TRETAS...
As duas histórias contadas abaixo, são reais. A primeira se passou entre Mário de Andrade e Oswald de Andrade. A segunda aconteceu entre eu e Dona Fulana, uma senhora de 83 anos, quando registrava as memórias de uma determinada cidade, no início da década de 90, e ela me saiu com uma pérola que nunca esqueci.
Pois bem, no calor da disputa pela liderança do Movimento Modernista, duas figuras notáveis se envolveram numa briga dessas típicas entre intelectuais vaidosos. Cada um queria ser o pai do movimento. Estou falando de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Nessa história, acabaram nutrindo inimizade entre si. Para ver que alguns imortais brigam e conservam picuinhas!
Certa vez, Mário de Andrade foi orientado por amigos a reatar a amizade com Osvald, alegando que seria mais civilizado. Ele não quis. Veja suas palavras retiradas literalmente de uma carta escrita por Mário em 1945: “Ele que vá a reputa e triputa que lhe pariu”. Poucos meses depois Mário morreu de infarto. Na realidade, Oswald fez inúmeras tentativas de reaproximação, mas Mario jamais perdoou Oswald, o qual também lhe chamou de “Oscar Wilde por detrás”.
Essa confusão de intelectuais nos faz perceber que Mário tinha um gênio forte, mas que talvez nem seja somente isso, pois Oswald fazia o tipo cínico, que feria o “amigo” e mesmo assim queria a sua amizade. Mas o que dona Fulana, de uma pequena cidade do RN tem a ver com essa história? Quase tudo!
No calor da entrevista, já bastante familiarizada comigo, comentando sobre a presença de soldados norte-americanos em Natal, durante a Segunda Guerra Mundial - e suas façanhas pessoais - a velha senhora disse que tinha sido puta. Essa informação, dita num rompante, não impediu minha demonstração de surpresa. Engoli seco, pois nunca havia sido informado pelos mexeriqueiros de plantão da cidade sobre essa página da vida dela.
Então, no vavavu da conversa ela complementou “eu já fui puta e ripiputa!”, como se quisesse dizer que fora uma puta de marca maior, uma super puta, digamos. Fiquei impressionado com a sinceridade e o neologismo também. Inclusive me lembrei desse episódio entre Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Quem teria inventado a palavra? O povo brasileiro é criativo até para xingar. Mário disse: "Ele que vá a reputa e triputa que lhe pariu!" Mas se ele tivesse conhecido dona Fulana, teria dito "Ele que vá a reputa, triputa e ripiputa que lhe pariu!
.............................
OBS. Por uma questão ética, omiti o nome e a cidade reais da referida senhora, embora pessoas mais próximas poderão identificá-la, pois os mais antigos sabem do episódio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário