ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO COMIGO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. O pelo formulário no próprio blog. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. O título NISIAFLORESTAPORLUISCARLOSFREIRE foi escolhido pelo fato de ao autor estudar a vida e a obra de Nísia Floresta desde 1992 e usar esse equipamento para escrever sobre a referida personagem. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto trechos com menção da fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

OPÚSCULO HUMANITÁRIO (CAPÍTULO XXV) POR NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA (1853)


As escolas de ensino primário tinham antes o aspecto de casas penitenciárias do que casas de educação. O método da palmatória e da vara era geralmente adotado como o melhor incentivo para o desenvolvimento da inteligência!

Não raro ver-se nessas escolas o bárbaro uso de estender o menino, que não havia bem cumprido os seus deveres escolares, em um banco, e aplicarem-lhe o vergonhoso castigo do açoite!!

Se as meninas, que em muitos desses repugnantes estabelecimentos eram admitidas em comum com o outro sexo, ficavam isentas dessa sorte de barbaria, não deixavam entretanto de presenciá-la por vezes, e de receber uma impressão desfavorável, que muito concorria para enervar-lhes a delicadeza e a modéstia, que de outra sorte dirigidas tanto realce dão às qualidades naturais da mulher.

A palmatória era o castigo menos afrontoso reservado às meninas por mulheres, em grande parte, grosseiras, que faziam uso de palavras indecorosas, lançando-as ao rosto das discípulas, onde ousavam imprimir alguma vez a mão, sem nenhum respeito para com a decência, nem o menor acatamento ao importante magistério, que sem compreender exerciam.

O sistema inquisitorial das torturas infligidas nas vítimas do Santo Ofício, que sob outra forma e com diverso fim transpusera o Atlântico, presidia ao ensino da mocidade brasileira, ministrado por severos jesuítas ou por mestres charlatães, cujo mérito consistia em saber soletrar alguns clássicos portugueses, e assassinar pacificamente Salústio, Tito Ivo, Virgílio e Horácio!

Esta inaudita e brutal severidade era sancionada por grande número de pais, cuja educação tinha sido assim feita, e cujo rigor doméstico não era menos cruel.

Com algumas modificações continuou infelizmente este regimem muito tempo depois. Pais e filhos estavam ainda por educar, como se vê desta observação do Conde dos Arcos a um mestre da escola da Bahia, que se lamentava do pouco resultado de seus grandes esforços para bem dirigir a educação de seus discípulos: “será preciso primeiramente educar os pais, para que se possa conseguir a boa educação dos filhos.”

Não deixaremos entretanto passar esta observação, posto que justa, sem que acrescentemos outra: e vem a ser, que não era um filho do país, a quem o Brasil deve todos os seus erros e prejuízos, que cabia censurar uma falta dele procedente, e tão geralmente nele cometida.

Demais o célebre introdutor das primeiras comissões militares no Brasil, digno sectário da doutrina de Hobbes, que pretende – ser o despotismo ordenado pela religião, não devia censurar a falta de uma educação esclarecida sem a qual facilmente os homens se submetem ao absolutismo de seus governantes.

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Breves comentários meus:

Um recorte do livro “Opúsculo Humanitário”, de Nísia Floresta, publicado em 1853 chama a nossa atenção. Refiro-me ao CAPÍTULO XXV, onde ela trata sobre a palmatória, o tipo de professores e pais da época. Na verdade, esse capítulo não pede comentários, pois fala por si. Mas um detalhe me impressiona e me convida a levar o leitor ao pensar. 

O conjunto da obra dessa intelectual é tão vasto que permite extrair detalhes dos detalhes. Essa crônica me chama a atenção sobre o quanto, de fato, Nísia Floresta foi visionária em algumas propostas, e essa visão a frente do tempo permanece atual em alguns pontos. Vejam só, a palmatória, tão bem explicada por ela nesse capítulo tão breve e robusto, é comparada às torturas do Santo Ofício. E o era!

A palmatória teve o seu uso extinto a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, data em que oficialmente também foi abolida a prática de reguadas. A propósito da “reguada”, quando eu cursava a “terceira série primária”, hoje “2º ano”, uma professora quebrou a régua grande na minha cabeça porque errei uma conta de divisão. Foi uma experiência traumatizante, pois, se eu estava aprendendo, por que ser obrigado a saber no próprio processo de estar aprendendo?

Esses métodos não diferem de tortura. E o pior é que podem traumatizar uma criança. Lembro-me que eu não era o único a levar reguadas. Quem errava, levava reguada, portanto a sala de aula era um lugar de medo. Todos éramos cúmplices uns dos outros porque estávamos em situação de igualdade no aspecto de tortura. O medo reinava. Enfim, a mesma Constituição de 1988, promulgada por Ulisses Guimarães, proibiu também que os professores obrigassem os alunos a ajoelhar em caroço de milho (ou em tampas de garrafa), proibia o famoso nariz de cera etc. Ou seja, o Santo Ofício tornou-se proibido (está lá, bem escrito!).

Pois bem, se em 1853, Nísia Floresta ataca a palmatória com asco e mesmo assim ela só a extinguiram em 1988, significa que passaram-se 135 anos de terror feito às crianças. E o tempo anterior a 1853? Foi muito tempo de tortura.

Fico imaginando a contradição da pedagogia antiga, se assim podemos chamá-la. Vejam que irônico e absurdo. O professor tortura justamente as mãozinhas miúdas, em formação, cuja coordenação motora está em desenvolvimento e precisa de cuidados para se desenvolver. Essas mãozinhas, naquele momento, necessitam de treino, jamais de pauladas. Como ficava a desenvoltura de uma mão escrevendo e ao mesmo tempo torturada por palmatória? É horroroso demais!

Sabemos que quando algo é extinto, a extinção não é um passe de mágica, ou seja, não acaba num piscar de olhos. Quem garante que nas regiões mais precárias do Brasil a palmatória não continuou vigorando clandestinamente ou por ignorância dos pais desconhecedores do que rezava a Carta Magna?

Esse capítulo dá um livro. Nísia Floresta ao falar sobre as professoras que usavam a palmatória, refere-se a elas como “mulheres em grande parte grosseiras, que faziam uso de palavras indecorosas, lançando-as ao rosto das discípulas, onde ousavam imprimir alguma vez a mão, sem nenhum respeito para com a decência, nem o menor acatamento ao importante magistério, que sem compreender exerciam.” Ou seja, eram professoras sem qualificação alguma, num tempo rudimentar, onde não tinham a quem recorrer, pois nem mesmo as professoras podiam contar com uma educação civilizada. Mas, por sorte, pelo menos Nísia Floresta estava ali, jogando os holofotes sobre o horror e pedindo socorro. Observem quão monstruoso era o sistema. E quão tarde o grito nisiano foi ouvido...

Ela também diz que a mocidade brasileira recebia ensino de “severos jesuítas ou mestres charlatães” que, em outras palavras, assassinavam a gramática e Língua Portuguesa. Critica a educação brutal como os pais educavam os filhos e cuja estupidez se estendia às escolas, onde eles endossavam a crueldade dos professores.

Essa pequena crônica de Nísia Floresta permanece atual, pois dentre outras reflexões – ditas com muita propriedade – plenas de citações (revelando o seu alto grau de ilustração quando, por exemplo, cita Hobbes, dentre outros), ao se referir a falta de educação dos pais, ela acaba mencionando a frase dita pelo Conde dos Arcos a um mestre escola da Bahia “será preciso primeiramente educar os pais, para que se possa conseguir a boa educação dos filhos.”

Essa frase, ou melhor, citação é tão atual que assusta. E com ela encerro esta reflexão, deixando o leitor livre para pensar.

O Rio Grande do Norte nas causas femininas...


CELINA GUIMARÃES VIANA - PRIMEIRA ELEITORA DO BRASIL

O fato ocorreu no dia 5 de abril de 1928 em Mossoró, Rio Grande do Norte. Nessa data, votou a professora CELINA GUIMARÃES VIANA (1890-1972). Um ano antes, em 25 de outubro de 1927, entrou em vigor a Lei nº 660 regulando o serviço eleitoral. As novas normas estabeleciam o fim da "distinção de sexo". E, desse modo, no mês seguinte, Celina Viana, aos 29 anos de idade, que vivia na cidade de Mossoró, deu entrada em seu pedido de alistamento eleitoral, concretizando o voto em 1928. FOI A PRIMEIRA ELEITORA DO BRASIL.

ALZIRA SORIANO DE SOUZA - PRIMEIRA PREFEITA DO BRASIL

No mesmo ano de 1928, no Rio Grande do Norte, ALZIRA SORIANO DE SOUZA (1896-1966) FOI ELEITA A PRIMEIRA PREFEITA DO BRASIL. Mas nenhuma quebra de tradição acontece como mágica. Há uma história muito antes, iniciada pela norte-rio-grandense, Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), intelectual notável, primeira feminista da américa latina, primeira mulher abolicionista do brasil, primeira indianista, primeira indigenista, primeira republicana, primeira mulher a reivindicar que as mulheres tivessem direito à educação, voto e assumir qualquer cargo público.


DEPUTADO E DEPOIS GOVERNADOR JUVENAL LAMARTINE DE FARIA

Juvenal Lamartine –1874-1956 – (deputado federal no período de 1906 a 1926 e senador entre 1927 a 1928, e governador no período de1928 a 1930) teve a sorte de ter nascido no mesmo chão onde nasceu Nísia Floresta. Tenho plena convicção de que ele leu sobre a sua conterrânea ilustre, e isso o tornou sensível à causa feminina. Particularmente não o visualizo como imune à influência de Nísia Floresta. As engrenagens do sistema e o machismo forte, inclusive no Rio Grande do Norte, com certeza exerciam um peso no pensamento de Juvenal Lamartine. Ele também foi pioneiro no ato de se libertar desse machismo e se permitir visualizar as mulheres. Creio que não foi fácil. 

Essa iniciativa – dele – não lhe teria sido um mero insight, tenho plena convicção disso. Ele foi provocado, e a única intelectual capaz de provocar um homem – ou uma mulher – quanto à emancipação feminina naqueles obscuros tempos, era Nísia Floresta. Ela foi a primeira da América Latina e uma das primeiras do mundo.

Também é fácil supor que Nísia Floresta tenha embalado muita conversa entre Bertha Lutz e Juvenal Lamartine no Rio de Janeiro, e que ela tenha apresentado as ideias de Nísia Floresta a ele, mas esse segundo caso é menos provável, pois ambos eram intelectuais. Ele havia nascido no mesmo estado de Nísia. Havia poucas informações no Rio Grande do Norte, mas ele tinha à disposição muitas revistas que tratavam sobre Nísia Floresta no Rio de Janeiro, além dos acervos dos jornais cariocas. Mas sejam quais suposições forem, com certeza ele cresceu ouvindo falar sobre Nísia Floresta e aquilo o instigou a lê-la.

E outro ponto interessante é essa história de que o Rio Grande do Norte sempre denegriu Nísia Floresta. Não. Isso é fantasioso. Sempre houve potiguares que, de fato, conheciam a sua história - parca ou não -, mas conheciam a Nísia intelectual, diferente da Nísia difamada por Isabel Gondim (Se o leitor tiver interesse em ler, é só ir na lupa acima e buscar pelo título "Nísia Floresta, a carta de Isabel Gondim e outros textos malditos", ou ir direto no ano de 2009, clicar no mês de setembro, e depois no dia 8 que o texto aparece). Mas, enfim, o povo norte-rio-grandense, em especial os que residiam na capital, sabiam da notabilidade de sua conterrânea. Podiam saber menos do que os cariocas ou paulistas, tendo em vista os materiais impressos da época (revistas e jornais), comuns àquele estado, mas não havia quem não a conhecesse. 

E quando a feminista e bióloga Berta Lutz (1894-1976) – que conheceu Juvenal Lamartine como deputado ainda no Rio de Janeiro, capital do Brasil – o visitou no Rio Grande do Norte em 1926, reforçando conversas que haviam tido naquela capital, e firmaram a ideia da apresentação de uma candidatura feminina nas eleições municipais daquele ano. 

BERTHA LUTZ - BIÓLOGA E FEMINISTA

Bertha Lutz, filha do famoso Adolfo Lutz, era feminista atuante e muito articulada. E pudera! Para estar em Natal e Macaíba naqueles tempos, havia muito gás intelectual ardendo-a. Vale salientar que Bertha nasceu e morreu no Rio de Janeiro, onde Nísia Floresta vivem boa parte da vida, fundou uma escola e escreveu em jornais. E todo esse legado estava ali no Rio de Janeiro, à disposição de Bertha, portanto é muito provável que ela teve influência de Nísia Floresta. Obviamente que ela também conhecia literatura estrangeira com a temática feminina, mas o de Nísia estava debaixo dos seus olhos.

Em 1935 MARIA DO CÉU PEREIRA FERNANDES (1910-2001) foi eleita PRIMEIRA DEPUTADA ESTADUAL DO BRASIL. Era esposa de Aristófanes Fernandes. 

MARIA DO CÉU FERNANDES - PRIMEIRA DEPUTADA ESTADUAL DO BRASIL


Pois é, eis que nesses conformes de o Rio Grande do Norte olhar para as mulheres de uma maneira que nunca alguém olhou, permitiu-lhe protagonizar o pioneirismo feminino no Brasil em três atos: eleitora, prefeita e deputada. Foi uma overdose que deve ter assustado a muitos...

O Rio Grande do Norte tem pioneirismo em outras áreas, por exemplo, há 84 anos a natalense LUCY GARCIA MAIA (1918-2001) pilotava aviões, inclusive, em 1942, ela obteve o seu brevet. Nesse mesmo ano, ela fez voos rasantes sobre Natal, deixando a população perplexa simplesmente por ser mulher. Assim surgiu a PRIMEIRA PILOTO DE AVIÃO DO RIO GRANDE DO NORTE, tendo feito viagens a João Pessoa e Pernambuco.

LUCY GARCIA MAIA - UMA DAS PRIMEIRAS AVIADORAS DO BRASIL

Natal e Parnamirim tiveram uma relação muito precoce com a aviação, como sabemos. A aviação ainda voava de fraldas quando, em 1937, há 88 anos, uma aviadora norte-americana – também pioneira - Amelia Earhart, decolou em Natal, causando perplexidade na multidão que não imaginava que dentro daquela máquina “extra-terrestre” e barulhenta, era pilotada por uma mulher. Amelia foi a primeira mulher a atravessar o Atlântico, pilotando um avião, em voo solo, proeza, até então, realizada por um homem: Charles Lindbergh, em 1927. Amélia desapareceu no Pacífico, em 1937, quando tentava ser também a primeira a completar uma volta em redor da Terra.

AMELIA EARHERT - UMA DAS PRIMEIRAS AVIADORAS DO MUNDO

Com certeza desde muito jovem Lucy, sabendo dos voos daquela mulher - inclusive da estadia de Amelia Earhart em Natal -, sentiu-se inspirada a ser uma aviadora. Exupèry não dizia que todas as pessoas passam por nós deixam alguma marca? Olha aí!


É daqui do Rio Grande do Norte também um dos primeiros times de futebol feminino do Brasil. Em 1920, há 124 anos, o futebol masculino ainda se firmava quando, em Natal, já existiam times de futebol de mulheres. Justamente em 1920, quando as mulheres potiguares já jogavam bola, ocorreu um jogo entre o "Team" feminino do ABC e o Centro Esportivo Natalense, realizado no sítio Senegal, residência do Coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura - Quincas Moura, atual 16º Batalhão de Infantaria Motorizada, no Tirol. Esse episódio foi notícia em revistas em todo o Brasil


É assim a vida...  aquilo que vemos, hoje, ou que ouvimos, ou que lemos, pode ser o estalo que faltava, podendo despertar um grande feito. L.C.F – 3.9.2020.

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segunda-feira, 24 de junho de 2024

Psicopatas e sociopatas...


Li, há uns dez anos, “Mentes Perigosas”, de Ana Beatriz Barbosa da Silva. A obra esclarece que, diferente do que eu pensava até àquela ocasião, há muitos tipos de psicopatas e sociopatas. Há os que matam e os que prejudicam drasticamente outras pessoas, imputando-lhes marcas indeléveis, ou seja, há os casos graves e os mais leves, mas todos deixam marcas terríveis.

Como uma das características desses doentes é a total indiferença aos sentimentos alheios, quando não matam, eles produzem estragos irreparáveis sem qualquer piedade ou compaixão. É muito importante tentar identificar o psicopata e o sociopata, pois você se precave de morrer, ter sua vida virada num inferno ou mesmo passar por episódios que não deseja.

Particularmente, já fui vítima de uma psicopata que segue fazendo vítimas em diversas instituições, prejudicando pessoas com maestria (é famosa!). Um ser deplorável e diabólico. Se não fosse tão parecida com um dragão, você pensaria que se tratasse de uma ovelha. É tirana, megalomaníaca, tem mania de grandeza. Até livro raro já roubou. Costuma retirar do caminho dela qualquer pessoa que possa em sua mente doentia – ofuscá-la – aliás, ela pensa que tira, pois inteligência, capacidade e boas a amizades, respeito alheio são para todas as pessoas de bem, enquanto esses seres – que normalmente vieram da lama – não são amigos de ninguém.

Segundo Ana Beatriz, os psicopatas também se encaixam no perfil de pessoas com histórico de enganadores, usurpadores, corruptos e outros submundos humanos. Gente que pede um cartão de crédito emprestado, faz uma compra do tamanho do mundo e desaparece, deixando o prejuízo. Gente que cria situações de piedade e compaixão para consigo, visando se beneficiar materialmente, cria uma cadeia de estratégias, coloca todos contra todos e simula ser vítima. E sai ilesa do inferno que ela montou. Gente que constrói um namoro de internet, com impressão 100% de idoneidade, e à primeira oportunidade saqueia tudo o que o (a) outro (a) tem.

Psicopatas/sociopatas compram o corpo alheio para sevícias, oferecem dinheiro e emprego a troco de sexo, compram pessoas diante de sua incapacidade de conquista por intermédio da beleza, da palavra, do charme etc, amam fazer os outros sofrerem, amam machucar psicologicamente, pois isso o alimenta.

Psicopatas se inserem em diversos espaços atrás de respeitabilidade para usar aquilo como trunfo, como blindagem para fazer o mal a alguém. O psicopata que não mata, tende a levar outros à depressão, ao suicídio, à loucura, ao sentimento de inferioridade ou subserviência, acaso se tratar de uma vítima que não tenha cognição para minar a força do psicopata. Psicopatas jamais entram numa situação sem preparar muito bem o terreno. Sua tendência é dizimar, destruir, prejudicar, como se nada tivesse feito, sempre atrás de nova vítima.

Uma parcela de políticos brasileiros, pessoas poderosas, autoridades com cargos de chefia são psicopatas/sociopatas de carteirinha e transitam bem na fita sem que seu intento seja notado com a notoriedade que deveria. Falta aos psicopatas o senso de responsabilidade moral ou consciência. Normalmente chegam ao poder às custas de tramas, passado alguém para trás, arquitetando, sem ser percebido, pois muitos são doces e aparentemente gentlemanes. Outros, chegam ao poder pela força do órgão genital, da relação político partidária etc. São especialistas em puxar tapetes, tirar pessoas (obstáculos) do caminho. São execráveis babões.

Psicopatas são inteligentes, boa parte é extremamente vaidosa (entendam por vaidade nem sempre a aparência física, até porque a psicopata que me vitimou parece um dragão misturado com um sapo cururu). Psicopatas têm uma inteligência especial, mesmo com suas limitações ou falta de limites. Por inteligente não entenda apenas o intelectual, o erudito, mas esperteza, visão, lógica, malícia etc. E tais características não tem sexo, cor, condição social etc. Alguns psicopatas têm espírito de liderança, convence facilmente, pois normalmente é articulado, aparenta ser muito humano etc. O psicopata só tende a matar – no caso daquele cuja sua patologia é a extrema – quando a casa cai, quando é encurralado. Ele é 8 ou 80. Mas mesmo assim, vai até as últimas para tentar o comando. Sua preocupação é estar no controle.

Psicopatas costumam arrastar para o seu lado pessoas respeitáveis, pois isso agrega valor à sua pessoa e aos seus intentos. Psicopatas costumam arrastar instituições para o seu lado, pois tudo isso funciona como capital político e poder. É por isso que vimos tantos escândalos envolvendo igrejas, agremiações esportivas, Ong’s, partidos políticos etc. É exatamente por serem tão ladinos que muitos psicopatas/sociopatas chegam facilmente ao poder.

Não pense que você está longe de psicopatas, como foi o meu caso. Há muitos e de muitos tipos. Psicopata rouba a dignidade dos outros, tira a paz, vive atrás de fofoca, maldando, insinuando, debochando, destrói vidas alheias por calúnias e outras injustiças. O pior psicopata é capaz de tudo isso sem ser notado. Como já disse acima, há níveis até de sua maldade e artimanha.

Eu contei no início sobre ter sido vítima de uma psicopata. Sabe como resolvi. Dei-lhe o desprezo. Ignorei-a. Dia desses, tendo ido num determinado lugar, a dita cuja chegou e, assustadíssima, foi logo querendo saber com uma funcionária da instituição o que eu tinha ido fazer ali. O que tinha dito sobre ela para as pessoas que eu conversava naquele momento. A funcionária, depois, me contou isso e fiquei surpreso. Com o se diz “quem disso usa, disso cuida”, pois eu jamais iria a uma instituição falar sobre uma psicopata, necessitada de pena, inclusive todos ali já sabem quem é a dita cuja, e não foi por minha boca. Só o desprezo aquieta os psicopatas e sociopatas.

Antes de ter medo dos psicopatas mostrados nos filmes - normalmente ao estilo “Mindhuter” - pode existir nesse exato momento um psicopata ao seu lado, em casa, no trabalho, governando a cidade, na polícia, dando aulas, exercendo mandato político, conduzindo um juri, chefiando, sendo chefiado, fazendo arte de algum grupo, comissão etc etc etc.


sexta-feira, 21 de junho de 2024

DITADURA NA LITERATURA – UM INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM MODERNO?

A pouco tempo uma massa humana se ergueu no Brasil, pedindo a volta da ditadura militar – pasmem –, chegaram a pedir o AI-5. Isso prova que eles não sabem o que é. Estamos contaminados por Fake News que fazem lavagens cerebrais, emburrecendo parte da sociedade com mensagens equivocadas. A moda, agora, é censura de livros, como também fizeram a Santa Inquisição e o Nazismo.

O “Índex de Livros Proibidos”, cujo nome verdadeiro era Index Librorum Prohibitorum, era a lista oficial de obras consideradas heréticas, obscenas ou contrárias à Igreja Católica, portanto proibidas. Esse “índice” de obras do mal vigorou durante quatro séculos, tornando um inferno na vida de quem escrevia.  O mais bizarro nessa história é que os inquisidores dos livros atuais são os mesmos que pediram a volta da Ditadura Militar. Ora. Isso fala por si.

Já andei escrevendo aqui mesmo sobre censura ao livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, obra premiadíssima. Mas dois ou três pequenos trechos, despercebidos por quem tem o hábito de ler o mundo, foram o bastante para essa “Caça às Bruxas”. Há certo tempo Cecília Meirelles precisou ir à delegacia de polícia por causa de um livro, mas foi durante o Estado Novo, época que tínhamos de escrever à luz dos olhos do governo Getulista. Hoje, estamos assistindo a uma ditadura contra os livros em pleno século XXI, como um novo Index Librorum Prohibitorum moderno.

A censura nos ronda, mas não é provinda do governo. Vem das pessoas comuns. De grande parte dos pais dos alunos. É muito bizarro. Óbvio que eles têm o direito de voz e devem ser ouvidos, mas essa corrente vem aumentando assustadoramente, e o pior é que quem critica só leu os trechos que reprova. Não leu a obra toda, ou melhor, não são leitores. São pessoas que reproduzem o que leem. Espécie de analfabetos funcionais. E para piorar o pior, determinados políticos – no vale tudo por votos –, usando discursos moralistas, abraçam essa causa e dão uma repercussão insustentável. Não há diferença da época da “caça às bruxas”. 

A caça às bruxas foi um movimento de perseguição religiosa, política e social cujo período clássico foi iniciado no século XV, atingindo seu apogeu nos séculos XVI a XVIII, principalmente na Alemanha, Escandinávia, Inglaterra, Escócia, Suíça e, em menor escala na Polônia, Rússia, Finlândia, Islândia, Irlanda, França, Portugal, Itália, Áustria e Império Espanhol, e resultando em cerca de trinta e cinco mil a cinquenta mil execuções. O livro mais expressivo sobre o assunto é o "Martelo das Feiticeiras" (do latim: Malleus Maleficarum) de 1487.

Atualmente, o termo “caça às bruxas” se refere a qualquer investigação geralmente conduzida com muita publicidade, supostamente com o objetivo de revelar atividade subversiva, deslealdade, corrupção, conteúdo indecoroso, mas que busca enfraquecer a oposição política. Essa “caixa às bruxas” é sempre espetaculosa, envolvendo pais que correm atrás de um vereador, que alardeia na Câmara e nas redes sociais, os demais ouvem no rádio e, sem nem saber da essência do livro, correm até a escola e o espetáculo está feito.

Mas também já vimos nas mídias, diretores de escolas dando espetáculos com determinados livros nas mãos, com sentenças prontas, sem os terem lido. E mesmo que os lessem, não é o bastante para julgar, por exemplo, a obra recém condenada por uma cidade inteira, chamada “O Menino Marrom”, de Ziraldo. Esse livro tem 40 anos nas prateleiras das escolas e somente agora está censurado por essas pessoas. Estão enxergando o diabo no livro. Se formos catar recortes de trechos de livros sob tal ângulo, só teríamos livros religiosos dentro das escolas, pois, dos clássicos aos atuais, a maioria tem pluralidades que podem agradar ou não. O grande problema é a falta de maturidade. E aí entra o professor capacitado, competente para trabalhar bem as obras literárias.

Meu filho, Fídias, teve noites e noites embaladas por histórias de Monteiro Lobato contadas por mim. Até hoje guardo esses livros, pois estão cheios de anotações, inclusive eu datava toda noite para não me esquecer o trecho seguinte. E assim Fídias dormiu anos e anos na companhia de Monteiro Lobato. Pois de uns tempos para cá uma parcela de brasileiros passou a considerá-lo persona non grata, depreciando sua lietartura. Ora! Lobato transformou gerações. É um renome. Feliz a criança que é embalada por suas histórias.

Essa alienação é digna de cuidados. Professores, escritores, literatas, equipes escolares, equipes das secretarias de educação E PAIS, através dos Conselhos Escolares, devem estar em sintonia sobre esses assuntos, ouvindo especialistas, ao invés de ouvirem pessoas que estão passando lá na feira do grude e são chamadas para dar sentenças ditatoriais. Do jeito que anda, daqui a pouco teremos um novo Index Librorum Prohibitorum em vigor, criado pelos pais dos alunos.

ACTA NOTURNA – AS ELEIÇÕES CORRUPTAS DE PAPARY: ONTEM FOI ASSIM, HOJE COMO É?

 

Aproveitando o momento da aproximação do pleito eleitoral em todo o Brasil, trago-vos uma passagem ocorrida há 118 anos em Papary, justamente na terra onde nasceu uma mulher que, se viva, hoje, muitas de suas ideias ainda estariam à frente do tempo, mas isso nem foi sinônimo de inspiração para o velho coronel “Zé de Araújo”, presidente da Intendência (Prefeitura) daqueles ermos e longínquos tempos.

O facto, aliás, fato, ora narrado aconteceu entre 1906 a 1907, ou seja, 74 anos após o lançamento de um livro visionário, de autoria de Nísia Floresta. A obra falava sobre civilidade para as mulheres, e  isso servia para todos – no aspecto de cidadania –, independente dos sexos. Mas, infelizmente, não serviu para a Papary do passado. Convém lembrar que as barbaridades empreendidas pelo coronel José de Araújo perduraram por muito tempo. Não pararam em 1907.

Pois bem, o Diário de Natal, de propriedade de Elias Souto, outro visionário, perseguidíssimo por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (já andei contando sua história aqui mesmo), trouxe essa informação assinada por “Zé Tribujú”. Vamos lê-la. Em seguida comentarei (conservei o vocabulário original): 

“Papary

31 de janeiro de 1906

Realisou-se hontem a farça eleitoral aqui. Constou-me que o monstro deu no livro de presença como tendo comparecido 80 eleitores. Não pode ser verdadeiro esse número, quando é sabido de comparecer os srs. Manoel José de Moura, Antonio Gomes Torres, Innocencio Lopes de Macédo, José Marques de Carvalho e João Batista Marques –, além de muitos outros que não vem ao caso mencionar os nomes, entre os quaes Américo Januário de Carvalho que está residindo no Amazonas. O eleitorado alistado no município é de 85 eleitores, dos quaes 2 já falleceram. Constou-me também que estavam alguns que não foram alistados no alistamento passado e que parece que serão incluidos na revisão que occultamente devem estar fazendo o Zé Capenga. Depois de terminada a bandalheira que fizeram lá pela Intendência, seguiu-se uma cachaçada em casa do cujo durante o resto do dia, incomodando toda a vizinhança. 

 Zé Tijibu”

O “monstro” a que ele se refere é o coronel José de Araújo, presidente da Intendência de Papary durante muitos e muitos anos. Ele representava a oligarquia Maranhão em Papary, defendendo-a com unhas, dentes e bacamarte. Não tolerava opositores, inclusive mandou dar muita surra em gente, pôs muitos pra correr por força de ameaças. Ele sempre foi eleito pela força das “brejeiras” (eleições fraudadas a bico de pena). As cédulas eram colocadas nas urnas um dia antes da eleição com votos contados. No outro dia, faziam um teatro, impediam os adversários de votar (inventando mil objeções). Resultado: Coronel José de Araújo venceu! Viva!

 Viva?

Naquele tempo só votavam homens de negócios, “proprietários” (que eram donos de terras), comerciantes, senhores de engenho. Abaixo disso só os funcionários públicos, nem tanto pelas posses, mas pela conduta ilibada. Papary tinha 80 eleitores nesse perfil. Portanto, Manoel José de Moura, Antonio Gomes Torres, Innocencio Lopes de Macédo, José Marques de Carvalho e João Batista Marques (citados no texto) se encaixavam em alguma dessa categoria, mas mesmo assim foram descartados pelo velho coronel José de Araújo, pois eram seus opositores.

Observe a maneira depreciativa que o autor do texto se refere ao coronel José de Araújo. Além de monstro, ele usa “Zé Capenga”. Isso reflete uma revolta muito grande da oposição. Leia, abaixo outra nota:

 “10 de fevereiro de 1906

Visitou-nos hontem o nosso illustre amigo e correligionário Coronel Luis Roque d’Albuquerque Maranhão, chefe do nosso partido em Papary”.

Esse, era dono do Engenho São Roque que, por milagre, ainda sobrevive a casa grande de sua propriedade. Ele foi casado com Luísa Peixoto Maranhão (prima da minha mãe) que, originalmente, morava num engenho mais adiante, O Morgado. Também foi intendente em Papary. Veja outra nota:

  “15 de janeiro de 1907

Corre...

- Que Mara-Sujo está fazendo o povo pobre emigrar de Papary”.

“Marasujo” é mais um apelido depreciativo que davam ao coronel José de Araújo, em decorrência das suas atitudes. Aqui alguém se refere exatamente aos desmandos e às arbitrariedades cometidas pelo coronel, o qual não admitia adversários e os tratava com insultos e violência. A nota, abaixo, é mais uma alusão a essa postura do coronel. 

“17 de fevereiro de 1907

Corre...

- que o Marasujo está promovendo o despovoamento de Papary para ficar ele só como dono d’aquella terra”.

Veja que a pessoa o ironiza, alegando que ele promove o “despovoamento” de Papary. E isso acontecia exatamente pelas perseguições e arbitrariedades promovidas pelo presidente da Intendência. Muitos adversários políticos se cansavam e Jogavam a toalha e desapareciam de Papary. Lutar contra “Zé de Araújo” era difícil, pois ele contava com o apoio de Pedro Velho (presidente da Província, hoje fala-se “governador”). Pedro Velho também foi assim. Não perdoava adversários, inclusive transferiu Elias Souto (dono do jornal Diário de Natal), de Natal para o sertão, e vejam a ironia: para dar aulas de “Calistenia” (Educação Física, hoje). Para quem não sabe, Elias Souto era cadeirante e professor concursado. 

Elias retornou a Natal com muito custo e permaneceu com o seu jornal, apoiando toda voz adversária à Oligarquia Maranhão. Lembrando que o seu jornal surgiu em São José de Mipibu. Agora vejam que passagem bizarra empreendida pelo Coronel José de Araújo. Leiam a nota abaixo:

“24 de fevereiro de 1907

Facto grave

Constou-nos que em Papary, há poucos dias, se realisara o casamento civil do cidadão Vicente de Tal que havia morrido quatro horas antes da realização do ato. Com Rosalina de tal. E que isso assim se fez a mando do chefe local e para effeitos de assegurar alguma herança. Se o facto é real, trata-se de um crime que deve ser severamente punido para que não se reproduza. Para o caso, chamamos attenção do honrado governador”.

Essa nota é impressionante e mostra o quanto o mandonismo era vigente na velha Papary. Mas não faltava quem procurasse o Diário de Natal para colocar a boca no trombone. Vejam um trecho da “poesia” que saiu sobre tal anomalia.

“26 de fevereiro de 1907

 De meu canto

Em Papary o chefe político está casando os mortos. 

O marasujo está fazendo naquele município.

Casou, segundo dizem, uma mulher que fazia quatro horas havia morrido.

Não há comentário; já é de tudo zombar.

Assim de tudo zombando

Grande crime comettera

O marasujo casando

Uma mulher que morrera”.

Neto

Essa “poesia” é bem maior. Achei melhor colocar apenas a introdução que fala por si. Ela é pautada de deboches e insinuações ao velho Coronel José de Araújo.

Pois bem, eis que estando 2024 num contexto eleitoral, embora a velha Papary mudou muito, espera-se que, enfim, em pleno século XXI os políticos da Hoje Nísia Floresta, tenham evoluído e deixado para trás o passado de corrupção, mandonismo e arbitrariedades. Espero que os políticos que estão em campanha política, atualmente, sejam homens honestos e preocupados com o futuro das crianças e adolescentes, construindo legados de justiça, cidadania e civilidade com o povo de Nísia Floresta. 19.6.2024.

 


quinta-feira, 20 de junho de 2024

Fogo no Pantanal? São os fazendeiros, não tenham dúvidas...



Nascido e criado no Mato Grosso do Sul, sei na palma da mão sobre a real intenção dos fazendeiros com a prática de queimada nas propriedades dentro do Pantanal. Há muitas fazendas dentro do Pantanal (fazendas mesmo, áreas gigantescas). Então eles se servem da queimada - que é uma técnica antiga - e que exige muito cuidado, para alargar os seus pastos. Quanto mais mata destruída, mais pasto, mais brachiara, mais capim, mais boi gordo... Eles não estão nem aí com cuidados para não alastrar fogo. Querem ver mesmo é o circo pegar fogo. Há, sim, fazendeiros conscientes, que até cuidam e apoiam projetos que respeitam o meio ambiente, mas é uma minoria tão ínfima que a bandidada maior os vence. Esses inescrupulosos não estão nem aí com morticínio de animais. Não pensam no meio ambiente, não se importam com aquecimento global. Sabem que estão colaborando com a baixa umidade do ar, mas não se importam. Não pensam nos seus netos e bisnetos. Importam-se com o presente. Essa fazendeirada bandida se soma a pior espécie de gente que há sobre a Terra.

Confiança é como uma xícara. Uma vez quebrada, não volta a ser a mesma. O tolo é aquele que cata os cacos do chão, procurando esperança aonde não há...

 





quarta-feira, 19 de junho de 2024

Por que devemos nos afastar de algumas pessoas...


Uma das melhores coisas do mundo é a amizade sincera. Conversar, tomar café da tarde, tomar uma sopa num final à noitinha com pessoas que nos sentimos bem. Fazer um doce e oferecer a uma amizade. Ir à praia com amigos, discutir livros, enfim essa relação agradável só acontece entre amigos. A gente se sente bem com o amigo, ou os amigos.

Amizade pede uma relação de respeito e tolerância. A amizade sincera acontece independente de posição política, times de futebol, religião, condição financeira, títulos acadêmicos, o que quer que seja.

Amizade sincera é praticamente uma relação irmanal, na prática, não no discurso, independente de acontecer com irmãos de sangue, parentes ou pessoas estranhas à família. Amizade acontece naturalmente e o tempo se encarrega de fortalecê-la. Há pessoas que foram amigas na infância, precisaram se afastar, se reencontram no futuro e tudo continuou da mesma forma.

Há pessoas que, por se mudarem de cidade ou bairro, se afastam de amigos, mas sempre que podem, se falam no Facebook, por exemplo. Não é mais a amizade próxima de se falar pessoalmente sempre, mas é amizade sincera. As partes se falam quando podem.

Infelizmente existem pessoas da nossa convivência diária ou eventual, sejam parentes ou não, que não vale a pena manter amizade, pois não há sinceridade. A pessoa mantém essa relação de contatos com você por diversas intenções. São tantas intenções que não vale a pena listá-las.

Há amizades que nos desgastam, pois estamos sempre preocupados com não fazer algo que a pessoa não gosta. Nos policiamos o tempo todo para que aquilo não a incomode, e isso acaba nos incomodando. Até nos irrita às vezes. É desconfortável.

Quando gostamos verdadeiramente de alguém, não importa o time de futebol dela, não importa a religião que ela segue, não importa se ela é rica ou pobre. Podemos ser até o oposto dela em alguns pontos, pensarmos diferentes e tudo mais, mas o fator amizade é mais forte. Há respeito e consideração. Amizade é isso.

Quando você se desgasta para manter uma amizade, não é amizade. Bons amigos respeitam quando chegam na sua casa e o cachorro acabou de fazer cocô fora do tapetinho higiênico e você nem havia percebido. Não vai haver julgamento nem nariz retorcido. Amizades boas chegam nas casas alheias e você as chama para a cozinha, pois está fazendo almoço.

Quando você precisa se transformar em outra pessoa para manter uma amizade, não é amizade.

Quando a pessoa está sempre lhe criticando ou colocando trilhos para que você role neles, não é amizade. É amizade invasiva e controladora. Amizades que estão sempre criticando outras amizades não é amizade. Você, com certeza, pode estar sendo tema de conversas negativas em outros lugares.

O conselho que eu daria a quem tem uma amizade que lhe cause incômodo é se afastar gradualmente. E se não der, faça-o abruptamente. Corte os laços mesmo, sem medo. Isso não é feio, e se for feio a sua saúde deve ser priorizada. Entre fazer uma coisa feia e adoecer, prefira se afastar da amizade. Não se desgaste por amizades que lhe façam mal por alguma razão.

Há pessoas que são muito diferentes de nós, e é possível existir forte amizade, mas quando esse “diferente” ocorre no âmbito de a pessoa ter uma tendência a maldar, deturpar fatos, ter espírito vingativo, não vale a pena. Outras, são carregadas de preconceitos, tem sentenças prontas para tudo, não respeitam a sua opinião política e outras opiniões, e está sempre condenando algum ato seu. Você não é obrigado a se desgastar para manter amizades. Para quê?

Não pense que você é ruim por se afastar de alguma pessoa. Não pense que isso seja feio. Em situações assim é caso de necessidade. Esqueça a pessoa. Você até tentou cultivar sua amizade mas não deu. Desligue-a do seu pensamento, até porque você não é pessoa má. Não deseje a ela nada mal. Não permita que esse e outros sentimentos ruins divaguem em seu coração. Deseje felicidade a ela e a todos, dessa forma você será feliz...


segunda-feira, 17 de junho de 2024

"SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO" (PADRE ANTÔNIO VIEIRA)… À LUZ DE UMA REFLEXÃO -

SANTO ANTÔNIO PARA O BOM E PARA O MAU, PARA O BEM E PARA O MAL ...

Sou fã do padre Antonio Vieira. Sou fã da sua escrita, da sua literatura, das suas filosofias... Aproveitando que estamos nesse contexto de Santo Antônio, trago-vos um recorte interessantíssimo que envolve esse nosso santo. Antes de apreciarmos o sermão de Santo Antônio, escrito pelo genial padre Antônio Vieira, de cujos escritos sou apaixonado, repasso-vos este preâmbulo a bem de esclarecer que o leitor deve procurar ler todo o sermão. 

Tenho quase certeza que está disposto na internet. Não é possível que não. Digo isso porque trago-vos apenas - pasmem! - a ‘conclusão’. E esta é de tal qual maravilha que merece este prefácio. Digo-vos porquê lendo-o solto, distante das demais reflexões feitas pelo sacerdote, podem ser distorcidas. 

Essa conclusão, para quem lê a delícia do sermão completo, permite refletir quão filosófico, quão irônico, quão crítico, quão cristão foi o insigne padre. 

Acho interessante essa reflexão do padre Vieira. Observe que, depois de traçar um perfil cheio de maravilhas e santidade sobre Santo Antônio (no sermão como um todo), ele orienta os fiéis católicos, que aproveitassem as maravilhas de Deus e de Santo Antônio e não as deperdiçassem. E, desperdiçar, nesse caso, é justamente transformar a fé, em sua essência evangélica, na fé em crendices, ou seja, fazer uso de crendices populares  e simpatias em torno da imagem grandiosa de Santo Antônio (pedir que ele ajude a encontrar um objeto perdido, pedir que ele faça a encomenda chegar bem etc) ao invés de tentar se parecer com o santo em santidade, ou seja, de viver o evangelho. O que para ele é o único papel do cristão.  Para o padre Vieira isso é desperdício, ou seja, em vão. Chamou a minha atenção dois detalhes curiosos. Não vi o padre Vieira falar sobre pedir que Santo Antônio arrume casamento para moça-velha. Até onde sabemos ele é bom nisso. Ou pelo menos carrega essa fama. É seu carro-chefe. Em contrapartida, atribui-se ao santo Antônio pedidos que estão nas alçadas de outros santos, como pode ser visto na lista de “desperdícios”. Pois bem, eis essa pérola, dentre tantas, encontrada na obra do padre Vieira. 

Se o leitor foi atento, com certeza observou que há outro recorte que parece ter sido escrito hoje. Parece refletir a realidade brasileira. Refiro-me ao trecho em que o padre Vieira critica o mal uso da fé, o mal uso da imagem de Santo Antônio no caso do cidadão que pediu ao santo que duas testemunhas mentissem, mandou rezar uma missa no dia da audiência e, tendo dado certo o seu pedido, julgou que fora intercessão de santo Antônio. Então o dito cidadão encomendou nova missa posterior pelas as graças ao Santíssimo Sacramento e a Santo Antônio. Isso se parece com os traficantes evangélicos das periferias do Rio de Janeiro, os quais mandam matar em nome de Jesus. Expulsam pessoas que professam outras religiões, colocam fogo nos terreiros de religiões de matrizes evangélicas… tudo em nome de Jesus”. 

Também já assisti a muitas reportagens em que bandidos usam sempre expressões do tipo “graças a Deus”, “se Deus quiser”, “Deus é Pai” e outras. Mas todas para um contexto em que o mal é confundido com o bem, com um valor. Por exemplo: “matei, graças a Deus, senão seria eu”. E muitos bandidos têm frases ligadas a Deus no corpo. Mas são ladrões, traficantes, estupradores etc. Certa vez ouvi um repórter perguntando ao estuprador “e se fosse sua filha”? Ele respondeu “Não! Deus é Pai!”. Ou seja, para a menina estranha, Deus não foi Pai, e ela foi estuprada, mas para a sua filha, Deus  Foi Pai e a livrou… 


O livro número 20 tem 454 páginas, pois traz muitos sermões. O sermão de Santo Antônio está no capítulo VII. Começa na página 314 da obra e termina na página 351, somando 35 páginas. Ei-lo:

“ SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO

Na Dominga infra-octavam de Corpus Christi, com o Santíssimo Sacramento exposto, em S. Luís do Maranhão, ano de 1653.

Homo quidam fecit coenam magnam.

Vos estis sal terrae, vos estis lux mundi.

VII

Façamos também nossas as maravilhas de Santo Antônio. A história do homem do Maranhão que abusara impiamente do santo e do Santíssimo.

151 Mais tinha que ir por diante, mas acabo com pedir a todos, com todo o afeto que devemos a este nosso santo, e que nós devemos a nós mesmos, que, pois Deus o fez tão maravilhoso, que  façamos também nossas as suas maravilhas. Aproveitemo-nos delas, e não as deperdicemos. Muitos cuidam que se aproveitem das maravilhas de Santo Antônio, empregando a valia deste santo para o remédio das coisas temporais, e isto é desperdiçá-las. Se vos adoece o filho, Santo Antônio; se vos foge o escravo, Santo Antônio; se mandais a encomenda, Santo Antônio; se esperais o retorno, Santo Antônio; se requereis o despacho, Santo Antônio; se aguardais a sentença; Santo Antônio; se perdeis a menor miudeza da vossa casa; Santo Antônio; e, talvez, se quereis os bens da alheia, Santo Antônio. Homem houve no Maranhão, menos há de cinco anos, que, tendo induzido duas testemunhas para lhe jurarem falso em matéria de liberdade ou cativeiro, no dia em que houveram de jurar, mandou dizer uma missa a Santo Antônio, para que jurassem contra a verdade; e, porque juraram como iam instruídos, veio o pleiteante a esta mesma igreja dar as graças ao Santíssimo Sacramento e a Santo Antonio. Há tal barbaria como esta? Há tal maldade? Basta, monstro do inferno, indigno do caráter de cristão e do nome do homem, que, não conteve roubar a liberdade a estas duas criaturas, mais livres que tu, pois não nasceram, como tu, vassalos do teu rei, a primeira lição que lhes deste da doutrina cristã foi ensinar-lhes a dizer em juízo um falso testemunho contra si mesmos, sujeitando a si e a toda a sua descendência a perpétuo cativeiro; e para fazeres a Deus cúmplice nesta tua  maldade, lhes ofereceste o sacrifício do corpo e sangue de seu Filho, e tomaste por medianeiro desta perdição de tua alma o santo, a quem o mesmo Deus deu o ofício de reparar todas as coisas perdidas! Mas, para que saiba o mundo, e tome exemplo neste tão escandaloso caso do rigor com que o castigou a divina justiça, andando o mesmo homem à caça de cativeiro de índios no Rio das Almazonas, eles lhe tiraram a vida às frechadas, morrendo sem sacerdote nem sacramentos, com tão pouca esperança de sua salvação, antes, com manifesta e clara evidência da condenação eterna, aquele que, não só com tal cobiça, injustiça e crueldade, mas com um sacrilégio tão estólido, inaudito e bárbaro, tinha abusado impiamente do santo e do Santíssimo”.

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Natal, 9.6.2019

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Simpatia pra moça vrelha se casar...


Se acaso você ficou no "caritó". Virou "maninha", ficou solteirona e quer desencalhar, Santo Antônio resolve o drama do dia pra noite... aliás... da noite pro dia. É o seguinte: daqui a pouco vai bater meia noite. Exatamente nessa hora você enfia uma faca no tronco de uma bananeira. Só você. Não deixe ninguém ver (Se alguém ver desonera). No momento que estiver enfiando a faca,  diga: 

Meu Santo Antônio, protetor das moças velhas, arrume um casamento para mim que prometo-lhe devoção para o resto da vida!".

Faça o sinal da cruz e está feita a simpatia.

No outro dia, bem cedinho, sem companhia de ninguém, corra até a bananeira que a seiva terá escorrido e formado a letra do primeiro nome do seu futuro marido. Vai aparecer um homem  Se for solteiro ou viúvo, pergunte o nome dele. Se bater com a letra da bananeira, é seu marido. É só se casar e sair do caritó! Não há solteirice, manice, caritó nem feiúra que empeça de aparecer um casório 11.6.2019.

MISSA PELOS 30 DIAS DA MORTE DE SOCORRO TRINDAD

 


segunda-feira, 10 de junho de 2024

O PIOR INIMIGO...


A pior inimizade é a que faz de tudo para estar próxima de você depois de ter aprontado horrores com sua família e com outras pessoas - e você, por educação e até piedade, a acolhe (na esperança de que tudo vai mudar), mas, ela, como escorpião, tem surtos, rompantes, arroubos involuntários de ofensas, umas leves, outras terríveis, ataques vis, pois é a natureza dela, é desvio, espécie de doença.  E esse conjunto de coisas faz tudo degringolar porque a pessoa não muda.

Do nada ela - mesmo reaceita na família - tem rompantes de lhe ofender. Entra em contato com você - do nada - e despeja uma porção de indiretas e ofensas, faz juízos totalmente inverídicos sobre você, insinuações, de repente desconversa, deixando você no vácuo, como se aquilo a agradasse. enfim está sempre espargindo gotículas do abundante veneno que traz em seu ferrão. Certamente pensa que você não percebe.

Essa espécie de escorpião percorre lugares - até outros municípios - tentando falar com pessoas que lhe conheceram, tentando escavacar algo ruim sobre você. E mesmo que você não tenha o que lhe denigra, ela insiste, vive incessantemente nessa pesquisa sobre você, sua esposa, seu filho... A Psicologia com certeza deve explicar isso.

Ela enxerga nos outros aquilo que tem dentro dela (o ato de gerar inimigos, ferir, machucar, humilhar). Ela quer descobrir algo que não existe, mas ela precisa de algo de ti, de sua família, portanto vive atrás do inexistente. E duro é que as pessoas que ela procura para arrancar algo que possa usar como trunfo contra você percebem a maldade, entram em contato com você e lhe contam tudo, inclusive parentes e agregados vêm lhe contar os juízos deploráveis que ela faz sobre você, sua esposa, seu filho. 

Essa pessoa tem o hábito de hipervalorizar quem tem muito dinheiro. Ela coloca no céu quem tem altas titulações acadêmicas, enfim, considera e respeita - verdadeiramente - quem tem dinheiro e altos galardões. Quando fala dessas pessoas, não fala do caráter, dos feitos, fala das posses financeiras e títulos acadêmicos. Para ela, basta, pois ela é assim, embora não tenha título algum. 

Ela convive com quem não tem tais posições com dificuldade, achando que todos deveriam ser ricos e cheios de títulos acadêmicos. Portanto ela está sempre soltando alguma indireta, piada, deboche e algo do tipo contra você. Está sempre contando a história de alguém (até gente inventada) só para dar-lhe recados. É a forma de passar mensagens sublimares, algo do tipo. Como se isso alimentasse seu caráter doente.

Está sempre criticando os outros. Chega da casa de uma prima, um primo, uma amiga etc e desse o pau na pessoa que acabou de visitar, cuja pessoa a tem como boa, como amiga. Interessante é que você fica sabendo poucos dias depois, ou anos depois dos horrores caluniosos feitos contra você, sua esposa e filho. Raramente fala bem de alguém, vez ou outra critica quem gosta de animais, critica a sua ideologia política, critica suas ideias, enfim está sempre ferindo, chateando... 

Um dia a sua família se cansa e resolve ignorar tal pessoa, dando-lhe o desprezo, afastando-se completamente... mas, de repente, ela reaparece bem devagarinho, como cobra silenciosa, rastejando, trazendo presentinhos, tentando reentrar na família. E você, e outros da família, por educação, humanidade e até mesmo piedade, a recebe novamente. 

EIS O GRAVÍSSIMO ERRO.

Essa pessoa, na sua presença, lhe faz elogios, elogia sua vida, sua casa, sua esposa, chega até a causar constrangimentos, pois você sabe que ela não os vê completamente assim. Uma ou duas colocações podem até ser verdadeiras, mas tudo mais é teatro. Certamente ela se regozija, supondo que você se deleita com tais elogios que, na verdade, mais constrangem que agradam. 

Essa pessoa está querendo saber sobre sua família, conhecer pessoas ligadas a você, e que há tempos ela não vê. Essa pessoa traumatizou uma criança (hoje homem adulto) por causa de uma bobagem, de algo banal. Ela fez um escândalo que deixou a criança com vontade vomitar e o coração disparou de medo. Assustou a todos que estavam dentro da casa. Em outro período, essa pessoa inventou uma calúnia deplorável contra a sua esposa e precisou de muitos anos para que a mesma relevasse. Mas por questão de cristandade houve o perdão da parte dela (a vítima) e a tentativa de relevar. Ela está cheia de curiosidade, mas não fala nada sobre o seu filho, pois sabe o que fez a ela no verão passado.

Ela esquece que esse menino não quer vê-la nem pintada de ouro e já disse que onde vê-la, se dirigirá à mesma - diplomaticamente - e fará com que ela se lembre do passado terrível que lhe proporcionou. E pedirá que ela se retire da casa de sua família. E refrescará a memória dela sobre a covardia e truculência um dia em sua infância.

Ela já coleciona prints da vida do seu filho e só se aproximou porque sabe que seu filho alçou uma posição social que nem ela alcançou (e ninguém da família dela). Está cheia de curiosidade, pois esse dispositivo funciona nela como em nenhuma outra pessoa. Dá um nó na cabeça dela. Como esse menino hoje fala oito idiomas? Como esse menino hoje estuda numa das mais respeitáveis universidades do mundo? Como conseguiu um emprego altamente sério, dignamente remunerado, fora do Brasil? Como esse menino viaja frequentemente para Mônaco, Inglaterra, Áustria, Alemanha, Espanha, França etc, sempre levado por projetos intelectuais? 

Como esse menino ministra palestras representando um país que não é o dele e em outros países? Como esse menino vai para país receber um prêmio da empresa que ele trabalha, representando a empresa de outro país? Como? Como? A pessoa fica louca, cheia de energias ruins quer jogar todas as suas toxinas nessa família, mesmo que disfarçadamente. Ela não se conforma. Ela quer rever esse menino, quer ver sua namorada. Quer assisti-las como um filme para saciar sua doença. Isso é doentio!

No frigir dos ovos, ela pretende jogar energias ruins nos mesmos, inconformada por que aquilo não aconteceu aos seus mais próximos familiares. Mas por que eles não ralaram pesado? Por que não estudaram de verdade? É como a fábula da cigarra e a formiga: Enquanto cantavam, o menino ralava duro. O menino criou um mundo em torno dele, se uniu a outros cérebros geniais. Sua vida foi estudar estudar estudar. Aos doze anos lia Hegel, Platão, Chomsky, Aristóteles, Maria Conceição Tavares, Ana Arendt, São Tomás de Aquino,  Levy Strauss, Camus, Karl Marx dentre tantos outros. Um menino que tinha no Brasil uma biblioteca cujos livros emprestava para professores de uma universidade federal. Aos doze anos já dominava inglês com fluência. Tudo sob a égide do suor dele, em primeiro lugar, e dos pais incansáveis que sempre foram luz para o mesmo. Inveja é a pior tragédia do mundo, pois mata e definha. É lúcido se afastar dos doentes desse mau, pois sua energia negativa é fulminante qual veneno de escorpião.

Lembram daquela fábula do sapo que é convencido a levar o escorpião para o outro lado do rio e é picado assim que o sapo lhe faz o favor? É o mesmo caso. O escorpião diz "é a minha natureza". Pois bem, não se enganem. A pessoa pode se travestir de Madre Teresa de Calcutá, mas o ferrão cheio de veneno está engatilhado.

Tentei reintroduzir essa escorpião na minha família. Forcei os outros a tentarem reaceitá-la, mas não deu... seu veneno está em sua aura. Exala mesmo que talvez ela nem queira naquele instante, mas exala. Enfim, no final de tudo, ela mesma se picou com o seu veneno. E foi bom. Foi melhor assim. Meu pai sempre dizia que precisamos construir nossas redomas, quietinhos, só com gente que verdadeiramente nos quer bem e nos faça se sentir bem. SÃO POUCAS, VIU! MAS EXISTEM. Pois bem, escorpiões, parentes ou não, que fiquem distantes, que você nunca mais os reencontre...

O que essas pessoas fazem bem feito é maldar, invejar, denegrir, humilhar... Tem a bizarra mania de achar que os outros têm amizade com ela interesse. Joga indiretas, divagando que não empresta dinheiro para ninguém (certamente achando que os outros estão querendo dinheiro emprestado - algo que pelo menos comigo, nunca passou pela cabeça nem precisei de empréstimos de ninguém).Tem doutorado em jogar indiretas. Uma verdadeira rainha da cocada preta. É bizarro demais. 

Essas escorpiões deveriam tomar mais cuidado e olhar para dentro de si como nunca fizeram. A velhice bate à porta. A velhice nos torna fragilíssimos e muitas vezes sujeitos ao inimaginável. Portanto, quanto mais construirmos amizades, quanto mais sermos bons (de verdade), mais teremos quem olhe por nós. Gente assim morre só, pois ninguém suporta, todos criticam. E com razão. Todos se afastam e se sentem mal com a presença. Raras pessoas consideram. Raros dão a colhida que eu e minha família demos. E o fizemos com verdade, respeito, querendo receber em troca o mesmo. Nada mais. Mas isso não vale quando só se constrói abismos. É necessário construir pontes. 

Estou com 56 anos. Caminho para 60 anos de idade. Daqui para frente quero conviver apenas com meia dúzia de gente que me faça sentir bem, quero pouco movimento na minha vida. Tenho como vício escrever - amo escrever - e só consigo se estiver em paz plena. Não devo mais conviver com gente que não me inflame. Quero zelar pelos 40 possíveis anos que ainda me aguardam (se eu me poupar). Estou me poupando e poupando a minha família. Meu filho e minha esposa são tesouros valiosíssimos para mim. Eles me bastam. Preciso de paz extrema  junto à minha família. 

A essa pessoa eu informo: nunca mais cruze a rua da minha casa. Os seus presentinhos que nunca pedi, estão todos no lixo...