolina. Num tempo de campanhas contra AIDS e outras doenças transmissíveis, isso não pega bem. É óbvio que a atriz imita a vida real, mas as pessoas de casa querem ver arte, e não isso.
Recentemente a mãe de referida personagem (Marieta Severo) transou numa posição claramente anal dentro de uma mina de diamantes. Mais que insinuar, as cenas são fortemente apelativas. Não entendam a minha opinião como caretice ou moralismo. É uma questão de ver como desnecessária tais particularidades, as quais não acrescentam nada, e que, na maioria da vezes traduzem equívocos dos próprios autores e artistas. Hipocrisia? Claro que não. Apenas constatação do exagero de alguns autores e artistas, com pecha de intelectuais, querendo que o povão engula tudo.
Há pouco tempo Glória Pires disse numa entrevista que se sentia incomodada em supor que seu filho assistisse suas cenas calientes numa novela que já se encerrou. Disse, com todas as letras, que não permitia que seu filho assistisse. Mas o filho do favelado assiste, salvam-se raras exceções, pois o pai está preso ou morto, e a mãe trabalhando até altas horas da noite. Vejam como o nó é mais em baixo. É uma questão de construção de tipos de educação e de cultura. O favelado sequer teve tempo (e dinheiro) para construir a mesma educação da família de Glória Pires. Ela sabe que as apelações que protagoniza são inadequadas para o seu filho, mas o pai presidiário nem teve tempo para pensar nisso.
O personagem Juliano Cazarré, segue falando palavrões inadmissíveis na referida novela. Isso me fez supor que a tradição da maioria dos filmes brasileiros - de usar a todo instante pornografia e palavrões - está sendo trazida para as novelas das nove. Já pensou quando essas novelas forem reprisadas no "Vale a pena ver de novo"?
Creio que a arte arte verdadeira - quando aborda sexo, ou xingamento em horário de novela - deve ficar para o campo da insinuação, da imaginação de quem vê... Autores geniais não são óbvios. No caso de cenas de sexo e de palavrões em horário de novela, valorizam mais a inteligência, as reticências, as suposições que a futilidade. Uma pessoa inteligente não deve fazer de seu ouvido, penico. Quando se vai às vias de fato entra-se no campo da apelação, do exagero. Reconheço que não
podemos achar tudo normal, assim estaríamos banalizando.
Mas, retornando ao caso do museu de Porto Alegre, precisamos olhar a nudez no passado e entender a nudez atual. Há séculos a nudez natural, sem pornografia e apelação é mostrada também de forma pública, mas parece que hoje, pela primeira vez na história da humanidade, o homem, a mulher e as crianças tiraram a roupa.
Mas, retornando ao caso do museu de Porto Alegre, precisamos olhar a nudez no passado e entender a nudez atual. Há séculos a nudez natural, sem pornografia e apelação é mostrada também de forma pública, mas parece que hoje, pela primeira vez na história da humanidade, o homem, a mulher e as crianças tiraram a roupa.
A expulsão de Adão e Eva do Paraíso - Masaccio |
No caudal de
incontáveis opiniões, li e ouvi muita acusação contra a ARTE, como se ela fosse sinônimo de coisas negativas e nocivas - e isso me preocupou, pois, no Brasil, os assuntos explodem na mídia sempre com enfoque equivocado. Há pessoas colocando em risco de extinção um tipo de macaco, culpando-o de ser transmissor do vírus da Zica. Na realidade esses animais são tão vítimas quanto os homens. É uma questão de desinformação. Essas deturpações devem ser objetos de preocupação de todos os brasileiros, pois, num país onde querem extinguir totalmente o ensino da arte, da
filosofia, da sociologia e da educação física - justamente disciplinas que levam
o homem a pensar, criar e se mover - o essencial da vida - fomenta-se cada vez mais a ignorância.
Só mesmo um grande
equívoco pode explicar essa depreciação à arte. Justamente ela que é o
instrumento mais antigo que se tem para ajudar a contar a história da humanidade. O que
saberíamos sobre a história da humanidade sem os desenhos deixados nas cavernas
há milênios?
Venus - escultura datada antes de Cristo |
Nascemos nus; os
índios brasileiros andavam nus. Há lugares em várias partes do mundo, cujas
esculturas que adornam templos e monumentos estão cheias de pessoas nuas,
inclusive antes de Cristo. A história e a arte primitiva estão fartas de registros
pintados e esculpidos com situações de nudez.
A banhista a arrumar o cabelo - Cezane |
A Capela Sistina, no Vaticano, traz as famosas e belas pinturas michelangeolescas de anjos nus. Os derredores da Igreja de São Pedro é circundado por fontes de água com crianças e pessoas adultas nuas. Roma e Grécia são
referências em esculturas em tamanho real de mulheres, homens e crianças nus.
Os livros de História Geral que usamos nas escolas e universidades trazem a
reprodução de várias obras que retratam
o nudismo. Nunca vi alguém escandalizado com essas imagens.
A flagelação de Cristo - Belmiro de Almeida |
Os livros de
ciências trazem desenhos do corpo humano e dos aparelhos reprodutores masculino
e feminino sem qualquer censura (até porque não é necessária). As enciclopédias
reproduzem a anatomia humana nos mínimos detalhes, mostrando nudez frontal do
homem e da mulher, as transformações do corpo, o nascimento dos pelos pubianos
e o crescimento dos seios e do pênis.
Nu - Lucian Freud |
Algumas praias
brasileiras permitem o nudismo e, conforme pesquisei, não existe promiscuidade entre os frequentadores (e vai ali quem aprecia esse estilo de vida). As
pessoas se veem como nós nos vemos com roupas. A ideia de certo ou errado, ou
pecado, ou crime, é uma coisa construída por pessoas, por instituições.
Vulcano e Maia |
Como escrevi
anteriormente, o episódio do Museu causou um furor contra a arte e os artistas.
Só mesmo um grande equívoco pode explicar essa depreciação à arte. Justamente
ela que é instrumento de liberdade, criatividade e criticidade.
Jean Auguste Dominique Ingres, A Grande Odalisca ... |
O que seria da
biologia se, muito antes do surgimento da máquina fotográfica, os desenhistas e
pintores não tivessem registrado – com qualidade superior à fotografia – os
desenhos internos e externos das flores, dos frutos, das sementes, das folhas,
das árvores, dos troncos, das paisagens, dos pássaros, enfim tudo era mostrado
dentro das universidades através da arte de extraordinários artistas.
Esse
mesmo raciocínio se aplica à antropologia, aos costumes, ao folclore, às vestimentas,
à alimentação, enfim foram os artistas que registraram o que encontraram nos
primórdios da humanidade. Se não existisse a arte nada saberíamos sobre muitos
instrumentos que fazem parte da nossa história.
George Seurat |
Muitas pessoas têm
pavor à nudez. Dia desses circularam na internet comentários sobre uma possível lei
que proibia que mães amamentassem publicamente. O trauma de algumas pessoas
está na imagem do seio diante do público. Ou seja, a imagem mais linda da humanidade
é enxergada por muitos como imagem
pecaminosa e erotizante... sei lá o que se passa na cabeça de quem vê o
nu como ruim. Tenho quase certeza de que essa "lei" é coisa de fake, pois não é possível que algum político equivocado pense dessa forma. Lá no México existe, de fato, essa lei, mas não estamos lá. Somos Brasil.
Conheco a história
de uma mulher que descobriu um câncer em estado de metástase. Apurados os
fatos, descobriu-se que o marido dela a impediu durante toda a sua vida de
fazer exames preventivos. Não queria que ela ficasse exposta diante de médicos
e enfermeiros.
Alguns homens –
principalmente – morrem por medo do exame de próstata. Uns, não admitem ficar
nus diante de médicos e suas equipes, outros, tem medo do toque.
Muitas pessoas dão
show em hospitais quando são orientadas a vestir as famosas batas, quando em
cirurgias, as quais deixam as nádegas expostas e tudo mais...
Vênus consola o Amor |
É uma questão que
vai além do pudor, pois a pessoa está diante de médicos, cuja função principal
é cuidar da saúde e não se entreter com pênis, bundas, seios ou vaginas. Eles
já estão encalombados de ver as “partes” humanas. São profissionais. Mas há um
pavor. Mais que pudor, é a ideia equivocada – cheia de tabus e preconceitos –
sobre a nudez. Ao longo dos séculos alguns países construíram a ideia de nudez
atrelada à sexo, pornografia, erotismo, pecado, perversão, indecência.
Muitas pessoas –
homens e mulheres – ficam nus diante de desenhistas e pintores durante aulas de
Desenho de Observação. É parte da compreensão de anatomia para se chegar à
perfeição do desenho do nu. Nunca vi uma pessoa excitada ou com comportamento vulgar,
nem os modelos, nem os desenhistas e pintores. É uma profissão de ambas as
partes. Como seriam os desenhos da anatomia humana e animal se não existissem
os desenhistas e pintores?
Davi - Michelangelo |
Não defendo a
banalidade, nem que as pessoas andem nuas nas ruas, mas nudez é algo comum. O
problema está na mente das pessoas, numa educação equivocada, na qual incutiram
a ideia de que a nudez está atrelada à pornografia, erotismo, banalidade e pecado.
Observe que muitas
pinturas aqui postadas trazem pessoas de diversas idades, nuas num mesmo
espaço, mas sem conotação de promiscuidade.
Sobre o episódio
do Museu que falei no início, os espaços públicos devem informar a faixa
etária permitida para os eventos, conforme a lei que passou a vigorar após a extinção da Ditadura Militar no Brasil.
Se um casal permite que seu filho ou sua filha – fora de faixa – assistam
performances artísticas, peças teatrais ou apreciem exposições de telas ou
esculturas que tenham nudismo, entende-se que esses pais educaram os filhos a
enxergar a com a nudez com mesma naturalidade como vemos alguém com roupa. Creio que o que não devemos concordar é que crianças frequentem ambientes de prostituição ou espaços que promovam a pornografia, a pedofilia, o alcoolismo, o uso de drogas, violência e coisas afins. Mas isso já é outra coisa.
É certo que o
Estatuto da Criança e do Adolescente não permite a entrada de crianças em espaços como o Museu que deu-se o episódio do artista nu. Então as instituições
promotoras devem ter nesses espaços um representante dos órgãos competentes -
tipo Conselho Tutelar - que forneça documentação que deve ser assinada pelos
pais. Mas, com certeza, um pai e uma mãe jamais permitiriam a entrada de um
filho em tais espaços se, em casa, não tivessem educado os filhos sobre o que
estariam vendo.
Nota-se que, em
nome da liberdade expressão, muitas pessoas - e até mesmo artistas- preferem atacar imagens de líderes
religiosos, objetos sacros etc. Tenho impressão que a intenção real é mais escandalizar e polemizar que promover a arte. Por incrível que pareça, a Igreja Católica, que
normalmente é muito retratada nesses conformes, parece não se incomodar muito.
Pelo menos não é comum vê-la se posicionando sobre o assunto. Alguém já viu a imagem de Alá seminu, ou de Alá
bebê, nu? Claro que não. Mas estamos cansados de ver pinturas antiquíssimas e
atuais de Cristo seminu na cruz, e também o Menino Jesus nu. Se isso fosse feito à imagem de Alá com certeza apareceria homem bomba ou terroristas fazendo chacina
em algum lugar para se vingar.
Na realidade é
tudo uma questão cultural e educacional. Para uns existem coisas sagradas,
intocáveis, que jamais podem ser feridas, mudadas, deturpadas etc. Para outros o
sagrado é algo muito diferente. Tudo pode ser sagrado, quase tudo, algumas coisas ou nada é sagrado.
Finalizando,
somente a educação plena pode construir a imagem aproximada do que é certo ou
errado sobre a nudez. Enquanto isso não ocorre, continuaremos nos prendendo aos
equívocos que a envolvem, e esquecendo que a maioria dos políticos do Brasil
nos querem assim, burros... eles estão adorando essa história, pois a gente
esquece deles. A crise que estamos vivendo foi promovida por eles, os quais –
com raras exceções – saqueiam os cofres públicos diariamente.
Que deixemos de
pensar só em sexo e pensemos como pô-los na cadeia.
Maja - Goya |
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