Toda infância é um livro na biblioteca da memória
E só pode ser reaberto por nós...
Há tantos desses livros esquecidos, perdidos, carcomidos, empoeirados...
Só nós temos o poder de viajar nessas obras da memória e voar, e fazer piruetas, e rodopiar, e virar as páginas, e voltar as páginas, e reviver tudo tal e qual, sem mexer no enredo, pois o que foi escrito, foi escrito.
O meu livro está sempre aberto porque reler a minha meninice é como comer um pedaço de doce.
O livro da minha infância traz um tempo cujas nossas vidinhas miúdas, inocentes e arteiras, moravam dentro de uma caixa de brinquedo em ruas e quintais maiores que o mundo.
Essa caixa de brinquedo era feita de terra vermelha, lama, chuva, enxurrada, rios, mato, frutas silvestres e uma infinidade de bichos saltando entre árvores...
Uma caixa que guardava as histórias de Trancoso contadas à noitinha pelo "Seu Expedito".
Existíamos numa fartura extraordinária de infância.
Creio que sinônimo de infância é felicidade, e antônimo de infância é tristeza. Nossos brinquedos não se quebravam.
Nossas brincadeiras não conheciam limites.
Por isso louvo a minha infância com sabor apetitoso de quintal mágico.
Só crianças do nosso tempo viveram os encantos dos espaços sem réguas, sem muros, nem cercas.
Onde existiu encanto, existiu infância.
Um buraco cavado com latas enferrujadas, o pular da ponte era matéria prima para felicidade.
Fui menino que revirava os ninhos de cobras, colecionava cacos de vidros coloridos e à noite empreendia viagens com Andersen e Grimm.
Fui menino descompromissado com brinquedos de lojas.
Meu brinquedo, ou melhor, minha vida veio desse quintal sem fim.
O quintal está guardado dentro de uma caixinha de brinquedo que resiste, intacta, nas minhas memórias...
Eis que hoje visitei essa biblioteca e dei-me com esse livro de infância... 2.1.20.
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