Como acontece com a maioria das obras infanto-juvenil, o novo livro do escritor Martins - que assina os seus livros de cunho popular com o heteronônimo “Mané Beradeiro” -, “Um Novo Rei” encanta o público adulto também. Encanta e ensina. Encanta e reeduca. O enredo, belamente rimado, chama a atenção para a importância dos líderes e, por extensão, dos políticos. Mané Beradeiro descortina um líder medíocre, pífio, incompetente e injusto, proporcionando insatisfação ao leitor (imagine para quem está dentro do livro). Ao tempo em que a população, insatisfeita, resolve agir, unida, deliberando um novo líder que desbanca o líder mau, prepotente, que desdenhava do projeto popular e dos seus candidatos. A mensagem do autor esclarece que um líder do bem edifica e proporciona civilidade, justiça e satisfação popular onde quer que governe. Ao passo que o líder do mau é atraso, ruína, decadência e infelicidade. A grande surpresa da pequenina e gigante obra vem no final. Não vou contar para não dar ‘espóiler’, mas é surpreendente. Vocês não imaginam quem foi eleito. Não dá nem para acreditar. Só mesmo a astúcia de Martins para engendrar essa novela.
Esse final da história ascendeu nas minhas memórias sul-mato-grossenses uma eleição política lá nos recônditos pantaneiros da minha mocidade. Governava um homem que era o retrato da alegria e simpatia (mas não era lá essas coisas, inclusive diziam que confundia os cofres públicos com sua conta bancária). Então apareceu um candidato com fama de antipático porque quase ninguém via os seus dentes. Era polido e não dado a brincadeiras nem era de muitas amizades e coisas do tipo. Não se sabe como (mas acho que foi pelo poder da palavra) o dito homem de cara dura foi eleito e transformou o lugar num cenário de progresso e civilidade. Tanto é que foi reeleito, elegeu outro e ainda queriam que ele permanecesse. Mas ele não quis. Escolheu a reclusão (opção deve ser respeitada). Escrevo isso para lembrar que quem governa com justiça e ética não são os dentes nem a falta dos dentes. Não é a simpatia nem a falta dela. Não é o porte físico nem a inexpressividade corporal. Quem governa com justiça, ética, idoneidade e decência é o bom caráter aliado à competência do governante. Mané Beradeiro alega outra metáfora, mas, como disse, não vou dar espóiler. É assim mesmo: espóiler? Não me refiro a carro. Bom, quem sabe Martins explica...
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PS. Ontem estivemos na Academia de Letras do Rio Grande o Norte e, como sempre, lá estava Martins. Ali adquirimos o seu último livro e passamos uma tarde de alegrias literárias, inclusive ao lado de outros amigos - alguns imortais da ANRL - para os quais tenho profundo respeito. Lalinha (Eulália Duarte Barros), inclusive, autora de "Verdes Campos, Verdes vales", ela que é a fundadora do NEI-UFRN, esposa do ex-governador e ex-reitor da UFRN. Levamos o citado livro para que ela autografasse além de oferecermos a ela a biografia que escrevi sobre Estelo, artista plástico de São José de Mipibu. Considerando que ela está revisando esse livro para outra edição, oferecemos a ela fotografias muito antigas e outros acervos sobre um nosso tio-avô que casou-se na capela do engenho em que faz referências no livro. Para quem está ampliando uma obra, essas informações são preciosas. Foi um presente estar com Lalinha...